Cantiga de Amor

Capítulo 38 – Cantiga de Amor

Cena 01: Região Portuária. Manhã.

Edetto – Fim da jornada para todos vocês!

Izabella – Já estávamos cansados de sermos feitos de gatos por ratos, que era com o que vocês estavam se parecendo.

Valentina, Gregório, Agnella, Pero, Gustavo e Cecília começam se aproximar uns dos outros.

Valentina – Mas eu já falei: eu não me renderei assim. Gregório, vem comigo.

Então, ela dispara, tentando escapar do cerco que Edetto, Izabella, Adelmo, Giancarlo, Marlete e Inês estavam formando. Consegue encontrar uma brecha entre Giancarlo e Izabella, e começa a correr.

Gregório – Valentina!

Ele esboça uma corrida, mas o cerco se fechou ainda mais. Enquanto isso, Valentina, correndo, esbarra em alguém. Quando tenta desviar, outra pessoa se coloca em sua frente.

Valentina – Mas o que é isso? Me deixem passar!

Outro homem aparece na frente de Valentina, que começa a recuar. No entanto, eles são mais rápidos e conseguem segurá-la, levando-a, mesmo com suas debatidas, até Edetto.

Edetto – Muito obrigado, senhores. Eu sabia que poderia precisar da ajuda de outros homens, e os senhores foram de muita importância. Podem amarrá-la.

Valentina – Me amarrar? Não! Eu não irei voltar para aquela prisão!

Gregório – O senhor não pode fazer isso com ela! Ela não é sua escrava!

Izabella – Como um seminarista deverias saber que ela não poderia fugir do nosso feudo.

Edetto – Além do mais, ela nos deve impostos, os quais não pagou devido à sua fuga.

Gregório – Eu não posso permitir que Valentina seja levada assim!

Edetto – Não te aproximes, rapaz. Esses homens têm força suficiente para dar uma lição em um rapaz franzino como tu.

Gregório – Mas…

Gustavo – Deixa, Gregório. Eu vou tentar convencê-los. (Se dirige aos pais) Pai, por favor, perdoe as dívidas dessa mulher. Por que, afinal, ela não pode tentar viver uma vida um pouco mais livre? Os senhores não permitiam o mesmo a mim?

Izabella – Em primeiro lugar, tu tens que prestar bastante atenção no que falas. Essa história de uma vida livre soa como uma heresia, uma afronta aos princípios que tu deverias ter aprendido.

Gregório – Mas, minha senhora, ninguém aqui esteve contra a vontade de Deus.

Edetto – Não tens como provar o que disseste. Além do mais, Gustavo, esses dias de tuas andanças terminaram. Tu voltarás conosco para casa, e passará a viver como um senhor feudal, não mais como um vagabundo que só arranja problema por onde passa.

Giancarlo – É isso mesmo. O senhor é o pai dele, não é? Pois saiba que esse homem se passou por outro apenas para pôr a mão em um tesouro que era da nossa família!

Edetto – Como é? Tu podes me explicar isso direito, Gustavo? Isso é verdade?

Gustavo – Meu pai, essa história é longa, eu prefiro explicá-la melhor depois.

Marlete – Mas por que depois? Teu pai precisa saber de tudo, não é? Pois bem, senhor, seu filho conheceu um homem no navio, o matou – ou deixou morrer, o que dá no mesmo – roubou dele o colar que lhe servia de identificação para nossa família, e fingiu ser ele para herdar o tesouro que não era seu. Ah, e ainda iria se casar com a minha prima Cecília!

Agnella – Casar, Gustavo? Tu irias se casar com ela? (A voz embarga levemente) E por que mentiste para mim, dizendo que nunca havias me esquecido, se tu irias se casar? Eu… Não posso acreditar nisso. Isso é mentira, não é? Isso é mentira! Essa mulher está mentindo!

Giancarlo – Querida garota, o que minha sobrinha falou é totalmente verídico. E foi para afastar minha filha desse cafajeste que eu atravessei esse mar até aqui. Mas já está na hora de voltarmos, não é, Cecília?

Cecília – Mas meu pai, me permita ficar aqui. Eu vim porque… Tudo bem. Eu admito para vocês o que eu já havia confessado a Gustavo. Eu o amo, eu passei a amá-lo, desde que eu o vi, desde que ele passou a morar em nossa casa.

Edetto – Em Jerusalém? No meio de uma guerra?

Cecília – Claro que não era em Jerusalém. Era em Termes. Meu pai é comerciante lá. E mesmo depois de descobrirmos a sua mentira, eu quis dar-lhe uma nova chance. Ou melhor, eu quis me dar uma nova chance, já que agora não tenho como possuir o tesouro. O herderiro do amigo do meu avô está morto…

Edetto – Termes? Herdeiro? Que história é essa, Gustavo?

Gustavo – Pai, eu explico depois para o senhor.

Marlete – Se o senhor precisar de minha ajuda…

Giancarlo – Quieta, Marlete. Não precisamos dar detalhes de nossa vida, da história de nossa família para estranhos. Se ele quiser saber, o filho dele contará. Nós precisamos ir embora. Ao que parece, há uma embarcação que está se dirigindo ao oriente, e que irá fazer uma parada em Termes.

Ele pega no braço de Cecília, e a puxa para o seu lado.

Cecília – Gustavo, foi muito bom estar contigo esse tempo… Agora que não parece haver para onde irmos, não é, temos que obedecer aos nossos pais.

Agnella – Vá embora mesmo! Somente eu posso amar Gustavo! Eu sou a única a quem ele ama. Não é isso, Gustavo?

Gustavo – Agnella, isso não é hora de discutirmos esse assunto.

Agnella – Não irás me responder? Então não me amas mais! Está na hora de admitires isso!

Adelmo – Esquece esse homem, Agnella! Vês que ele nunca sentiu nada de bom e verdadeiro por ti? Ao contrário de mim, que sempre te ajudei! Lembra do dia em que tu e ele esbarraram-se na estrada, tua água derramou e tuas moedas caíram na floresta? Quem foi que te deu um balde com água e as moedas para comprares o pão? Eu! Então, Agnella, vamos voltar para tua casa. Teus pais te aguardam. Tenho certeza de que lá, perto deles e de mim, tu irás ficar mais segura.

Agnella – Segurança… Eu pensava que teria contigo, Gustavo. O que aconteceu? Foi essa mulher, não foi? Foi essa viagem? Eu preciso saber, porque deve haver um jeito de tu gostares de mim novamente…

Izabella – Ei, moça, tu podes parar de importunar meu filho? Ele não é o homem certo para ti. Talvez esse outro camponês que fala contigo seja essa pessoa, e tu não o percebes. Ele te dirigiu a palavra, e tu não o respondeste. Então não venhas aborrecer Gustavo.

Adelmo – Agnella, tu ouviste o que essa senhora falou. Volta comigo, esquece Gustavo. Ele é um filho de senhores feudais, e não merece tua confiança.

Izabella – Alto lá, porque apesar de tudo ele é meu filho!

Adelmo – Me perdoe, senhora, mas a história que nos foi contada prova isso. E então, cara donzela, vamos voltar para casa.

Agnella – Está certo. Eu voltarei. Eu sei, Adelmo, de tudo o que fizeste e te agradeço muito. Mas eu voltarei porque Gustavo também irá.

Adelmo – Agnella… Se continuares me menosprezando, perderás o meu amor também, assim como não tens mais a ilusão de que esse Gustavo a amava.

Inês – Agnella, me deixa te dar esse conselho: o meu irmão é uma ótima pessoa. Eu tenho certeza de que ele será um bom marido para ti, ao contrário do que Brás foi para mim. Não desprezes o sentimento dele. Olha o que eu fiz: por um momento desprezei o sentimento de Pero, e ele não quer mais me aceitar. Mas eu continuo pedindo a ele o meu perdão…

Pero – E eu seguirei negando. Estou cansado de ser pisado por ti, Inês. No início eu gostava, achava charmoso, atraente; mas depois de me traíres, percebi que nunca foste sincera comigo. Agora tudo o que eu quero de ti é distância. Teu irmão não está aqui? Vai com ele para tua casa. Tua mãe tinha razão ao reprovar nossa união; porém ao contrário do que ela deve pensar, eu não sou a fonte dos problemas.

Inês – Queres assim mesmo? Tens certeza, Pero? Sempre foste tão apaixonado por mim…

Pero – Cego, essa é a palavra certa. Sempre fui cego com relação a ti.

Adelmo – Virás comigo então, não é, Inês? Nossa mãe deve estar muito aflita te esperando.

Inês – Já que é assim que Pero deseja, eu farei. Um dia eu sei que ele se arrependerá.

Pero – Esse dia já passou, e eu agarrei a oportunidade que ele me ofereceu. Podes ir embora.

Edetto – Ficamos assim, então? Cada um se dirige a seu destino…

Izabella – Mas o padre e a irmã Francisca não estão esperando por todos eles? Deixaremos que o seminarista e o outro rapaz façam o que quiserem?

Edetto – Eu não posso obrigar ninguém a fazer nada, Izabella. Fica a cargo de suas consciências regressar ou não para seu lugar de origem.

Gregório – Eu irei. Eu voltarei, porque eu preciso libertar Valentina da prisão na qual a estão colocando.

Edetto – Será uma grande ilusão de tua parte se acreditares que isso será possível. Se te aproximares de minha serva por qualquer que seja a distância, sofrerá consequências graves. E isso vale para todos os outros, inclusive para ti, Gustavo.

Valentina – Foi uma péssima ideia ter voltado para cá! Gregório, eu não sei o que aconteceu, o que Deus quer, mas foi uma hora maldita aquela em que decidimos voltar. Mas eu irei fugir de novo! Eu conseguirei de novo!

Edetto – Eu tenho minhas dúvidas.

Izabella – Podemos partir agora?

Giancarlo – Os senhores passem bem, então. Vamos, Cecília; vamos, Marlete. Onde está Magno mesmo?

Edetto – Senhor, por favor, antes de irmos embora, eu preciso apenas perguntar-lhe algo, uma curiosidade pequena que eu tive. (Se vira para o restante do pessoal) Eu volto já, me aguardem aí.

Giancarlo – Pois não…

Edetto – É que… Eu não pude deixar de notar o colar que sua filha usa. O desenho dele, principalmente. É um desenho bonito. O senhor o comprou em algum lugar? Se não for muita indiscrição de minha parte, eu queria saber de que forma o senhor conseguiu esse colar.

Giancarlo – Ora, o senhor irá me perdoar, mas essa pergunta é um pouco estúpida. É claro que o colar é de família! Era de meu pai, e ele o deixou para minha filha, Cecília.

Edetto – E o seu pai ganhou do pai dele também?

Giancarlo – Isso eu não posso afirmar ao senhor. Mas, vem cá, qual o seu interesse? Essas perguntas não me parecem fazer sentido nenhum.

Edetto – Nada, não é nada. Apenas… Apenas… Foi só o desenho, a forma, como eu havia dito. Por um instante pensei que poderia adquirir um como esse, mas se é de família então deve ser mais difícil.

Giancarlo – Nesse caso, mais alguma coisa?

Edetto – Ah, olha só, não nos apresentamos. Muito prazer, meu nome é Edetto Schiartoni.

Giancarlo – Giancarlo. O prazer é meu também. Agora, até quando Deus quiser. Temos viagens totalmente opostas a fazer.

Eles se cumprimentam com um aperto de mão. Edetto sai.

Giancarlo – Mas que pergunta estranha…

Cecília – O que ele queria saber, meu pai?

Giancarlo – Sobre o teu colar. Ele veio me perguntar se era de família, porque estava interessado em ter um igual a esse.

Marlete – É, é um pouco estranho mesmo. Só não sei se tanto assim. Ah, querido tio, antes de irmos embora, eu irei chamar Magno. Ele está na igreja.

Giancarlo – Vá, vá. Mas por mim vocês dois ficavam por aqui mesmo.

Marlete sai.

Giancarlo – Olha, Cecília, antes de tudo, eu preciso te dizer: cuidado com tua prima e com esse Magno. Eles não são pessoas confiáveis.

Cecília – Como? O que aconteceu para o senhor falar isso de Marlete?

Giancarlo – É uma longa história…

Cena 02: Região portuária. Igreja del Mare.

Brás está ajoelhado, fingindo rezar. Marlete chega.

Marlete – Vim lhe chamar. Estamos indo embora.

Brás – Então Inês já não pode mais me ver?

Marlete – Não. Ela partiu junto com seu irmão para junto de sua família. Quer dizer, menos para junto de ti, seu marido vivo.

Brás – Essa não é hora de ficar falando piadas ou fazendo críticas. Mas me diz: já sabes algo sobre a localização do tesouro?

Marlete – Quanta insistência, Brás da Mata! Meu tio acabou de se reencontrar com a filha. Ele ainda está achando que vai ficar tudo bem… Mas esse momento vai passar, e assim que isso acontecer, nós faremos o que for preciso para descobrir onde a herança está.

Brás – Então vamos logo. Não podemos perder tempo.

Eles se levantam.

Brás – Ah, e por que não foste embora e não me abandonaste aqui? Tiveste a chance de fazer isso. E afinal já precisaste de mim para desmascarar Gustavo. Talvez não precises mais.

Marlete – Não digas besteira. Não estamos em uma espécie de parceria? Nunca se sabe quando precisaremos um do outro.

Brás – Tudo bem. Agora, saiamos dessa Igreja.

Cena 03: Região portuária.

Pero deixou Inês junto com os outros, e começou a andar ”sem direção” pelo lugar.

Pero – Dessa vez sou eu quem irá conhecer a região. Vamos ver o que de bom há nela.

Ele continua a caminhar. Chega à rua da Igreja del Mare.

Pero – Olha, que igreja bonita. Eu vou entrar, vou rezar. Quem sabe o padre daí não me perdoa por tudo?

Ele se dirige à igreja. No meio do caminho, para.

Pero – Ei, aquela ali não estava agora há pouco com o pai de Cecília? Será que ela também veio rezar?

Nesse momento, outra pessoa sai.

Pero – (Dá um riso) Que engraçado… Até parece que eu estou vendo fantasmas… (Ele cai em si) Mas está muito real para ser um fantasma. Esse homem que saiu acompanhado da outra mulher, só pode ser… Brás! Brás está vivo!

2 thoughts on “Capítulo 38 – Cantiga de Amor

  • É as relações não acabaram nada bem após todos esses acontecimentos, mas será que o amor entre Cecília e Gustavo realmente acabou? Quer dizer por parte do Gustavo, porque a Agnella ainda o ama!!!
    Não teve jeito a Valentina teve que voltar com os seus senhores, a história voltando a suas origens… Inês errou veio e agora acho que ela perdeu o amor de Pero de verdade, ele até já está a procura e outro caminho, e olha só quem ele encontra BRÁS VIVO, rs isso será de uma bom uso 🙂
    Fiquei aqui pensando neste interesse do Edetto pelo colar da Cecília…

    • Eu acho que você quis dizer o amor entre Gustavo e Agnella. Mas o amor acaba assim fácil? Ou ele pode ser transformado em outra coisa. Às vezes ele diminui, às vezes ele é exagerado. Talvez em Gustavo ele tenha sofrido algum abalo. E em Agnella, como está?
      A ideia é essa: voltamos, pelo menos aparentemente, às origens. Valentina novamente com os senhores, mas com Gregório por perto. Pero e Inês novamente separados, mas dessa vez é ele quem não quer. E Brás foi descoberto por pero. O que ele irá fazer?
      E o interesse de Edetto pelo colar é para ser realmente pensado. Você entenderá melhor nos próximos capítulos.

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