O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 05

Capítulo 05
Bem-Vindos ao Coração de Mãe

Cena 01 – Delegacia.
Gabriel, Maria e Felipe estão sentados e quietos esperando os policiais que estão conversando com o delegado. Gabriel e Maria encaram o amigo com cara de mal humor.
Gabriel, irônico: Felipe, você é brilhante.
Maria: Que ideia maluca foi essa sua Felipe? Mentir pra polícia?!
Gabriel: O que será que eles vão fazer agora com a gente?
Maria: Sei lá, vai ver vão nos encaminhar pra um internato ou pra um reformatório, o que fazem com crianças de rua.
Gabriel: Valeu Felipe, estávamos em uma enrascada e agora tudo piorou.
Felipe: Querem parar de reclamar e calar a boca? Eu já planejei tudo.
Maria: Mas você planejou o que afinal?
Felipe: Espera pra ver, vai dar tudo certo!
Os dois policiais voltam. Os três garotos ficam de pé.
Policial 1: Muito bem garotos, agora vocês vem com a gente.
Gabriel: Vamos com vocês? Mas pra onde?
Policial 2: Venham com a gente, vocês já vão saber.

Cena 02 – Estrada.
O carro da policial segue pelas ruas do subúrbio. Os dois policiais vão no banco da frente enquanto os três garotos vão sentados e quietos no banco de trás, sem saber para onde estão indo.
Maria, sussurrando: Eu tô nervosa, pra onde será que a gente tá indo?
Gabriel abraça Maria: Não se preocupa Malu, vai ficar tudo bem, a gente vai dar um jeito.
Felipe puxa Gabriel pelo ombro: Ei parem com isso, nós três somos irmãos esqueceram? Vocês não podem ficar se agarrando assim.
Gabriel: Felipe, do que você está falando?
Maria: Garoto, quer fazer o favor de nos explicar o que está acontecendo? Por acaso você sabe pra onde estamos indo?
Felipe: Tenho quase certeza, tudo que posso dizer é pra confiarem em mim.
Maria: confiar em você? Por que faríamos isso?
Felipe: Por que vocês não tem escolha!
Depois de um tempo o carro estaciona.
Policial 1: Chegamos crianças.
Gabriel: Chegamos aonde?
Policial 1: No novo lar de vocês.
Os dois policiais descem. Um deles abre a porta de trás e os três garotos descem também. Eles estão na frente de uma casa, na verdade um casarão, bem grande, com um grande jardim, é maior e diferente das outras casas da rua, eles provavelmente não estão mais no mesmo bairro ou no subúrbio em que estavam. Os policiais vão até a porta e tocam a campainha e os três garotos ficam na calçada.
Gabriel: Minha nossa, que lugar é esse?
Maria: Onde viemos parar?
Felipe passa seus braços nos ombros dos amigos: Relaxem, é só olharem para o que está escrito ali em cima!
Felipe aponta para cima da porta de entrada do casarão e a expressão no rosto de Gabriel e Maria muda completamente de nervoso para alegre.
Gabriel, lendo: “Orfanato Coração de Mãe”?!
Felipe: É isso aí, justamente o que queríamos.
Gabriel abraça Felipe com força: Ai Felipe, você é demais!
Felipe se afasta: Tá, tá, mas não é pra tanto, você namora a minha irmã.
Maria: Mas como sabia que viríamos pra cá?
Policial 1, interrompendo: Vamos garotos, vamos entrar.

Cena 03 – Orfanato. Sala de estar.
Os policiais já foram embora. Os três meninos estão sentados em um sofá esperando.
Gabriel: Felipe, como você planejou tudo isso?
Felipe: Bem, nós estávamos no subúrbio e você disse que no diário da sua mãe ela conta que morava em um subúrbio pobre do Rio de Janeiro, e eu sei que quando a polícia encontra órfãos na rua eles são mandados pra orfanatos, então eu só fiz juntar tudo, fui na sorte e deu tudo certo.
Gabriel: Puxa, você foi ótimo.
Maria: É, até eu tenho que concordar, você mandou bem.
Felipe: Obrigado, eu sempre me supero.
A conversa é interrompida quando três freiras entram na sala. Os garotos três ficam de pé.
Madre Luiza: Olá crianças, muito prazer eu sou a madre Luiza e estas são a Irmã Isabel e a Irmã Margarida.
Freiras: Olá crianças.
Gabriel: Oi, eu sou Gabriel e esses são meus a… Meus irmãos Malu e Felipe.
Maria: Oi.
Felipe: E aí damas?!
Madre Luíza: (risos). Muito bem, os policiais nos disseram que vocês foram encontrados na rua, que vocês não tinham casa nem família.
Felipe, fingindo tristeza:É, isso é verdade.
Madre Luíza: Pois bem, imagino como devem ter passado por momentos difíceis e sofreram, mas não se preocupem, agora vocês tem a nós, todas aqui seremos como mães pra vocês.
Irmã Isabel: É verdade, aqui vocês nunca mais passaram fome nem frio novamente, é um ótimo lar.
Irmã Margarida: Além disso há muitas outras crianças, vocês vão ter muitos amigos.
Gabriel: Obrigado por tudo.
Madre Luiza: Me desculpe, mas eu notei algo estranho em você garoto, o que é isso nas suas costas?
Gabriel, sem jeito: Ah, isso? É um defeito de nascença, eu tenho a minha coluna meio mal formada e cresceu esse volume nas minhas costas, espero que não seja problema.
Madre Luiza: De forma alguma, aqui todos são tratados iguais. Muito bem, eu imagino que vocês estejam cansados, com fome, Irmã Isabel, leve os garotos ao dormitório deles e Irmã Margarida, leve a menina ao seu quarto.
Felipe: Como assim? Vamos ficar separados?
Maria: Claro, né? Ou você acha que em lugares assim meninos e meninas podem ficar nos mesmos quartos.
Felipe: É, faz sentido.
Irmãs Isabel e Margarida, juntas: Vamos crianças.

Cena 04 – Fazenda. Quarto de Paulo.
Paulo está sentado em sua cama olhando um antigo álbum de fotografias. A maioria das fotos mostra Gabriel, desde 1 ano até mais ou menos 5 anos, quando menino ainda era bem pequeno e não tinha as asas completamente formadas.
Paulo, olhando para uma foto: Ah meu filho, por que você faz isso comigo? Eu acho que eu devia ser mais firme com você.
Paulo sente uma mão macia em seu ombro.
Paulo: Quem é?
Paulo se vira e se espanta ao ver quem é: Teresa, sua falecida esposa. Ela está com um vestido completamente branco e com suas asas à mostra.
Paulo, quase sem conseguir falar: Teresa? Teresa é… É você mesmo?
Teresa, muito tranquila: Paulo, meu amor!
Paulo: Teresa meu bem, como pode?
Teresa: Paulo, cuide bem do nosso filho.
Paulo: Meu Deus, como assim?
Teresa: Você cometeu erros com ele uma vez, não torne a fazer isso.
Paulo está tão emocionado que nem ouve direito o que Teresa diz.
Paulo, quase chorando: Teresa querida, eu senti tanto a sua falta.
Paulo fecha os olhos e corre para abraçar a esposa, mas quando ele se dá conta, ela desapareceu.
Paulo, sem entender nada: Teresa? Teresa, meu amor? Teresa?
Paulo olha para os lados, mas a imagem de sua esposa simplesmente sumiu em um piscar de olhos. Paulo se deita na cama e começa a chorar.

Cena 05 – Rio de Janeiro. Orfanato Coração de Mãe. Jardim. Horas mais tarde, quase noite.
Gabriel, Maria e Felipe estão conversando no jardim. Os três já tomaram banho, comeram, descasaram e já estão vestidos com o uniforme do orfanato.
Maria: Puxa, esse lugar aqui é incrível, não é?
Felipe: É sim, muito legal.
Gabriel: E tem muitas outras crianças aqui, eu espero que entre elas esteja o meu irmão.
Maria: Como vai fazer pra encontrá-lo Gabriel?
Gabriel: Não sei, aqui tem muita gente, mas eu vou descobrir.
Felipe: E quando descobrir como vai fazer pra contar a verdade a ele? E como vai fazer pra ir embora e levá-lo junto?
Gabriel: Eu não sei, eu não sei! Mas eu vou pensar em alguma coisa.
Maria: Qualquer coisa que precisar conta comigo, tá meu bem?
Gabriel, aproximando-se para um beijo: Claro que sim.
Felipe separa os dois: Parou, parou, irmãos não beijam na boca!
Maria: Ah, qual é Felipe?
Felipe: Já pensou o que vai acontecer se uma das freiras pegar vocês dois namorando?
Gabriel: Ele tem razão Malu, é melhor darmos um tempo.
De repente, uma pedra vem voando do nada e acerta bem na cabeça de Gabriel.
Gabriel: Ai.
Maria: Gabriel, você tá bem?
Gabriel, esfregando onde a pedra acertou: Ai, mais ou menos.
Felipe pega a pedra: Quem jogou isso?
Garoto se aproximando com um estilingue na mão: Fui eu!
Maria: Quem é você?
Ângelo: Ângelo. Vocês devem ser os novatos.
Gabriel: Sim, somos nós. Por que você fez isso?
Ângelo: Foi mal, foi um acidente, eu estava mirando numa lagartixa. Aí, eu fiquei sabendo que vocês vieram da rua, é verdade?
Maria: É, é sim, por quê?
Ângelo: Por nada. Ei garoto, o que é isso nas suas costas?
Gabriel: É um defeito de nascença.
Ângelo: Ah é? Parece uma corcova de camelo, que estranho!
Maria: Ei, não fala assim dele.
Ângelo: Por quê? É estranho mesmo, parece o assistente do Dr. Frankstein.
Maria, irritando-se: Cala a boca seu…
Gabriel segura Maria: Calma Malu, não é pra tanto.
Ângelo: Que fofo, ouve ele, porque não é porque você é garotinha indefesa que eu pegaria leve.
Maria: Quem está chamando de indefesa?
Gabriel: Deixa isso quieto Malu.
Felipe se levanta e dobra as mangas da camisa: Olha, o meu irmão é de paz, mas eu sou bem diferente.

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