O Diário de um Nerd

O Diário de Um Nerd – Capítulo 02

Capítulo 02
Aplicando O Castigo

“Não tem nada de errado em amar quem você é, pois Ele te fez perfeito, então erga a cabeça, você ainda vai longe. Eu sou linda do meu jeito, pois Deus não erra. Não se esconda em arrependimento, apenas ame-se e você estará feito. Eu estou no caminho certo, eu nasci assim.” Lady Gaga – Born This Way

Cena 01 – Rua.
Léo está andando pela rua a caminho de casa. O garoto continua a pensar no incidente que aconteceu há alguns minutos. Das boladas, dos apelidos, das risadas, aquilo o feria muito, era torturante e humilhante aquelas situação, embora não fosse novidade, aquela não fora a primeira vez que Léo foi motivo de piada pra sua turma, muito pelo contrário, humilhações como aquelas foram muito presentes em sua infância.
Léo para diante de uma poça d’água no chão ao lado da calçada por onde caminha. Ele olha seu reflexo. Lhe vem à mente os apelidos.
Léo, falando consigo mesmo: Esquisito! O que eu tenho de errado afinal?
De repente a água da poça se espirra toda, molhando Léo por completo. Um garoto passou de bicicleta bem pela poça, espirrando toda a água em Léo.
Garoto passando de bicicleta: Esquisitão! Sujo!
Léo conhece o garoto, é Mário, um dos integrantes do grupo de Paulo. Provavelmente tinha fingido estar doente pra faltar às aulas no dia, por coincidência, encontrou Léo pela rua e não desperdiçou uma oportunidade de zoar com ele.
Léo, molhado e sujo, segue para casa.

Cena 02 – Casa de Léo. Quarto. Um tempo depois.
Léo entra direto no quarto, joga a mochila no chão, tira o casaco molhado e se joga em cima da cama. O garoto começa a chorar, mas baixo, não querendo que os pais ouçam.
Sem as mangas do casaco cobrindo seus braços, é possível ver vários cortes espalhados por eles. Cortes já cicatrizados. Mas não foi algum dos bullies quem fez aquilo, foi Léo! Ele próprio se cortou em alguns momentos de desespero.

Cena 03 – Um tempo depois.
Léo continua deitado na cama e ainda chora um pouco. Sua mãe, Isabel, entra no quarto preocupada
Isabel vai entrando: Meu filho, o almoço está na mesa.
Léo: Eu não estou com fome.
Isabel: Querido, eu fiz frango assado.
Léo: Não obrigado, não quero comer.
Isabel senta-se na cama: Meu filho, o que houve? Por que você veio mais cedo pra casa? Está se sentindo mal?
Léo: Mãe, por favor, me deia sozinho.
Isabel: Meu filho, você voltou cedo pra casa, não quer almoçar seu prato preferido e estou vendo pela cor dos seus olhos que você andou chorando. Me diz, o que aconteceu?
Léo: Mãe, por favor, me deixa, não aconteceu nada.
Isabel: Meu filho…
Léo, gritando: Mãe, pelo amor de Deus, sai do meu quarto, eu tô bem, eu não tô com fome, para de pegar no meu pé!
Vendo que não adianta insistir, Isabel simplesmente se levanta e sai do quarto do filho frustrada. Léo volta a chorar.
Léo, chorando: Meu Deus, por que eu?

Cena 04 – Cozinha.
Isabel está conversando com seu marido Robson sobre o estranho comportamento do filho.
Robson: Ele não quer comer?
Isabel: Não, e ele chegou a ficar nervoso quando eu insisti no assunto. Eu estou muito preocupada.
Robson: Pra ele estar abatido e ter voltado assim cedo, com certeza aconteceu algo grave na escola e ele não quer nos contar.
Isabel: Meu Deus, será que eu devo ir tentar falar com ele de novo?
Robson: É melhor não, eu acho que sei o que ele está passando, e se ele quer ficar sozinho, vamos respeitar.
Isabel: Eu estou com medo, a cada dia ele parece se afastar mais de nós.

Obs. Vítimas de bullying são propícias a desenvolverem inúmeros tipos de transtornos. Em alguns casos, as vítimas não querem mais comer, não dormem, e se isolam até da própria família. Também é comum que desenvolvam transtornos de humor, perdendo cada vez mais a vontade de rir, de se socializar com outras pessoas, tornam-se depressivas ou até explosivas. Os transtornos podem se estender pela vida inteira.

Cena 05 – Escola Elementar. Quadra. Manhã seguinte.
Os alunos da turma de Léo estão todos na quadra, é aula de Educação Física. Quer dizer, quase todos, Léo não está, o professor Sérgio dispensou o menino de suas aulas por uma semana e no momento ele está na biblioteca.
Todos os alunos ficam de pé para ouvir as palavras do professor. Alguns deles ainda estão falando do que aconteceu no dia anterior, ouvem-se os múrmuros “Se lembra de ontem?”, “Aquilo foi muito engraçado”, “O nerd foi pra casa chorando”, etc., chega a ser chocante como simples adolescentes podem se divertir tanto com o sofrimento de um simples colega.
Sérgio, alto e claro: Muito bem, silêncio! Certo, antes de tudo quero dizer que se comportaram muito mal ontem, muito mal! Na linguagem de vocês, foi a maior sacanagem.
Alguns dos alunos riem disfarçadamente.
Sérgio: Será que por um único minuto pararam pra pensar que o colega de vocês é um ser humano? Que é um adolescente como vocês? Que ele tem sentimentos? Vocês já pararam pra simplesmente vê-lo como um de vocês? Porque do jeito que o tratam… Quer saber, já sei! Eu acho que vocês estão muito ocupados pra pensar nisso, né?! Os meninos falando de esporte, as meninas falando de si mesmas…
Paulo, sussurrando: Tá falando merda.
Sérgio: Muito bem, vamos ao ponto! Eu e a direção decidimos que como punição pelo que fizeram com o colega de vocês, todos irão passar uma semana de detenção, e será sob minha responsabilidade.
Todos os alunos começam a reclamar, com perguntas como “Uma semana?”, “Ah, qual é? A gente não fez nada”.
Sérgio: Isso significará exercícios máximos, todos os dias, em tempo recorde até os seus últimos limites.
Paulo: E quem não estiver a fim de fazer?
Sérgio: Aí é com você, eu e os professores conversamos e decidimos que quem parar os exercícios será automaticamente reprovado no bimestre.
Mais uma vez os alunos começam a resmungar.
Sérgio, alto e claro: O que eu creio que é nada mais do que justo porque o que vocês fizeram foi um ato de total covardia, por acaso já pararam pra pensar o que é bullying? Se não, vão ter bastante tempo enquanto se matam de tanto treinar!
O professor apita e os alunos começam os exercícios.

Cena 06 – Sala de aula. Horas depois.
Já passou um pouco o tempo, mas a maioria dos alunos ainda está se queixando das dores no corpo devido a tantos exercícios de uma vez só na última aula. Enquanto isso, Léo está simplesmente quieto em seu lugar no fundão da sala, com a cara nos livros como sempre.
Paulo, Davi e Mário estão sentados conversando.
Paulo, nervoso: Fala sério, que ideia é essa da gente ficar a semana toda de castigo por uma besteira como aquela? Querem que a gente se mate?
Mário: E aí Paulo, vai deixar por isso mesmo?
Paulo: E, é ruim, eu já tenho um plano pra me vingar.
Davi: O que você vai fazer? Vai aprontar na diretoria?
Paulo: Não, vou dar é um jeito no esquisitão.
Davi: Como?
Paulo: Vocês vão ver, na hora da saída nós vamos encurralar ele e dar o que ele merece.
Todos da sala estão olhando para Léo, enquanto a maioria deles se queixa das dores no corpo, ele simplesmente está lendo sem nenhum incômodo como se nada tivesse acontecido. Mas uma menina está olhando para ele diferente, uma das garotas, Alice, uma das meninas mais populares do colégio. Enquanto todos os encaram com desprezo e rancor, Alice parece olhar o nerd isolado e solitário com pena.

Cena 07 – Horas mais tarde.
Toca o sinal. Todos os alunos correm rapidamente, mais um dia terminou e é hora de ir pra casa, eles obviamente estão felizes. Para Léo, é o fim de um terrível dia de luta. Antes de sair, o garoto vai até a biblioteca para devolver uns livros.
O tempo que Léo leva para carregar todos os livros é o suficiente pra escola se esvaziar.
Quando o garoto está caminhando tranquilamente pelo pátio em direção ao portão para ir embora, Paulo, Davi e Mário surgem de repente, eles estavam escondidos atrás da parede. Léo se assusta, os três o encaram de uma maneira nada amigável. Nervoso, ele tenta ir embora normalmente, mas antes que consiga sair, Paulo o segura pelo ombro.
Paulo, irônico: Calma rapaz, por que a pressa? Vamos conversar.
Paulo puxa Léo pelo braço, ele o empurra e o coloca contra a parede e em seguida coloca sua mão no pescoço dele.

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