Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 21

[Zona Portuária – Rio de Janeiro – Galpão 64 – Noite]

Os policiais vasculham o galpão e encontram uma porta. Giram a maçaneta e abrem a porta.

DELEGADO – Paradas ai, mãos na cabeça.
ANITA – Por favor delegado, me salva. Ela é a chefa da quadrilha, eu fui traficada, trazida para o Rio com promessa de empreso, mas na hora é para ser escrava sexual. Meu nome é Anita.
DELEGADO – Anita? Então você é Anita? Venha conosco, Já a senhora vai ter muito o que explicar, levem essa senhora para o carro.
JOANA – Eu sou inocente.
DELEGADO – Todo mundo sempre é. Levem ela.
ANITA – Têm as outras, elas ficam em um alojamento no final do corredor.
DELEGADO – Vamos lá, cuidado.

Os polícia se aproximam da porta, usam o mesmo mecanismo que usaram para abrir a porta dos fundos, abrem a porta e tiros vem lá de dentro. Os policiais se escodem.

DELEGADO – Policia, rendam-se, o prédio está cercado.

Dentro da sala um capanga atira, as meninas estão juntas em um canto dala, Luana, pega um objeto pesado, se aproxima do capanga e bate com o objeto na cabeça do capanga que caí.

LUANA – Podem entrar, ele tá desacordado.

Os policias entram e algemam o capanga.

DELEGADO – Estão todas bem?
GAROTAS – Estamos
DELEGADO – Vocês vão ser direcionadas a delegacia
LUANA – Nós vamos ficar presas?
DELEGADO – Não, só vamos colher o depoimento de vocês e elaborar uma estratégia de reintegrar vocês na sociedade.

Vão todos para o carro. Perto dali o Eupátrida ver a movimentação e se esconde perto do táxi onde Benedita está.

EUPÁTRIDA – Merda, os negócios foram por água abaixo. Rapaz fiquem aqui, os outros já devem ter sido presos.

Benedita desse do carro e vai em direção ao Eupátrida.

BENEDITA – Parece que a casa caiu para vocês, né!

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Hotel – Noite]

RICARDO – (No telefone) A polícia ligou e disse que ela tá bem, na delegacia, vai prestar depoimento, estou indo para lá.
SUSANA – Obrigado meu filho, eu vou para lá então.
RICARDO – Tudo bem. Estou indo então, boa noite. (desliga)

Susana vai até o apartamento de Marcelo

SUSANA – Desculpe por incomodar é que eu recebi a noticia que a policia conseguiu resgatar a Anita.
MARCELO – Massa, vamos para lá agora.

Susana fica tonta e senta no chão do corredor dos apartamento.

MARCELO – Dona Susana, a senhora tá bem?
SUSANA – Foi só uma tontura, vamos lá.
MARCELO – Vamos amanhã, vou levar a senhora para o seu apartamento, precisa descansar, toda essa história está lhe deixando estressada, vamos!

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Leonardo – Noite]

Inicio do flahsback – 10 anos antes

Algumas crianças estão na porta brincando.

LEONARDO – (Chegando) Posso brincar com vocês?
RENATO – Por mim, no meu time não vai entrar, você não consegue correr rápido com essa gordura toda.
VINICIUS – Nem no meu, gente gorda só atrapalha.
LEONARDO – Eu sei jogar.
RENATO – Não baleia.
CRIANÇAS – (Gritando) Baleia, Baleia, gordo, elefante!

Leonardo sai correndo para casa, entra no quarto, se joga na cama e chora.

Fim do flashback

Leonardo está deitado na cama, acordado virando de um lado para o outro.

PENSAMENTO: Ninguém nunca vai te querer, você é feio Leonardo, só parar e olhar no espelho.
LEONARDO: Um carneirinho, dois carneirinho, três carneirinho…
PENSAMENTO: Feio, chato, nem seus amigos te aguentam, por isso eles vão embora.

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Leonardo – Manhã]

LEONARDO – Respira, que seus pensamentos vão parar!
DONA ROSA – (Entrando no quarto e com um bolo na mão) Parabéns, pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida, hoje é dia de festa, para alegrar nossas almas, Leonardo faz ano, uma salva de palmas. Parabéns meu amor!
LEONARDO – Obrigado mãe, já amanheceu?
DONA ROSA – Já e tá uma dia lindo lá fora.
LEONARDO – Dormir nada hoje
DONA ROSA – Deve ser ansiedade para o teu aniversário, agora vai banhar e me ajudar lá na feira.
LEONARDO – Mãe, se a senhora não se importar eu queria estudar um pouco agora pela manhã e ver se durmo alguma coisa. Onde está a Benedita?
DONA ROSA – Chegou tarde ontem e deve tá dormindo.
LEONARDO – Desculpa mãe.
DONA ROSA – Tudo bem meu filho, descansa.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Sala – Manhã]

BEATRIZ – Acho que vou convidar a Pilar para vim almoçar conosco.
MAXWELL – Lembre-se que a Lia vem almoçar conosco
BEATRIZ – Já disse que faço pouco gosto dessa menina aqui.
TEODORO – Pode chamar, tem espaço e comida o suficiente para as duas.

Ricardo e Anita entram.

RICARDO – Bom dia!
BEATRIZ  – Onde você passou a noite meu filho?
RICARDO – Fui buscar a Anita na delegacia.
BEATRIZ – E o que essa mulher da noite está fazendo na minha casa?
RICARDO – Ela é minha convidada mãe.
TEODORO – E é bem vinda nessa casa, filha da sua amiga.
BEATRIZ – Aquela assassina não é minha amiga.
ANITA – Desculpe Ricardo, mas não vou ficar em um lugar em que não sou bem vinda e muito menos ficar escutando minha mãe ser xingada,  eu vou embora.
RICARDO – Nada disso, você ficará aqui, você é bem vinda sim; Vamos venha tomar café.

A campainha toca e Raimunda vai atender.

RAIMUNDA – Pois não?
SUSANA – Quero falar com minha filha
RAIMUNDA – Creio que a não conheço.
SUSANA – Conhece sim é a Anita, trabalhava aqui, vá chamar ela.
TEODORO – (Vindo até a porta) Susana? Pode entrar.
BEATRIZ – Ah não, era só o que me faltava agora, a assassina na minha casa.
SUSANA – Eu vim buscar a minha filha.
BEATRIZ – Pode levar a concubina daqui.
SUSANA – Lave a boca para falar da minha filha, vamos Anita!
RICARDO – Calma, vocês estão alterados, daqui a pouco o almoço sai, porque não ficam?
BEATRIZ – Como é que é?
TEODORO – Isso mesmo, excelente ideia, vamos todos almoçar juntos.
BEATRIZ – Eu não participarei desta pataquada, vou para os meus aposentos.
TEODORO – Nada disso, você vai vir almoçar conosco, não seja mal educada.
BEATRIZ – Como é que é?

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Leonardo – Manhã]

DONA ROSA – (Batendo na porta do quarto) Filha, você não quer comer alguma coisa? Fiz um café para você.
BENEDITA – (Abrindo a porta do quarto) Como a senhora me chama de filha? Eu já sei da verdade, eu fiz um teste de DNA e deu que ela é minha mãe.
DONA ROSA – Você  minha filha, eu cuidei de você.
BENEDITA – Depois de me roubar né?
DONA ROSA – Eu sei que você nunca vai me perdoar, mas desde o momento que vi você, senti como se fosse minha.
BENEDITA – Eu não caiu nessa chantagem emocional, eu vou sair e não sei que horas volto. (saindo)
DONA ROSA – Não esqueça que hoje é aniversário do seu irmão.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Manhã]

BEATRIZ – Você pirou né? Desde quando você acha que eu tenho que te obedecer?
TEODORO – Quando você parar de agir como criança mimada, já estou cansado dessa sua atitude.
BEATRIZ – Então vai embora e leva essas dai com você.
TEODORO – É isso que você quer?
BEATRIZ – Fala o que você quiser.
RICARDO – Ei, ei vamos parar? Acho que já tivemos confusão demais para uma semana só.

Beatriz sobe para o quarto. A campainha toca.

RAIMUNDA – Eta que hoje essa campainha tá animada.
MARCELO – Por favor, a minha namorada, Anita.
RAIMUNDA – Um momento. (sai e vai até Ricardo) Senhor tem um homem se dizendo namorada da senhorita Anita na porta, posso deixa-lo entrar?
RICARDO  – Namorado da Anita?
SUSANA – Deve ser o Marcelo, ele disse que viria, passei mal ontem e ele não teve como ir ontem na delegacia, deixe ele entrar, por favor.
RICARDO – Tudo bem, mande ele entrar.
ANITA – Que história foi essa de passar mal, mamãe?
SUSANA – Foi só a pressão que baixou, não se preocupe.
MARCELO – (Chegando e abraçando Anita) Oi amor, como você está? (beija ela)
ANITA – Eu estou bem.
TEODORO – Vocês podem ficar a vontade, qualquer coisa estarei no escritório.

***

[Polícia Federal, Rio de Janeiro, Delegacia – Manhã]

JOANA – Minha filha, o que você faz aqui?
BENEDITA – Vim vê-la, não poderia deixa-la nesse momento, afinal a senhora é minha mãe.
JOANA – Mas aqui não é lugar para você.
BENEDITA – Que trabalho era esse seu, mãe.
JOANA – Na verdade era do meu marido e quando ele morreu, acabei tomando de conta, ontem eu ia acabar com esse negocio. Eu fui uma dessas escravas sexuais, quando eu estava te procurando, acabei caindo na conversa de um agenciado,  tive sorte que o dono da sociedade se interessou por mim.
BENEDITA – Mas como funcionava?
JOANA – Era uma sociedade secreta, que incluía várias pessoas da alta sociedade brasileira, começou com um grupo de amigos e expandiu. Cada um contribuía, para você entrar na sociedade tem uma iniciação de modo a deixá-la segura, nesse processo não se deixa rastros e apenas os forte e dignos entram, depois disso cada um tinha que contribuir com uma taxa mensal, dai veio a nossa riqueza.
BENEDITA – Que loucura, como tem gente que embarca nessa? Algo surreal, parece história de ficção, sociedade secreta, escravas sexuais.
JOANA – Mas existe na realidade.
BENEDITA – Como eu vou fazer agora? Eu to saindo de casa, parece que seus bens foram bloqueados, eu não tenho mais pra onde ir, como tínhamos combinado que ia sai de casa para morar com você.
JOANA – Oh minha filha, eu não sei o que fazer, (pensa) já sei! Eu vou te dar o número de uma conta e senha que ninguém sabe, ela é para emergência, não está no meu nome e nem do meu marido, anote ai.
BENEDITA – (pegando um papel e caneta na bolsa) pode falar.
JOANA – 10987-X o número da conta, a senha em 19EXV, no banco internacional, só você levar o teste de DNA que eles vão liberar, já que você é minha filha e eu já falei com eles, desde quando eu soube que era você.
BENEDITA – Obrigado.
JOANA – Eu te amo minha filha, você pode chamar um advogado para mim? E comunique a Beatriz e ao Teodoro.
BENEDITA –  (Tira o sorriso dócil do rosto e fica com uma expressão mais fria) Não chamarei ninguém, você acha mesmo que eu me preocupo com você? Quando você apareceu lá em casa, rica, eu vi que era a minha chance de sair daquele subúrbio de merda, por que você acha que eu fiz questão de te procurar depois? Fiz que estava encantada com você pra conseguir sua confiança e seu dinheiro. Quando você foi presa e seus bens bloqueados pensei que era o fim, mas encontrei  seu  braço direito, como é que ele se chama, Ah! O Eupátrida e ele me falou que você tinha dinheiro escondido.

Início do flashback – Noite passada

Perto do galpão o Eupátrida ver a movimentação e se esconde perto do taxi onde Benedita está.

EUPÁTRIDA – Merda, os negócios foram por água abaixo. Rapaz fiquem aqui, os outros já devem ter sido presos.

Benedita desse do carro e vai em direção ao Eupátrida.

BENEDITA – Parece que a casa caiu para vocês, né!
EUPÁTRIDA – Quem é você?
BENEDITA – Bom eu sou filha da mulher que acaba de ser presa no galpão.
EUPÁTRIDA – Da Joana? E o que faz aqui?
BENEDITA – Segui ela, queria saber que negócio era esse que ela tinha.
EUPÁTRIDA – Não posso ficar de conversa agora.
BENEDITA – O jogo acabou para vocês, mas podemos ganhar ainda uma bolada.
EUPÁTRIDA – Como?
BENEDITA – Vamos para um lugar mais seguro.

Os dois seguem até o galpão 19

EUPÁTRIDA – Bom e qual é o seu plano?
BENEDITA – Antes precisamos de algumas coisas, como dinheiro.
EUPÁTRIDA – Sua mãe tem uma conta secreta, ela tem a conta e a senha, consiga e terá dinheiro suficiente para fazer o seu plano.
BENEDITA – Isso eu consigo, amanhã colocaremos em prática, reúna alguns homens de confiança.
EUPÁTRIDA – E por que eu deveria confiar em você?
BENEDITA – E em quem mais vai confiar?

Fim do flashback.

BENEDITA – Agora que eu já tenho o que eu quero, não preciso mais de você.
JOANA – Mas por que?
BENEDITA – Eu sempre quis ser rica, agora eu vou ser (sai da presença de Joana)
JOANA – (chora) Eu deveria ter ficado com a Beatriz.

Fora da delegacia.

BENEDITA  – (no celular) Consegui, prepare os homens, vamos sequestrar minha irmãzinha querida Beatriz, dona do império de joias Meu Rio.
EUPÁTRIDA – Certo, só mandar as ordens.
BENEDITA – Quero que seus capangas fiquem de tocaia perto da casa dela e quando tiverem uma oportunidade levem ela para passear, deixa o avião pronto para partirmos.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Manhã]

RAIMUNDA – Dona Pilar, a senhora por aqui?
PILAR – O Ricardo está?
RAIMUNDA – Sim, ah aquela tal de Anita está ai também.
PILAR – Então o demônio voltou, mas preciso conversar com o Ricardo, se me permite.
RAIMUNDA – Entre

Na sala.

RICARDO – Eu espero que esse pesadelo tenha acabado, pelo menos acabaram com essa quadrilha.
ANITA – É muito ruim, não sabem os horrores que vive lá
MARCELO – Mas agora acabou meu amor, vamos casar e ser feliz.
PILAR – (Entrando) Bom dia, com licença. Que bom que está a salva Anita, imagino o sufoco (vai abraçar Anita), acho que o melhor é voltar para o Maranhão, o noivo aqui deve ta ansioso pelo casamento.
MARCELO – E como.
PILAR – Eu queria ter uma conversa particular com o Ricardo, se possível.
RICARDO – Claro, vamos até o escritório.
MAXWELL – O papai está lá.
RICARDO – Então vamos até o meu quarto.
PILAR – Claro.

Os dois sobem e vão para o quarto.

RICARDO – E então, o que você quer me falar
PILAR – Primeiro, eu quero que você saiba que não foi de proposito, aconteceu.
RICARDO – O que aconteceu?
PILAR – Eu estou grávida.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Leonardo – Manhã]

LEONARDO  – Mãe eu tenho uma prova hoje no primeiro horário, acho que vou logo, não quero me atrasar.
DONA ROSA – E o seu almoço?
LEONARDO – Eu como lá na faculdade.
DONA ROSA – Você se esforça tanto meu filho, quem me dera se a Benedita fosse assim.
LEONARDO – E onde ela está?
DONA ROSA – Saiu.
LEONARDO – Mãe, já senti que o clima entre vocês está difícil, o que está acontecendo?
DONA ROSA – É uma história longa, não quero que você se aborreça hoje, é o seu dia, amanhã conversamos.
LEONARDO – Tudo bem, deixa eu ir então.
DONA ROSA – Deus te abençoe meu filho.

***

[Madureira, Rio de Janeiro, Casa de Beatriz – Manhã]

RICARDO – Como assim grávida?
PILAR – Aconteceu, lembra que eu passei mal ontem?
RICARDO – Sim.
PILAR – Eu fiquei enjoada e vomitei, hoje pela manhã aconteceu a mesma coisa, suspeitei e fui conferir a minha menstruação, ta atrasada, fui a farmácia e comprei um teste, a suspeita se confirmou, aqui está o teste. (Tira da bolsa e mostra para Ricardo)
RICARDO – Mas já tem um tempo que terminamos.
PILAR – Eu não estive com ninguém depois que terminei com você.
RICARDO – Mas não pode ser meu
PILAR – Eu não acredito que você acha que estou querendo dar o golpe da barriga.
RICARDO – Não foi isso que eu disse
PILAR – Mas é o que está pensando
RICARDO – Calma, vamos dar um jeito. Logo agora que….
PILAR – (Cortando) Logo agora o que? Você acha que eu fiz isso para separar você daquela prostituta nordestina? Não vou ficar aqui para escutar isso. (sai)

Beatriz sai do quarto e encontra com Pilar

BEATRIZ – Eu já ia convidar você para vir aqui
PILAR – Era melhor eu não ter vindo.
BEATRIZ –  O que aconteceu?
RICARDO – Pera ai, vamos conversar Pilar.
PILAR – Eu não quero mais falar com você
BEATRIZ – O que aconteceu aqui?
PILAR – Aconteceu que eu vim dar uma boa notícia para o seu filho e ele vem com maus pensamentos sobre mim.
BEATRIZ – Que notícia é essa?
PILAR – Eu estou grávida, você vai ser avô

***

[Rio de Janeiro, Metrô – Manhã]

LEONARDO – (No celular) Alô!?
BENEDITA – Leo, você está onde?
LEONARDO – No metrô indo para a faculdade
BENEDITA – Vou te esperar lá, onde te encontro?
LEONARDO – Perto do restaurante universitário, mas por que você quer me encontrar
BENEDITA – Lá conversamos

Lucas Serejo

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