Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 19

Capítulo 19: Confiança

“Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela”. (Paulo Coelho)

Depois de dizer para Marcos que eu iria acabar com Rodrigo e Alexia, ele me pediu uma semana. Uma semana para eu pensar melhor e ter certeza do que eu queria. Uma semana para ele ter certeza do que Alexia pretendia ao tomar meu lugar. Eu concordei. Afinal minha mãe poderia estar correndo perigo.

– Acho que talvez seja melhor eu contar para sua mãe sobre Alexia _ ele sugeriu.

– Também acho. Se minha mãe descobrir por si só ela pode tentar fazer alguma coisa e isso pode ser perigoso. _ eu disse. _ minha mãe não teria chance contra Alexia, acredito que minha irmã tenha treinamento, certo?

– Sim, ela foi treinada pelo próprio satã e outros de sua confiança! _ ele disse.

– Você a abandonou? _ eu perguntei.

– Não. Eu não abandonei ninguém, Alicia! _ ele disse parecendo levemente chateado.

– Desculpa. Mas você não me conta o que aconteceu, então eu tenho que deduzir. _ eu disse.

– Alexia foi embora por conta própria. Eu não sei bem o que se passou na cabeça dela, mas sei que foi a escolha dela. Ela tinha todo o direito de escolher o seu caminho e foi isso que ela fez. Não tem nada a ver com ela ter nascido má e você boa, não foi nada disso. Ela apenas não se contentou com o que eu poderia lhe oferecer, ela achou a proposta de satã melhor que a minha, foi isso. _ ele disse calmamente.

– Tudo bem. _ eu disse.

Foi quando um homem entrou na cozinha. Ele era alto, musculoso, tinha cabelo castanho, olhos verdes e a pele morena. Ele sorriu para Marcos que sorriu de volta.

– Alicia, esse é Roger, o dono da casa e do castelo. _ Marcos disse para mim.

Por alguns instantes eu fiquei sem reação, não esperava que fosse encontra-lo tão cedo. Não sabia o que dizer. Foi Roger quem andou até mim e estendeu a mão para me cumprimentar.

– Por favor, Marcos, essa casa é de todos nós. Olá, Alicia! Está melhor? _ ele disse enquanto apertava minha mão.

– Oi. Estou bem melhor, obrigada. Desculpe-me por tudo que eu fiz. _ eu disse sem graça.

– Você matou meus guardas e eu gostava muito deles. _ ele disse sério.

– Eu imagino. Desculpe-me. _ eu disse.

– Tudo bem. Só não faça isso novamente, por favor! _ ele disse.

– Não farei. _ eu disse.

– Ótimo. _ ele disse. _ depois nós podemos ir ao castelo para você conhecer os outros guardas.

– Seria ótimo. _ eu disse. Não dava para acreditar que ele havia me desculpado. _ você não é tão malvado quanto eu pensava.

– Só por que eu sou um demônio não significa que eu preciso ser mal. _ ele disse e sorriu. _ pelo menos não o tempo todo.

Marcos sorriu ao meu lado.

– Foi seu pai quem me ensinou isso. _ Roger disse olhando para mim.

Nós sorrimos.

Uma semana se passou. Pamela e eu estávamos ainda mais próximas uma da outra. Marcos e Roger haviam decidido contar tudo sobre Alexia para minha mãe adotiva, então foram até Angel City para falar com ela.

Por incrível que pareça não havia muitas pessoas que sabiam sobre minha irmã gêmea, por isso essa confusão toda de pessoas querendo me matar pensando que eu seria do mal e é por isso que minha mãe estaria correndo perigo, ela não saberia com quem estava lidando. Depois de muito conversarmos nós chegamos à conclusão de que Alexia estava tomando meu lugar por que precisava ficar perto de alguns dos guardiões. Quando os demônios resolveram esconder seus filhos mestiços no mundo dos humanos, eles deixaram seus filhos com guardiões, que nada mais são que criaturas mágicas responsáveis pelo equilíbrio do universo, eles tem o seu próprio mestre, e não estão do lado do bem ou do mal, apenas fazem o necessário para equilibrar os dois lados. Ninguém sabe com certeza absoluta o que pode acontecer se todos os mestiços forem extintos, mas os guardiões vão querer se reunir para tentar descobrir e se preciso tentarão impedir Alexia. Então se ela se infiltrasse entre eles poderia descobrir o que os guardiões estavam planejando fazer.

Eu havia passado a semana toda pensando no que fazer. Eu estava decidida e queria muito me vingar principalmente de Rodrigo, mas Marcos me fez pensar em todos os lados da história. Eu teria que treinar muito e me dedicar ao máximo, teria que aceitar quem eu sou e as consequências que isso me traria. Eu sentia medo, mas sabia que seria errado fugir de mim mesma. Talvez eu pudesse viver uma vida normal e fingir ser humana, mas isso seria mentira e eu saberia disso. Minha mãe verdadeira não fugiu do amor que sentiu pelo meu pai, ela ficou e lutou até o fim, não seria justo eu fugir de minhas origens, fugir de quem eu era, até por que eu fui fruto de um grande amor e não do ódio e rancor.

Quando Marcos voltou eu disse a ele com total convicção que era isso que eu queria. Queria ser a Alicia filha legítima de demônios, queria ser treinada e queria lutar. Expliquei meus motivos e ele sorriu quando eu mencionei minha mãe verdadeira. Agora eu entendia o motivo pelo qual ele me pediu uma semana. Quando eu pedi para ele me treinar eu estava pensando apenas em minha vingança, mas agora eu estava reivindicando meu lugar ao lado dele e pensando em todo o esforço que varias pessoas tiveram para me proteger.

Nós começamos meu treinamento naquele mesmo dia. Marcos me contou da viajem e disse que deu tudo certo quanto a minha mãe adotiva. Agora ela sabia com quem estava lidando e tentaria fingir não saber de nada, para que Alexia não desconfiasse nem mesmo de que eu estava viva.

As semanas se passaram. Meu treinamento era intenso e eu tive muita dificuldade em algumas coisas, algumas vezes eu cheguei ao ponto de chorar por não conseguir fazer algo que Marcos me pedia, acredite, era muito frustrante. Na terceira semana já estava ficando mais fácil. Algumas vezes Pamela e Roger participavam do meu treino, me davam algumas dicas e outras vezes eles apareciam apenas para fazer com que Marcos e eu déssemos uma pausa nos treinos.

Marcos e eu estávamos nos dando bem, é claro que nós tivemos mais umas três discussões sobre meu passado ou sobre ele ter me deixado, mas acho que nós estávamos superando.

Roger e eu também estávamos nos dando bem. Eu estava considerando ele como meu tio, o que fazia sentido já que ele e Marcos se comportavam como dois irmãos. Roger me fez mesmo ir até o castelo e conhecer os seus guardas, na hora eu fiquei quase em choque, mas depois de algumas conversas eu comecei a me dar bem com eles também.

Pamela e eu estávamos nos tornando amigas, quase cumplices.

Depois de tantos altos e baixos, mais baixos que altos, minha vida parecia ter ganhado um novo sentido. Eu sabia exatamente quem eu era, e estava exatamente onde eu queria.

Respirei fundo. Estava sentada na grama, debaixo de uma arvore no meio do imenso jardim repleto de flores de todas as cores que havia nos fundos da casa, logo depois do local onde treinávamos.

Na maioria das vezes que Marcos me dá uma folga dos treinos eu venho aqui, respirar o perfume das flores. Olhando para a entrada do jardim percebi que Marcos estava vindo em minha direção. Ele se aproximou e sorrindo se sentou ao meu lado.

– Tudo bem? _ ele perguntou.

– Sim. Estou apenas descansando. _ eu disse sorrindo.

– Falei com sua mãe! _ ele disse. Eu havia lhe pedido para que chamássemos minha guardiã de mãe, pois era assim que eu a considerava.

– Mesmo? O que ela disse? _ eu perguntei.

– Ela acha que Alexia está desconfiando dela, desconfiando que ela saiba de tudo. _ ele disse sério.

– O que nós vamos fazer agora? _ eu perguntei preocupada.

– Não tenho certeza. Talvez devêssemos busca-la, ou ajuda-la a fugir para qualquer lugar que ela queira ir. Ela acha que Alexia está desconfiando apenas dela, talvez os outros guardiões não estejam correndo perigo. _ ele disse.

– Eu posso ir e ajudar vocês! _ eu disse.

– Se nós formos avisar sua mãe, Alexia pode descobrir e fazer mal a algum outro guardião. Você vai ajudar sua mãe e eu vou avisar os outros guardiões sobre Alexia, nós temos que nos preparar para a reação dela. _ ele disse.

– Quer que eu vá sozinha? _ eu perguntei. Ultimamente eu estava bastante confiante, mas confesso que naquele momento senti toda minha confiança fugir de mim.

– Acha que consegue? Preciso apenas que você a ajude a fugir. _ ele disse.

– Vocês não tem tipo um telefone para avisar os guardiões do perigo e tal? _ eu perguntei.

– Em casos extremos como esse, não! _ ele disse.

– Tudo bem, eu vou! _ eu disse tentando parecer segura, mas por dentro a ideia de sair por aí sozinha me deixava no mínimo nervosa. Mas era minha mãe, então valia todo o esforço e risco.

Eu treinei por semanas, estava mais forte, sabia lutar e usar o meu poder. Estava mais madura emocionalmente também. Não tinha certeza se derrotaria Alexia caso encontrasse com ela, mas sabia que estava pronta para tentar.

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