Ela Veste Preto, mas o Baile é Cor de Rosa

Capítulo 33 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

Toc – Toc!

A porta se abriu rápida, ficando nas mãos de quem batia a incumbência de fechá-la.

– Não perderam tempo em fazer o trabalho sujo!  Ou você ainda continua com os planos de vingança? – pergunta Dora.

Ela se referia a Mell que finalmente deixou o hospital, acompanhada de Romeu que não se separava mais dela.

– Nem uma coisa, nem outra! Só vim agradecer o que você fez por mim! – responde Mell docemente.

– Então por que trouxe junto o Capitão Coragem aí?

– Ele está cuidando de mim! Acho que pela primeira vez na vida posso dizer de verdade que tenho um amigo. – responde a garota tocando o ombro de Romeu.

Dora, engolindo a crítica real comentou sem jeito.

– É, dizem que ele faz isso!

Um silêncio constrangedor tomou conta dos três. Mell então respirou fundo e recomeçou.

– Eu não me lembro de nada ainda do que aconteceu, mas tenho certeza que Alonso não é o cara que estão procurando. Não foi ele quem me pegou, eu não sinto nada de estranho em relação a ele!

– Pronto! Tava demorando com a comissão de defesa! Olha… Pra quem tem essa cara de santo eu tenho que concordar, o Romeu é muito bom manipulador. Ele e o Alonso estão fazendo o serviço direitinho! – sugere Dora.

– E depois dizem que a malvada da história sou eu!

– Dora, presta atenção no que você tá dizendo! Junte os fatos, pense um pouco… O Alonso não fez outra coisa senão ficar do seu lado. Te protegeu nas horas mais improváveis que ninguém mais acreditaria ou te ajudaria. Te perdoou tantas vezes! – grita Mell segurando a amiga.

– Ele só fez isso porque era o trabalho dele! Pra me espionar pra minha mãe! – sussurra balançada.

– Não foi nada disso, e você sabe! Só não quer dar o braço a torcer, por ter magoado um cara tão legal quanto ele. – termina.

– E se for verdade? O que eu faço? É tarde demais… Ele encerrou qualquer possibilidade de relacionamento quando fui à cadeia. – desilude-se.

Romeu, que ouvia toda lamuria inconformado, desabafou.

– Você e o Alonso são tão Shakespirianos! Sempre colocando empecilhos no que deveria ser simples! Você gosta dele, ele gosta de você. Claro, tem um maluco atrás de você e há pouco tempo ficou viúva! Mas… – deduzia resmungando até que Mell lhe dá um tapa. – Mas o importante é que vocês se amam e deveriam se unir pra enfrentar juntos tudo o que acontece. E ao invés disso, saem brigando ao menor sinal de problema. E o pior, fazem meus ouvidos de pinico, isso quando não me insultam ou me taxam de assassino honorário. – continuava.

– Romeu! Romeu! – chama Mell.

– O quê foi? – grita irritado com a interrupção.

– Ela já entendeu, não é Dora? – insinua Mell com expressão de “Pelo amor de Deus concorde pra ele calar a boca.”

– Com certeza! Ele está na casa de vocês? – pergunta Dora esperançosa.

– Não! Os pais o obrigaram a ficar com eles em Golden Rose ou teria que voltar para a Baviera.  – responde Mell pesarosa.

Dora então correu para o Furgão, deixando os amigos que agora ela sabia serem de verdade dentro de casa observando sua reação. Em poucos minutos estava nem sabe como na frente da mansão em Golden Rose. Os seguranças não a deixavam entrar, tentou pular o muro atrás da casa, mas foi pega e levada para uma salinha dos empregados para ser interrogada.

Esperou tristemente, achando que seria presa sem falar com Alonso, porém a portinhola se abriu dando lugar a uma conhecida voz.

– Ora, ora! Como o mundo dá voltas! – desdenha.

– Por que tanta gente me fala isso? Você se surpreenderia com o número! – diz envergonhada.

– Não será porque você sempre age impulsivamente, achando que está por cima da carne seca, mas o mundo te prova o contrário bem rapidinho?

– É, eu até assisti as cenas! Tenho gravadas pra provar seu ponto de vista!

– Mas o quê de tão importante te trouxe aqui, a ponto de invadir a casa de um assassino? Correndo o risco de ser assassinada? A necessidade realmente faz coisas incríveis com as pessoas! – comenta irônico olhando para cima.

– Segundo dois amigos meus, você não é tão perigoso quanto pensei!

Alonso se aproximou de Dora misterioso, a expressão não revelava suas intenções. Foi chegando devagar, se agachando, tão perto de seu rosto a ponto de Dora estremecer os brios e quase beijá-lo mandando tudo as favas. Porém, quando ele conseguiu o efeito que queria, apenas empurrou a cadeira em que ela estava dizendo.

– A polícia não precisa perder tempo com os seus chiliques! Vamos para a sala de reuniões e aí você fala o quer de uma vez!

Dora desnorteada apenas o seguiu. Ele ainda mantinha a cara enigmática quando entraram e se sentaram. Alonso estava muito formal na cadeira de reuniões. As roupas sociais eram adequadas a posição ocupada, até seus cabelos estavam diferentes, penteados como os de um engomadinho. Ela percebeu isso e esperava que Alonso não tivesse se transformado também por dentro. Antes de iniciarem a conversa um senhora uniformizada entrou e manteve-se calada e carrancuda de pé ao lado da porta, até que ele a dispensou.

– Nada por agora Helga, obrigado!

A mulher saiu do mesmo jeito, feito um soldado recebendo a dispensa de seu general.

– Você tem três minutos antes da Conferência Internacional. – intima ele.

– Eu só vim pedir desculpas pelo que aconteceu na prisão. E te dar outra chance. Proponho que a gente se una pra descobrir quem é o R de uma vez por todas!

– E o que te fez mudar de opinião? Pelo que eu sei, até hoje de manhã o tal R era eu!

– Uns amigos me abriram os olhos, e se não é você então essa é sua chance de provar!

– Primeiro, eu não pedi pra que esses amigos te procurassem! Segundo, não preciso provar nada pra ninguém! E terceiro, você tá me magoando mais uma vez me pedindo isso! – diz pausadamente sentindo-se ferido.

Dora então se levantou indo em direção a saída. Alonso manteve-se imóvel com as mãos sobre a mesa, embora quisesse, não interrompeu a partida, assim como ela também não olhou para trás. Mais uma vez o orgulho imperava sob o amor.

Chegou em casa contrariando o estado de espírito com que saiu. Mas a resposta definitiva a seus problemas estava lá, debaixo da porta em forma de um cartão vermelho e dizia.

 

OK! EU NÃO SOU O ALONSO! MAS FOI DIVERTIDO VER VOCÊS NESSA DÚVIDA DE DRAMALHÃO MEXICANO. O JOGO ACABOU!

VOU MOSTRAR QUE SÓ EU A MEREÇO E FAREI ISSO HOJE!

ME ENCONTRE NA ESCOLA DE ARTES CENTRAL À MEIA NOITE.

ASS. R.

OBS. VOCÊ NÃO SE ARREPENDERÁ, EU GARANTO!

 

Ela olhou no relógio e percebeu que já eram 21h34min, e apenas deixou o cartão na mesinha, correndo rumo a escola para descobrir finalmente quem R era.

Estava entrando quando encontrou Paris no portão.

– É só assim que a gente se encontra! – grita Paris animado.

– A vida anda complicada, você sabe! – diz Dora ofegante.

– Algum problema, Dora? Parece abatida, posso te ajudar? – preocupa-se.

– Não! É só a correria mesmo! Mas me diz, o quê você tá fazendo aqui a essa hora? A faculdade fecha as dez! –  pergunta curiosa.

– Eu prefiro esse horário porque é vazio e ninguém me enche! – justifica.

– Já eu, vim pegar um livro de última hora que faltou pra um trabalho. Espero que não tenham trancado a biblioteca!

– Eu te faço companhia então! – oferece Paris.

Dora tentou dispensá-lo, mas não teve jeito. Ele a acompanhou até que deu a desculpa que iria ao banheiro e o encontraria na biblioteca.

– Rápido, senão nos trancam aqui! – grita o rapaz enquanto Dora seguia.

Ela ficou até que a escola fechasse e as luzes apagassem, contando que Paris tivesse ido embora a essa altura, cansado de esperar.

Começou a procurar no escuro pelas salas e corredores algo de suspeito. Alguma luz acesa, qualquer coisa que desse sinal de vida humana, porém não havia nada. Caminhou sem direção certa até escutar urros no escuro, percebeu que vinham do teatro, Dora andou pé ante pé entrando sorrateira pela lateral. De repente constatou num susto que os urros vinham de Mell que estava no chão a frente do palco amarrada e amordaçada. Correu trêmula para ajudá-la.

– Mell, de novo o quê está acontecendo aqui? Você viu ele? Quem é, a gente conhece? – perguntava chocada.

Mell, de volta ao velho estado, só conseguia dizer.

– Eu disse pra ele que eu tô consertada, mas ele não quer acreditar! Uma peça quebrada não tem conserto! Diz pra ele que é mentira! – grita descontrolada.

Dora a soltou e mandou buscar ajuda. Continuou sua busca pelo doente perseguidor.

– Eu sei que você tá aqui em algum lugar, não adianta continuar com esse joguinho de gato e rato. Eu sei que sou mulher o bastante pra me expor aqui sozinha, disposta a te conhecer e ouvir seus argumentos. Resta saber se você é homem pra fazer o mesmo! – grita olhando para todos os cantos escuros de que R poderia estar observando. Seu medo era que ele pulasse de onde menos se esperasse para surpreendê-la.

Enquanto isso, Romeu ligava as pressas para Alonso.

– Cara, eu estou preocupado com a Mell e a Dora! – diz amedrontado.

– Por quê?  Não se preocupe, se há uma coisa que eu aprendi em New Park é nunca confiar nas garotas! Devem estar fazendo uma besteira qualquer pra depois jogarem na nossa cara que foi culpa nossa! – fala Alonso despreocupado.

– Não meu! A Mell não está em lugar nenhum, depois que voltou ela tem pânico de ficar sozinha. Já liguei pra todo mundo que ela pudesse estar e não a encontrei. A Dora nem em casa está! – desespera-se.

– Vai ver estão juntas! – suspeita Alonso. – Mas tudo bem, vou até aí!

Alonso encontrou-se com Romeu na frente do loft de Dora. Bateu, insistiu, mas nada dela. Já preocupado mandou que Romeu fosse buscar o detetive Leo. Pensou, até que tomou uma decisão.

– Desculpe Dora, eu juro que conserto! – diz arrombando a porta.

O cartão foi a primeira coisa que viu e ao lê-lo saiu correndo também para a Faculdade.

– Droga! O quê você acha que está fazendo Dora. Eu já te disse uma vez que arrogância não dá super poderes! – pensa.

Na Escola de Artes Central, Dora ainda não havia obtido resposta de R, quando de repente as grossas cortinas vermelhas do palco começaram a se levantar. Por trás delas foi revelada uma visão aterradora. Paris estava no meio do cenário pendurado pelo pescoço com uma corda o enforcando, parecia morto. Dora gritando, tentou tirá-lo dela, mas foi inútil.

Ela apenas se virou e desceu para a platéia. Ficou parada com o choque sem perceber que uma movimentação acontecia atrás dela. Foi sentindo uma mão gelada e suada tocar-lhe os ombros que vivaz perguntou.

– Booo!!!!! Eu sou um ótimo ator não sou? Merecia um Oscar pela minha atuação! Não é fácil interpretar essa personagem sonso que é o Paris. Fica pior se a peça se chama vida!

Dora, diante disso só conseguiu gritar.

– Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!

 

Música – Depeche Mode – Wrong – Tradução

Errado (4X)
Eu nasci com o signo errado na casa errada
Com ascendência errada
Eu peguei a estrada errada
Que levou para
As tendências erradas
Eu estava no lugar errado na hora errada
Pela razão errada e a rima errada
No dia errado da semana errada
Usando o método errado com a técnica errada
Errado (2x)

Há algo errado comigo
Não pode ser algo errado comigo
Inerentemente
A mistura errada nos genes errados
Eu alcancei os finais errados pelos meios errados
Era o plano errado nas mãos erradas
Com a teoria errada pelo homem errado
As mentiras erradas, nos sentimentos errados
As questões erradas com as respostas erradas
Errado (2x)

 

Eu estava marchando para o tambor errado
Com o imoral errado
Urinando a energia errada
Usando todas as linhas erradas e os sinais errados
Com a intensidade errada
Eu estava na página errada do livro errado
A opinião errada do gancho errado
O movimento errado
Toda noite errada
Com a nota errada tocada até que soe certa Yeah
Errado (2x)
Errado

Camila Oliveira Santos

Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

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Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

One thought on “Capítulo 33 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

  • Dora e Alonso orgulhosos desde sempre. Esses dois precisam se entregarem ao amor que sentem um pelo outro.
    Mais uma vez Mell acabou passando por poucas e boas nas mãos de R.
    Novamente Alonso corre feito um louco para salvar a sua amada.
    E parece que o mistério se encerrou, agora só falta a confirmação: o R é mesmo o Paris?

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