Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 20

Capítulo 20: Surpresa

“Faça sempre o que tiver medo de fazer”.

Marcos e eu saímos do jardim e fomos para cozinha almoçar com Pamela e Roger. Na mesa o assunto estava leve até que fomos obrigados á falar sobre Alexia e minha mãe adotiva.

– Acredito que Marcos já tenha falado com você sobre sua mãe, Alicia! _ Roger disse.

– Sim. Eu vou até lá para ajuda-la. _ eu disse enquanto retirava a mesa.

– Certo. Vou falar com ela para acertarmos os detalhes. Acha que consegue estar pronta para partir daqui dois dias? _ Roger disse.

– Sim, mas como eu vou chegar lá? _ eu perguntei.

– Não se preocupe, eu vou dar um jeito. _ Roger disse.

– Certo. _ eu respondi.

Depois de arrumar a cozinha eu subi para o meu quarto e me deitei na cama. Dormi até chegar a hora de treinar. No treino, Marcos insistiu em me ensinar a me equilibrar em uma corda bamba. No começo eu dei uma gargalhada, mas logo entrei em pânico quando percebi que ele estava falando sério. Depois de quatro quedas e um braço quase quebrado eu finalmente consegui chegar até o final do percurso. Marcos era um amor de pessoa, mas quando o assunto era treino ele era extremamente exigente e disciplinado. Sempre se preocupava comigo, mas deixava-me chegar quase ao limite para depois passar a mão em minha cabeça.

Naquela noite eu dormi como um bebê graças ao meu extremo cansaço. No dia seguinte às seis da manhã eu já estava de pé novamente escolhendo meu figurino para mais um treino.

Enquanto escolhia minha roupa ouvi alguém bater em minha porta.

– Entre! _ eu disse.

A porta se abriu e Roger entrou em meu quarto.

– Bom dia, querida! _ ele disse.

– Bom dia, Roger. Quer se sentar? _ eu disse sorrindo e indiquei a cadeira para ele.

– Encontrei uma forma para você ir até sua mãe! _ ele disse se sentando.

– Mesmo? Como? _ eu perguntei.

– Criei um portal para você no meu castelo. _ ele disse.

– É seguro? _ eu perguntei.

– Acredito que sim. O portal vai direto para um ponto na floresta, atrás da casa de sua mãe. Você deve ir amanhã. _ ele disse.

– Tudo bem. _ eu respondi.

Roger assentiu, sorriu para mim e saiu do meu quarto para que eu pudesse terminar de me arrumar.

Durante todo aquele dia eu fiquei um pouco aérea. Tentei fingir que estava tudo bem e que eu estava conseguindo lidar bem com a situação, mas é claro que todos eles perceberam o meu nervosismo. Pamela conversava comigo sobre assuntos animados para tentar me distrair. Eu me sentia pronta fisicamente, mas estava tendo dificuldades em me preparar emocionalmente.

Pena que o tempo não quis parar para me esperar e o dia seguinte chegou mais rápido do que eu desejava.

Seis da manhã meu despertador tocou. Levantei-me, tomei banho e comecei a me arrumar. Vesti uma calça jeans preta, uma camiseta preta, minhas botas cor caramelo e minha jaqueta marrom. Sequei meu cabelo castanho com mexas azul e o prendi em um rabo de cavalo. Fiz maquiagem, em seguida comecei a limpar as novas adagas que eu havia ganhado de Marcos.

Quando estava quase terminando ouvi alguém bater em minha porta.

– Entre! _ eu disse.

A porta se abriu e Marcos entrou.

– Bom dia, filha. _ ele disse enquanto entrava.

– Bom dia! _ eu disse sorrindo.

– Está pronta? _ ele perguntou.

– Quase pronta. _ eu disse tentando ser confiante.

– Vai dar tudo certo. Sua mãe estará esperando você. Alexia não vai estar por perto e você só precisa trazer sua mãe em segurança. Se Alexia descobrir e tentar alguma coisa não se esqueça de que você é tão forte quanto ela e agora sabe usar essa força. Você deve proteger sua mãe. _ Marcos disse.

– Está bem! _ eu disse.

– Roger e eu vamos partir hoje logo depois que você sair. Teremos que falar com o conselho dos guardiões, e eles não costumam acreditar no que outros seres como demônios ou anjos dizem, vai dar trabalho convence-los do perigo de Alexia. _ ele disse.

– Você acha que eu poderia falar com meus amigos enquanto eu estiver por lá? _ eu perguntei.

– Eu acho muito perigoso. Prefiro que você pegue sua mãe e venha para casa. Pamela vai estar aqui cuidando da casa e do castelo. _ ele disse.

– Tudo bem. _ eu disse.

– Vou esperar você lá em baixo. _ ele disse e beijou minha testa.

– Já vou descer. _ eu disse sorrindo.

Marcos saiu do quarto e eu terminei de arrumar minha mochila. Logo eu desci também.

No andar de baixo eu me despedi de Pamela.

Roger, Marcos e eu demos as mãos enquanto Roger dizia um feitiço que logo nos levou até o portão de entrada do castelo. Em frente ao portão, Roger disse algumas palavras que fizeram com que o portão se abrisse. Nós entramos e, ao fecharmos o portão novamente, iniciamos a caminhada até o castelo. O castelo de Roger tinha um feitiço tão poderoso que nem mesmo ele conseguia se transportar diretamente para dentro dele, era preciso fazer um feitiço para chegar ao portão e outro para abri-lo, e o trajeto até ele só poderia ser feito a pé.

Durante a trajetória, nós nos deparamos com vários guardas do Roger. Eu sorri e cumprimentei todos eles. Depois de pedir desculpas um milhão de vezes, todos eles agora gostavam de mim.

Quando chegamos ao castelo e entramos, a mulher de vermelho nos cumprimentou e nos deu passagem. Andamos pelo corredor cheio de portas, até que paramos de frente a uma delas. Era impossível disfarçar minha ansiedade, que agora se misturava com a felicidade de estar prestes a rever minha mãe depois de todo esse tempo.

– É aqui! _ Roger disse. _ Alicia, quando você entrar por essa porta, você sairá direto na floresta, à mesma que fica nos fundos da casa de sua mãe. Tenha muito cuidado. O portal é seguro, mas enquanto você estiver lá você estará correndo perigo.

– Está bem! _ eu respondi.

– Filha, tenha cuidado e volte assim que der. Não sei se eu já estarei aqui quando você voltar, mas Pamela estará e poderá buscar vocês e leva-las para casa. _ Marcos disse.

Eu assenti. Dei um abraço forte em Marcos e Roger.

– Até mais! _ eu disse aos dois.

– Até mais! _ eles responderam.

Eu caminhei até a porta e ao abrir disse as palavras que Roger me instruiu a dizer. Logo senti um cheiro úmido, típico da floresta. Atravessei a porta e sai no meio da floresta.

Roger havia me dito que eu andaria por cerca de dez minutos, em uma trilha que ele mesmo tinha feito, e assim eu fiz. Procurei pela trilha e, ao encontrar, comecei a seguir por ela. Apesar de parecer ter se passado uma eternidade, olhei em meu relógio de pulso e percebi que haviam se passado apenas nove minutos desde que eu havia começado a andar. Devia ser fruto da minha ansiedade. Eu mal conseguia acreditar que veria minha mãe novamente. Ela sempre cuidou de mim e me protegeu. Eu realmente a considerava como minha mãe.

Dois minutos depois, eu avistei o portão dos fundos da minha casa. Meu coração começou a bater mais forte. As borboletas em meu estômago pareciam estar batendo suas asas freneticamente. Passei pelo portão e andei em direção à porta da casa. A porta estava destrancada. Entrei.

– Mãe! _ chamei por ela. Estava ansiosa para vê-la.

A casa estava tão escura. Passei pela lavanderia e fui em direção à cozinha.

Estava tudo tão arrumadinho.

– Mãe! _ chamei novamente. Roger havia dito que minha mãe estaria me esperando.

Deixei minha mochila na sala e carreguei comigo apenas uma adaga. Subi para o andar de cima e entrei em meu quarto. Minha cama estava forrada com um lençol marrom. Minha penteadeira estava vazia, não havia nem um simples batom. Meu quarto estava tão diferente. Alexia devia ter mudado tudo, propositalmente. Não posso acreditar. Poderia no mínimo ter deixado meu quarto do jeito que estava. Saindo do meu quarto andei pelo corredor em direção ao quarto da minha mãe. De repente escorrego e levo um tombo de costas no chão.

– Ai! _ reclamei da dor.

Na tentativa de entender o que estava acontecendo, passei a mão pelo piso ao meu redor. Estava molhado. Devido à queda eu também fiquei toda molhada. Ainda com a adaga em uma das mãos, eu me levantei e procurei uma pequena lanterna no bolso da minha calça. Pressionei o botão para ligar e direcionei a luz para o chão. Mas não era água. Era sangue.

– Mãe! _ digo desesperada.

Corri para o quarto dela e quando abri a porta me deparei com a cena mais horrível de toda minha vida. Havia pedaços de corpo por todo o quarto. Uma mão aqui, um pé ali e sobre a cama a cabeça da minha mãe, com os olhos arregalados e sem vida.

– Não! _ minha voz saiu em um sussurro. Fiquei parada na porta do quarto. As lágrimas começaram a descer. Minha mãe, que tanto me protegeu, está morta.

Tentei secar minhas lágrimas e parar de chorar, mas não conseguia. Entrei no quarto e meu coração parecia que iria explodir de tanta dor. O cheiro de sangue estava me deixando enjoada. Eu queria gritar, mas não conseguia. Queria sair correndo, mas meus pés pareciam estar pregados ao chão.

– O que você fez? _ disse uma voz masculina atrás de mim.

Eu me virei assustada, e vi um rapaz de dezessete anos, alto, de pele branca, cabelo castanho escuro e olhos azuis, parado na porta do quarto. Era o Pedro.

– Pedro! _ eu disse.

– Como você sabe meu nome? _ ele disse espantado.

– Sou eu, Pedro! Eu sou Alicia!

– Não! Eu vi a Alicia ontem á noite! Você não é ela. Alicia tem cabelo preto e olhos castanhos. _ ele disse enquanto empunhava uma faca. _ foi você quem fez isso?

– Pedro, sou eu! Eu não fiz nada! _ eu disse.

– E esse sangue todo em sua roupa? E a adaga em sua mão? _ ele disse.

Eu olhei para mim mesma. Minha roupa estava suja de sangue e eu estava segurando uma adaga. Droga! Estava mesmo parecendo que eu tinha feito tudo aquilo.

– Por favor! Acredite em mim! Eu sou Alicia! _ eu disse secando minhas lágrimas.

– Acho que está mais para Alexia! _ ele disse se aproximando de mim.

– Não acredito! Aquela vaca contou nossa história para você? _ fiquei irritada.

– Então você admite que seja Alexia? _ ele disse com raiva.

– Não! A história é real, mas ela é Alexia e eu sou Alicia. Você se importa em não chegar perto de mim com essa faca? _ disse enquanto dava alguns passos para trás.

– Alicia não tem olhos azuis! _ ele disse dando um passo em minha direção.

Não poderia lutar com ele. Não que eu goste dele, mas ele é um dos mocinhos e eu não posso machuca-lo, seria um erro. Eu precisarei dele para lutar contra Alexia. Marcos havia me ensinado muito sobre o certo e o errado, ele não gostaria de saber que eu bati em alguém como o Pedro. O único jeito seria fugir. Pedir ajuda a Pamela. A janela do quarto da minha mãe não tinha grades, eu conseguiria passar por ela facilmente. A distancia até o chão é grande, mas se eu me transformar isso não será um problema.

Estava decidido. Eu não iria lutar com Pedro, mas ele não acreditaria que eu sou a verdadeira Alicia, então a única saída era fugir para ganhar tempo.

Transformei-me. Pedro se surpreendeu, mas voltou a se aproximar. Eu corri para a janela, abri e pulei aterrissando com perfeição, mas acabei perdendo minha adaga. Comecei a correr em direção à floresta, mas quando olhei para trás percebi que Pedro também havia pulado a janela e estava correndo atrás de mim. Droga. Entrei na floresta e comecei a correr em ziguezague para tentar despista-lo. Olhei para trás novamente e não o vi mais. Parei de correr e me encostei-me a uma arvore. De repente, Pedro apareceu e me deu um soco no rosto.

Eu cambaleie para o lado me segurei em outra arvore. Se eu lutasse com Pedro sei que ele se sairia muito machucado, mas eu não queria. Queria que ele acreditasse em mim.

– Você está batendo em uma garota, seu idiota! Não tem vergonha não? _ eu gritei para ele.

– Você não é só uma garota, você é um demônio! Você quer acabar com todos os mestiços! Mas eu não vou deix… _ antes que ele terminasse a frase eu lhe dei um soco na boca.

– Sua mãe nunca te ensinou a não mexer com as garotas? _ eu perguntei sorrindo enquanto dava uma joelhada em sua barriga e um soco em seu olho.

Talvez eu pudesse apenas dar uma surra nele para ele me ouvir. Então começamos a brigar.

Pedro me acertou vários golpes, mas eu estava forte. Estava quase o nocauteando, quando de repente ele me deu um empurrão tão forte que me fez bater contra uma arvore e quase a quebrar. Antes mesmo de me recuperar, Pedro já estava em minha frente. Com uma só mão ele me levantou e me pressionou contra a arvore. Eu o olhei e percebi que seus olhos estavam totalmente brancos, ele havia se transformado em anjo, mas não por completo. Ele segurava em meu pescoço e começou a me enforcar. Tentei me soltar de seu aperto, mas não conseguia.

– Pedro, não faça isso! _ disse em sussurro com muita dificuldade. _ eu sou Alicia. Você tem que acreditar em mim.

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