Mente Incondicional

Mente Incondicional – Episódio 05

de Pedro Paulo Gondim

Episódio 05 | LASSA MURALHA

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NOS EPISÓDIOS ANTERIORES…

[…] Mariano: Então já fez seus milhões. Pode comprar quem quiser! O que quer de mim?

Jonathan: [sorrindo] O de sempre: felicidade. Dinheiro e whisky não é tudo! Aliás… Se não gostasse de mim, ou desse “fogo” que você sente, já teria saído por aquela porta!

[…] Mariano: “Jon” está nos convidando para o jantar de inauguração de sua nova casa.

Ivanna: Obrigada pelo convite… Jonathan! [sorri]

[…] Santiago está sentado em sua cama. Olhando para baixo, assiste em seu celular um vídeo de um jovem “sarado” e bonito rebolando com “Work” (da Rihanna). Num instante, seu sorriso se vai e um olhar de desespero lhe acolhe ao escutar batidas na porta. Santiago desliga o aparelho e Cindy aparece em seu quarto.

[…] Santiago clica na foto de perfil de Mariano, lançando um olhar curioso. Santi ri da foto Maro estar com um filtro de “cachorrinho”. Ao olhar para frente, pega o convite para a festa de Jonathan. Sua expressão mostra tensão.

[…] Raquel: Nunca mais se atreva! Não se atreva! NÃO SE ATREVA!

Mariano: [sorrindo] Eu sei o que você fez para a minha desgraça. Então, se você quer brincar de ser o Diabo… Parabéns! Acabou de acordar no seu pior inferno

[…] Ivanna: Eh… [envergonhada; passa a mão pelo rosto] Não, que isso! Eu ia responder, mas nós já estávamos vindo pra festa e…

Liliane: Nós? Marido? [olhar curioso]

Ivanna: Filho, “Lili”, FILHO!

Liliane: Bem, podemos conversar mais tarde. Mas agora… Estou procurando meu irmão. Sabe onde Jonathan se enfiou?

Ivanna: [observando o local] Não… Estranho, Mariano também “sumiu”. Ah, uma hora eles aparecem [sorri] Foi bom ter te reencontrado.

Liliane: [sorridente] Igualmente.

[…] Raquel: Por que topou fazer tudo isso comigo?

Igor: [envergonhado] Nunca se deve deixar uma irmã só. Eu te ajudei, você me ajuda… Se é por gostar de tu, só no sentindo da broderagem mesmo. A gente somos bem parecidos!

Raquel: Olha… [olhar desconfiado] Parecemos um pouco sim, porém não em sentimentos. O que se pode tomar como base, Igor, é que isto não é algo somente para mim.

Igor: Véi, tu sabe, pra qualquer coisa, tô aqui! [abraça-a] Melhores parceirões que esse mundo já viu, né?

[…] Repórter: Hoje, uma parte do mundo acordou de luto. Vemos aqui, neste cenário, provas de uma tragédia inimaginável. Quotar Nardelli D’Münt, de 53 anos, estava acompanhado de seu chofer, Leandro Tartucci Tavares, de 37 anos. A indicativa é a de que Leandro dirigia o veículo embriagado e, em alta velocidade, tenha perdido o controle do carro. Como vocês podem ver… O muro veio completamente ao chão.

[…] Raquel: O preço é bem alto, mas o “pacote” compensa!

Manão: Ainda bem que ele é “bobinho”. [retirando a camisa] Pelo visto, vamos comemorar bastante, mocinha.

Raquel: [alegríssima] Hoje eu vou beber felicidade em lágrimas de dor!

Manão joga a camisa dela para longe e volta a beijá-la. Suas mãos descem e sobem de forma agitada. Seus beijos descem ao pescoço. Com cada toque, eles se excitam mais.

[…] Jonathan: [olhar tenso] Então… Eu não tenho pressa. Se não quiser…

Mariano: É diferente. [aproximando seus lábios aos dele] Desta vez, eu quero!

Ele sabia. Estava apaixonado por Jonathan. Dessa vez, ele sentia ser real! Seus beijos ficaram mais intensos. Sua respiração, cada vez mais ofegante. Jonathan estava meramente assustado. Estava sentindo o extinto selvagem do jovem. Jonathan se afasta por um momento e olha de frente para o perigo.

Jonathan: Maro… Eu te adoro! [ri baixinho] Mesmo!

Acompanhamos a cada gesto, cada toque e cada curva do trajeto dos dedos do jovem pelo corpo do homem. Eles desejam cada vez mais! Com facilidade, adentram por baixo do fino tecido da toalha. Tua mão acaricia o membro do homem. Enquanto o jovem sorri, o homem fecha os olhos e grita por mais!

Mariano: Acho que eu também te adoro, Jon!

[…] Jonathan: Sim, ela é doida! Não me vem ao caso agora o que aconteceu com ela, e sim o desfile. [beija-lhe suas mãos] Te vejo mais tarde! [caminha em direção ao palco]

Mariano: [aumentando o tom da voz] Espere! Para onde Amanda vai?

Jonathan: [gritando] Provavelmente num dos quartos de limpeza, pra jogar um alvejante na cara!

A fresta alta da porta a sua direita lhe incomodava. Não sabia ao certo o que poderia ser. Estarrecido ficou. Mariano queria muito rir. Rir mesmo. Rir muito! Mas não pôde. Aquilo era… tão… tão… atroz. E lá estava ele. O menino que lutava por ser “comum”, beijando outro garoto. Mariano não ria disso. Ele estava nervoso. Era tudo que ele precisava: um amigo que o entendesse. Mas Santiago não tinha cedido a esse desejo. E agora, de expressão dolorosa, queria o perdão de Mariano.

Santiago: Mariano…

Mariano bate a porta de forma estrepitosa e anda em passos firmes rumo à plateia. Santiago desaba-se ao chão se liberta ao pranto.

[Voz de Jonathan – em off] Acredite: você pode imaginar um avião. Ele desce e plaina acima de sua cabeça. É possível que esteja gotejando numa flor. Pétalas azuladas. Aquele amarelo fulminante de um Sol escaldante. Acredite: você pode imaginá-lo queimando-a. Arde. Queima. Uma muralha tão bem-feita… Você é essa muralha. Acredite: você está a ponto de cair. Completamente lassa! Por que? Ninguém entendia o porquê de você existir. Eles te agridem. Como se… você fosse culpado. Você foi construído a base de sua própria alma e a culminação disso lhe fez crescer. Eles riem. Para qual lado você quer cair? Você, muralha, ri de volta. Fixa-se mais. Não mais lassa! Por que? Você esmagaria a si mesma!

“Velha Dália” (Hospital)/ Ala 17/ Corredor [Tarde]

Talvez aquilo não seria uma simples vidraça. Para Mariano, ele estava sustado sobre uma covarde barreira. E ela era transparente, vívida, porém, mórbida. Aquele era o reflexo de um homem pedindo ajuda. E Maro desejava, a todo custo, ajudá-lo.

Suas pernas bambeiam. Seu frio suor percorre a mão que ampara em seu ombro esquerdo. Olhares tensos se encontram. Liliane sorri.

Mariano: Oi, Lili… [eles se abraçam] Tudo bom contigo?

Liliane: Acho que não muito. [olhando sob a vidraça] Jonathan é o irmão mais novo da família, é meu xodó.

Ele limpa as lágrimas de Lili com os polegares. Ela entrega a Maro uma chave, que estava jogada no chão por ali perto.

Mariano: Obrigado! Nossa… Eu teria esquecido “minha vida” nesse chão. Mas ainda quero saber o que Jon teve para estar… assim!

Liliane: E-Ele… Nós estávamos na “Collins”, perto da cafeteria, quando meu irmão surtou, gritou, empurrou muitas pessoas, cambaleou, e do tanto que se agitou, caiu no chão com um tombo. E lá ficou. Não deixei que ninguém encostasse nele. Jonathan carrega o maior fardo da família, e chega a ser algo complexo de pensar como seria essa vida sem ele. Meu maior porto seguro! Ele… me entende. Assim como você e sua mãe. Família que merecia o maior prestígio possível.

Mariano: Nós? Os Ayalla? [expressão duvidosa] Pelo menos ele chegou bem rápido. Há uma semana, no Rio, tudo estava indo muito bem. Só houve uma “coisinha” que acabou por atrapalhar a viagem e eu quis voltar mais cedo. Desde então, não nos falamos mais. E… [descarregando suas lágrimas] Jonathan é especial pra mim.

Liliane: Você o vê como um pai ou algo assim? [franzindo a testa]

Mariano: Nem eu mesmo sei mais definir meus sentimentos, Lili. Aliás, conhece minha mãe como “pessoa”? [olhar suspeito]

Liliane: Eh, sim, claro! Ótima amiga! [rindo baixinho] Maro, fique com Jonathan, sim? Vou resolver algumas coisas. Cuide dele.

Mariano: Tentarei, Lili.

Liliane o abraça e pressiona seus lábios contra a bochecha do jovem. Mariano sente-se confuso, mas lança um sorrisinho para ela. Liliane parte rumo à saída. O garoto analisa a porta do quarto e encoraja-se a adentrá-lo. A porta se fecha.

“Banana Nana” (Cafeteria)/ Mesa 09 [Tarde]

A cada gole, uma lágrima. Ela se sentia frágil, humilde e bela. Seria apenas um cappuccino comum, porém, como se trata de Raquel Nuvais, nada parecia amargo o suficiente. Sentada, sozinha, mirando rumo aos pensamentos, ela só queria encontrar a paz.

A televisão do local está ligada num canal de notícias. A manchete, de primeiro instante, não lhe chama a atenção. Um funcionário {19 anos; cabelos crespos} lhe entrega um prato com dois pães de queijo e oferece mais itens do cardápio.

Raquel: Eh… Acho melhor não. Estou ficando meio enjoada.

Funcionário: Quer ajuda com algo?

Raquel: [olhar carente] Você… Você quer um abraço?

Funcionário: Hã? Um… abraço? [expressão confusa] Acho que sim.

Sorridente, Raquel se levanta e o aperta com a força de uma aconchegante almofada. Não demora para deixar-se aos prantos. O menino fica meio envergonhado pela situação, porém reconhece esse fato como um sinal de calmaria.

O celular toca. O funcionário pede licença e retira-se para o balcão. Limpando algumas lágrimas, o “anjo” atente a ligação de forma calma e fofa.

Manão: Acho melhor você tirar essa “felicidade” daí. Não vai querer vozes fofas em sua mente depois do que aconteceu.

Raquel: Ei! João… Quer dizer, Manão… Está me assustando!

Fechando seus olhos, uma rápida sensação vertiginosa lhe faz sentar-se novamente. Raquel abre os olhos novamente e vê a imagem de um jovem. 15 anos, cabelos curtos e negros, estatura média, olhos esverdeados, peso médio… Era a mesma pele. As mesmas cicatrizes. A feição de um menino desandado. Contudo, era apenas uma imagem. Uma fotografia.

Seus lábios pesam e sua expressão é de extrema fúria. Manão tenta chamar-lhe a atenção pelo aparelho, porém não há respostas. Apenas soluços. A mídia que acabou com o bom de seu ser. A informação de que ela não precisava. Uma morte não merecida.

Manão: Raquel… Eu… Ninguém conseguiu evitar.

Flashback: Dia anterior Ruas de “Sul Real” [Noite]

{Manão – em off} Foi tudo muito inesperado. Ele estava lá, num de seus pontos preferidos. Sentado, escorado no muro da velha farmácia. Cada tijolo caído significava uma noite de sonhos um pouco mais quentes. E toda a fumaça significava que ali estava um povo alegre.

Não estavam fazendo nada demais, claro, aos olhos da sociedade não-conservadora. Estava abraçado com a “Lua”, como era conhecida a menina que ele estava “namorando”. Um dia, ele me disse estar apaixonado por ti, porém você não corresponderia o mesmo. Para ele, um sentimento de felicidade não poderia chegar ao seu coração tão cedo.

Então, decidiu se “apaixonar” por Lua. Alta, cabelos ondulados, olhos castanho-claros… Tinha uma “bela poupança”. Ho se tinha! Ah, sim, Raquel… Ainda sinto pena de seus alertas. A quase paternidade dele no ano passado levou o jovem a esse mundo. Confesso a você que estou me distanciando disto faz muitos meses. Porém gosto de acompanhá-lo. É um tempo festivo!

E então… A polícia chegou de surpresa. Amigos de nosso “irmão” lutaram para defender seu espaço. E aquilo não parecia ser errado. Tudo havia um sentido de libertação, da vida, da alma. A troca de tiros não durou muito. Eu corri. O chamei o mais alto que pude. Escondi. Voltei. Igor decaído. Lua, morta. Ele olhou em meus olhos e disse:

– Seja bom, amigo! Diga a Raquel o que sinto… E seja bom.

E… Igor… Partiu.

Fim de flashback

A chamada é encerrada. Os olhos da mulher incendeiam-se. De punhos cerrados, olhadelas suspeitas e respiração ofegante, Raquel põe o dinheiro sobre seu prato, levanta-se bruscamente e caminha rumo à saída, parando para ler novamente o título da reportagem: “Órfão, negro e usuário: o fim”.

“Velha Dália” (Hospital)/ Lanchonete [Entardecer]

Ivanna: [de boca cheia; sustada na parede] É um absurdo! Quatro e cinquenta (R$4,50) um salgado! Que papelão! Se eu não tivesse com fome, voltava e socava esse trem na goela da funcionária. Depois reclamam que o Brasil não vai pra frente…

E quando pensa em mais uma mordida… Lá estava o menino. O pequeno “traidor” do filho desta senhora. Um olhar amedrontado e vazio.

Flashback: Março/2016Mansão de Jonathan/ Térreo/ Salão Principal [Noite]

Voltamos ao clima da festa de Jonathan Collins! Os últimos convidados ainda estavam chegando, com garçons loucos pelo salão.

Ivanna e Liliane haviam terminado a conversa há alguns minutos. Santiago de volta ao salão. Preocupada, com o filho, a moça decide perguntar ao primeiro jovem o paradeiro de seu filho.

Ivanna: Hey boy! Conhece meu filho, Mariano?

Santiago: Mariano Ayalla? [Ivanna confirma] Pois é… Não o entendo muito bem. [expressão confusa] Ele parece não aceitar que algumas pessoas não querem… “se abrir”.

Ivanna: Não fique assim. [sorriso espantoso] Mariano é um grande garoto, com muitos sonhos e desejos. O primeiro namoro dele não terminou de uma forma, digamos, “muito amigável”… Devemos compreendê-lo de qualquer forma.

Santiago: [hesitando-se] Senhora, posso te fazer uma pergunta?

Ivanna: Pode me chamar de “tia” ou até “Ivanna” mesmo, porque… senhora? Mas sim, diga!

Santiago: O que acha de Mariano ser gay? [olhar atento; procura não mostrar desconforto]

Ivanna: Acho que foi o dia mas feliz da minha vida! Bom, não foi, mas vamos supor que foi. De tudo, meu filho é uma pessoa que me fez, e faz, muito contente, dependendo da atração sexual. Foi até uma “vantagem”, já que, talvez, eu pudesse sem querer dar em cima das namoradas dele, caso fosse hétero. [eles se entreolham; Ivanna sorri disfarçadamente] Porém, o dia mais triste da minha vida foi quando Encontrei o meu filho brutalmente espancado no hospital, semimorto. [expressão abatida] Doeu muito ver meu filho daquele jeito, com olho roxo e partes do corpo quebradas. Foi um baque!

Santiago: A sen… Você, Ivanna, é uma ótima mãe. A minha quase não tem tempo pros filhos e, meu pai… É complicado.

Ivanna: Mas lembre-se… [olhar duvidoso]

Santiago: Eh… “Santiago”.

Ivanna: Lembre-se, Santiago, que nem tudo na vida são flores. E você pode aceitar tudo nessa vida… óbvio, não aceite gente que fala “TOP”, mas o resto… Vá ser feliz! Seja gay, bi, hetero, trans, pan, cis, assex, dimi, auto ou unissexual… Se você for uma boa pessoa, sua vida em “quatro paredes” não importa nada!

Santiago: Sim… Obrigado, “tia”. [eles sorriem] Até!

[…] Flashback: Semana anterior – “Collins” (tecelagem)/ 3º andar/ Diretoria [Noite]

Liliane: [olhar sério] Ivanna, pode procurar algo pra mim?

Ivanna: Claro! [levanta-se] Onde está?

Liliane: [abrindo uma gaveta] Acho que está no computador. A pasta deve estar nomeada como “Kuwoma”. [abre outra gaveta]

Ivanna: Tá! [sentando-se] Vamos ver o que encontro aqui… Me fale o que houve!

Liliane: Um acidente com Sabrina Lapso! Acredita? [ainda frenética, procura em outro canto] Meu irmão, como sempre, deixou números e dados aqui na “Collins” e fez a gentiliza de dizer “PROCURE ESSA CARALHA LOGO!”. Às vezes ele se comporta como um jovem aprendiz, ou até… um adolescente qualquer! Acho que meu meme seria “Ainda esperando Jonathan ser maduro e se preocupar com a saúde”, aí mostra a foto de uma caveira e frente a uma TV.

Ivanna abre várias pastas e arquivos, bagunçando sua mente com tantas informações. A barra de rolagem nunca lhe pareceu tão grande. Ela observa os nomes pela letra “k”. Ao lado de “kuwoma”, uma pasta aparentemente simples. Para Ivanna, meio inconveniente. “Lindão Demais”, era o nome. Ela ri e abre a pasta…

Liliane: Eh… Ivanna? [caminha em direção à mesa] Tudo bem?

Ivanna: Seu… [expressão atordoada] irmão?

Liliane: Espere! [olhar curioso] OMG! Jonathan namora um gato desses? Tão novinho o bichinho… Deve ter uns 20, 21…

Ivanna: [olhando-a pavimente] 16. Tem… 16.

Liliane: Conhece o garoto?

Ivanna: Lili… Jonathan está namorando meu filho!

Foco na fotografia de um beijo entre Jonathan e Mariano.

  • – FIM DOS FLASHBACKS

Ivanna: [aproximando-se; cumprimentando-o] Olá, Santiago! Como está?

Santiago: Vou bem… [sorri simpaticamente] Que coincidência!

Ivanna: Jonathan veio pra cá! [olha preocupado] Do nada surtou e… Desmaiou. Ele está em coma faz dois dias. Mariano então… Eita lê lê… Não quer sair dali nem pra comer!

Santiago: E ele está… [hesita-se de vergonha] Aqui?

Ivanna: Sim, está. Terceiro quarto à direita. [sorri] Não diga nada sobre esta conversa.

Santiago afirma com um gesto. Suas pernas quase tortas. Um coração à mil. Toques suaves na porta. Entra. Hora de encarar o focinho do cão raivoso…

Mariano: Você sai desse quarto agora, ou eu vou chamar os seguranças! [brutalmente nervoso] Que merda! Não ouviu! Tá surdo? SAI. DAQUI. A-GO-RA!

Santiago se aproxima. Ele analisa a vermelhidão da pele de Mariano. Analisando cada vez mais próximo. Santi sorri ao bagunçar o cabelo de Maro, que fica sem entender nada.

Santiago: Mariano… Eu sou bissexual! Já fui muito alvo de críticas duras quanto as minhas escolhas de relações. Quando tive meu “primeiro amigo gay”, ele me chamava de “mau resolvido” e “imaturo”. Outras pessoas, principalmente héteros, me diziam a mesma coisa. Cheguei a refletir por muito tempo se eu realmente não era um gay mal resolvido, demorei um pouco pra chegar numa conclusão, mas cheguei. Sim, a bissexualidade existe, e se dá em um número de variantes maior do que nas orientações homo e heterossexuais. E mesmo que você ache estranho, a sexualidade é um campo imenso, estranho e desconhecido. Os padrões homo e heterossexuais não são bem definidos. É como se houvessem somente “dois mundos” e os bi fossem uma “lassa muralha”. Nós vivemos as histórias com homens e mulheres de forma sigilosa e sabemos do grande preconceito que existe com essa parte da comunidade. Dos LGBT, é como se o “B” somente representasse sonoridade. Nada mais!

Mariano: Sim…

Santiago: Oi? [olhar curioso]

Mariano: Sim… Você conseguiu. Parcialmente, mas sim.

Santiago: [expressão furiosa] Você acha que eu estou mentindo e escondendo “metade” do meu lado gay? Os bissexuais apreciam as diferenças entre um homem e uma mulher e sabem diferenciar bem o que é o prazer que se obtém com uma pessoa do mesmo sexo e o que é um prazer que se obtém com uma pessoa do sexo oposto. Não sou homo enrustido que se diz bi. Eu estou reforçando isso porque eu comprovo a legitimidade da “B” usando a mim e outras pessoas como referências, e ao mesmo tempo, eu concordo que tem muitos gays enrustidos com problemas de autoaceitação e que se rotulam como bissexuais para se sentirem confortáveis. Sou ser humano igual a qualquer outro. Minha intimidade de vida sexual é minha e de quem está comigo, não interessa a ninguém qual o gênero de quem está comigo. Você acha mesmo que estou interessado que você defina se sou hétero ou homo?

Mariano: [sorriso estranho] Bobo… Não estou te criticando. Eu disse “parcialmente” porque aquele boy não era tão gato quanto eu pensava.

Santiago: Então… Você tá de boa? [expressão amedrontada]

Mariano: Claro, Santi! [emociona-se; seus olhos aguados fixamente na alegria] É uma honra conhecer pessoas que sabem lutar. É uma honra lhe ter como amigo!

Santiago refreia suas lágrimas. Quão feliz estava! E num abraço gigante, eles se sentem em paz. Era como o início de uma nova era. De um novo ser. De uma nova nação. Santi arreda-se. Mariano sorri. E logo aquilo era um beijo. Santi havia sido libertado de si mesmo. Toques suaves e mãos passivas. Haja segundos…

Santiago sorri e retira-se do quarto. Mariano fecha os olhos e imagina o maior sorriso do mundo. Ele quebra em mil pedaços. Desperta-se. O homem segurando sua mão.

Jonathan: Onde estou?

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Pedro Paulo Gondim

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5 thoughts on “Mente Incondicional – Episódio 05

  • O capítulo estava excepcional! Os diálogos estão perfeitos e em boa sintonia com o desenvolvimento, além da boa estrutura que o autor criou para essa trama. Alguns deslizes desentoam o tom folhetinesco da trama, mas, não compromete em nada em seu desenvolvimento. O capítulo foi marcado por inúmeras surpresas e ganchos deixados ao léu para serem resolvidos nos próximos capítulos. O ponto alto da trama é sem dúvida alguma os protagonistas: Mariano e Santiago, ambos tem nuances e camadas bem rocambolescas e isso atraiu o público. Parabéns ao autor.

    • Obrigado, Samuel 🙂 Fico muito feliz (desde críticas positivas à negativas)! Sempre tento trazer ao leitor uma visão realística, pois sempre fiz textos com aparência subjetiva e, quase sempre, poéticos. Os próximos episódios serão bem decisivos e importantes (sempre deixo o melhor para o final) <3

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