Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 17

Capítulo 17: Segredos!

“Se você continua vivo é porque ainda não chegou aonde devia”.

(Albert Einstein)

 

Estava de pé em um quarto escuro, e havia vários pares de olhos vermelhos espalhados pelas paredes e teto. Eles me observavam. Acho que eles querem alguma coisa. Ouvi rosnados. Eles estavam bravos comigo. De repente eles começaram a se aproximar de mim. O que eu faço? Devo gritar? Não. Isso não seria uma boa ideia. Eu fiquei apavorada, não fazia ideia do que eles queriam. Em minha cabeça passa um milhão de possibilidades diferentes. Correr? Para onde? Eu estava cercada. Lutar? Como? Eles eram tantos. Conversar? Não. Não haveria conversa muito menos piedade.

Entre tanta escuridão e tantos olhos vermelhos, surgiu uma luz tão fraca quanto minha esperança de viver. A luz aos poucos foi tomando espaço e logo expulsou grande parte daquela escuridão. Os olhos vermelhos ficaram irritados com aquele ser que ousava atrapalhar seus planos. A luz foi se aproximando e logo dava para perceber a forma humana que a emanava. Era um homem. Eu o conhecia? Sim, o conhecia muito bem. Ele chegou perto o suficiente para que nossos rostos ficassem a centímetros de distancia.

– Pedro! _ eu disse seu nome.

Pedro sorriu para mim.

– Alicia! _ disse ele.

Pedro encostou seus lábios nos meus, me dando um beijo. Então, ele sumiu e eu estava sozinha novamente em meio a uma escuridão sem fim. Nunca mais o veria novamente. E os olhos vermelhos estavam se aproximando novamente. Meu desespero aumentou rapidamente. Queria gritar, me debater. Mas meu corpo mandou que eu apenas me encolhesse e chorasse.

Ouvi alguém dizer meu nome. Parecia estar tão longe.

Consegui abrir os olhos e percebi que eu me encontrava no mesmo quarto em que estava antes de fechar os olhos e adormecer. Os olhos vermelhos eram apenas um terrível sonho do qual eu agradeci imensamente por ter acordado. Eu havia sonhado com o Pedro. Havia sonhado que ele era meu salvador e eu sua donzela em perigo. Confesso que não gosto muito desse papel. Prefiro ser a garota normal que não é filha de um demônio e que, consequentemente não terá problemas tão sérios a ponto de precisar de um salvador para lhe tirar das encrencas.

– Pensei que não iria mais acordar! _ disse o homem sentado na beirada de minha cama, era a voz dele que me chamava e me despertou do meu sonho. Era o mesmo homem que havia me trazido chá e que não queria me dizer seu nome. _ Estava tendo um sonho ruim? Como você está?

Quando ele me fez essa pergunta, eu percebi que eu não estava mais tão dolorida quanto antes. Senti que meus braços ainda estavam enfaixados, e provavelmente outras partes do meu corpo também estariam. Porém, eu não sentia mais aquela dor terrível de antes. Ele me observava enquanto eu não respondia sua pergunta. Não sei como eu vim parar nesse quarto, não sei quem me salvou, não sei quem era aquele que estava me olhando agora. Então quem deveria fazer perguntas ali não era ele.

– Por quanto tempo eu dormi? _ perguntei.

– Apenas um dia! _ ele me respondeu.

– Como é possível eu ter melhorado em tão pouco tempo? _ perguntei surpresa.

– Eu tenho meus truques! _ ele sorriu para mim como quem tem várias cartas na manga, mas provavelmente eu não saberei nem metade desses truques. Eu sentia que poderia confiar nele, mas tenho que admitir que minhas últimas experiências em relação á confiança não foram nada boas. E se Rodrigo pode me enfeitiçar e me fazer apaixonar por ele, como eu poderia saber se esse homem também não teria me enfeitiçado.

– Está bem! De qualquer forma, muito obrigada! _ disse por fim.

– Disponha!

Sentei-me, encostando as costas na cabeceira da cama e, empurrei a coberta para que cobrisse apenas minhas pernas.

– Agora você vai me dizer quem é você? _ eu o perguntei.

Ele assentiu.

– Meu nome é Marcos. Muitas pessoas me conhecem como Narghó, o demônio da força. Mas você pode me chamar de pai! _ ele disse.

Arregalei os olhos.

– O quê? _ eu disse incrédula.

– Eu sou seu pai, Alicia! _ ele disse.

Meus olhos se encheram d’água. Como assim?

– Você não é meu pai! _ eu disse.

– Sou sim! Eu sou seu pai! _ ele insistiu.

– Não! _ eu disse aumentando minha voz. _ Meu pai morreu quando eu tinha sete anos! _ aquilo só poderia ser uma brincadeira de mal gosto.

– Não. Ele não era seu pai de verdade! _ ele estava calmo. Mas eu não.

– Mas foi ele quem cuidou de mim, estava o meu lado. Não você! _ as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Eu estava com raiva. Muita raiva. Raiva dos meus amigos pela falta de confiança que eles tinham em mim. Raiva de mim por ter sido tão idiota ao pensar que conseguiria levar numa boa essa vida nova e maluca que me foi apresentada. Raiva desse homem, que agora dizia ser meu pai, por ter praticamente me abandonado. _ porque fez isso? _ eu perguntei com a voz fraca. _ porque você me deixou? Eu não era boa suficiente? Ou má suficiente?

– Por favor, Alicia, não diga isso. _ ele disse claramente preocupado com o rio que transbordava pelos meus olhos. _ não foi assim, eu não abandonei você!

– Então onde você estava? Você não percebe que se estivesse comigo desde o começo nada disso teria acontecido? _ eu fiz um gesto para meu corpo enfaixado. _ você poderia ter me treinado, me ensinado a ser forte a me defender. As pessoas tem medo da minha força, do meu poder, mas no final das contas eu não sei nem até onde meu poder vai.

– Eu sei. _ ele disse, agora parecendo perturbado depois de tudo que eu havia dito. Eu sentia que tudo que eu estava jogando em cima dele estava machucando-o e eu não queria fazer isso, mas eu também sentia que estava a beira da insanidade e precisava de respostas, então não era hora de recuar.

– Então me diz por quê. _ eu disse um pouco mais calma, tentando parar de chorar.

– Eu tenho inimigos, Alicia, na verdade sempre tive, mas recentemente as coisas pioraram, estava muito perigoso para qualquer um ficar perto de mim, principalmente você. Não queria que te machucassem que fizessem mal a você, e conhecendo o meu mundo eu sabia que você seria o alvo mais óbvio para qualquer um que quisesse acabar comigo. Eu perdi sua mãe, não poderia perder você também. _ ele disse com tristeza.

– Mas porque eu tive que ficar todo esse tempo no escuro, sem saber quem eu realmente era? Porque você nunca foi me ver?_ eu perguntei.

– Era muito perigoso. Não queria que ninguém pensasse que eu tenho algum tipo de ligação com você! _ ele enxugou minhas lágrimas. _ eu sei que foi difícil para você, sei que seria mais confortável para nós dois se estivéssemos juntos, mas tudo que fiz foi importante para te proteger. Você entende?

Eu queria dizer que não. Queria gritar com ele e dizer que tudo era culpa dele, mas não podia, porque na verdade acho que eu entendia. Tinha sido horrível descobrir que meu mundo era uma mentira, que eu não era humana, mas sentia que ele estava sendo sincero e percebi que eu não era a única do mundo que estava sofrendo e que estava tentando lutar. Eu estava sofrendo por saber que minha vida tinha mudado e que mudaria muito mais, mas ele também devia estar sofrendo por ter uma filha que nem o reconhece e que agora questionava todo o seu amor e esforço.

– Acho que eu entendo. _ disse sendo sincera.

Ele deu um sorriso fraco.

– Me desculpe, filha! Não queria que você se sentisse abandonada. Eu sofri cada minuto longe de você. Nunca abandonaria você_ ele disse com profunda tristeza.

Eu estava convencida de que ele não tinha a intenção de me ferir ou de me abandonar. Ainda não confiava nele, eu pensaria um par de vezes antes de confiar em alguém novamente, mas eu iria precisar de alguém para me ajudar a me reerguer, recuperar minha autoconfiança. E em minha mente a palavra Vingança piscava sem parar. Não poderia existir alguém melhor que meu próprio pai para me ajudar.

– Está tudo bem. Não vou nutrir uma magoa desnecessária entre nós. Mas acho que nós temos outras coisas para nos preocupar. Que história é essa de irmã gêmea? _ eu perguntei. Aquele assunto estava girando em minha cabeça.

– Nós precisamos tirar essas faixas. _ ele disse me fazendo olhar para meus braços enfaixados.

Ele estava fugindo do assunto? Ele estendeu sua mão para mim. Eu apenas olhei para ele.

– Eu vou contar tudo para você, mas agora nós precisamos tirar essas  faixas. _ ele disse, percebendo o que eu estava pensando.

– Tudo bem! _ eu peguei sua mão e ele me ajudou a me levantar da cama.

Assim que me levantei percebi que estava usando uma camisola rosa bebê que chegava até os joelhos. Minhas pernas, como eu já esperava, estavam cobertas por faixas. Eu estava me sentindo uma múmia. Estranhei não estar sentindo meu cabelo em minhas costas, passei a mão nele e percebi que estava preso em um coque. Saímos daquele quarto e viramos á esquerda em um corredor.

– Quando eu estava sendo atacada, antes de desmaiar eu vi duas figuras, pareciam dois homens. Quem era? _ eu perguntei enquanto andávamos por um corredor com várias portas.

– Roger e eu! _ ele respondeu quando paramos em frente á uma porta, ele a abriu e nós entramos. Parecia ser uma enfermaria.

– Quem é Roger? _ eu perguntei.

– O dono do castelo e dono desta casa. Sente-se aqui. _ ele indicou uma cama que estava encostada na parede esquerda do quarto. Ao me sentar ele começou tirar minhas faixas.

Eu estava preocupada. Estava na casa do demônio que eu planejei rouba-lo, e mais cedo ou mais tarde eu teria que ficar cara a cara com ele. Não sabia qual seria a minha reação. Pediria desculpas? Chegaria nele e diria “Ei, matei seus guardas e estava disposta a te roubar, mas sem ressentimentos, ok?”.  

Mas o que mais me preocupava agora era a reação dele. Como ele trataria uma ladra que estava roubando o seu castelo e agora estava dentro de sua própria casa?

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