O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 11

Capítulo 11

Esse Cara É Difícil

 

   Cena 01 – Interior. Delegacia da cidade. Manhã. Alguns dias depois.

Paulo, Laura e Antônio estão na delegacia aguardando para falar com o delegado Fernando sobre as buscas dos seus filhos que já acontecem há alguns dias e nada até agora.

Laura: Eu estou muito nervosa, o que será que aconteceu?

Antônio: Não se preocupe querida, vai ficar tudo bem.

Laura: Não posso evitar, será que o delegado tem boas notícias?

Paulo: Vamos torcer pra que sim, aliás.

Um policial chega.

Policial: Podem entrar, o delegado quer falar com vocês.

Os três entram na sala do delegado e sentam-se.

Laura: Delegado, o senhor tem alguma notícia dos nossos filhos?

Antônio: O senhor encontrou algum deles? Os viram? Eles estão bem?

Paulo, autoritário: Deixem o delegado falar, por favor.

Fernando, cuspindo um pouco de fumaça do cigarro: Infelizmente meus senhores, as notícias que tenho não são muito animadoras.

Os três ficam nervosos.

Fernando: Nós procuramos por seus filhos em toda a cidade e não encontramos pista alguma do paradeiro deles.

Laura, começando a chorar: Oh meu Deus.

Paulo: Mas como assim? Essa cidade é pequena e vocês estão procurando há mais de uma semana, como não encontraram nada ainda?

Fernando: É isso que estou dizendo, procuramos em toda a cidade e ninguém viu os seus filhos.

Laura, chorando: Meu Deus, isso não pode estar acontecendo.

Antônio abraça Laura: Calma querida, calma, os nossos filhos vão aparecer.

Paulo: mas vocês tem que continuar procurando, não é possível que vão encerrar as buscas tão rápido.

Fernando: Não se preocupe, nós vamos começar a procurar na zona rural nos arredores da cidade. mas eu posso ser sincero? Na minha opinião, os seus filhos não estão aqui.

 

   Cena 02 – Rio de Janeiro. Orfanato Coração de Mãe. Sala.

Gabriel, Felipe e Maria estão na sala sozinhos, o restante das crianças está na escola. Felipe e Maria estão sentados no sofá e Gabriel está andando de um lado pro outro.

Gabriel, andando de um lado pro outro: O que eu faço? O que eu faço?

Felipe, resmungando: Gabriel, quer parar de ficar andando de um lado pro outro feito uma barata tonta, que tonto tô ficando eu?!

Gabriel: Desculpa Felipe, é que eu tô nervoso.

Felipe: É, mas nesse ritmo você vai acabar afundando o chão.

Maria: Felipe, para de implicar com ele.

Gabriel se senta: Não, tudo bem Malu. É que eu tô muito nervoso.

Felipe: Olha Gabriel, a gente tá aqui nesse orfanato há dias, nossos pais lá no interior devem estar arrancando os cabelos de preocupação, assim não dá.

Maria: Fala baixo Felipe, alguém pode escutar.

Gabriel: Ele tem razão Malu, as coisas não estão saindo do lugar.

Maria: Gabriel, já fazem dias que você descobriu que o Ângelo é seu irmão, já tá mais do que na hora de você contar a verdade.

Felipe: É mesmo, ontem eu ouvi a madre Luiza comentando que logo mais elas vão matricular a gente na escola, se esperarmos mais, vai dar problema.

Gabriel, nervoso: Eu sei Felipe, eu sei! Mas o que você quer que eu faça? Quer dizer, é o Ângelo, aquele cara é impossível, como eu faço pra fazer amizade com ele?

Felipe, irônico: É, pois é, você nunca foi muito bom nisso (risos).

Maria: Felipe, se não tem nada de bom pra dizer, cala a boca.

Gabriel: Ele nunca vai entender, quer dizer, o que eu vou dizer sobre a nossa mãe, eu nem tenho ao certo o que dizer porque ela o abandonou, além de ela não ter condições, ele vai dizer que ela devia ter pensado nisso antes de engravidar, não dá pra entender.

Felipe: Como meu pai diz: se mulher fosse bom, Deus tinha uma.

Maria: O papai disse isso?

Felipe: Hum… não!

Gabriel se levanta: Gente, isso é sério, a gente já ficou tempo demais aqui, eu preciso me aproximar do Ângelo de algum jeito pra poder contar a verdade.

Felipe:Seja lá o que você estiver pensando em fazer, tenta agilizar.

 

   Cena 03 –Jardim dos fundos. Horas mais tarde.

Gabriel está sentado no degrau, distraído, pensando em várias coisas ao mesmo tempo, seu pai, sua mãe, Ângelo, Maria, tudo.

Gabriel, falando consigo mesmo: Ai, ai, como eu saio dessa?

De repente uma bola aparece do nada e passa de raspão na cabeça de Gabriel, acertando a parede atrás dele.

Joaquim se aproxima:Ops, foi mal aí cara.

Gabriel, devolvendo a bola: Relaxa, não me acertou!

Joaquim: E aí, você, o que me conta, Gabriel né?!

Gabriel: É isso mesmo. Joaquim, você tá aqui no orfanato há muito tempo?

Joaquim: Ih, muito tempo, eu cheguei aqui quando ainda tinha 5 anos, por aí.

Gabriel: Hum, e você veio de onde?

Joaquim: Eu era das ruas que nem você, e um belo dia me pegaram tentando assaltar uma cafeteria e me mandaram pra cá.

Gabriel: Hum, puxa, você roubava?

Joaquim: Era, mas deixei esse hábito pra trás.

Gabriel: Joaquim, já que você tá aqui há mais tempo, me tira uma dúvida?

Joaquim, fazendo embaixadinhas: Pode falar.

Gabriel: O Ângelo, por que ele é daquele jeito?

Joaquim: Ih, não sei dizer, ele já tava aqui quando eu cheguei, aliás, ele é o garoto que tá aqui há mais tempo.

Gabriel: Sério?

Joaquim: Assim, ele não foi a primeira criança do orfanato, ele é o que ficou aqui mais tempo e nunca foi adotado.

Gabriel: E ele é sempre solitário?

Joaquim senta do lado de Gabriel: Bem, isso é. Desde a época que eu cheguei aqui até hoje eu só vi o Ângelo com um amigo, era um garoto chamado Miguel, eles dois eram o terror do Coração de Mãe.

Gabriel: Sério?

Joaquim: Sim, eles eram brigões, bagunceiros, aprontavam bastante com as freiras e com as meninas, parecia que iam fazer nossa vida um pesadelo pra sempre, mas há pouco mais de 3 anos o Miguel foi adotado.

Gabriel: E desde então o Ângelo não tem amigos?

Joaquim: Até onde eu sei, não. Os dois queriam ser adotados juntos, mas parece que os pais adotivos não tinham como sustentar dois garotos.

Gabriel: Puxa, ele às vezes parece um fantasma andando pelos corredores.

Joaquim: É, ele é estranho, o que a gente mais se incomoda é que ele nunca é castigado, ele sempre apronta das maiores com todo mundo e a madre Luiza sempre passa a mão na cabeça dele. Mas por que esse interesse no Ângelo?

Gabriel: Nada, nada não.

 

   Cena 04 – Dormitório dos meninos. Um tempo depois.

Ângelo está sozinho no quarto. O garoto está sentado em sua cama escrevendo alguma coisa em seu caderno, ele parece estar bem concentrado. De repente a porta se abre e Gabriel entra. Ângelo fecha o caderno e o esconde atrás do travesseiro com pressa.

Gabriel, fechando a porta: Oi Ângelo, o que foi?

Ângelo: Como assim, o que foi?

Gabriel: O que que você tá escondendo aí?

Ângelo, irritado: Coisa minha, não é da sua conta!

Gabriel: Tá, tudo bem.

Gabriel se aproxima e se senta na cama ao lado da de Ângelo e fica encarando o garoto, procurando nele traços que lembrem sua mãe.

Ângelo: Tá me olhando assim por quê?

Gabriel: Por nada. Me responde uma coisa Ângelo, por que sempre que eu te vejo você tá sozinho?

Ângelo: Por que você tá perguntando isso?

Gabriel: Por nada, quer dizer, eu me preocupo. Eu já fui assim, isolado e sem amigos e eu sei o quanto é difícil…

Ângelo: É a minha vida, ok? Você não tem porque se envolver!

Gabriel: Não me admira que não tenha amigos agindo desse jeito, você nem parece que é meu…

Gabriel fica mudo.

Ângelo: Seu o quê?

Gabriel: Não parece gente como eu, eu era assim como você, mas nem por isso me tornei uma pessoa tão amargurada.

Ângelo: Aonde você quer chegar com esse papo afinal? É alguma pegadinha pra rirem de mim? A surra que seu irmão me deu não bastou?

Gabriel, surpreso: O quê? O Felipe? Ele te bateu?

Ângelo: Vai dizer que você não sabia?!

Gabriel: Não, mas como assim? Quando foi isso? Por quê?

Ângelo, furioso: Olha aqui, vocês podem ter conquistado todo mundo aqui, mas não a mim, vocês chegaram com esse papinho de “ah, fomos abandonados, passamos fome, moramos nas ruas”, mas isso não dá o direito de vocês passarem por cima de ninguém, entendeu? Ainda mais de alguém como eu, que sempre fui um zero à esquerda.

Gabriel: Espera aí, ou eu tô entendo mal ou você tem raiva da gente porque mal chegamos aqui e já fizemos vários amigos enquanto você que tá aqui faz tempo não conseguiu nenhum?! É isso?

Ângelo, sarcástico: Fala sério? Inveja de vocês. Olha, você pode bancar o anjinho inocente pra qualquer um, mas comigo isso não cola!

Gabriel: Ângelo, calam, eu só queria conversar, pra que talvez nos entendêssemos…

Ângelo: Eu não tenho o que conversar com você, nós não somos amigos e eu não vejo a menos necessidade de sermos.

Gabriel se levanta e caminha se aproximando da janela. Ele olha para cima, observando o céu.

Gabriel, desanimado: Ah, isso vai ser bem mais difícil do que eu pensei.

De repente, Gabriel sente duas mãos o empurrarem com força pelas costas. Quando se dá conta ele está caindo, mas consegue se segurar no parapeito da janela e fica dependurado do lado de fora do orfanato a mais ou menos uns 7 metros de altura.

Gabriel, nervoso: Ah meu Deus!

Gabriel tenta subir, mas não consegue. Ângelo chega à frente da janela.

Gabriel: Ângelo me ajuda, por favor.

Ângelo pega nos dois braços de Gabriel, mas invés de puxá-lo para dentro, ele o desce mais um pouco.

Ângelo sorri: Vejamos se você sabe voar.

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