O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 12

Capítulo 12

Ligando Os Pontos

 

 

   Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Dormitório dos meninos.

Gabriel tenta subir, mas Ângelo está segurando forte seus braços.

Gabriel: Ângelo, para com isso, me ajuda.

Ângelo, irônico: Você pode se ajudar, é só se deixar levar pelo vento, ou pela gravidade.

Ângelo solta um dos braços de Gabriel. O garoto fica dependurado por apenas um braço, que Ângelo está segurando com suas duas mãos. De repente, Gabriel começa a escorregar.

Gabriel: Ângelo, por favor…

Ângelo, irônico: Voa passarinho, voa.

É então que o braço de Gabriel escorrega e ele começa a cair, mas antes que possa perceber, Ângelo o pega pela mão e fazendo muito esforço ele o puxa de volta para dentro do quarto. Com a força que faz, Ângelo acaba caindo no chão e Gabriel cai bem ao seu lado. Ainda assustado, Gabriel tenta se recuperar e quando olha para o lado, Ângelo está rindo.

Gabriel, irritado: Posso saber qual é a graça?

Ângelo, rindo: Cara, você devia ter dito a sua cara!

Gabriel: Não teve graça nenhuma, eu podia ter caído.

Ângelo, rindo mais: Ué, eu só queria ver se você conseguia voar.

Gabriel irônico: Talvez eu conseguisse.

Os dois se levantam. Gabriel dá um empurrão em Ângelo.

Gabriel, irritado: Você é um idiota.

Ângelo, irônico: Nossa, mas que insulto, mas alguma palavra cruel?

Gabriel: Fala sério, você me paga por isso.

Ângelo: Isso, isso, vai lá bebê chorão, vai me dedurar pra madre Luiza e pras outras freiras, conta pra elas como eu fui cruel e quase te matei, eu já passei por coisa bem pior pra ter medo de você.

Gabriel sai do quarto bufando de raiva.

 

   Cena 02 – Sala de estar. Tarde.

A maioria das crianças está descansando após o almoço. Gabriel está sentado sozinho no canto da parede. Maria se aproxima e senta-se ao seu lado.

Maria: E aí Gabriel, o que foi?

Gabriel: Isso tá muito mais difícil do que eu pensava Malu.

Maria: Fala do Ângelo?

Gabriel:É, aquele cara é insuportável, eu não sei o que eu posso fazer pra me aproximar dele.

Maria: Seja sincero Gabriel, acha que isso vale a pena?

Gabriel: Como assim?

Maria: Gabriel, nós estamos aqui já faz poucas semanas, e desde o primeiro dia esse garoto só fez te maltratar, acha mesmo que vale a pena continuar sacrificando a sua paz e deixar nossos pais na maior tortura lá em casa por causa desse garoto?

Gabriel: Mas ele é meu irmão, ele é assim porque foi abandonado, ele não tem culpa.

Maria: Gabriel, em todos os orfanatos do mundo há crianças que foram abandonadas e nem por isso elas se preocupam tanto em fazer a vida dos outros um inferno sem motivo algum.

Gabriel: Mas ele é diferente, quer dizer, eu e ele não somos pessoas normais.

Maria: Gabriel, você sempre viveu isolado dos outros e todos pisavam em você, inclusive seu próprio pai. Em responde, como você acha que ele vai reagir quando souber a verdade? Acha que ele vai te aceitar? Acha que ele vai entender os motivos da mãe de vocês para o deixar?

Gabriel: Eu não sei, eu mesmo não sei ao certo porque a mamãe fez isso.

Maria: Você tá se sacrificando muito por alguém que não vale a pena. Além disso você sabe como seu pai é, duvido que ele aceite cuidar do filho de outro homem. Será que ele vai te deixar voar de novo depois de tudo isso?

Gabriel: Você acha?

Maria faz que não com a cabeça.

Gabriel, começando a chorar: Não posso evitar, eu também não sei como continuar. A verdade é que eu já tinha esquecido o quanto era difícil ficar com os pés no chão, tô com saudade de casa, do meu pai, de saltar do penhasco…

Maria abraça Gabriel.

 

   Cena 03 – Interior. Fazenda. Noite.

Paulo está sentado numa poltrona com um copo de cerveja na mão. O homem está praticamente todo surrado, como já fora na época em que os pais morreram.

Paulo: Onde você pode estar meu filho?

De repente, algo lhe vem a memória.

 

   FLASHBACK.

Dias antes. Noite do dia em que Gabriel encontrou o diário.

Gabriel, mostrando o diário: Papai, eu encontrei isso aqui no sótão, é um antigo diário da mamãe, e em uma página ela escreveu que abandonou um bebê em um orfanato no Rio de Janeiro há 16 anos.

Paulo: o quê? Me deixa ver isso.

Gabriel entrega o diário a Paulo em uma página aberta. Paulo dá uma leitura rápida na página.

Paulo: Gabriel, o que você foi fazer no sótão?

Gabriel: Isso não importa agora papai, o importante é que eu tenho um irmão e a gente tem que ir atrás dele.

Paulo: Gabriel, como assim ir atrás?

Gabriel: O quê? Você não acabou de ler?

Paulo: Gabriel eu conhecia muito bem a sua mãe, ela me garantiu que antes de me conhecer ela nunca teve outro homem na vida.

Gabriel: Mas papai, olha aí nas páginas anteriores, ela passou quase 10 meses sem escrever, foi na época em que ela engravidou.

Paulo dá uma olhada nas páginas: Mas nessas páginas aqui, nenhuma fala sobre algum namorado.

Gabriel: Papai, por favor, a gente tem que ir atrás dele.

Paulo: Gabriel a sua mãe era viciada em história de romance e drama, isso aqui pode ser muito bem algum trecho de uma história que ela recortou e escreveu aqui.

Gabriel: Mesmo assim papai, vamos até o Rio de Janeiro procurar esse orfanato.

 

   Noite seguinte.

Paulo: Você não me disse nada o dia inteiro, está todo bem?

Gabriel: Tá sim!

Paulo: Meu filho, me desculpa pelo que houve ontem à noite, é que…

Gabriel: Tudo bem papai, eu que peço desculpas, eu não devia ter dito aquilo.

Paulo: Meu filho, eu entendo que você queira muito ter um irmão, mas é improvável que você o encontre.

Gabriel se senta: Papai, se não for pedir demais, eu prefiro não falar mais sobre isso, tudo bem?

Paulo: Jura?

Gabriel: Sim, eu acho que não vale a pena.

Paulo: Tudo bem, se é o que você quer.

Gabriel se levanta: Eu acho que eu vou me deitar.

Paulo: Tão cedo? O jantar ainda nem saiu.

Gabriel: Eu tô muito cansado, voei muito hoje.

 

   Manhã seguinte.

Gabriel atende: Alô pai.

Paulo, nervoso: Gabriel, graças a Deus, meu filho, onde você está?

Gabriel, do outro lado da linha: Eu tô bem papai, eu tô bem.

Paulo: Meu filho, o que houve, por que você fugiu de novo?

Gabriel: Não se preocupe papai, eu tô bem, eu tô na cidade.

Paulo: Na cidade? Mas em que cidade?

Gabriel: Eu tô numa cidade pai, é só isso que posso dizer.

Antônio: Pergunta se o Felipe e a Maria estão com ele.

Paulo: Gabriel, meu filho, você tá sozinho? Tem alguém com você?

Gabriel: Tem sim, a Malu e o Felipe estão comigo.

Paulo: Eles estão com você?

Laura, aliviada: Ah, graças a Deus.

Paulo: Gabriel, me diz aonde você tá, eu vou aí buscar vocês.

Gabriel: Desculpa papai, mas eu não vou fazer isso.

   FIM DO FLASHBACK.

 

VOLTA AO PRESENTE.

Paulo: Mas claro, como eu não pensei isso antes?

Paulo pega o celular e disca um número. Antônio atende.

Paulo: Alô, Antônio?

Antônio: Alô seu Paulo, pois não.

Paulo: Diga a sua esposa que eu acho que já sei onde nossos filhos estão.

Antônio, surpreso: Jura? E onde estão?

Paulo: Arrumem suas coisas, amanhã cedo vamos até o Rio de Janeiro.

 

   Cena 04 – Rio de Janeiro. Orfanato Coração de Mãe. Dormitório dos Meninos. Horas mais tarde.

Todos os garotos já estão dormindo. Quer dizer, todos, menos Gabriel, ele está acordado, deitado em sua cama, lendo algumas páginas do diário de sua mãe com a ajuda da luz que entra pela janela.

Gabriel: Ah mamãe, por que você abandonou o Ângelo?

De repente, a imagem de Teresa surge do nada e senta-se bem ao lado de Gabriel, mas ele não consegue vê-la. Ela dá um beijo na testa do filho. Gabriel sente algo como uma cócega. Ele passa a mão no local do beijo e seus dedos ficam borrados com uma cor meio branca.

Gabriel: Que estranho.

Teresa passa os dedos pelas páginas do diário e para na capa da frente. É aí que é possível se ver que há uma folha colada por cima da capa, ela desliza seus dedos sobre a folha e ela descola uma parte. No espaço entre a folha colada e a capa dura do diário, está uma folha dobrada, escondida. Gabriel repara na folha.

Gabriel: O que será isso?

Gabriel pega a folha, a desdobra e começa a lê-la. Ele fica chocado.

Gabriel, boquiaberto: Meu Deus do céu!

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