Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 26

Capítulo 26: Minhas besteiras.

” Como culpar o vento pela desordem feita, se fui eu quem deixou as janelas abertas” ?

Eu não tinha certeza se poderia confiar em Karina, Pedro e Daiana, e não sabia se era seguro levá-los até a casa de Roger. Mas minha mente dizia que, em parte, era culpa minha eles não terem para onde ir e agora serem foragidos da policia, então eu resolvi que deveria ajuda-los. Andamos pela floresta escura. Todos nós estávamos transformados, assim nossa visão ficaria mais aguçada e conseguiríamos enxergar melhor em meio a escuridão. Eu andava na frente, pois era a única que sabia o caminho para o portal. Dez minutos se passaram. Nós já estávamos perto do portal quando ouço um barulho ao longe, vindo do céu.
– Não acredito. _ Karina disse, também ouvindo o som.
– Chamaram um helicóptero. _ Pedro disse em voz alta o que todos nós estávamos pensando.
– O portal já está bem perto. Vamos correr. _ eu disse.
Até agora nós estávamos apenas andando, pois eu não tinha tanta certeza do caminho. Fiquei com medo de não reconhecer o caminho se estivéssemos rápido demais, então decidimos andar. Mas agora já estávamos bem perto e havia um helicóptero no céu, então acho que não tem problema se nós corrermos. Comecei a correr e logo reconheci o local onde o portal estava. Parei de frente para ele e sussurrei as palavras que o abriam. Olhei para trás para conferir se todos estavam ali, logo atrás de mim. Um anjo, uma mestiça de demônio e uma mestiça de anjo. Sim. Estavam todos ali. Sinalizei para que entrassem pelo portal. Todos relutaram por um instante, mas no instante seguinte todos andaram até o portal e entraram. Primeiro Daiana, depois Karina, em seguida Pedro e por último eu. Senti uma pequena náusea enquanto estava dentro do portal. Quando saí meus pés encontraram o familiar piso do castelo de Roger. Fechei o portal novamente. Finalmente eu estava segura. Estava em casa. Andamos pelos corredores do castelo até chegarmos ao salão principal.
– Violeta. _ eu chamei.
Violeta era o nome da criatura que guardava a entrada principal do castelo. Ela tinha o corpo de uma mulher, usava um vestido vermelho coberto por uma renda preta. Quando nós invadimos o castelo para roubar o livro Sombras do Passado, ela mandou Eros nos matar. Claro que esse incidente já havia sido esquecido e eu já era a favorita de todos no castelo.
Poucos instantes depois de chama-la, Violeta entrou no salão.
– Alicia. _ ela disse.
– Violeta. Como vai? _ eu disse formalmente.
– Bem. E você, querida? Por que demorou tanto para voltar?_ ela perguntou.
– Foi uma grande confusão. As coisas não saíram como planejado. Eu trouxe eles comigo, espero que não seja um problema. _ eu disse.
– Eu também espero. _ ela disse com um olhar ameaçador para os três atrás de mim.
– Você pode chamar Pâmela para mim? _ eu perguntei.
– Claro. _ ela sorriu para mim e saiu.
– Ela um amor. _ eu disse me virando para eles.
– Claro que é. _ Daiana disse revirando os olhos.
Dei um pequeno sorriso. Esperamos um pouco e logo Violeta voltou.
– Ela está vindo buscar você. Pediu para espera-la no portão. _ Violeta disse.
– Certo. Obrigada, Violeta. _ eu disse.
– Por nada. _ ela disse e saiu novamente, mas não sem antes lançar um olhar ameaçador para os outros três ao meu lado.
– Ela me dá medo. _ Karina disse, assim que Violeta saiu.
Eu apenas dei um sorrio pequeno e sem graça. Violeta era mesmo assustadora, mas só quando queria. Muitas vezes ela conseguia ser dengosa como um gatinho manhoso. Cada um recebia o que merecia de Violeta. Eu poderia ter explicado isso para Karina, mas certas coisas devem ser descobertas por si só.
Saímos do castelo e seguimos a trilha em direção ao portão principal. Os guardas de Roger me cumprimentavam, mas olhavam estranho para os outros três que estavam comigo. Durante a caminhada não dissemos uma palavra. Acho que não havia nada a ser dito, não naquele momento. Daiana ainda estava muito triste pela morte de Rodrigo, Karina presenciou a morte dele, e nós quatro estávamos sendo procurados pela policia. As coisas haviam se complicado e agora eu tinha total consciência de que tinha feito besteira e provocado uma grande confusão. Chegando ao portão principal, nós paramos e esperamos por Pâmela. Eu não sabia as palavras que faziam o portão se abrir. Após alguns minutos, ouvimos o portão tremer e começar a se abrir. Pâmela estava sozinha do outro lado. Ela sorriu para mim, mas sua expressão mudou para confusão quando ela percebeu os outros três ao meu lado.
– Alicia. Está tudo bem? _ Pâmela perguntou abrindo os braços para mim.
– Não, Pâmela. Deu tudo errado. _ eu disse, com imensa tristeza e andando ao seu encontro.
Nós nos abraçamos.
– Podem vim. _ eu disse para os outros.
O portão não podia ficar aberto por muito tempo, era uma questão de segurança. Eles andaram até estarem fora da propriedade. Pâmela fechou o portão.
– Onde está sua mãe? _ ela perguntou se virando novamente para mim.
Meus olhos se enchera d’água e eu não consegui responder. Apenas balancei a cabeça negativamente. Pâmela entendeu o que eu queria dizer.
– Sinto muito, querida. _ ela disse me abraçando novamente.
– Eu vou ficar bem. _ eu disse e respirei fundo. _ esses aqui são Karina, Daiana e Pedro. _ eu apontei para cada um conforme falava os nomes. _ eu resolvi traze-los por que eu fiz besteira e isso acabou prejudicando os três. O mundo superior não é mais seguro para eles. Mas se vocês não quiserem que eles fiquem eu posso arranjar outro lugar para eles.
– Vamos para casa e depois resolvemos isso. _ ela disse.
Pâmela fez um feitiço que nos levou para casa de Roger.
– Meu pai está em casa? _ eu perguntei.
– Sim. _ Pâmela respondeu. _ ele está com Roger no escritório. Vá até lá e fale com eles.
– Ótimo, eu nem terei tempo de me preparar. _ eu disse, respirando fundo e passando as mãos pelo rosto.
– Você precisa ser forte. _ Pâmela disse.
Eu apenas assenti.
– Vamos para cozinha, comer alguma coisa. _ ela disse se virando para os outros.
Pedro olhou para mim. Sua expressão era de quem perguntava se eu queria que ele ficasse. Eu queria, mas acenei parra que ele fosse. Eu precisava conversar sozinha com Roger e Marcos, mesmo que isso parecesse ser assustador. Pedro foi junto com os outros para a cozinha. Eu fiquei sozinha na sala. Respirei fundo e andei em direção ás escadas. O escritório de Roger ficava no andar de cima. Subi as escadas tentando imaginar qual a reação de Marcos e Roger quando descobrirem tudo o que aconteceu. Será que eu corria o risco de levar uma surra ou ficar de castigo? Ainda sou tão nova, é de se esperar que eu faça besteira, mas o meu erro custou a vida de Rodrigo e bagunçou a vida de mais três pessoas. Não me arrependo de ter matado Rodrigo, mas não devia ter feito isso na porta da casa de alguém. Alexia agora ficaria ainda mais esperta e seria ainda mais difícil impedi-la, e agora tinha três seres, que eu não sabia se eram de confiança, dentro de nossa casa.
Parei em frente a porta do escritório de Roger, respirei fundo e bati na porta.
– Entre. _ ouvi Roger dizer.
Abri a porta e entrei. Estava com medo, mas fui assim mesmo.

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