Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 17

[Zona Portuária – Rio de Janeiro – Galpão 64 – Noite]

EUPÁTRIDA – Tudo bem. Bom ter uma mulher de fibra como a senhora.
JOANA / BASILEU – Tive que aprender a ser, a vida me ensinou, primeiro a minha filha foi roubada, tive que sair lá do Maranhão atrás dela, até encontrar o Augusto, com quem me casei, depois da morte dele tive que assumir tudo isso, mas nunca me esqueci da minha filha, de minha Maria Tereza.
EUPÁTRIDA – É não foi fácil.
JOANA – Nunca é fácil. Mas esquematize tudo para amanhã dar certo. Não quero falhas.

No alojamento

GABRIELA – É agora.
LUANA – Será que vai dar certo?
GABRIELA –Vai sim, tente parecer o mais morta possível, quando eles vierem pra pegar você, finge que está tendo uma convulsão que é para chamar a atenção deles. (Falando para as outras) Fiquem ao redor e perto das paredes, quando tiverem atentos na Luana, todas juntas, pegam a arma deles. Não pode ter falhas. Quando pegarem as armas apontem para os caras e se eles tentarem pegar pode atirar. Vamos começar o plano.
JULIANA – Gabi?
GABRIEL – Sem mais, você Juliana vai chamar na porta. Posição.

Juliana vai até a porta, bati e grita.

JULIANA – Socorro! Ajuda! Tem uma de nós morrendo, Ajuda!
CAPANGA 1 – O que tá acontecendo aqui?
JULIANA – Ela desmaiou, parece não estar respirando.
CAPANGA 1 – Assim, do nada? Vocês acham que sou burro.
GABRIELA – (Junto de Luana que está caída no chão) Você não ta vendo que ela ta desacordada? Não brincaríamos com isso, se ela morrer você vai ter que dar muita explicação lá pro seus chefes.

O capanga se aproxima delas, tenta sentir o pulso e a temperatura. Puxa o rádio:

CAPANGA 1 –(Falando no rádio) Getúlio, venha aqui com mais dois, deixei dois tomando de conta da segurança do Basileu.
GETÚLIO – O que aconteceu?
CAPANGA 1– Uma das meninas está aqui desmaiada, morrendo.
GETÚLIO  – Devo avisar o Eupátrida?
CAPANGA 1 – Primeiro vamos removê-la daqui, ai avisamos. Venha logo. (Desliga) Chamei os outros, pode deixar.
GABRIELA – (olhando nos olhos do capanga) Obrigado.

Os outros capangas chegam.

CAPANGA 1 – Dois fiquem aí na porta e outros dois venham aqui. (os dois se aproximam)

Luana começa a se debater, como se estivesse tendo uma convulsão. Os outro dois que estão na porta vão junto para ajudar. Gabriela faz sinal com a cabeça para as outras.

As meninas se aproximam devagar por trás dos capangas e pegam as armas da cintura de cada um, Gabriela pega a arma do Capanga 1.

GABRIELA – Fiquem parados onde estão.

***

[Madureira – Rio de Janeiro –Casa de Leonardo –  Quarto – Noite]

Leonardo acorda com a barriga roncando de fome, levanta pega o litro de vinagre e toma um gole, em seguida vai até a cozinha onde toma um pouco de água. Volta para o quarto, pega o remédio para o emagrecimento e engole ele.

Sua barriga volta a roncar.

LEONARDO – Calma, quando tiver mais magro vamos poder comer.

Olha para o espelho de corpo inteiro que tem no quarto, olha como se não enxergasse apenas o físico, mas a alma dele que estava toda machucada. Ele pega um coberto e cobre o espelho.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz –  Quarto – Noite]

ANITA – Socorro! Socorro! (bate na tampa de metal que está acima dela)

O líquido começa a entra pela boca dela.

ANITA – Me tirem daqui (com o líquido entrando na boca)

Anita começa a se desesperar mais, e bate com mais força, mas sem resposta, começa a sentir seus pulmões arderem com a falta de ar, tenta prender o último suspiro, mas a câmara já estava cheia, os pulmões ardem cada vez mais e ela perdi a consciência.

Anita acorda de sobressalto depois de um pesadelo. Um calafrio percorre sua espinha dorsal, a sensação de medo toma conta dela. Ela levanta e vai na cozinha tomar água, o calafrio volta a percorrer seu corpo, caminha em direção ao quarto, mas volta atrás e se dirige a escada. Após subir e andar pelo corredor dos quartos, para na última porta, pensa e bati.

Do lado de dentro do quarto Ricardo estava dormindo deitado na cama, escuta as batidas e acorda lentamente, escuta mais uma bati e senta na cama tentando acordar. As batidas sessam e ele vai abrir a porta, quando olha para o corredor avista a figura de uma mulher.

RICARDO – Anita!? Algum problema?
ANITA – Desculpe incomodá-lo.
RICARDO – Tudo bem, já estou acordado.
ANITA – Eu preciso te contar uma coisa. Que eu já deveria ter contado antes.
RICARDO – Vem, vamos entrar no meu quarto, prometo que não vou te beijar e nem nada (sorrir)

Os dois entram no quarto.

RICARDO – Pronto, pode falar.
ANITA – Éh (nervosa), eu tenho medo de sua reação.
RICARDO – Anita, eu não vou te julgar e você sempre pode contar comigo.
ANITA – Quando eu resolvi vir aqui para o Rio eu não tinha condições, até que eu conheci uma mulher, que me prometeu emprego. Entusiasmada eu vir, já que minha mãe está doente e precisando de dinheiro para comprar os remédios, além de saber quem é o meu pai. Ela ficou em São Luís, disse que uns funcionários da empresa dela iriam me pegar no aeroporto.

Inicio do flashback

[Aeroporto do Galeão – Rio de Janeiro – Manhã]

EUPÁTRIDA – Bem-vinda ao Rio de Janeiro.
ANITA – Obrigado, você deve ser o Jorge que a Silvana me falou, disse que estaria aqui para me receber.
EUPÁTRIDA – Podemos ir?
ANITA – Claro. (Pega a mala e a bolsa)
EUPÁTRIDA – Deixa que eu levo para você até o carro, deve estar exausta.
ANITA – Obrigada, gentil de sua parte.
EUPÁTRIDA – Agora vamos.

Os dois seguem no taxi em direção a zona portuário do Rio. No caminho o Eupátrida vai mostrando a cidade.

EUPÁTRIDA – Chegamos!
ANITA – Aqui?
EUPÁTRIDA – Vou mostrar primeiro onde vai trabalhar e depois vamos pra onde você vai dormir.
ANITA – Claro (vai até o porta mala do carro para pegar as malas)
EUPÁTRIDA – Deixa que tem alguém responsável por pega as malas.
ANITA – Ta bom.

Os dois entram no galpão. Após a entra eles pegam um corredor que dar para um grande salão de festa, ao fundo uma única porta.

ANITA – É aqui que vou trabalhar?
EUPÁTRIDA – É aqui que você vai viver a partir de hoje. Esqueça sua vida lá fora, você morreu. Agora você é nossa escrava.
ANITA – Sou escrava de ninguém não, vou embora isso sim.
EUPÁTRIDA – Você não tem pra onde ir e sair daqui não é nada fácil. Então nem tente, melhor se acostumar.
ANITA – Tu tá é de fuleragem comigo, só pode. Ta ficando é doido se acha que vou ficar aqui. Me dê logo meus documentos, vamos.
EUPÁTRIDA – Tá aqui seus documentos. (Dá um tapa na cara de Anita)

Fim do flashback

[Dias Atuais – Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz –  Quarto – Noite]

ANITA – E essa foi a primeira bofetada de muitas que aconteceram, teve uma vez que fui espancada até ficar com o rosto inchado, nem me reconhecia. Ninguém sabia de nós ali, as mulheres ali são tratadas como escravas sexuais, estávamos lá para saciar o desejo daqueles homens da alta sociedade brasileira. Era como se tivéssemos morrido. Depois de algumas tentativa consegui escapar de lá, quando eu tropecei com você lá no parque de Madureira, você foi meu anjo da guarda.
RICARDO – Por que não me disse isso antes?
ANITA – Não vou mentir, tive medo. Parece que os capangas deles estão em todos os lugares, não sabemos em quem confiar. Claro que com o tempo fui conhecendo você melhor e confiando em você.
RICARDO – Não vou deixar nada acontecer com você, prometo. Mas existem outras ainda lá?
ANITA – Sim, muitas. As que engravidam eles matam junto com a criança.
RICARDO – Que horror. Mas vamos fazer alguma coisa pra ajudá-las. Onde fica esse lugar?
ANITA – Eu não conheço bem o nome dos lugares daqui, é tipo um galpão, e em uma placa vi as palavras Zona Portuária e as numerações de 60 – 65.
RICARDO – Entendi, mas vai ficar tudo bem.
ANITA – Obrigada, acho que vou indo pro meu quarto.
RICARDO – Pode dormir aqui, eu durmo no divã.
ANITA – Acho que não tem necessidade.
RICARDO – Insisto e outra já prometi a você que não vou encostar em você.

***

[Zona Portuária – Rio de Janeiro – Galpão 64 – Noite]

GABRIELA – Se alguém tentar alguma gracinha o chumbo vai comer. Meninas junta eles no canto. (Para o capanga chefe) Você vai chamar os outros para cá. Agora.
CAPANGA CHEFE – (Falando no rádio) Venham todos aqui no alojamento.
CAPANGA – Aconteceu algo?
CAPANGA CHEFE – Só venham agora, chamem o Anderson também.
CAPANGA – O Anderson?
CAPANGA CHEFE – Todos.
GABRIELA – Muito bem, agora me dá o rádio.

O capanga dá o rádio para Gabriela, que coloca no chão e pisa.

GABRIELA – Quando eles chegarem é pra render todos e juntar com esses.

***

JOANA / BASILEU – O jantar está ótimo.

O Capanga se aproxima do Eupátrida.

CAPANGA – Senhor, acho que temos algum problema no alojamento, o chefe usou o código “chama o Anderson”, a primeira vez que se usa. O que devo fazer.
JOANA / BASILEU – É algo grave esse código? Eu não posso ser reconhecida aqui.
EUPÁTRIDA –
Acho bom a senhora ir embora, vamos controlar a situação o mais rápido possível.

JOANA / BASILEU – Me mantenha informado e amanhã vamos dar um jeito naquele problema. (Sai)
EUPÁTRIDA – Vamos lá.
CAPANGA – Quais são as ordens?
EUPÁTRIDA – Vamos com calma, façam o que elas mandarem, deixem elas virem pra cá.
CAPANGA – Mas o que significa o código “chama o Anderson”?
EUPÁTRIDA – Motim. Elas não vão conseguir sair daqui, depois daquele nosso deslize isso aqui virou uma fortaleza. Deixem elas virem pra cá. Todos sabem onde ficam as armas reservas né?
CAPANGA – Sim.
EUPÁTRIDA – Pega apenas a de choque, não quero perder nenhuma hoje.
CAPANGA – Ok.

***

GABRIELA – Por que estão demorando tanto?
CAPANGA CHEFE – Já tão vindo.
GABRIELA – É melhor tentarem nenhuma gracinha, em? Se não a bala vai rolar é certo aqui.
EUPÁTRIDA – (entrando no alojamento, com dois capangas) o que tá acontecendo aqui?
GABRIELA – Você vai garantir a nossa saída daqui. Bora, se mexe.
EUPÁTRIDA – Tá certo.
GABRIELA – Amarra esses dois que estão com ele junto com os outros. E você vem comigo (vai até onde o Eupátrida e pega a arma da mão dele). Vamos meninas.

Gabriela, apontando a arma para a cabeça do Eupátrida, e a outras vão para a área do salão. O grupo se dirige para a entrada principal.

GABRIELA – Vamos destranque a porta.
EUPÁTRIDA – Claro. (destranca a porta)
GABRIELA – Vamos lá meninas.

Quando Gabriela vai saindo, uma onda de choque começa a percorrer o seu corpo, e ela caí no chão, com espasmos. As outras meninas param.

EUPÁTRIDA – (pegando a arma do chão) Quem sair por essa porta, não vou pensar duas vezes em atirar.
LUANA – Estamos em maior número e também estamos armadas, você quer mesmo medir forças conosco?
EUPÁTRIDA – Vocês sabem que vamos encontrar vocês até no inferno.
LUANA – Peguem a arma dele e do Capanga dele também. (Duas meninas pegam as armas), traz essa aqui para mim. (Pega a arma) Uma de choque, legal, (mira no Eupátrida e atira, depois no capanga que cai agonizando). Ajudem a levar a Gabriela, ela merece sair desse inferno.

As meninas vão embora pelas ruas do Rio de Janeiro. Comemoram a liberdade.

***

[Zona Portuária – Rio de Janeiro –Noite]

As meninas saem correndo pela rua da Zona Portuária, quando um carro de polícia para elas.

POLICIAL – Ei, o que tá acontecendo aqui? Que armas são essas?
LUANA – Por favor, nos ajude, fomos escravizadas, conseguimos fugir, por favor nos ajude.
POLICIAL – Calma, vou ajudá-las, entrem no carro, vou telefonar pra outra viatura vim buscar vocês. (Se afasta com o celular na mão)

Algumas meninas entram na viatura e quanto as outras esperam.

POLICIAL – A viatura já ta chegando.

***

[Zona Portuária – Rio de Janeiro – Galpão 64  –Noite]

EUPÁTRIDA – (Entrando no alojamento) Vocês são um bando de incompetentes mesmo, vamos! Precisamos pegar essas meninas, peguem as armas reservas e não quero falha.
CAPANGA 1 – É para trazê-las vivas?
EUPÁTRIDA – Claro, sabe quanto custa cada uma daquelas piranhas?
CAPANGA 1 – Ta certo.
EUPÁTRIDA – Depois eu vejo um castigo para elas.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Bazinho –Noite]

PILAR – Garçom, enche o copo… Muito bem… Deixa a garrafa aqui.

O celular de Pilar toca.

PILAR –Alô!?
ABIGAIL – Senhora, é a Abigail da casa de dona Beatriz, a senhora pediu que lhe informasse se visse alguma movimentação estranha entre o senhor Ricardo e a Anita estão dormindo no quarto dele.
PILAR – (levantando da cadeira) O que? O que você sabe sobre essa tal de Anita?
ABIGAIL – Ela veio do Maranhão, era professora lá.
PILAR – Maranhão, professora, certo.
ABIGAIL – Tinha um noivo que trabalhava em um restaurante de lá.
PILAR – Você sabe o nome desse restaurante.
ABIGAIL – Restaurante Guarnicê, parece que fica no Centro Histórico de São Luís.
PILAR – Ótimo… Um noivo, então essa tal de Anita tem um noivo lá no Maranhão.

***

[Zona Portuária – Rio de Janeiro –– Galpão 19 -Noite]

Na viatura

LUANA – Para onde estamos indo?
POLICIAL –  Já vamos chegar, só tenho que pegar um relatório para levar para a delegacia.
LUANA – Tá certo… Gaby você está melhor?
GABRIELA – Sim, só muitas dores pelo corpo.

Os carros atravessam a zona portuária e entram em um galpão que parecia uma garagem.

POLICIA – Fiquem no carro, já volto. (Sai)
GABRIELA – Isso aqui tá esquisito, acho bom darmos um jeito de sair daqui.
LUANA – Mas como?
GABRIELA – Não sei, isso aqui tá me cheirando emboscada. (Abre a porta do carro)
EUPÁTRIDA – Para onde vocês vão?

***

[Gávea – Rio de Janeiro – Hospital São Miguel – Sala de Espera –Noite]

BEATRIZ – Hoje encontrei aquela desgraçada.
TEODORO – Quem? A Susana?
BEATRIZ – Ela mesmo, quase passei com o carro por cima dela, sorte dela que a Anita desviou.
TEODORO – É o que? Você ficou louca?
BEATRIZ – Eu disse para você que ia acabar com ela da próxima vez que eu a visse.
TEODORO – Se você é capaz de pensar e tentar acabar com a vida de alguém você deveria estar internada.
BEATRIZ – Você nunca fica do meu lado, ninguém mandou trazê-la para cá.
TEODORO – Eu sempre estive do seu lado, desde quando ti conheci na fazenda do meu pai, em Mororó, lá no Maranhão e esses anos todos.
BEATRIZ – Me explica qual seu interesse em que voltemos nos falar?
TEODORO – Porque era uma amizade muito bonita. Acho que deverias dar uma chance.
BEATRIZ – Eu já disse que não vou dar chance nenhuma. Só achei que você deveria saber e colocar na sua cabeça de uma vez por outra.
TEODORO – Vou chamá-la para ir lá em casa.
BEATRIZ – Nem ouse, eu boto ela e você para fora da minha casa.

***

[Zona Portuária – Rio de Janeiro –– Galpão 19 – Noite]

EUPÁTRIDA – E então? Daqui vocês não tem como fugir. Não acham que já estão muito encrencadas?
GABRIELA – Eu sabia que isso aqui era cilada, tanto esforço para nada.
EUPÁTRIDA – Isso é para vocês verem que estamos em todos os lugares.
POLICIAL – (voltando) Pronto chefia, as armas já foram recuperadas também.
EUPÁTRIDA – Ótimo, agora vamos levar essas vagabundas para o outro galpão.

No outro galpão.

EUPÁTRIDA –Coloquem elas no alojamento, vão ficar sem comer até segunda ordem, também coloquem elas de joelhos no milho, para pedirem perdão por ter fugido… Ah essas duas (apontando para Luana e Gabriela) levem para a sala de jogos e já sabem o que fazer.

***

[Madureira – Rio de Janeiro –– Casa de Leonardo – Manhã]

DONA ROSA – (Colocando o cuscuz na mesa do café) Bom dia!
BENEDITA – Bom dia mãe.
DONA ROSA – Onde está seu irmão?
BENEDITA – Acho que ainda está dormindo.
DONA ROSA – Vou chamá-lo.
LEONARDO – (Se aproximando) Não precisa, já estou aqui, podem tomar o café, eu vou direto para a faculdade, preciso estar cedo lá.
DONA ROSA – Claro que não, venha logo comer alguma coisa.
LEONARDO – Já disse que preciso ir. Vou passar o dia todo lá.
DONA ROSA – Tem dinheiro para o almoço?
LEONARDO – Tenho.
DONA ROSA – Seu aniversário ta chegando, acho que vou fazer um bolinho para comemorar.
LEONARDO – Pra que? Comemorar o que? Não se tem nada para comemorar, agora preciso ir. (Sai)
DONA ROSA – Seu irmão está muito estranho.
BENEDITA – Ele sempre foi estranho.
DONA ROSA – Agora se arrume, que você vai comigo para a feira.
BENEDITA – Ah não.
DONA ROSA – Ah sim.

***

[Gávea – Rio de Janeiro ––Hospital São Miguel–Lanchonete – Manhã]

FERNANDO – Bom dia!
TEODORO – Iai Fernando, tudo bem?
FERNANDO – Sim, querem ir ver o filho de vocês?
BEATRIZ – Claro, vamos logo.
FERNANDO – O médico me informou que ele ainda não sabe que está temporariamente cego, por isso quero que estejam presentes no momento que ele for fazer isso, para dar apoio para ele.
BEATRIZ – Tudo bm.
FERNANDO – Vamos?
TEODORO – Sim.

No quarto.

MÉDICO – Bom dia Maxwell, como você está se sentindo.
MAXWELL – Eu tô bem doutor, quando vão retirar esse pano dos meus olhos?
FERNANDO – O seus país estão aqui Maxwell.
BEATRIZ – Oi filho
TEODORO – Iai garotão, que susto que você nos deu em.
MAXWELL – Quem mais está ai?
BEATRIZ – Eu, seu pai, o médico e o Fernando, lembra dele?
MAXWELL – Sim, como está sua filha Cristiana depois do sequestro?
FERNANDO – Está bem, e logo você também vai estar.
MAXWELL – Por favor, tirem logo esse curativo dos meus olhos, quero ver vocês.
BEATRIZ – Filho…
MÉDICO – Éhh, você sofreu uma pequena lesão nos vasos sanguíneos que leva o sangue para os olhos. Fizemos uma cirurgia para fazer a desobstrução do vaso e que daqui algum tempo você vai recuperar a visão.
MAXWELL – Então você quer dizer que.
MÉDICO – (Cortando) Você nesse momento está cego.
MAXWELL – Não, não pode ser. (gritando) Não pode ser, não pode ser.
BEATRIZ – Calma filho (chorando), você vai voltar enxergar.
MAXWELL – Quanto tempo?
MÉDICO – Alguma semanas, ou meses.
MAXWELL – Meses? Vou ficar dependendo dos outros esse tempo todo? E as mulheres vão me rejeitar.
BEATRIZ – Dê graças a Deus que você está vivo.
MAXWELL – Eu preferia ter morrido! Agora me deixei, por favor.
TEODORO – Acalme-se filho.
MAXWELL – Me deixem. Sai!

***

[Madureira – Rio de Janeiro –– Casa de Leonardo – Manhã]

DONA ROSA –Vamos filha, daqui a pouco não tem mais cliente.

Alguém bate na porta.

DONA ROSA – Já vai… Já vai (abre a porta) Pois não?
JOANA – Finalmente te encontrei, desgraçada.
DONA ROSA – Posso saber quem é a senhora?
JOANA – Já esqueceu?
DONA ROSA – Não faço a mínima ideia.
JOANA – Como pode esquecer, sua ladra de bebês. Você roubou a minha filha a quase 30 anos atrás.
DONA ROSA – Eu não sei do que você está falando e se me der licença. (Fechando a porta)
JOANA – Larga de ser sonsa (empurrando a porta e entrando). Você sabe o que fez, Socorro. Mudou de nome pensando que eu não ia te encontrar, mas eu disse que iria te encontrar até no inferno.
DONA ROSA – Saia da minha casa, se não vou chamar a polícia.
JOANA – Não se preocupe, eu chamo, quer que eu ligue do meu celular ou você liga do seu? Eu vim buscar a minha filha e só não te coloco na cadeia porque sei que esse crime já prescreveu.
BENEDITA – (Entrando na sala) Mãe? Algum problema?
DONA ROSA – Não, vá lá para dentro.
JOANA – Minha filha. Minha Maria Tereza.
BENEDITA – O que?

Lucas Serejo

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