Herança do Passado

Herança do Passado: Capítulo 10 – A História Se Repete

CENA 1/ GRAMADO /HOSPITAL SANTA LUZIA/ MADRUGADA

A família Hesse-Kassel se junta no corredor do hospital e passa horas esperando por notícias de Antônio. Durante a madrugada, o médico chama Pedro para uma conversa particular:

Médico: Eu tenho notícias, e não são das melhores…

Pedro: Por favor doutor, não faça rodeios… Me diga logo o que o meu avô tem!

Médico: Os exames que ele fez diagnosticaram um câncer, no pulmão

Pedro abaixa a cabeça e respira fundo, e depois tenta a voltar a ouvir o que o médico tem a ouvir, contudo, ele não é capaz de continuar e sai chorando da sala.

Em um canto do corredor Salete e Rose conversam a sós:

Rose: Tá acontecendo de novo né Salete? Primeiro a minha mãe, depois o meu pai…

Salete: Não tire conclusões precipitadas. Melhor ir falar com o médico…

Rose: É isso mesmo que eu vou fazer.

Rose entra na sala do médico e pede por explicações:

Rose (firme): É câncer, não é? Onde é?

Médico: É sim… Pulmão…

Rose: Eu quero o nome do melhor médico que existe pra tratar esse tipo de câncer na minha mão. Dinheiro não é problema, eu só preciso de um número de telefone…

Médico: Bem, eu conheço uma médica que está usando um método totalmente novo e eficaz no tratamento desse tipo de câncer, um colega meu tem o contato dela, mas eu não posso garantir nada…

Rose: Doutor, você sabe quanto de dinheiro a minha família tem?

Médico: Não faço ideia, mas suponho que seja bastante

Rose: Nós somos a 4ª maior fortuna do Brasil, a gente só perde para os Lemman, os Safra e os Herrmann! Então eu quero esse número, eu pago por esse número! E eu quero pra ontem!

Rose dá as costas para o médico e sai da sala com uma expressão de firmeza.

DOIS DIAS DEPOIS

CENA 2/ GRAMADO /PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ JARDIM/ MANHÃ

Após os acontecimentos da fatídica noite, a família Hesse-Kassel tenta se recuperar e seguir com a rotina diária, mas não conseguem falar em outra coisa que não seja a doença do avô. Sentados na mesa do jardim, Rose, Luís, Pedro, Sofia e Arthur conversam em meio ao café da manhã:

Rose: Filho, você ligou pra a médica em Nova York?

Pedro: Falei com ela ontem a noite, me pareceu confiável. Mas ela não me pareceu disposta a vir aqui para tratar o Vovô.

Rose: Então a gente leva ele pra lá, não tem problema… Vou começar a procurar um apartamento pra a gente alugar hoje mesmo, a gente sai desse mausoléu por uns meses e levamos o papai pro tratamento dele.

Luís: Mas meu bem, você não vai poder ir…

Rose: Por que não?!

Luís: Se o seu pai se ausentar, ele vai precisar que você comande a empresa por um tempo, até ele se reestabelecer.

Arthur: Oi?! A mamãe vai virar presidente da empresa?!

Luís: Sim, nada mais natural… A sua mãe é a segunda maior acionista e vice-presidente da empresa, ela que vai ficar no lugar do seu avô quando ele se ausentar.

De repente, todos são surpreendidos pela chegada de Antônio na mesa, que anda com a ajuda de uma bengala e se apoia em Salete

Antônio: Já estão tramando quem vai ficar no meu lugar é?

Luís: Seu Antônio, não era nada disso. É que eu como contador estava falando com a Rose que…

Antônio: Cala a boca que eu não tô afim de ouvir a sua voz hoje Luís! E você Pedro, pode avisar pra aquela médica lá que ela não vai precisar sair da cidade dela pra me tratar, eu não quero isso…

Pedro: Mas Vô, ela é uma especialista no assunto, ela vai lhe ajudar. É só a gente oferecer um dinheirinho a mais e ela vai aceitar…

Antônio: Ela não vai precisar sair da cidade dela porque eu decidir ir pra lá. Faz muitos anos que eu não viajo, mas já que é para sair da minha casa, que seja pela última vez, e que seja para a melhor cidade do mundo. Que saudades que tenho de New York…

Pedro: Então eu posso marcar com ela?!

Antônio: Deve… E vocês devem fazer as malas também, todo mundo vai fazer essa viagem comigo, inclusive você Salete. Avise a Omar também que ele vai, preciso de segurança para a minha família.

Rose: Pai, eu não posso ir… Alguém tem que tomar conta da Kassel Chocolates.

Antônio: Eu já arranjei uma pessoa, e não vai ser você. Você não está pronta pra isso ainda…

Rose (surpresa): Como assim não estou pronta?! Eu dediquei minha vida àquela empresa!

Antônio (firme): Mas eu sou o presidente e eu decido quem vai administrar tudo na minha ausência, e se eu digo que você não está pronta então não está pronta! E não discuta comigo!

Rose: Eu posso pelo ao menos saber quem vai ficar no seu lugar?

Antônio: Uma cara nova, jovem! Fiz entrevista com ela ontem, o nome é Catarina Hauser, uma alemã de 32 anos, formada por Cambridge, já trabalhou em duas grandes empresas do ramo de alimentação e eu tenho certeza que vai ser a renovação que essa empresa precisa! Agora chega desse assunto chato, se programem e arrumem as malas, amanhã a gente vai partir, já arranjei um apartamento pra a gente ficar em Nova York, uma cobertura!

CENA 3/ NOVA YORK/ CENTRAL PARK/ MANHÃ

Aproveitando o pouco de calor que faz na cidade e o dia de folga de folga do hospital e faz uma caminhada pelo famoso parque de Nova York, dando várias voltas enquanto escuta um pouco de música. No meio da sua caminhada, a cena de um mendigo dormindo em um dos bancos do parque lhe chama a atenção e ela se compadece da situação. Ela vai até o banco e acorda o mendigo

Luiza: Excuse me, can I buy you a meal?! [Desculpe, posso comprar uma refeição para você]

Mendigo: Não moça, quero não… – ele se espreguiça – Oh, sorry! I speak English, sorry! But no! [Desculpa! Desculpa, eu falo inglês! Mas não]

Luiza: Que maravilha, eu falo português também!

Mendigo: A Senhora é Brasileira?

Luiza: Sou filha de brasileiro… Mas nasci aqui. Pelo ao menos é o que diz no registro – ela dá uma leve risada

Mendigo: Logo se vê que tem sangue brasileiro, bonita desse jeito não poderia ser de outro lugar! Mas a moça pode voltar pra a sua caminhada, não deixa eu lhe atrapalhar não… Desculpa por estar aqui, dormindo na praça, mas é que, no momento, eu não tenho muita opção…

Luiza: Eu que vim atrapalhar seu sono, você não me atrapalha em nada. Qual o seu nome?

Mendigo: Leonardo… E o seu?

Luiza: Luiza Santana

Luiza: Então Leonardo, por que você não aceita o que eu posso lhe comprar?

Leonardo: Mamãe me ensinou a não aceitar nada de estranhos…

Ele dá uma gargalhada e ela acaba rindo junto

Luiza: Eu vou ali na barraquinha comprar um cachorro quente pra nós dois, e eu não aceito não como resposta

Leonardo: Não dona Luiza, eu não quero, guarda o seu dinheiro.

Luiza: Ok Leonardo, eu não vou insistir… Mas eu gostei de você, não sei porque…

Leonardo: Engraçado, eu também tive uma sensação estranha, como se seu rosto me lembrasse o de uma pessoa conhecida… Daquelas conhecidas de tanto tempo atrás que parece que foi praticamente em outra vida…

Luiza: Um mendigo filósofo, nunca pensei que veria…

Leonardo: Todo mendigo tem em sua alma um pouco de um filósofo Luiza…

Luiza: Uma pena eu não poder ficar pra escutar um pouco da sua filosofia, infelizmente – ela põe a mão no bolso e tira um cartão de visitas – Aqui tem meu número, se estiver em necessidade, não pense duas vezes, pode ligar que eu lhe atendo…

CENA 4/ GRAMADO /PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ CLOSET DE ROSE/ MANHÃ

Arrumando suas malas para a viagem, Rose tira as roupas do cabide e as amassa, com muita raiva. Sentado em uma poltrona, Luís observa a cena enquanto fuma um cigarro:

Rose: A doença deve ter deixado aquele velho gagá! Como assim eu não tô pronta Luís?! Eu tenho quase 30 anos naquela empresa, eu sou uma empresária reconhecida! Eu sou uma profissional!

Luís: Como 30 anos passam rápido né… Quando eu lembro da Rose de 30 anos atrás, me bate uma saudade… Ai eu vejo a de hoje e sinto só pena…

Rose: Pena?! Como assim pena?! Pena de que seu palhaço?!

Luís: Pena de uma mulher que ao invés de lutar pra chegar no posto que é dela por direito, fica ai empacotando vestido em mala e resmungando! Você é Rose Augusta Hesse-Kassel, reaja!

Rose: Como eu vou reagir?! Eu estou de mãos atadas!

Luís: A Rose de antes sempre dava um jeito! A Rose de antes adulterou um testamento e foi capaz de jogar a própria mãe doente escada abaixo! Então não venha me dizer que as mãos estão atadas, isso comigo não cola!

Rose: O que você quer que eu faça então Luís?!

Luís: Comece belo básico: conheça seu inimigo! Descubra tudo sobre essa tal de Catarina Hauser, o mais rápido possível. Só assim pra derrubá-la, e de quebra, derrubar o seu pai.

Rose: Eu não quero derrubar meu pai, eu amo ele…

Luís: Uma pena que ele não te ama…

CENA 5/ GRAMADO /KASSEL CHOCOLATES/ SALA DA PRESIDÊNCIA / DIA

Antônio arruma o resto dos papéis necessários para o seu desligamento temporário da empresa e lê os últimos balanços da empresa, quando escuta a batida na porta e vê Catarina Hauser entrando na sala:

Catarina: Antônio, o senhor queria me ver?

Antônio: Na verdade eu queria que você viesse ver a sua nova sala…

Catarina (sem graça): Essa sala é sua, eu não quero ficar instalada aqui… Mesmo porque a gestão é temporária, não faz sentido eu ficar na sala do verdadeiro presidente da empresa…

Antônio: O presidente da Kassel, interino ou não, fica nessa sala, e isso não é assunto para discussão. Traga os seus itens pessoais pra cá, eu quero ver você instalada até a tarde

Catarina: Sim senhor…

Antônio dá as costas para a funcionária e se prepara para ir embora, mas resolve dar mais um recado:

Antônio: Catarina, sabe por que eu lhe contratei?

Catarina: Por que eu sou a melhor no que eu faço?

Antônio: Exatamente minha querida, exatamente. Eu fiquei encantado com o seu curriculum e é por isso que eu lhe quero na minha sala, pra você sentir o gostinho que é ser presidente de uma empresa como essa, mas também pra você sentir o peso da responsabilidade de estar liderando o império que eu construí com as minhas mãos – de súbito ele muda o tom da voz e assume uma postura firme e severa – Porque se você falhar, o seu curriculum impecável não vai servir de bote salva-vidas Catarina e se alguma coisa de ruim acontecer a esse empresa, eu juro que eu vou, pessoalmente, fazer o impossível pra tornar a sua vida um verdadeiro inferno na terra. Eu fui claro?

Catarina: Claro e cristalino Seu Antônio…

Antônio: Do jeito que eu gosto… Agora com licença, eu tenho uma viagem a fazer.

Antônio sai da sala e bate a porta. Assim que ele deixa o cômodo, uma lágrima escorre o rosto de Catarina e ela a enxuga rapidamente

CENA 6/ GRAMADO /PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ GARAGEM/ DIA

Sentado no banco do motorista de uma das Ferrari de Antônio, Omar espera o tempo passar quando eis que chega Rose e entra também no carro:

Omar: Você não devia estar fazendo as malas?

Rose: Gente rica só viaja com a roupa do corpo. Quando eu chegar lá em New York eu compro um guarda-roupa completo na Chanel, não preciso fazer malas…

Omar: E o que você quer comigo?

Rose: Preciso que você faça um servicinho sujo pra mim, por fora…

Omar: Por fora é mais caro…

Rose: Não tem problema, eu sou boa pagadora…

Omar: Qual o serviço?

Rose: Eu preciso que você puxe a ficha completa de uma tal Catarina Hauser, a nova funcionária da Kassel Chocolates… Preciso pra ontem!

Omar: Pra isso eu preciso de um incentivo extra

Despida de pudor, Rose passa a mão na perna do segurança e dá um leve tapinha

Rose: Faz o seu serviço certinho e você vai ter o melhor prêmio que um homem pode ganhar… Quer incentivo melhor?!

Omar: Você não presta mesmo né?!

Rose: Nunca prestei… Agora deixa eu subir, preciso ver uns documentos pra levar pra NY – ela abre a porta do carro – Quando eu sair, olha bem pra a minha bunda tá? Eu andei malhando….

Rose sai do carro e vai para dentro da mansão, chamando a atenção imediata do segurança pelo jeito de sensual de andar

CENA 7/ GRAMADO /KASSEL CHOCOLATES/ SALA DA PRESIDENCIA / DIA

Catarina coloca seus pertences pessoais na sala da presidência e começa a ocupar o cômodo como lhe foi ordenado. Ao mexer na estante de livros, ela vê uma foto de Antônio com toda a sua família e repara bem na imagem, segurando com força o porta-retratos:

Catarina (fria): Que comecem os jogos…

FIM DO CAPÍTULO

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