Noite Adentro

Noite Adentro Cpt 3 | Memórias de Adilson 👬😳

NOITE ADENTRO
CAPÍTULO TRÊS – Memórias de Adilson.

Não foi você que foi abusado pelo seu pai quando tinha dez anos! DEZ ANOS! Por que você acha que meus pais se separaram?! Hein!? …

27/04/1980

CENAS DE BRAGANÇA PAULISTA

Vitória Maria- (Voz Over) Acho que o Adilson tá meio estranho. Quieto demais…
Val- É assim mesmo – dez anos, idade do começo das primeiras espinhas, beijocas e namoradinhas…

CENA UM. CASA DE AGENOR E VITÓRIA MARIA. INT. DIA. COZINHA.
VITÓRIA MARIA ESTÁ A CONVERSAR COM SUA MÃE SOBRE A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DE ADILSON. AS DUAS PREPARAM O ALMOÇO.
Val- Você me entende, né? (Descascando algumas batatas)
Vitória Maria- (cortando cebolas) Claro, mamãe! Só que ele mudou muito rápido em muito pouco tempo! Não sei se os hormônios fariam algo assim em tão pouco tempo
Val- Relaxa, filha! Cada organismo é único! O que você acha que pode estar acontecendo?
Vitória Maria- (olha pra longe e sente-se mal) Nada! Nada está acontecendo!
Val- E que horas os meninos vêm comer? Agenor e o Adilson… Que horas eles voltam da pescaria na Represa?
Vitória Maria- (olha pro horizonte) Não… Não sei… Só um instante… (Vai até o seu quarto e vasculha seu criado mudo) Meu Deus!
Val- Que foi?
Vitória Maria- Agenor! (Lacrimeja)

IMAGENS DA REPRESA DE BRAGANÇA

CENA DOIS. REPRESA. EXT. DIA.
AGENOR E ADILSON PESCAM NA REPRESA.
Agenor- (sentado em um banquinho) Nossa, cara! Você não consegue pescar nada! Pior que você, só alguém sem os membros!
Adilson- Você sabe que eu odeio pescar! (Joga sua varinha de pescar no chão)
Agenor- E eu odeio gente que faz corpo mole! (Agarra o filho pelo braço) Pega mais uma isca, pra podermos pegar um peixe dos grandes!
Adilson- Tá me machucando!
Agenor- Seja homem, rapaz! Você já tem dez…(dá um tapão na cabeça do filho)… Dez malditos anos! Já é quase um adulto!
Adilson- Desculpas…
Agenor- Agora pega duas latas de cerveja – você vai beber junto comigo!
Adilson- Mas eu nã…/
Agenor- Vai logo! Meu menino!

CORTE DE CENA RÁPIDO

CENA TRÊS. CASA DE AGENOR E VITÓRIA MARIA. QUARTO DO CASAL.
VITÓRIA ESTÁ DESESPERADA. ELA ESTÁ SE ARRUMANDO, DESLIGANDO OS BOCAIS DO FOGÃO E INDO ATÉ O LOCAL DE PESCA DE AGENOR.
Val- Suspeitas não são certezas!
Vitória Maria- (chorando de ódio) Até hoje de manhã tinham camisinhas no meu criado mudo! Até a hora daquele… (Entra no carro e dá a partida) Abre o portão, mamãe!
Val- Mas minha filha…/
Vitória Maria- AGORA! (Val abre o portão e entra no carro)
Val- Fica calma!
Vitória Maria- (arranca com o carro) Tinham duas ou três camisinhas, mamãe! Onde elas foram parar? Eu tinha visto um olhar diferente, uma passada de mão diferente – mas FUI CEGA!
Val- Quer que eu dirija?
Vitória Maria- CALA A BOCA E BOTA ESSE CINTO! (Ela acelera com tudo)

CORTE DE CENA RÁPIDO

CENA QUATRO. REPRESA. EXT. DIA.
AGENOR E ADILSON PESCAM NA REPRESA.
Agenor- Agora você pega mais outra cerveja…
Adilson- Mas… Mas eu não…
Agenor- Vai logo, porra!
Adilson- (abre mais uma lata) É… É a última!
Agenor- (começa a se masturbar) Perfeito! Agora joga cerveja bem aqui e lambe… Vem, menino!
Adilson- (chora) Não quero! Não de novo!
Agenor- AGORA! (Passa a mão no corpo do filho) Vai logo, meu menino!
Adilson- (se ajoelha) Não quero!
Agenor- Vai ser bom pra…/
Vitória Maria- (incrédula) ADILSON! MEU FILHO! (Corre pra socorrer o filho) MEU FILHO!
Adilson- Mãe! (Chora)
Vitoria Maria- Agenor! AGENOR! (Bate no marido) SEU PEDÓFILO!
Val- (segura o neto no colo) Vem, filinho
Agenor- Vocês não…/ (leva um soco na cara)
Vitória Maria- (chorando) Não chegue mais perto do MEU FILHO!! Entendeu? ENTENDEU, SEU MONSTRO!
Agenor- Se eu chegar, você faz o que?!
Vitória Maria- Te dou um tiro na cabeça!
Agenor- (se levanta) Você ainda vai…/ (leva uma pedrada no rosto) Porra!
Vitória Maria- Covarde! Monstro! Doente! Não chega perto de mim, seu filha da puta!
Agenor- Deixa eu me explicar (sangrando na face, cambaleia)
Vitória Maria- Não tem o que explicar! SAI DE PERTO DE MIM! (Chorando, pega seu filho no colo, entra no carro e arranca com rapidez)
Agenor- (senta no chão) Vadia! Vagabunda!

…TRANSIÇÃO DE FLASH BACK…

2010

…Na noite de ontem, idoso de setenta e três anos fez durante três horas e meia sua esposa, Vitória Maria, de refém e depois a assassinou com um tiro na cabeça. Agenor Santiago será encaminhado para a CDP de Santana. Ele será indiciado por homicídio doloso e por…

…Você imagina o que eu sofri quando vi a minha mãe no IML?! O quanto foi dolorido pra eu pagar o caixão dela!

CENA CINCO. FUNERÁRIA SÃO TOMÉ. INT. DIA.
ADILSON VAI ATÉ A FUNERÁRIA COMPRAR UM CAIXÃO PARA SUA MÃE.
Adilson- (desanimado) Bom dia, como vão? Vocês têm caixão lacrado?
Agente Funerário- Bom dia. Pra que um caixão lacrado? Câncer? Hepatite? HIV?
Adilson- Não, é… Na verdade… Uma parente minha levou um tiro a queima roupa na cabeça e…/
Agente Funerário- Umh… Essa sua parente foi aquela senhora que foi assassinada pelo ex? Ele era drogado, me parece
Adilson- (segura o choro) Minha mãe…
Agente Funerário- Puts, desculpe a indiscrição!
Adilson- Tudo bem… Vocês têm?
Agente Funerário- Claro que sim! Temos de zinco…
Adilson- Quanto que fica?
Agente Funerário- Não vendemos o caixão apenas – é um pacote. Caixão, translado do corpo, se necessário, coroa de flores…/
Adilson- E quanto que fica tudo isso?
Agente Funerário- (faz as contas) Oito mil – faço em até três vezes…
Adilson- (segura o choro) Aceitam cheque…? Vocês têm água?
Agente Funeral- Claro! (Pega um copo d’água e mistura com açúcar) Água com açúcar é sempre bom!
Adilson- Muito obrigado! (Toma numa golada só)
Agente Funeral- Desculpe a pergunta – você conhecia o assassino?

FIM DE FLASH BACK

25/08/2013

…Desculpe a pergunta – você conhecia o assassino?
– Não… Graças a Deus!…

CENA SEIS. PENITENCIÁRIA DE SANTANA. INT. DIA.
ADILSON PROCURA PELA CELA DE SEU PAI.
Adilson- Carcereiro, você sabe onde está a cela de Agenor Santiago?
Carcereiro- Está ali…/
Agenor- (toca no ombro do filho) Deixa ele comigo!
Adilson- (segura o choro) Pai…
Agenor- (chora e abraça o filho) Que saudades, meu menino! Perdão por tudo! Me abraça direito, filho! Que nem homem!
Adilson- Também estava morto de saudades!
Agenor- Temos muito o que conversar! Muito o que dizer um pro outro!
Adilson- Temos… Temos sim! (Coração apertado)
Agenor- Quer se sentar?
Adilson- Nã…/
Agenor- Ah! Antes que eu me esqueça… (Entrega ao filho um papel desenhado) Fiz um desenho nosso! Lembra da represa?
Adilson- (pega o desenho e, com raiva extremada, o coloca no bolso) Lem… Lembro sim…
Agenor- Você não leu o que estava escrito…
Adilson- (pega o papel e lê) “Meu menino…” Meu menino? (Mãos tremendo e olhos mareados)
Agenor- Continue!
Adilson- “… Te amo mais que tudo no mundo! Minha vi…” Minha vida? (Rasga o papel) Minha vida?!
Agenor- (cínico) O seu presentinho, meu meni…/ (Leva um soco e cai no chão)
Adilson- (raivoso) Como você consegue ser tão dissimulado?! SEU PORRA! (Espanca o pai) TE ODEIO! TENHO NOJO DE VOCÊ!
Carcereiro- (segura Adilson) Calma, cara! Calma!
Agenor- (machucadíssimo) O que eu… Eu fiz? O que eu fiz?!
Adilson- MATEM ESSE VELHO! MATEM ESSE DESGRAÇADO! VELHO! (Imagem escurece)

CENAS DE SÃO PAULO

CENA SETE. CASA DE ADILSON. INT. ENTARDECER. QUARTO DO CASAL.
ANA, AFLITA, FALA AO TELEFONE COM FERNANDA – ADILSON AINDA NÃO VOLTOU DA VISITA.
Fernanda- (Voz Over) Fica calma, amiga! Você não confia…/
Ana- Claro que sim! Claro que confio! É que… Hoje ele me escreveu uma carta, um pouco antes de ir pra visita, e essa carta é muito… É muito… (Chora) Eu não sei! Tenho medo de que ele faça alguma coisa contra a própria vida!
Adilson- (entra em cena, cambaleando) Oi…
Ana- DEUS! Ele voltou! Tá aqui… Tchau! (Desliga o telefone. Percebe que Adilson está bêbado e com cicatrizes pelo rosto) Amor? O que… O que é isso na sua…? O QUE ACONTECEU?!
Adilson- Eu… Caí na rua, só isso
Ana- É mentira! VOCÊ DEVE TER ARRUMADO BRIGA EM BAR! VOCÊ SABE QUE…/
Adilson- (dá um soco na mesa de vidro, quebrando-a e machucando a mão) EU APANHEI! EU APANHEI DAQUELA GENTE DA PENITENCIÁRIA! APANHEI FEITO VIADO EM PORTA DE BALADA!
Ana- (chora. Senta no chão incrédula) O que?! O que aconteceu?!
Adilson- Eles ficaram putos por que eu bati no meu pai – disseram que só eles podem fazer justiça! Me espancaram! Foi isso que aconteceu, caralho!
Ana- (chorosa) POR QUE VOCÊ BATEU NO SEU PAI?! Me diz! O que ele te fez?!
Adilson- Ele ME ESTUPROU! JÁ DISSE! MATOU MINHA MÃE?! E, pra piorar, veio com aquela cara lavada pedir perdão! ISSO É UM ULTRAJE!
Ana- Ultraje é você bater num senhor que está sofrendo o diabo! UM SENHOR ESTÁ PRESO! UM IDO…/
Adilson- Idoso o caralho! UM ASSASSINO PEDÓFILO! E CÍNICO! Cínico! Se você tivesse passado o que eu passei e tivesse ouvido e visto o que eu vi e ouvi daquele velho, você teria pulado naquele pescoço e o espancado até a MORTE! Pois é isso o que ele MERECE – a MORTE! (Procura no chão e vê sua carta por entre os cacos de vidro da mesa) Você leu minha carta, né… Quando eu estiver mais calmo, te explico o que ele fez! Vou passar a noite fora…
Ana- (agarra a perna do marido) Onde você vai!? (Chora) Vem aqui! Fica comigo!
Adilson- Sai, larga… Xô… Vai deitar… (Sai de cena enquanto Ana chora muito)

CENAS DE OSASCO SOB UM JAZZ TRISTE
O SOL SE PÕE AOS POUCOS

CENA OITO. CASA DE JUAREZ. INT. COZINHA.
JANA PREPARA UMA RECEITA ENQUANTO CAROL CONVERSA COM ZÉ ROBERTO PELA INTERNET.
Juarez- (esquenta uma caneca de leite) Vou dormir, boa noite meninas… (Dá um beijo em Carol) Você vai ficar bem?
Carol- Vou sim, boa noite… Ah! Manda um oizinho aqui pro Zé!
Juarez- Falo aonde? Tem câmera?
Jana- (batendo um bolo) Tecnologia e o papai na mesma frase… “Papai não entende de tecnologia” (Ri)
Juarez- Fica na sua, fazendo essa receita da Palmirinha!
Carol- Aqui, pai… Fala aqui… (Mostra um microfone)
Juarez- Boa noite, ora pois!
Carol- (rindo) Obrigada, papai!
Juarez- Adeus… (Sai de cena)
Carol- Desculpa Zé, o meu pai acha que você é de Portugal…
Zé- (Voz Over) Tudo bem, fica tranquila! Tá ficando melhor?
Carol- Tô sim, tenho que ficar, né. Não posso morrer, deixar de viver por causa de um idiota que eu nunca mais vou ver na vida!
Zé- Assim que se fala!
Jana- Fala pro seu Boy que eu tô aprendendo umas receitas de doces portugueses – a rainha da cocada!
Carol- Você ouviu, né? (Ri) Ok… Falo pra ela… Tá bom, tchau… Cambio desligo… (Desliga a transmissão)
Jana- Graça de menino!
Carol- Sim! Adoro ele!
Jana- Mas você ama?
Carol- Amor é um sentimento muito forte – eu ainda sinto algo pelo Ada… (Suspira) Mas esse algo está se transformando em ódio!
Jana- Amor e ódio – seis e meia dúzia…
Carol- Nossa, quem te disse isso?
Jana- Novela!
Carol- Mas aos poucos a gente aprende a amar!
Jana- Claro que sim!
Carol- Mas eu tenho certeza de uma coisa – eu não quero ver o maldito do Ada nunca mais!

CENA NOVE. PENITENCIÁRIA. INT. NOITE. CELA DE ADAMASTOR.
ADAMASTOR ESTÁ CHORANDO EM UM CANTO DA CELA – AGENOR TENTA O ACALMAR. AGENOR ESTÁ MACHUCADO.
Adamastor- (contendo o choro) Vagabunda! Vadia! Como ela pôde fazer isso comigo?
Agenor- (o acalma) Calma, meu filho! Tudo tem seu tempo! Tudo o vai, volta…
Adamastor- Eu quero vingança! EU VOU MATAR AQUELA VADIA!
Agenor- Fica calmo! Eu também quero me vingar do meu filho! Mas tudo em seu tempo! Molde-se conforme a situação – mas não perca nunca a sua essência, a vingança!

CENA DEZ. MOTEL DESEJOS. INT. NOITE. QUARTO.
ADILSON DORME COM SEU AMANTE – OS DOIS CONVERSAM SOBRE A VIDA.
César- Por que não, amor? (Acaricia os cabelos de Adilson com delicadeza)
Adilson- Por que eu tenho a Ana, um casamento e uma vida! Acho melhor ficarmos nos encontrando de vez em quando do que sair do Brasil
César- Depois de ter visto uma colega minha no IML, naquele instante tive certeza de que a vida não passa de um átimo de segundo no universo! É por isso que temos que vive-la com plenitude, aproveitar ao máximo! Carpe Diem!
Adilson- (o beija) Já vi esse filme… Mas não cola comigo! Não gosto de poemas! Eu quero viver minha vida normal, sem problemas nenhum!
César- Tá com menos dor?
Adilson- Com o tempo passa… Você já assumiu pra sua família?
César- Não
Adilson- Então, amor, como você quer fugir se nem assumido você é?!
César- Assumiria com você!
Adilson- Não… Vamos manter as coisas como são…
César- E os carcereiros? Eram gatos?
Adilson- Você acha que eu ia prestar atenção, César? Eu tava morto de raiva do velho… Maldito! E quando cheguei em casa, fiquei com mais raiva ainda!
César- E descontou na mesa
Adilson- Exato… Infelizmente… Às vezes a Ana me dá nos nervos! Queria me culpar por eu ter apanhado dos guardas – e antes disso, insinuou que foi uma briga de bar!
César- Calma, fica calma! (Enrola um baseado) É bom você ligar pro serviço de quarto e pedir comida!
Adilson- Vou deitar e tentar dormir
César- Não quer um tapa?
Adilson- Pode ficar… E bota a comida na minha conta, ok? (Vira de lado e dorme)
César- Boa noite, meu príncipe! Umh… Estava pensando…
Adilson- O que?
César- Sabe o que você pode fazer pra acalmar a fera da sua mulher?
Adilson- O que?

CENAS DO SOL NASCENDO

CENA ONZE. CASA DE ADILSON. INT. DIA. COZINHA.
ANA ESTÁ CHOROSA, ESTÁ DESABAFANDO COM FERNANDA COMO SE SENTE. ADILSON CHEGA COM UM BUQUÊ DE FLORES.
Fernanda- Fica calma, amiga!
Ana- Não tem como! Eu to com um ódio que não cabe em mim! (Batem à porta) É ele! Maldito! (Abre a porta)
Adilson- Oi amor…/
Ana- (dá um tapão em Adilson) Seu merda! Seu maldito! (É agarrada com força e beijada) Me solta!
Adilson- Solto, assim que você… (Se ajoelha) Assim que você aceitar se casar comigo! (Lhe entrega um anel) Eu te amo!

FIM DE CAPÍTULO

Deixe um comentário

Séries de Web

Séries de Web