Estrangeira Fiel

Estrangeira Fiel – Capítulo 4 (Final)

Pela manhã, após imprimir dois papéis, Baltazar foi até um profissional da lei, pedindo desesperadamente seu auxílio.

– Espere um pouco, Baltazar! Isto lá são horas de aparecer comunicando uma reunião? – debateu o advogado.

– Mas é urgente, senhor! Por favor, não posso esperar!

– Não é tão fácil juntar o pessoal!… Além disso, preciso saber do que se trata. Não posso avisar que é uma reunião a essa hora sem mais nem menos.

– Eu vou me casar. Que dizer… Acho que vou.

– Você tem certeza?

– N-Não, eu… Eu quero me casar com Russe, mas meu primo é um parente ainda mais próximo a ela.

– Ah… A tradição de família…

– Sim. É que… Eu gosto dela.

– Para você estar aflito assim, eu sou obrigado a acreditar. Mas acho que você pode ter problemas. O marido de Neiva, antes de partir para o estado vizinho, me deu as escrituras de sua fazenda para certificar de que permaneceria com sua posse legalmente…

– Você está me dizendo que Russe tem um terreno?!

– Um terreno muito grande, por sinal. – o semblante de Baltazar despencou. – Caso seu primo exija, tudo pertencerá a ele… Vou imprimir os papéis e iremos até lá, está bem?

– Certo… – o desânimo pesou-lhe nos ombros, mas ele não queria perder a fé. Saiu da sala e se deparou com seu assistente. – Ele casará com ela.

– O senhor acha isso mesmo? – questionou ele, percebendo o quão triste estava seu chefe.

– É claro que sim! Casará com ela só para ter o terreno que Russe possui.

– Talvez não. Talvez ele…

– Será que você não enxerga?! Ele adora terras, porque terras significam dinheiro e dinheiro é a única coisa que lhe interessa.

Pouco tempo depois, os advogados de Baltazar estavam indo até o prédio da concorrência e ficaram sentados na sala de espera. Ele estava atônito enquanto conversava com Deus em pensamento… Por mais pobre que sua querida fosse, ele tinha convicção de que quem a tivesse, teria tudo… Porque era uma mulher valorosa. Não queria perdê-la de maneira alguma.

Quando finalmente foi chamado, subiu até a sala de seu antigo rival de vendas… Também conhecido como o parente mais chegado de Edmundo, aquele de quem havia falado. Baltazar lhe disse:

– Meu amigo, venha, vamos conversar.

– Ora, se não é meu querido oponente… – riu-se. – O que veio fazer aqui?

– Trouxe comigo alguns dos nossos mais relevantes advogados. – chamando-os, entraram também na sala. – A viúva Neiva voltou ao estado.

– E o que eu tenho a ver com isto?

– Ela está querendo vender a fazenda que era de Edmundo, nosso parente. Como sei que você sempre gosta de conseguir mais espaço para as suas indústrias, vim conversar com você sobre o assunto.

– Terras?! Muito interessante! Eu ficaria muito feliz em ajudar a viúva, haha… Prossiga. – passou a mão pelo cavanhaque.

– Eu iria ficar com elas, mas agora, se você quiser, pode comprar essas terras na presença dos homens que estão sentados aqui. Mas, se não quiser, diga, pois o direito de comprar essas terras é primeiro seu e depois, meu.

– “Depois, meu”! Hahaha! Sinto muito, priminho Baltazar, mas as terras são minhas! Você, como sempre, bonzinho… Isso pode prejudicá-lo cada vez mais. Parece não ter noção de que este seu ato de justiça irá atrasar e muito seus negócios!… Enquanto você decai, minha empresa só cresce e vejo o sucesso cada vez mais próximo de mim… O que é sinônimo de distante de você. – sorria como se obtivesse uma vitória naquele momento. – Obviamente eu compro. Isto será maravilhoso!

– Você não compreendeu. É o parente mais próximo. Se comprar as terras, terá que levar junto tudo que as acompanha. – os advogados acenaram com a cabeça após o empresário fazer tal afirmação.

– É só entregar, eu dou conta de tudo! – alegou ajeitando sua gravata.

– Se você comprar as terras de Neiva, também terá de casar com Russe, a viúva que veio com ela daquele estado, para que as terras fiquem com a família do falecido. Independendo da sua resposta, eu trouxe indivíduos de confiança e que entendem bem da legislação, se é que você me entende. – referiu-se aos advogados que ali também estavam. – Você precisará fazer um quarto separado para a senhora… Na verdade, acho que terá que comprar uma casa maior, além de roupas novas e triplicar os alimentos…

– Uma casa maior?!

– Mas não se preocupe, dê a ela uns três mil reais e ela mesma poderá decorar. Bem, caso você não tenha filhos, porque aí… – colocou o contrato na mesa.

– Não precisa dizer mais nada! – ele começou a gesticular. – Nesse caso, não vou usar meu direito de compra. Isso sai caro demais para mim! Esta história vai acabar me afetando… Não quero, obrigado. Pode ficar com o direito, eu estou fora. Compre você as terras. – afastou a folha de si.

– Feito! – Baltazar rapidamente assinou o outro contrato à caneta e apertou animosamente a mão de seu adversário no comércio. – Hoje vocês são testemunhas de que eu comprei de Neiva tudo o que era de Edmundo, de Quitero e de Marconi. Também casarei com Russe, viúva de Marconi, para que a propriedade continue com a família do falecido. Assim o nome de Marconi será lembrado no meio desta gente e em sua própria cidade natal. Hoje vocês são testemunhas disso.

“Ela é minha!”, pensava, tentando não permitir que sua alegria interferisse na imagem profissional que tinha.

– Sim, somos testemunhas. – o representante dos advogados que ali estavam concordou. – Que Deus abençoe você por tomar a decisão de cuidar dela! É uma atitude muito valorosa. Desejamos todo o sucesso a você, que fique rico, famoso e seja feliz nesse casamento!

Não demorou muito para que Russe e Baltazar se casassem. Ela estava com um belíssimo vestido vermelho na comemoração. Logo em seguida viajaram juntos na sua lua de mel. Visitaram lugares lindos. Após os passeios, voltaram à pousada…

– Eu esperei todo aquele tempo para ter um momento assim com você… – ele a imprensava contra a parede e beijava suavemente seu pescoço. – Cumprir uma tradição de família nunca foi tão prazeroso para mim. Fico feliz que tenha me escolhido…

– Na verdade, eu é que tenho que agradecer por ter compaixão de mim…

– Não só compaixão, Russe… Paixão… E também amor. – acariciou seu rosto meigamente, de maneira que um sorriso se formou no rosto daquela que agora podia chamar de esposa. Eles pertenciam um ao outro e estavam contentes e gratos a Deus.

– O Senhor me abençoou muito com sua aparição em minha vida… Às vezes as coisas pareciam não ter solução, mas agora ele me trouxe alegria através deste casamento com você. Ele me concede muito mais do que peço e mereço… – colocou sua mão em seu queixo. – Eu o amo, Baltazar…

– Eu concordo, não seria capaz de escolher tão bem. Confiar nEle valeu a pena… A propósito… Eu também a amo, Russe… E nós agora podemos consumar isto de vez. – beijou-a intensamente enquanto se direcionava ao leito para deitar-se com ela.

Tempos depois daquela noite, Deus deu a Russe a bênção de ficar grávida. Um ano após, no centro onde o casal se conheceu, umas mulheres conhecedoras do amor dos dois foram visitar uma senhora:

– Graças a Deus, porque hoje deu um neto para cuidar de você! Que este menino venha a ser reconhecido na cidade e que ele seja um consolo para o seu coração e lhe dê segurança na velhice! A sua nora, a mãe do menino, a ama; e ela vale para você mais do que sete filhos.

A idosa pegou o menino no colo e cuidou dele. Ao vê-lo, as mulheres da vizinhança diziam ter nascido um filho a Neiva. E lhe deram o nome de Oscar.

O livro bíblico de Rute é um dos milhares de exemplos de que Deus honra aqueles que lhes são fiéis… Seja qual for sua origem. Ele não faz acepção de pessoas e abençoa maravilhosamente aqueles que procuram servi-lO.

2 thoughts on “Estrangeira Fiel – Capítulo 4 (Final)

  • Gostei muito do último capítulo…
    E essas duas últimas duas linhas?
    “…O livro bíblico de Rute é um dos milhares de exemplos de que Deus honra aqueles que lhes são fiéis… Seja qual for sua origem. Ele não faz acepção de pessoas e abençoa maravilhosamente aqueles que procuram servi-lo…”

    • Muitíssimo obrigada pelo comentário!
      Fico feliz em saber que gostou… Que nunca esqueçamos a mensagem maravilhosa que este livro (cuja história é uma das que mais gosto) nos transmite!

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