Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 28

Capítulo 28: Quem fica e quem vai?

” Nunca desista das coisas que fazem você sorrir” .

Marcos havia cedido um tempo para Pedro, Karina e Daiana pensarem se realmente queriam ficar conosco. Quando ele cedeu esse tempo, todos nós pensamos que seria cerca de um dia, ou até mesmo a manhã seguinte, mas não era bem isso que Marcos estava pensando. Ele deu quinze minutos para que meus convidados decidissem o que queriam fazer.

Daiana olhava para baixo. Eu conseguia imaginar a confusão que ela estava sentindo. Karina olhava ao seu redor, as vezes seus olhos ficavam vidrados, como se estivesse dentro de sua própria mente. Ela já sabia sobre o mundo sobrenatural desde de muito antes que eu descobrisse também, mas ainda assim ela estava assustada com o desenrolar das coisas. Todos nós sabíamos que haveria lutas pela frente. Sabíamos que seria difícil, e que talvez perderíamos pessoas ao longo da luta. Mas quando esse momento chegou, quando vimos com nossos próprios olhos a morte e o perigo de perto, isso nos fez encarar e aceitar que as coisas estavam mesmo muito sérias.
Pedro estava sentado ao meu lado esquerdo, imóvel, o único movimento perceptível era de sua respiração. Ele estava com o braço esquerdo apoiado sobre a mesa e a mão direita apoiada sobre sua perna. As vezes sua mandíbula se contraía. Ele também estava tentando se decidir.
– Vocês já se decidiram? _ Marcos interrompeu o silêncio.
Todos nos entreolhamos.
– Eu vou ficar e ajudar. _ Daiana disse. _ mas quando isso tudo acabar, eu vou embora.
– Tudo bem, Daiana. Seja bem vinda, e quando você quiser partir pode contar com nossa ajuda. _ Marcos disse.
Daiana assentiu.
– Eu não vou ficar. _ Karina disse. _ não quero mais fazer parte disso. Já matei Daiana uma vez, e ela era inocente. Tentei matar Alicia que também é inocente. Cansei de tanta confusão.
– Entendemos você. Amanha nós a ajudaremos para que consiga partir e ir para um lugar seguro. _ Marcos disse.
– Não posso voltar para Angel City. Nós somos procurados pela policia. _ Karina disse.
– Não se preocupe, daremos um jeito. _ Marcos disse.
Então o silêncio reinou novamente. Ainda faltava a decisão de uma pessoa, para mim, a mais importante. Olhei para Pedro. Ele olhava para Karina. É claro. Os dois eram cúmplices há algum tempo, haviam planejado a morte de Daiana e a minha também, e agora Karina estava abandonando o barco. Pedro ficaria sozinho, rodeado de demônios, mas eu não tinha certeza se era por isso que ele estava em duvida. Karina olhou para Pedro e balançou a cabeça negativamente. Era sua decisão final. Pedro respirou fundo e olhou para baixo. Eu podia sentir sua indecisão. Sentia que iria perde-lo. Então segurei sua mão que estava apoiada sobre sua perna. Seus olhos encontraram os meus, e eu torci para que meu olhar estivesse transmitindo toda minha vontade de lhe dizer para ficar. Eu apertei um pouco mais sua mão. Não disse nenhuma palavra. Meu pai estava logo ao meu lado e eu não queria fazer uma cena em sua frente. Pedro olhou para minha mão sobre a sua e depois em meus olhos novamente. Ele moveu sua mão e entrelaçou seus dedos nos meus.
– Eu vou ficar. _ Pedro disse.
– Ótimo. Seja bem vindo. _ Marcos disse.
Eu respirei aliviada e abaixei os olhos para a mesa. Tinha certeza que todos haviam reparado o nosso momento particular.

Roger havia arranjado quarto para todos. Eu emprestei algumas roupas para Daiana e Karina. Meu pai emprestou algumas para Pedro. Tomei um longo banho, entrei no roupão e saí do banheiro. Entrei em meu quarto, reconhecendo o cheirinho de lavanda em minhas roupas de cama. Vesti meu pijama e deitei em minha cama. Pouco tempo depois eu adormeci.

Na manhã seguinte, eu acordei as nove horas. Marcos e Roger haviam ajudado Karina a encontrar um lugar para ficar. Eu perguntei várias vezes para onde ela iria, mas Marcos disse apenas que era para um lugar seguro. Logo depois do almoço, Karina se despediu e partiu juntamente com Roger, que iria lhe acompanhar até o local misterioso e trazer algumas roupas para nossos hóspedes. Marcos nos deu a tarde de folga para que eles conhecessem a casa. Eu mostrei a casa e, ao mostrar a ala de treinamento, Daiana e Pedro ficaram impressionados com o amplo espaço e todos os equipamentos que haviam lá. Eles chegaram a testar alguns deles.
– Logo mais a frente tem um jardim. _ eu disse. _ vocês querem ir até lá?
– Eu estou cansada. Vou dormir um pouco. _ Daiana disse.
Eu assenti e ela saiu. Me virei para Pedro.
– Estou louco para ver o jardim. _ ele disse e sorriu, me fazendo sorrir também.
Andamos para fora indo em direção ao jardim.
– Eu amo esse jardim. É um lugar especial para mim. _ eu disse enquanto chegávamos ao portão que dava acesso ao jardim.
Entramos no jardim e eu sorri. As flores pareciam estar ainda mais lindas, mais cheias de vida, mais coloridas do que eu me lembrava. Andei pela estreita trilha entre as flores. Olhei para trás. Pedro também parecia estar maravilhado com a quantidade de flores e o quanto elas eram coloridas e belas.
– Vem comigo. _ eu disse e ele me seguiu. _ é incrível, não é?
– Sim. É lindo. _ ele respondeu.
Sentamos debaixo de uma arvore. A mesma arvore que eu sempre ia quando tinha uma folga dos treinos com meu pai. O cheiro das flores me trazia paz, me fazia esquecer todos os problemas. Não sabia como Pâmela matinha tantas flores tão perfeitas, mas eu agradecia imensamente por qualquer que fosse o modo.
– Estou feliz por ter ficado. _ eu disse.
Pedro olhou parra mim.
– Não poderia deixar você lutar sozinha. _ ele disse.
– Obrigada. _ eu disse.
Ele sorriu para mim e estendeu sua mão em minha direção com a palma para cima. Eu coloquei minha mão sobre a sua e entrelaçamos os dedos, como na noite anterior. Sorrimos um para o outro.
– Você é o mesmo garoto que sempre me odiou? _ eu fiz uma careta e nós dois rimos.
– Parece que não nos odiamos mais. _ ele disse olhando em meu olhos.
– Mesmo? Desde de quando? Desde que você descobriu que eu não quero acabar com os mestiços? _ eu perguntei.
– Não. Não faz tão pouco tempo assim. Acho que quem você é, não interferiu nos meus sentimentos, apenas em minhas atitudes. _ ele disse.
– Então somos amigos? _ eu perguntei.
Ele sorriu e pensou em sua resposta.
– Sim. _ ele disse por fim.
Sorrimos novamente. Pedro soltou sua mão da minha, e passou seu braço por trás dos meus ombros, puxando minha cabeça para seu peito. Deitei minha cabeça em seu peito e suspirei. Pedro acariciava meu cabelo solto.
Eu me sentia em paz. Pela primeira vez eu realmente conseguia deixar o passado de lado. De uma vez por todas eu havia perdoado o que Karina, Daiana e Pedro fizeram á mim. Eu já havia me vingado de Rodrigo e, quando o matei, me vinguei de Alexia também. Mesmo ela negando, eu sabia que ela o amava e sua morte a havia magoado. Eu ainda tinha que impedi-la de concluir seu plano, mas me sentia pronta para me livra do fardo de ficar remoendo e nutrindo um sentimento de raiva. Não tinha certeza do que estava sentindo por Pedro, mas eu estava gostando do que quer que fosse aquilo. Ele me dava espaço. Eu me sentia bem quando estava ao seu lado, então decidi não rotular esse sentimento e apenas senti-lo.
Depois de um tempo sentados juntos naquele lindo jardim, Pedro e eu decidimos voltar para dentro da casa. Já estava escurecendo e eu decidi que faria o jantar, para que Pâmela pudesse tirar uma folguinha. Roger voltou para casa á tempo para o jantar. Jantamos sem muita conversa, mas Marcos nos avisou que logo depois nós teríamos uma reunião. Todos ficamos tensos com a notícia da reunião, mas o clima se suavizou quando todos descobriram que eu havia feito sobremesa.
Depois do jantar, Marcos me ajudou a tirar a mesa. Em seguida nos sentamos novamente á mesa para dar início a reunião. Roger havia trazido o Sombras do Passado, o livro tão cobiçado por todos.
– Alexia irá evocar um exército de demônios. É assim que ela irá acabar com os mestiços. _ Roger disse.
– Um exercito? _ eu repeti espantada.
– Sim. _ Roger confirmou.
– Mas nós não temos um exercito para lutar contra o dela. _ Daiana disse.
– É por isso que nós temos que impedi-la antes que ela consiga evoca-lo. _ Marcos disse.
– Exatamente. _ Roger concordou.
– Como? Onde ela vai evoca-los? _ eu perguntei.
– Ela vai precisar de um altar negro muito poderoso, e só existe um com tanto poder. _ Roger disse.
Altar negro era um altar de sacrifícios para satã. Eu havia lido isso em um dos livros de Roger. Mas não sei qual seria o mais poderoso deles, acho que era difícil de se saber algo assim. Nós não tínhamos muito tempo. Tínhamos que impedir Alexia antes que ela conseguisse um exercito. Se ela conseguisse, talvez nós pudéssemos arranjar um para nós também, mas esse tipo de coisa é muito difícil. Ninguém quer entrar em uma guerra, e muitos dos mestiços nem sabe que são mestiços, então quem nos ajudaria? Tínhamos muito o que fazer, muitos a quem salvar, mas pouco tempo para faze-lo.

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