Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 14

[Madureira – Rio de Janeiro – Manhã]

Anita anda pela calçada em direção ao ponto de taxi. Atrás dela surge uma mulher.

SUSANA – Anita!?

Anita se vira.

ANITA – (susto) Mãe, como assim? O que a senhora tá fazendo aqui?
SUSANA – (De braços abertos) Não abraça mais sua mãe?
ANITA – Claro (vai até a mãe e dá um abraço forte), como a senhora chegou aqui?
SUSANA – Vamos para outro lugar? Assim podemos conversar melhor.
ANITA – É que…
SUSANA – É que nada, você some um mês, quase não dar notícias, agora vamos, tem muito o que me explicar.
ANITA – Vamos pra onde?
SUSANA –(Pegando outro papel na bolsa) Sabe onde fica essa Igreja?
ANITA – A do Santo Sepulcro, parece que fica aqui perto.
SUSANA – Pois vamos até lá, que depois de nossa conversa faço logo as minhas orações.

***

[Rio de Janeiro – Zona Portuária – Galpão 64 – Manhã]

No alojamento.

GABRIELA – Eu não posso aceitar ficar aqui.
LUANA – Você vai fazer o que? Desde que cheguei aqui nunca vi ninguém escapar, quer dizer só uma, mas depois que ela saiu reforçaram a segurança e até hoje estão caçando ela. Aceita que você morreu para o resto da sociedade, com o tempo você acostuma e até que não é ruim, tem comida, roupa, só tem que se comportar, aí você não volta pro quarto de jogos. A parte ruim é só o sexo forçado, mas como eu disse você acostuma.
GABRIELA – Eu nunca vou me acostumar.
LUANA – Só toma cuidado para não engravidar, toma a pílula direitinho, já vi muitas meninas morrerem na mão de açougueiros aqui.
GABRIELA –Não vai acontecer, nem sexo, nem nada.
LUANA – Não faz assim é pior para você. Existem coisas bem piores naquela sala de jogos.

O Eupátrida entra.

EUPÁTRIDA – Estejam prontas às 19h vamos ter uma festinha hoje. (sai)
GABRIELA – Vou dar um jeito de sai daqui antes disso.
LUANA – Eu já te avisei, como dizem que avisa amigo é.
GABRIELA – Como foi que a garota conseguiu fugir daqui?
LUANA – Pelo o que eu ouvir falar, ela conseguiu tirar um ar-condicionado e sair, outras estavam com ela e não tiveram a mesma sorte. Foram para o quarto de jogos e nunca mais voltaram.
GABRIELA – Eu tenho sorte e se ela conseguiu escapar eu também consigo.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Quarto – Manhã]

Maxwell estava sentado na frente do computador em uma rede social.

MAXWELL – Essa aqui é bonita… (passa a foto) Credo coisa horrível… (passa) Meu Deus que anjo é esse, linda, gostosa, primeira da lista.

Ricardo passa pela porta e Maxwell o chama.

RICARDO – Fala aí mano.
MAXWELL – Cara, saca só essa mina, diz se não é linda, gostosinha demais, parece um anjo.
RICARDO – Você sabe que para mim beleza não é tudo né.
MAXWELL – Ah para com isso, pega a Pilar que era maior gostosa, com todo respeito, agora tá pegando a cozinheira que é gatinha, no fundo o que importa é a beleza sim.
RICARDO – Não concordo… Ah tem que melhorar essa sua forma de falar, cheio de gírias, como vai ser um administrador assim?
MAXWELL – Qual é? Relaxa, tenho é que aproveitar que tô em forma e sou gostoso pra pegar essas gatinhas, principalmente essa aqui (aponta pra tela do computador).
RICARDO – Deus ainda vai te dar uma lição meu irmão.
MAXWELL – Relaxa, você é muito certinho, tem que fazer umas loucuras algumas vezes.
RICARDO – Irmão… irmão, não te digo nada, agora deixa eu ir, tenho fotos para fazer.
MAXWELL – Sabe que a mamãe odeia você fazer essa fotos né.
RICARDO – Se eu fosse fazer só o que ela quer, eu não viveria.
MAXWELL – Tá certo. Boas fotos.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Igreja do Santo Sepulcro – Manhã]

SUSANA – E então Anita, você some por mais de mês, quase não manda notícias, deixa eu e seu namorado preocupados.
ANITA – Eu tive alguns problemas, mas espero ter resolvidos, consegui emprego já, eu estava e ainda estou preocupada com sua saúde, tinha nada que vir atrás de mim, aliás como a senhora veio parar aqui?
SUSANA – Não importa, um amigo me ajudou.
ANITA – Meu pai?
SUSANA – Que seu pai garota, já disse que ele morreu, quando vai entender isso?
ANITA – Quando você parar de mentir.
SUSANA – Tá chamando sua mãe de mentirosa dentro da Igreja, se fosse na minha época iria rezar o terço todo de joelhos no milho, aliás…

Susana pega Anita pelo braço e leva até a imagem de Nossa Senhor que está em um altar ali próximo.

SUSANA – Promete, Promete Anita, aqui diante da virgem que vai me falar a verdade.
ANITA – Eu nunca menti pra a senhora.
SUSANA – Como foi que você se aproximou do filho daquela mulher ruim? (Anita não responde) Fala Anita.
ANITA –Calma mãe, eu conheci ele quando cheguei aqui, ele estava tirando fotos no parque e eu o encontrei. Ficamos amigos e ele me arranjou o emprego na casa dele.
SUSANA – Só amigos? Ou eu tenho que te lembrar que você tem um namorado te esperando lá em São Luís.
ANITA – Só amigos mãe.
SUSANA – Eu não quero ver você perto dele e nem da mãe dele, que só trazem desgosto por onde passam, vai ficar longe daquela corja toda.
ANITA – Como a senhora sabe que Dona Beatriz é tão ruim assim?

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Quarto – Manhã]

MAXWELL – (No telefone) Alô, iai Benedita, tá afim de sair hoje pra curtir uma noitada?
BENEDITA – Quem é?
MAXWELL – Como assim quem é? Maxwell já esqueceu?
BENEDITA – Ah sim Max… Hum noitada? É pode ser.
MAXWELL – Então eu te pego às dez? Pode ser?
BENEDITA – (duvida) ehh… eu te encontro na entrada da tua casa.
MAXWELL – Marcado então, até a noite.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Igreja do Santo Sepulcro – Manhã]

ANITA – Então mãe? Como a senhora sabe que Dona Beatriz é ruim assim?
SUSANA – Eu não preciso ficar dando satisfações pra você, né?
ANITA – Claro que precisa, você vive cheia de mistérios, nunca fala do seu passado.
SUSANA – Porque, como a própria palavra diz, passou, não tem importância ficar revirando ele, temos que nos preocupar com o agora.
ANITA – É por isso que eu vim para o Rio atrás de emprego pra cuidar de você, mas até quando o seu passado vai interferir no presente? (Susana não responde) deixa pra lá, eu preciso ir na feira comprar algumas coisas, a senhora está hospedada onde?

Susana entrega o cartão do hotel para a filha.

SUSANA – Se cuida minha filha, vá no hotel pra nos falarmos melhor.
ANITA – Ta bom, a senhora também (dar um abraço na mãe). Tem dinheiro para voltar pra casa?
SUSANA – Tenho sim.
ANITA – Melhor a senhora pegar um taxi, porque aqui é um pouco perigoso.
SUSANA – Ta certo (abraça a filha).

***

[Rio de Janeiro – Casa de Leonardo– Hora do Almoço]

Mesa do almoço.

DONA ROSA – Então meu filho, conseguiu dormir um pouco?
LEONARDO – Sim mãe.
DONA ROSA – (colocando a salada na mesa) Hoje à noite vou preparar um chá pra ajudar você dormir direito.
LEONARDO – Agradeço mãe.
DONA ROSA – O que você tanto ver nesse computador Benedita?
BENEDITA – Nada, to procurando algumas coisas.
DONA ROSA – (se aproximando) Pois agora não é hora, não viu que vamos almoçar?
BENEDITA – Ah mãe pera ai.
DONA ROSA – Nada de pera ai. (Olhando o site) o que você tanto quer procurando sobre a família Araribe?
BENEDITA – Ah mãe coisa minha.
DONA ROSA – Eu não quero ver você metida com gente dessa família.
BENEDITA – Agora você quer regular até com quem eu me relaciono?
DONA ROSA – Longe de mim, mas com alguém dessa família não. Agora feche esse computador e vamos jantar.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Hora do Almoço]

TEODORO – O almoço estava ótimo, agora preciso ir a empresa.
BEATRIZ – Mas você chegou hoje meu amor.
TEODORO – Eu preciso ir, é importante. Onde está o Ricardo?
MAXWELL – Saiu para fotografar.
BEATRIZ – Não tem limites, ele sabe que odeio esse negócio de ele sair daqui pra tirar fotos, agora nem almoça mais. Vou falar com ele.
TEODORO – Bia, Bia, olha lá… Agora preciso ir.

***

[Rio de Janeiro – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Tarde]

Leonardo caminha em direção a lanchonete do prédio onde estuda e avista Alicia.

LEONARDO –(timidamente) Oi Alicia.
ALICIA – Oi Leo, como você tá?
LEONARDO – (menti)To bem e você?
ALICIA – To ótima, senta ai.
LEONARDO –Quais as novidades?
ALICIA – Espero terminar a faculdade no semestre que vem, to em um grupo de pesquisa.
LEONARDO – Olha, que bom. Espero que dê tudo certo.
ALICIA – Mas e você?
LEONARDO –To levando como posso. Espero também terminar semestre que vem.
ALICIA – Então vamos estar nós dois na colação de grau… E você tá namorando?
PENSAMENTO LEONARDO – Quem vai querer alguém como eu? Gordo, feio?
LEONARDO – Não, to não e você?

ALICIA – Eu to tendo um rolo com o Arthur.
LEONARDO – (com um pouco de tristeza na voz) O que faz parte da atlética né?
ALICIA –Sim, eu sei que você vai encontrar alguém que vai te fazer muito feliz.
LEONARDO – É né.
ALICIA – Vem cá (levanta) to achando você um pouco triste, um abraço sempre ajuda.

Leonardo levanta e abraça Alicia.

ARTHUR – (chegando) Atrapalho alguma coisa?
ALICIA – Claro que não (vai até onde Arthur e o Beija)

Leonardo baixa a cabeça um pouco triste e depois disfarça.

ALICIA – Agora preciso ir.
LEONARDO – Tudo bem, boa aula.
ALICIA – Pra você também. (se afasta com Arthur)
ARTHUR – Não gosto desse aproximação com esse tal de Leonardo, dá pra perceber que ele gosta de você.
ALICIA – Para com isso, ele é um fofo e é só meu amigo.
ARTHUR – Fofo que você diz é muito gordo né, olha pra ele, tenho certeza que nenhuma menina quer namorar, ou ficar com ele.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Quarto – Tarde]

Ricardo entra e coloca a câmera na estante e deita na cama.

BEATRIZ – Posso entrar?
RICARDO – (sentando na cama) Claro mãe.
BEATRIZ – Você já almoçou meu filho?
RICARDO – Já, lá no restaurante da empresa, falando nisso onde tá o pai? Ainda não o vi.
BEATRIZ – Ele foi pra lá.
RICARDO – Não o vi. Eu vou tomar um banho, já, já tenho que ir pro curso de fotografia.
BEATRIZ – Até quando você vai insistir nisso?
RICARDO – Eu gosto de fotografia, me deixa calmo, você que não entende isso.
BEATRIZ – Fotografar tudo bem, na praia, em lugares normais.
RICARDO – O que é lugares (fazendo aspas com as mãos) normais para você.
BEATRIZ – Praias, lá no corcovado, não no meio de favela que a toda hora tem tiroteio. Olha para esse quarto meu filho, pra as paredes, esse bando de gente pobre, feias.
RICARDO – Você já esqueceu que também foi pobre? Que veio lá do interior do Maranhão?
BEATRIZ – É exatamente por isso que não quero ver você nesses ambientes, é muito legal você ir lá olhar pela câmera quando não vive naquele lugar, quando você é rico. A pobreza é feia, muito feia e eu sempre quis tentar dar o melhor pra vocês, para não verem essa feiura.
RICARDO – Você está sendo preconceituosa mãe.
BEATRIZ – Falar a verdade agora é ser preconceituosa.
RICARDO – Eu nunca pedi pra ser rico.
BEATRIZ – Mas é esse dinheiro que fica pagando esse seu cursinho pra você tá tirando fotos desse povinho. Bando de pé-rapado. Quer saber (começa a derrubar os porta-retratos da parede) Acabou, (gritando e indo em direção a câmera) Acabou.
RICARDO – Para de falar assim e coloca a câmera de volta na estante. Pra que isso?
BEATRIZ – Você é um mimadinho que vive no mundo de sonhos, se achando o Sebastião Salgado de Madureira. Isso aqui é o mundo real e não vou deixar meu filho levar um tiro nessas favelas pra ficar tirando fotos de pobres. Fiz tudo o que pude pra realiza os seus desejos, seu e de seu irmão, mas isso tem limites e se você não tem eu vou colocar.
RICARDO – Não sei qual desejo meu, esses a senhora nem imagina qual é.
BEATRIZ – (Irritada) Você não merece a mãe que tem. (joga a câmera em cima da cama e sai)

Teodoro pega a câmera e deita na cama com ar de cansado. Beatriz entra no seu quarto e pega o celular, ligar para Teodoro e só dar desligado, depois liga pra empresa.

BEATRIZ – Por favor o senhor Teodoro.
ELIZABETH – Ele não apareceu hoje aqui na empresa, a senhora que deixar algum recado?
BEATRIZ – Não obrigado. (desliga e tenta novamente o celular do esposos sem sucesso) Teodoro, Teodoro onde você está… Tem caroço nesse angu.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Sala – Noite]

TEODORO – (chegando em casa) Boa Noite.
BEATRIZ – Liguei na empresa, desligou o celular, onde você estava Teodoro?
TEODORO – Eu tive que acertar algumas coisas com investidores.
BEATRIZ – Você tem certeza? Vi na sua agenda e não tinha nada marcado nela.
TEODORO – De novo essa insegurança? Lembra o que aconteceu da última vez?
BEATRIZ – Eu não vou perder meu marido pra uma piranha.
TEODORO – Para com isso, quantas vezes eu já te dei prova do meu amor? Desde sempre.
BEATRIZ – Ainda lembro do que vi da última vez, você na cama com uma pessoa que eu achava ser minha melhor amiga.
TEODORO – Eu já disse que não sei como aquilo aconteceu, eu achava que era você e já se passaram 30 anos.
BEATRIZ – Eu nunca vou esquecer a imagem da Susana nua ao seu lado na cama.
TEODORO – Eu amo você Bia, não tenha dúvida disso. (Beija a esposa)

Anita entra na sala.

ANITA – Dona Beatriz, posso servir o jantar?
BEATRIZ – Claro que sim, hoje só vai jantar eu e o Teodoro.
ANITA – Tudo bem… (insegura) Eu queria pedir pra dar uma saída amanhã, minha mãe passou mal queria mandar um dinheiro pra ela.
BEATRIZ – Claro, mãe em primeiro lugar, pode ir à tarde.
ANITA – Obrigado Senhora, vou servir o jantar.

***

[São Luís – Maranhão – Restaurante – Centro Histórico – Noite]

GERENTE – Mas assim do nada? Férias tem que ser programada Marcelo.
MARCELO – Eu sei, mas já faz tempo que minhas férias estão passadas e eu contínuo aqui trabalhando porque amo o que eu faço, mas eu preciso desse tempo para resolver algumas coisas fora do estado.
GERENTE – Ainda sua noiva?
MARCELO – Sim.
GERENTE – Tudo bem, você merece as férias, tem prestado bons serviços aqui. A partir de amanhã você pode ter suas férias.
MARCELO – Eu sei que o Pietro da conta, ele também é ótimo. Agora deixa eu voltar para a cozinha.
GERENTE – Claro (faz um sinal com a mão em direção a porta do escritório).

Na cozinha.

MARCELO – É Pietro, a partir de amanhã você ta no comando.
PIETRO – Como assim, mano?
MARCELO – Pedi umas férias, preciso ir atrás da Anita.
PIETRO – Marcelo esquece essa mulher, tem tantas outras aqui.
MARCELO – Eu amo ela, você não entende isso.
PIETRO – Isso não é amor, é obsessão já. Escuta teu brother, tu ainda vais se meter em uma enrascada por causa dessa Anita.
MARCELO – Relaxa que eu sei o que to fazendo.
PIETRO – Espero mesmo, agora vamos trabalhar que isso aqui parece que vai pegar fogo hoje.

***

[Madureira – Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Noite]

ANITA – (no telefone) Gostaria do Número telefônico do quarto 23, aqui é a filha dela.
RECEPCIONISTA – Claro, só um momento que vou transferir.
ANITA – Obrigada (espera)
SUSANA – Anita?
ANITA – Oi mãe, to ligando pra dizer que só poderei ir amanhã ai a tarde, como a senhora está?
SUSANA –Estou bem, espero você amanhã.
ANITA – Ta bom, agora preciso desligar, boa noite, durma bem. Beijo.
SUSANA – Outro durma bem. (desliga)

Susana fica pensativa, depois pega o celular e disca outro número.

SUSANA – Alô, Teodoro?
TEODORO – Oi, boa noite.
SUSANA – Pode falar?
TEODORO – Sim, a Beatriz está no banho.
SUSANA – Só to ligando que se vier aqui amanhã, que possa vir pela manhã, pois a tarde vou dar uma volta.
TEODORO – Claro, aliás vou levar uma coisa para você.
SUSANA – Tá bom. Salva esse número, que é do meu apartamento.
TEODORO – Tudo bem, agora preciso desligar antes que Beatriz volte.
SUSANA – Boa noite
TEODORO – Boa. (desliga e salva o número)
BEATRIZ – (entra enxugando o cabelo) Quem era?
TEODORO – Era engano, procurando uma tal de Amanda, enfim vou tomar um banho. (vai para o banheiro)

Beatriz pega o celular do Marido, vai em últimas chamadas e ver o nome na tela.

BEATRIZ – Não pode ser.

***

[Rio de Janeiro – Zona Portuária – Boate – Noite]

BENEDITA – Aqui parece ser bom, bem animado, nunca tinha vindo para esse lado da cidade.
MAXWELL – A noite ta só começando, vou pegar umas bebidas no bar.
BENEDITA – Tá bom.

No bar.

MAXWELL – Amigo, duas cervejas por favor.

Olha para pista de dança, visualiza uma figura conhecida, pega as duas bebidas e vai até a mulher.

MAXWELL – Pilar, você por aqui? Não tinha terminado com meu irmão?
PILAR – E você acha que vou dar o desfrute de ele me ver triste, claro que não, não vou deixar ele pensar que estou em casa bebericando soda cáustica e assistindo novela velha no viva.
MAXWELL – Assim que se fala e tá ai com quem?
PILAR – Eu? com ninguém até agora, mas a noite é uma criança e você?
MAXWELL – Com uma amiga, aliás deixa eu ir lá onde ela. (sai)

Pilar vai para a pista de dança. Perto dali…

BENEDITA – Demorou em.
MAXWELL – O bar tava lotado e encontrei uma amiga.
BENEDITA – Uma amiga é…
MAXWELL – Sem grilo tá, a gente se pega, mas não se apega.
BENEDITA – Melhor assim, agora vamos dançar?
MAXWELL – Claro, primeiro as damas.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Leonardo – Manhã]

DONA ROSA – (batendo na porta do quarto) Filho, tá na hora.
LEONARDO – (abrindo a porta) Já vou indo, a Benedita chegou tarde ontem, acho que dificilmente acordará.
DONA ROSA – Deixa isso comigo, se apronte.
LEONARDO – Tá bom.

Dona Rosa vai até o quintal pega um balde e enche ele, depois vai até o quarto de Benedita, entra devagar, se aproxima da cama e joga a água em cima da filha.

BENEDITA – (assustada tira a água do rosto) Que isso?
DONA ROSA – Bom dia filha, (batendo no balde) tá na hora de ir trabalhar.
BENEDITA – Ah não mãe, hoje não.
DONA ROSA – Nada disso vamos, vamos, isso se não quiser tomar banho aqui mesmo, ah depois que voltarmos bota esse colchão no sol.
BENEDITA – Que merda.
DONA ROSA – Olha a boca, se não lavo ela com sabão e água.

***

[Rio de Janeiro – Casa de Beatriz – Mesa do café – Manhã]

TEODORO – Max não vai tomar café conosco?
RICARDO – Ele ainda nem chegou.
BEATRIZ – E sabe para onde seu irmão foi desde ontem?

Teodoro não responde.

TEODORO – Ih, que clima é esse?
RICARDO – Pergunta pra ela.
BEATRIZ – Você tá sendo imaturo Ricardo.
RICARDO – Eu né? Ela contou para você que destruiu todos os meus porta-retratos do meu quarto e quase quebra a minha câmera?
TEODORO – Que isso Beatriz?
BEATRIZ – Pronto já podem me crucificar, meu próprio filho jogando pedra em mim. Alguém tem que dar limites pra esse garoto, agora só vive enfiado em favela tirando foto, sabe como ta o Rio de Janeiro principalmente essas comunidades.
TEODORO – Filho eu entendo a preocupação de sua mãe, apesar de não concordar com o que ela fez. Melhor dar um tempo até essa criminalidade diminuiu, depois você pode tirar quantas fotos quiser.
BEATRIZ – Tem é que parar com esse negócio de fotografia, focar no futuro e voltar com a Pilar.
TEODORO – Terminaram?
RICARDO – Achei que era melhor.
TEODORO – Você sabe o que faz, já é maior de idade. Bom eu preciso ir pra empresa. Bom dia a vocês (dar um beijo na mulher e um abraço no filho e depois sai)
BEATRIZ – Eu vou em um SPA. (sai)

Beatriz pega o carro e vai atrás do Marido, até que ele para em um hotel, ela estaciona, olha Teodoro entrando no elevador.

BEATRIZ – Por favor um homem passou aqui ainda pouco, alto, moreno, poderia me dizer qual quarto que ele foi?
RECEPCIONISTA – Desculpe, mas não posso dar essa informação.
BEATRIZ – Droga! (vai até o elevador que viu o marido entrar e ver o andar que ele parou) Segundo andar.

Sobe no elevador e fica escondida esperando o marido sair de um dos quartos.

Dentro do Apartamento.

TEODORO – Eu vim fazer uma visita rápida antes de ir para a empresa, também vim te deixar isso.
SUSANA – O que é isso?
TEODORO – Abra.

Susana abre o embrulho e encontra um celular.

SUSANA – Desculpe, mas não posso aceitar, de maneira alguma.
TEODORO – Largue de besteira é seu, agora preciso ir que tenho muita coisa para resolver.
SUSANA – Obrigado pela visita e pelo celular.
TEODORO – Já salvei o meu número, qualquer coisa me liga, agora deixa eu ir, (dar um abraço em Susana) fica bem.

Susana acompanha Teodoro até a porta e depois a fecha, fica olhando para o celular e escuta alguém batendo na porta.

SUSANA – (abrindo a porta) Esqueceu alguma coisa Teo… (paralisa)
BEATRIZ – Eu pensei que você já era carta fora do baralho.

As duas se encaram.

Flashback somente com as vozes.

[Mororó – 30 anos atrás]

BEATRIZ – Largar de ser sínica, eu sei que você quer meu namorado.
SUSANA – De onde você tirou isso Bia?
BEATRIZ – Não me chame de Bia, para você é Beatriz e eu não sou cega, vi vocês no jardim e ontem no rio, parecia íntimos.
SUSANA – Largue de doidice, eu nunca que iria ter algo com o Teodoro, eu sei que você gosta dele, eu não sou fura olho.
BEATRIZ – Não é o que me parece com o que tenho observado.
SUSANA – Ele só ta me ajudando com aquela história.
BEATRIZ – Agora entendi tudo, o porquê de você andar desse jeito e inventar essa história, queria ficar mais perto do Teo.

Lucas Serejo

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