O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 06

Capítulo 06

O Encrenqueiro

 

 

Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Jardim.

Gabriel se levanta e segura Felipe pelo ombro.

Gabriel: Felipe, para.

Felipe: Você acha mesmo que eu vou aguentar em silêncio tudo que esse babaca disse Gabriel?

Ângelo:Pode vir, eu não tenho medo de nada!

Felipe: Me solta Gabriel, deixa que eu quebro a cara desse garoto.

Gabriel: Não, é isso que ele quer!

Felipe: Se é o que ele quer, deixa ele receber!

Ângelo:Vem logo, eu te dou uma surra que você nunca mais vai esquecer!

Com o barulho, uma das freiras sai da cozinha para ver o que está acontecendo.

Irmã Margarida: Mas o que está acontecendo aqui crianças? Por que todos esses gritos?

Felipe, apontando: É esse idiota aí que fica nos enchendo o saco.

Ângelo: Mentira, foram eles que começaram.

Maria: Ah, para com isso, você sabe que a gente não começou nada.

Ângelo: Fica quieta, morta de fome!

Irmã Margarida, alto e claro:Ângelo! Mas o que significa isso? Isso por acaso é jeito de falar com seus colegas?

Ângelo: Mas Irmã Margarida…

Irmã Margarida se aproxima de Ângelo: Mas você não tem jeito mesmo, os garotos mal acabaram de chegar e você já começa a provocá-los, por que isso?

Ângelo: Mas eu não fiz nada, eu juro.

Irmã Margarida puxando Ângelo pelo braço: Não jure, jurar mentindo é pecado. Venha, vamos falar com a madre Luiza. Crianças, eu sinto muito.

Irmã Margarida sai levando Ângelo. Os outros três ficam observando.

Felipe: Gabriel, se não se importa, já pode parar de me segurar.

Gabriel, soltando Felipe: Desculpa.

Maria: Gente, que garoto mais babaca esse hein?!

Felipe: É mesmo. Gabriel, por que você me segurou? Sabe que eu já fiz artes maciais, eu teria dado um jeito nele.

Gabriel: Chega Felipe, é nosso primeiro dia aqui e eu não quero confusão.

 

   Cena 02 – Diretoria do orfanato.

A madre Luiza está sentada em sua mesa conversando com Ângelo.

Madre Luiza: Posso saber o que o senhor fez dessa vez rapazinho?

Ângelo: Eu não fiz nada.

Madre Luiza: Então a Irmã Margarida te trouxe aqui por nada?

Ângelo: Isso mesmo, ninguém aqui vai com a minha cara.

Madre Luiza: Por que será que não consigo acreditar em você?

Ângelo: Ah qual é madre? Eu tô nesse orfanato à vida toda, você me conhece muito bem e aqueles três garotos chegaram hoje, por que vocês preferem acreditar neles a acreditar em mim?

Madre Luiza: Justamente por isso, porque te conhecemos muito bem.

Ângelo: E o que vai fazer? Me obrigar a rezar e pedir perdão 200 vezes seguidas?

Madre Luiza: Pare com essa ironia Ângelo. Me responda, por que você sempre é assim, meu filho? Aqui você sempre é tratado como todos os outros, por que é tão amargurado?

Ângelo: A senhora sabe porque.

Madre Luiza: Todas as outras crianças aqui também foram abandonadas e nem por isso são assim como você.

Ângelo: Madre, por favor, a senhora vai me dar um castigo ou vai ficar enrolando?

Madre Luiza: Está bem, eu preferia apenas que conversássemos, mas como você é impaciente demais…

 

   Cena 03 – Casa dos Oliveira. Noite.

Antônio está falando no telefone com Paulo.

Antônio: Nenhuma novidade patrão? Não retornaram às ligações? Não, aqui em casa também não sabemos de nada. Obrigado, qualquer coisa nos avise.

Antônio desliga o telefone.

Laura: Nada Antônio?

Antônio: Nada Laura, nada.

Laura, chorando: Meu Deus, eu não posso acreditar que isso tá acontecendo de novo? Onde nossos filhos podem estar?

Antônio abraça Laura: Calma meu amor, se o Gabriel atendeu a ligação do seu Paulo hoje de manhã e disse que eles estavam bem é por que estão.

Laura: Mas onde eles podem estar Antônio?

Antônio: Eu não sei querida, eu não sei, mas vamos rezar que tudo vai ficar bem, os nossos filhos vão voltar em segurança como da última vez.

 

   Cena 04 – Rio de Janeiro. Orfanato. Dormitório dos meninos. Manhã seguinte.

Gabriel e Felipe acabaram de acordar. Acordaram por último, a propósito. Todos os outros garotos já estão no refeitório do orfanato tomando café para logo em seguida irem para a escola.

Felipe, vestindo sua camisa: Fala sério, ninguém merece ter que ficar o dia inteiro de uniforme, isso é pior que a escola.

Gabriel: Eu gostei desse uniforme, assim nós ficamos parecendo os Von Trap.

Felipe:Os trapo o quê?

Gabriel: Esquece, já vi que você não conhece muito bem velhos clássicos.

Felipe: Olha Gabriel, eu sei que você tá nervoso com tudo que tá acontecendo. E me desculpa pelo que houve.

Gabriel: O que exatamente?

Felipe: Pelas nossas mochilas, eu sei que o diário da sua mãe tava em uma delas.

Gabriel, tirando o diário do travesseiro: Relaxa, ele tá aqui.

Felipe: O quê? Como você o pegou de volta?

Gabriel: Não peguei de volta, eu trouxe ele escondido dentro da minha camisa, não podia arriscar deixar ele por aí.

Felipe: Puxa, você é esperto. Então, vamos descer pra tomar café?

Gabriel: Vamos.

 

   Cena 05 – Refeitório.

Gabriel e Felipe pegam um pão, uma xícara e sentam-se junto a Maria e uma outra menina em uma das mesas.

Maria, apresentando a menina: Gente, essa aqui é a Sofia, minha nova amiga. Sofia, esses são os meus irmãos, Gabriel e Felipe.

Sofia: Oi.

Felipe e Gabriel, juntos: Oi.

Gabriel: Você faz novas amizades rápido, hein Malu?!

Maria:Pois é. Então, como passaram a noite?

Felipe: Muito bem, mas eu bem que senti saudade da minha cama.

Sofia: Como assim? A Maria tinha dito que vocês moravam na rua.

Felipe, nervoso: Ah, é que… É que nós tínhamos umas camas improvisadas com colchões velhos.

Gabriel: É, quando ele disse que sentiu saudades quis dizer que não tá acostumado com esse tipo de cama.

Sofia: Puxa, não sei como alguém pode sentir falta de dormir na rua.

Maria:Deixa eles Sofia, garotos são mesmo complicados.

Ângelo passa disfarçadamente perto da mesa deles e derrama um pouco de suco no cabelo de Maria.

Maria, nervosa: Garoto, olha o que você fez!

Ângelo, irônico: Oh, eu sinto muitíssimo!

Sofia: Olha só Maria, bem no seu uniforme.

Maria: Será que não dá pra você olhar por onde anda não?

Ângelo: Eu não tenho culpa de ter um trombone na minha frente.

Maria se levanta: O que você disse?

Gabriel: Calma Malu, não se estressa.

Ângelo, irônico: Ô garoto da corcova, você parece mocinha de novela falando assim, mais sem personalidade do que a AnastasiaSteele.

Os quatro o encaram estranho.

Ângelo, sem jeito: Não que eu tenha lido ou assistido 50 Tons de Cinza.

Gabriel se levanta: Olha, por que não vai embora?

Ângelo sai andando: Ah, tá bom, tá bom, eu sei onde não sou bem-vindo.

Sofia entrega um guardanapo a Maria: Aqui, se limpa com isso.

Maria se senta: Eu juro, esse garoto vai me pagar.

Felipe: Que folgado.

Sofia: Ih, vai se acostumando, esse daí é fogo.

 

   Cena 06 – Dormitório dos meninos. Um tempo depois.

Todas as crianças do orfanato foram para a escola. Maria, Felipe e Gabriel, como acabaram de chegar, ainda não estão matriculados como os outros garotos. No momento, Maria está na cozinha com as freiras com quem está conversando sobre o dia a dia no orfanato. Felipe está deitado em sua cama no quarto tirando um cochilo. Gabriel acorda o amigo.

Gabriel: Felipe, acorda, preciso da sua ajuda.

Felipe, sonolento: O quê? O que que foi?

Gabriel, puxando Felipe pelo braço: Vem comigo, eu preciso de sua ajuda.

Felipe: Mas tem que ser eu?

Gabriel: Tem. Vem, eu não posso falar aqui senão uma das freiras pode ouvir, vamos lá pro banheiro.

Felipe, irônico: Não vai dizer que quer minha ajuda pra…

Gabriel: Claro que não, palhaço! Vem.

 

   Cena 07 – Banheiro dos meninos.

Os dois entram no banheiro. Gabriel tranca a porta.

Felipe: Fala o que é de uma vez Gabriel.

Gabriel: Fala baixo! É o seguinte, eu preciso que você me ajude com uma coisa.

Felipe: Que coisa é essa?

Gabriel tira uma tesoura do bolso: Eu preciso que você corte minhas asas.

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