Agridøcє

Encarei o espelho pela décima vez, era estranho me ver ali, de terno e gravata, com o cabelo todo certinho e um buquê de rosas na mão. Era muito formal, e formal era tudo que eu não era.

— Anda, maninho! Vai perder a cerimônia! — Joy gritou entrando no meu quarto.

— Nem preciso te dizer que já te proibi de entrar no meu quarto desse jeito, né?

— Proibiu por que é idiota, já disse que não vou obedecer. — Ela piscou.

Aquela era uma das poucas vezes em que via Joy sem seu delineador fortemente bem feito em volta dos olhos, com seu cabelo agora maior do que jamais ela tinha usado antes, atrás da orelha, ela estava quase apresentável.

— Vamos?! — Ela bufou abrindo a porta do quarto e saindo, eu fui logo atrás.

Demos de cara com Toddy na entrada do ginásio, onde ocorreria a cerimônia. O lado de fora do ginásio estava incrivelmente lotado, mas nada se comparava ao lado de dentro, alunos caminhavam de um lado para o outro procurando um lugar para sentar com os pais, todos vestidos de forma formal, que chegava até a ser engraçado.

— Aqui! — Ally balançava os braços e sorria em pé, na primeira fileira de cadeiras, ao seu lado estavam seus pais, Sarah e Steve e três lugares vazios, caminhamos até lá. — Como você está gatão, Rylan!

— Você também está muito bonita, Ally! — Trocamos um sorriso e ela se sentou, e realmente ela estava muito bonita, havia mudado drasticamente seu estilo nas férias, seu cabelo agora tinha voltado ao tom natural e caia liso com leves ondulações até um pouco abaixo do ombro, se não fosse pela mudança também em Wendy, as duas seriam quase gêmeas idênticas novamente.

Nos sentamos e aos poucos os alunos e seus pais também foram se organizando nos lugares, tudo ficou em silêncio quando o diretor subiu no palco acompanhado de alguns professores…

— Gostaríamos de agradecer a presença de todos aqui nesse primeiro dia de aula, que começou de uma forma tão diferente. Como vocês sabem, ano passado tivemos alguns concursos em alguns cursos de graduação, e hoje é com muito prazer que venho aqui, para entregar os troféus para os alunos vencedores…

Depois de um discurso de mais de meia hora, o diretor começou a chamar os professores que organizaram os concursos e os respectivos alunos vencedores, quase duas horas depois, ele anunciava a última e mais importante ganhadora.

— E agora, chamo aqui a professora Micca, professora encarregada da matéria de Língua Inglesa II para anunciar à vencedora do seu concurso de redação.

Micca com sua elegância já habitual caminhou até o centro do palco com um troféu de ouro, em forma de livro e começou a falar algumas palavras, eu estava tão ansioso nesse ponto que quase não prestei atenção no que ela falava, pude ver pelo canto da cortina, Wendy se preparando para subir ao palco e minha atenção foi toda voltada para ela.

Ela estava com seus cabelos cortados até um pouco a baixo dos seios, em cachos perfeitamente simétricos, um leve topete no alto da cabeça, guardava a franja adquirida há pouco tempo, vestia um lindo vestido azul, que ia até os joelhos, moldando seu lindo corpo, e usava um salto pequeno, quase do mesmo tom de azul do vestido, seus óculos, como sempre, caiam um pouco pelo nariz, ela estava à coisa mais adorável e linda.

Quando seu nome foi chamado, ela entrou no palco um pouco nervosa, seus olhos rodavam pela plateia até que encontram os meus, e ela pareceu relaxar, nós sorrimos um para o outro e ela caminhou mais confiante até a professora, pegou seu troféu e parou em frente ao microfone.

— Quando anunciaram que eu tinha ganhado o concurso, eu fiquei bem surpresa, tudo tinha sido feito de forma tão corrida, não por que eu não quisesse me dedicar a isso, mas simplesmente por que por um longo tempo, eu simplesmente não consegui me dedicar, mas eu fiquei e ainda estou muito feliz por ter ganhado o concurso, não pelo troféu, mas por poder divulgar meu texto e com ele, tentar ajudar quantas pessoas eu conseguir. Não sou muito boa com as palavras, então selecionei um trecho do meu texto para ler para vocês, e espero que gostem. Esse é um trecho do texto intitulado Depressão, escrito por mim, graduanda do curso de Línguas, vencedora do concurso de redação da Universidade Carolina do Sul:

“Não importava quantos quilos de maquiagem passasse, quantos cortes no cabelo fizesse, quantos estilos de roupa usasse, nada daquilo fazia sentido quando ela não se amava, quando o que via no espelho não a deixava feliz. E era horrível, era triste, ela não se amava, mas que pena! E era triste saber que ela não estava sozinha, tantas outras pessoas no mundo também não se amavam, por tantos motivos diferentes, mas todas sofriam com a mesma angustia que não se amar trazia. Ela queria ajudar a si, mas também queria ajudar a todas as outras pessoas. Como eles não podiam se amar, quando eram tão amados por outras pessoas? Como não podiam se sentir belos, quando a beleza está nos olhos de quem os vê? Como eles podiam mutilar seus corpos e magoar suas almas, quando existia alguém ali no mundo que amava cada curva do seu corpo? Ela entendia como isso podia acontecer. Ela sabia como era chegar no fundo do poço, e incrivelmente, sabia como era sair dele. E sabendo como era, decidiu ajudar quantas pessoas pudesse, estenderia a mão e tiraria todos do fundo do poço. Preparassem — ela gritou — Aqui vou eu.”

Fim.

Deixo aqui meu agradecimento por todos que chegaram até aqui, pelos comentários e pelas dicas. Espero que tenham gostado e entendido o recado. Até a próxima!

Stephanie

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