O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 15 (Último Capítulo)

Capítulo 15 (Último Capítulo)

Respire Fundo, É Só Saltar E Voar

 

 

Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Sótão. Noite.

Gabriel vê Ângelo ao longe em meio à fumaça no sótão em chamas. Ele consegue avistar uma pequena e corre passando pelo fogo em direção ao amigo.

Gabriel, ofegante: O que você veio fazer aqui, seu maluco?

Ângelo: Eu tinha que pegar meus livros, não podia deixar eles queimarem.

Gabriel: Você é louco, quer morrer queimado?

Ângelo: Olha só quem fala, por que veio atrás de mim então?

Gabriel: Não dá tempo de explicar, vamos cair fora daqui!

Os dois se preparam para correr, mas quando se deu conta o fogo já se espalhou mais ainda, chegando a cruzar a brecha por onde Gabriel passou. Eles estão sem saída.

Ângelo, nervoso: E agora? A gente tá cercado, o que vamos fazer?

Gabriel repara na janela bem atrás dos dois. É grande o bastante pra eles conseguirem passar por ela. Gabriel abre a janela.

Gabriel: Joga a caixa lá embaixo.

Ângelo: O quê?

Gabriel: São só livros, não vão quebrar, joga logo!

Ângelo joga a caixa pela janela. Alguns dos livros se espalham pelo chão.

Gabriel: Ok, agora é nossa vez.

Ângelo: O quê? Os livros não quebram, mas a gente sim, a gente vai se arrebentar no cimento.

Gabriel: Não, não vamos, é só me seguir.

Gabriel tira a camisa. Ele abre as asas e Ângelo fica de queixo caído.

Gabriel: É uma longa história, em resumo é de família, vamos.

Ângelo: O quê? Como?

Gabriel:Anda logo, eu sei que você tem asas também.

Ângelo: Como você sabe?

Gabriel: Não dá tempo de explicar, vamos logo.

Ângelo tira a camisa e começa a desenrolar o pano em volta do seu tórax. Gabriel fica de pé no parapeito da janela, se posicionando para saltar.

 

   Cena 02 – Jardim da frente.

O carro da polícia estaciona bem em frente ao orfanato. O delegado, Paulo, Antônio e Laura descem. Eles se surpreendem com a multidão em frente ao prédio e com a nuvem de fumaça saindo do sótão.

Delegado: Mas o que está acontecendo aqui?

Antônio: Meu Deus, é um incêndio.

Paulo avista Gabriel na janela se preparando para o salto.

Paulo: Gabriel?

Todas as crianças também avistam o garoto no parapeito com as asas abertas.

Felipe, apontando: Maria, olha o Gabriel ali!

Maria, nervosa: Ah meu Deus, ele vai saltar?!

 

   Cena 03 – Sótão. Parapeito da janela.

Lá em cima, Gabriel está pronto. Ângelo fica do lado dele no parapeito.

Ângelo: Eu não tô botando muita fé, eu nunca fiz isso antes.

Gabriel: Relaxa, é só respirar fundo, confiar em si mesmo e se jogar. Pronto?

Ângelo respira fundo: Tá bom, vamos lá.

Os dois fecham os olhos e respiram fundo. Eles contam três, dois, um, e saltam. Os dois caem em queda livre por um instante e quando estão prestes a atingir o chão, ambos abrem as asas e alçam voo em direção ao céu. Todos gritam e aplaudem eufóricos.

Felipe e Maria, gritando animados: Isso! Eles conseguiram!

Antônio e Laura, ao longe: Felipe! Maria!

Os dois se viram e avistam seus pais. Eles correm para abraçá-los.

 

   Cena 04 – Céu.

Gabriel voa alto, ele dá uma pausa e plana no ar de braços abertos, sentindo o vento frio da noite em seu corpo. Ele olha para o lado e vê Ângelo voando em sua direção.

Ângelo, animado: Gabriel, o que foi isso?

Gabriel: A gente conseguiu!

Ângelo: Tá, mas como pode? Como você sabia de tudo?

Gabriel: É uma longa história e eu vou te explicar tudo com riqueza de detalhes, mas antes…

Ângelo: Antes o quê?

Gabriel: Vamos voar mais um pouco, porque eu tinha esquecido como isso é maravilhoso!

Os dois disparam voando rapidamente rasgando os céus da cidade.

 

   Cena 05 – Delegacia. Um tempo depois.

Depois que os garotos pousaram, todos foram para a delegacia para tudo ser esclarecido. Gabriel está terminando de explicar tudo a Ângelo.

Ângelo, boquiaberto: Então é isso? Nós somos irmãos?

Gabriel: Somos, foi por isso que eu vim pro orfanato. Eu ia te contar, eu só tava esperando o momento certo, quando nós já fôssemos pelo menos amigos.

Ângelo: E a nossa mãe…

Gabriel: Eu já se foi há muito tempo Ângelo, eu também não a conheci. Eu teria vindo atrás de você antes, mas eu não sabia, nem o meu pai sabia.

Ângelo, começando a chorar: Então no fim das contas eu fui mesmo abandonado?!

Gabriel; Eu não queria, eu não tinha como cuidar de você, eu tenho o diário comigo, depois você vai poder ler tudo.

Ângelo fica em silêncio.

Gabriel: Ângelo, eu sei que você tá confuso agora, mas olha, eu posso garantir, eu sou sua família, e pode ter certeza que você vai gostar da fazenda, eu vou falar com o meu pai, ele vai te aceitar e…

Ângelo encara Gabriel sério.

Ângelo, irônico: Devo te chamar de Gabriel ou maninho?

Os dois riem. Eles se abraçam forte.

Gabriel: Acredita em mim então?

Ângelo:Olha, eu não acreditaria, mas já que nós dois temos uma coisa em comum, não tem prova maior né?!

Paulo entra na sala. Ele está bem sério e olha para Gabriel nervoso.

Gabriel se levanta, sem jeito: Olha papai, eu sei que você tá uma fera comigo, mas eu posso explicar tudo.

Paulo, sério: É mesmo? Começa.

Gabriel, gaguejando: Olha… é… tudo bem, eu pisei na bola, não devia ter fugido de novo, mas foi por um bom motivo, você tem que entender, era o meu irmão, filho da minha mãe, sua falecida, eu tinha que vir atrás dele, eu sei que você não merecia passar por todo o mal que passou…

Paulo, em voz baixa: Gabriel…

Gabriel: Eu entendo sua raiva, eu fui um irresponsável, um péssimo filho, eu vou entender se você quiser me proibir de voar de novo, mas por favor, deixa que o Ângelo vá com a gente, por favor…

Paulo, sério: Gabriel!

Gabriel: O que foi?

Paulo simplesmente abre os braços.

Paulo:Me abraça logo, vai.

Gabriel: Quer dizer que…

Paulo:Vamos deixar isso pra trás Gabriel, vem cá.

Gabriel corre e abraça o pai com força, chorando.

Paulo, chorando: Você não sabe o quanto eu senti a sua falta.

Gabriel, chorando: Obrigado papai.

Os dois olham para Ângelo.

Paulo abre os braços: E você meu outro filho? Não vai me cumprimentar?

Ângelo se aproxima. Os três se abraçam.

 

   Cena 06 – Orfanato. Manhã seguinte.

Gabriel, Maria e Felipe estão se despedindo das freiras e das crianças dos amigos do orfanato.

Madre Luiza: Bem, eu poderia dizer que fiquei irritada por vocês terem me enganado, mas já que fizeram tudo pra ajudarem o Ângelo, está tudo bem.

Gabriel:Aliás madre, há quanto tempo você sabia sobre as asas dele?

Madre Luiza: Eu sempre soube, desde a noite em que ele chegou aqui, era por isso que eu sempre era carinhosa com ele e nunca deixei que ele fosse adotado.

Gabriel: A senhora fez muito bem, obrigado.

Sofia: Eu vou sentir muita saudade de vocês, mesmo vocês tendo ficado aqui pouco tempo.

Maria: Eu também vou sentir saudade. Desculpa pelas vezes em que eu fui grossa com você Sofia, mas é que…

Sofia: Tudo bem, eu entendo, acho que também ficaria assim se tentassem roubar meu namorado.

Felipe, irônico: Ainda mais se tratando de uma obsessão como a da Maria.

Maria: Cala a boca, babaca.

Joaquim: Cara, aquela cena ontem foi o máximo, eu nunca vi coisa tão irada, você e o Ângelo pulando da janela foi demais Gabriel.

Gabriel: É, foi divertido!

Paulo: Então, nós já podemos ir gente?

Gabriel:Espera, cadê o Ângelo?

Joaquim: Ele disse que não teria muito de quem se despedir aqui, foi falar com outra pessoa.

 

   Cena 07 – Ali perto.

Ângelo está conversando com seu amigo Miguel.

Miguel: Puxa, que história, hein?

Ângelo:É, também foi um choque pra mim.

Miguel:Mas por que você nunca me contou sobre as suas asas?

Ângelo: Sei lá, tinha medo de como as pessoas reagiriam.

Miguel: Imagino. Mas e aí, tá animado pra essa nova vida?

Ângelo: Tô nervoso, eu não faço a menor ideia de pra onde vou, tô dando um voto de confiança pro Gabriel porque tá na cara que o que ele falou a verdade.

Miguel: Pois é. Mas enfim, eu te desejo sorte nessa, espero que não passe pelo que eu passei com minha família.

Ângelo: Eu também.

Gabriel chega pra junto dos dois.

Gabriel: Ângelo, vamos?

Ângelo: Só um minuto.

Miguel: Esse aí que é o seu irmão?

Ângelo: Esse mesmo. Gabriel, esse é meu amigo, Miguel.

Gabriel estendendo a mão: Prazer.

Miguel aperta a mão de Gabriel: Prazer. Olha cara, eu já passei por dramas familiares envolvendo meus pais e meu irmão depois que fui adotado, se prepara que mesmo que família sendo bom, você vai enfrentar muitas coisas daqui pra frente.

Ângelo: Pode deixar.

Miguel: Não, isso foi pro seu irmão, eu imagino o quanto ele vai sofrer com você na família.

Os três riem.

Gabriel: Bem, eu tenho que ir agora.

Miguel dá um abraço em Ângelo: Tchau cara, boa sorte.

Ângelo: Obrigado. E lembra, pra sempre irmãos.

Miguel: Pra sempre!

 

   Cena 08 – Interior. Cemitério. Dias depois.

Ângelo e Gabriel vão ao cemitério da cidade visitar o túmulo de Teresa. Os dois observam bem a fotografia no túmulo.

Ângelo: Então é aqui que nossa mãe descansa?

Gabriel:É, aqui mesmo.

Ângelo: às vezes eu me pergunto se ela realmente encontrou a paz depois de fazer o que fez comigo.

Gabriel: Você leu o diário dela Ângelo, você viu que ela não fez por mal.

Ângelo: Eu sei, mas às vezes eu me pergunto se ela realmente me amava.

A imagem de Teresa surge ao lado dos dois.

Teresa: Meus filhos!

Os dois garotos se assustam.

Gabriel, boquiaberto: Mamãe?!

Ângelo: Essa é a nossa mãe? Você não acabou de dizer que ela morreu?

Teresa: Eu posso não estar mais entre vocês meus filhos, mas mesmo depois da morte o espírito continua para sempre imortal, e eu desde sempre continuei viva pra vocês, eu sempre fui o anjo da guarda de vocês.

Gabriel, quase sem voz: Meu Deus!

Teresa: Eu não queria ter deixado nenhum de vocês dois, mas Deus quis assim. Eu só espero que um dia Ângelo, você possa me perdoar. E acreditem, quando vocês mais precisarem, quando sofrerem ou passarem por qualquer dificuldade, eu estarei lá, do lado dos dois, pronta para ajudá-los. Vocês são os meus anjinhos. Amo muito vocês.

A imagem de Tersa desaparece.

Gabriel: Meu Deus!

 

   Cena 09 – Fazenda. Quarto de Gabriel e Ângelo. Dias depois.

Gabriel entra no quarto. Ele encontra Ângelo deitado em sua cama lendo um caderno.

Gabriel: O que você tá lendo aí?

Ângelo, escondendo o caderno: Nada!

Gabriel: Nada mesmo?

Ângelo: É, nada, eu não tenho nada a esconder.

Gabriel: Então mostra o que você tem aí atrás.

Ângelo mostra o caderno, é o diário de Gabriel.

Gabriel pega o diário: Posso saber com que direito você leu o meu diário?

Ângelo: Foi com a melhor das intenções.

Gabriel: Sério? E que intenções seriam essas?

Ângelo se levanta: Veja bem Gabriel, eu estive pensando em todas as coisas que cada um de nós passou individualmente e acho que poderíamos tirar proveito delas.

Gabriel: Não entendi.

Ângelo: Você sabe, isso de eu ter sido abandonado no orfanato, de como a nossa mãe salvou a vida do papai, da vida que cada um levava escondendo o segredo das asas e como acabamos nos encontrando. Eu achei que já que eu tenho talento para escrever histórias, nossas histórias dariam um bom livro.

Gabriel, animado: Espera aí, você tá pensando em escrever um livro contando as nossas histórias?

Ângelo: É, se você e todos os envolvidos estiverem de acordo. O que acha?

Gabriel: Pode contar comigo meu irmão!

Os dois se cumprimentam.

Gabriel: Mas e aí, eu já tô pronto?

Ângelo: Sim, sim, vamos.

 

   Cena 11 – Vista de cima do mar.

Gabriel, narração: E desde então minha vida segue assim, voltamos à velha rotina, quer dizer, quase, com o Ângelo junto as coisas ficaram diferentes, não por causa de atenção do nosso pai já que nós dois somos maduros o suficiente pra nos cuidarmos. O papai aceitou bem o Ângelo e ele se adaptou rápido à fazenda. Como somos irmãos, eu e o Ângelo sempre discutimos, ele é difícil mesmo, mas mesmo assim nos damos bem. Às vezes no fim de semana, eu, o Ângelo, a Malu e o Felipe vamos até o orfanato rever nossos amigos lá. Quanto ao livro…

Ângelo, narração: Opa, espera aí, essa parte é minha. Bem, eu escrevi o livro a partir de lembranças, relatos e trechos do diário do Gabriel, eu demorei a conseguir uma editora, mas o lancei alguns meses depois quando já tinha 18 anos e o Gabriel 16, com o título de “Os Anjos Abrem Suas Asas”. Não quero me gabar, mas foi um best-seller, está entre os mais vendidos no Brasil inteiro há semanas, ouvi dizer que logo mais será traduzido para o inglês e espanhol e vendido no exterior. Eu sou um sucesso!

Gabriel, narração: Concluindo… Bem, hoje nós seguimos nossa vida, ainda somos humildes embora famosos, mas é difícil resistir quando um bando de garotas atacam nós dois na rua… Ih, a Malu vai me matar se souber que eu disse isso. Enfim, sempre terei minha mãe em meu coração mesmo não a tendo conhecido. Hoje posso dizer com certeza, sou realizado e sou feliz!

 

   Cena 11 – Penhasco.

Gabriel e Ângelo estão de pé na frente do penhasco.

Gabriel: Ângelo, você não se arrepende de ter vindo pra cá?

Ângelo: Não mesmo. Mas sabe, o Miguel tinha razão, nem sempre ser adotado é garantia de que nossa vida vai ser 100% boa, quer dizer, família é algo complicado.

Gabriel: Tudo na vida é complicado Ângelo, mas é pra ser assim. Você vê eu e a Malu, estamos juntos, mas às vezes brigamos e sempre acabamos voltando. Isso é natural, quando você gosta de alguém você não consegue viver sem brigar com ele.

Ângelo: É verdade, o pior é que a gente nunca tem certeza de nada, quando eu pensei na minha ideia de escrever o livro, eu tinha muitas expectativas, mas tinha medo de fracassar.

Gabriel: Quando se tem vontade de que dê certo tudo funciona Ângelo.

Ângelo: É, por exemplo, eu tô com vontade ganhar de você na corrida de voo hoje e vou conseguir.

Gabriel, irônico:Hum, veremos!

Os dois tiram as camisas, se jogam do penhasco e alçam voo.

 

FIM!

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