Por dentro da web Cantiga de Amor

O homem, ao construir sua história, sempre deixou espaços abertos para os seus sentimentos. O amor, que é o mais forte deles, não poderia ficar de fora. Cantiga de Amor conta uma história que seria impossível de acontecer em uma sociedade como a europeia medieval, uma vez que seus protagonistas são de origens diferentes: um filho de senhores feudais e uma camponesa.

Essa é a história de Gustavo e Agnella. Em tempos medievais, era sim possível o surgimento de um amor. Ele é filho de senhores feudais, e é um cavaleiro andante, sem ponto fixo, que gosta de vagar pelas terras europeias à procura de aventuras. Ela, uma filha de camponeses, presa à tradição histórica do patriarcalismo, que a impede de viver sua própria história. Entre os dois, além dos pais dela (Enzo e Prudência), e de um amante apaixonado (Adelmo), será possível observar a presença marcante da Igreja. Uma Igreja rígida, austera, controladora de mentes e que, em alguns momentos, se meterá na vida deles, assim como se mete na de todos os habitantes da Europa feudal.

Logo no início da trama, Gustavo, em uma das suas andanças, encontra a Igreja del Fiume e resolve pedir abrigo. Lá, vivem o padre Santorini, a freira Francisca, que cuida do convento que fica ao lado da igreja, e o seminarista (quase padre) Gregório. O padre e a freira têm perfis opostos, sendo ele um homem amoroso, calmo, compreensivo, e ela uma freira extremamente rígida e que se gaba por seguir ao pé da letra todas as recomendações da Igreja Católica. O único ponto em comum entre eles é a devoção ao catolicismo.

A Igreja interfere na vida dos habitantes do Povoado das Hortaliças. Habitado principalmente por camponeses, lá vivem Agnella e sua família. Vive também a família de Adelmo, formada por ele, sua mãe Simone, e sua irmã Inês, junto com o marido Brás da Mata. Esse casal surgiu a partir da ambição de Simone e da alcoviteira do povoado, Leonor, que queriam arranjar um marido rico para Inês, uma mulher que, mesmo tendo algum lado romântico, é espevitada e também ambiciosa. O que elas não sabem é que vão acabar se decepcionando com Brás. Lá também mora o camponês Pero Marques, o primeiro pretendente de Inês, que, mesmo sendo relativamente “bem de vida”, tem maneiras simplórias e não agradou nem a ela nem a sua mãe. Quem também surge no povoado é Valentina, uma mulher misteriosa, cujo passado é incerto, e que, de início, causará um reboliço entre os moradores dessa localidade. Todos esses se integrarão de várias maneiras, e, como já dito, algumas vezes através de pitadas da igreja.

Ansioso por conhecer novos ares, Gustavo decide visitar o Povoado das Hortaliças. E acaba, assim, esbarrando em Agnella, em um encontro digno de heróis românticos. Além disso, ele termina conquistando a confiança de Enzo, sem saber que ele é o pai de sua amada, ao passo que Leonor, a alcoviteira, começa a desconfiar que entre ele e Agnella há algo de “suspeito”. Mas o pior é que atitudes de Gustavo poderão incomodar a Igreja Católica, e isso deverá representar um impasse à concretização dessa história.

O protagonista da história pode acabar tendo um destino que não planejava, sendo apresentado a pessoas e horizontes que não passavam por sua mente. E é desses percalços em sua trajetória que se explica o nome da novela. As cantigas de amor são um estilo literário tipicamente medieval, uma das formas poéticas do chamado Trovadorismo. Essas cantigas retratam um amor que não é possível de acontecer, um amor idealizado e distante – situação que, em determinado momento da trama, é imposta aos protagonistas.

O que será que o destino prepara para Gustavo e Agnella? E como eles reagirão às novas situações que a vida lhes apresentar? Será que permanecerão os mesmos? Essas são perguntas que serão respondidas ao longo dos versos dessa Cantiga de Amor.

João Pedro Ramalho