Contratempo de Amar

Contratempo de amar – ÚLTIMO CAPÍTULO

“Passageiros do vôo 7245, com destino à Berlim, Alemanha, o vôo está atrasado por questões climáticas. Aguardem próximas informações.”

 

– Era só o que faltava… – Fred reclama, enquanto eu viajo nos meus pensamentos..

 

– Você promete que não vai fugir outra vez?

– Eu não vou fugir.

– É a segunda vez que você me promete isso, Isabel. Não quebre essa promessa outra vez… Seus votos em nosso casamento de mentirinha. Você prometeu nunca me deixar sozinho.

– Eu não vou quebrar dessa vez.

 

– Isabel? Você está bem? – Fred me encara.

– Eu só… Sim, eu estou bem. – forço um sorriso pra ele.

– A Catarina está impossível. Já me ligou umas 3 vezes só pra ter certeza de que eu não estou blefando.

– Eu estou com muita saudade dela. – afirmo com sinceridade.

– E ela também. – ele segura minha mão e eu resisto ao impulso de me afastar – Você sempre gostou da Alemanha, Bel, seu emprego, sua vida…

– Eu não vou voltar pro meu antigo emprego, Fred. – o interrompo e posso ver sua surpresa.

– Como assim? Você pretende mudar de empresa?

– Não, eu não pretendo mais trabalhar como advogada. – o encaro e a confusão em seu olhar me faz querer rir.

– E o que você pretende fazer, Bel?

– Eu ainda não sei. – admito – Talvez eu lecione, pelo menos durante o tempo em que descubro o que realmente quero fazer. Mas não posso continuar fazendo algo que não amo.

– Você nunca me contou isso. Que não amava seu trabalho. – ele sussurra.

– Eu deixei de falar muitas coisas por muito tempo, Fred. Eu achava que precisava seguir tudo direitinho, que a minha mãe havia me criado pra isso, pra ser perfeita… Mas a minha vida não é perfeita. Ela está muito longe de ser.

– Não fala assim… – ele tenta me consolar.

– Não, isso não é algo ruim. – afirmo – Isso é muito bom. É libertador, na verdade. Eu preciso descobrir o que eu quero ser. Eu não posso viver o resto dos meus dias como uma sombra.

 

Fred se cala e posso ver que ele não esperava isso de mim. Mas o que eu posso dizer? Eu também não esperava isso de mim mesma. A minha vida não é um conto de fadas. Não é uma história perfeita. Eu não posso controlar tudo e eu estou farta de tentar.

 

– Isabel? – ouvir o meu nome sendo dito por essa voz me faz perder o fôlego.

– O que você está fazendo aqui? – Frederico pergunta, visivelmente irritado e eu me limito a o encarar.

– O seu amigo, o Diego… Ele me disse que você pretendia ir embora. – Fernando fala, mas evita me olhar nos olhos.

– Você não acha que já fez o suficiente, cara? – Fred se exalta, mas eu seguro o seu braço como um sinal.

– O que você quer, Fernando? – pergunto, séria.

– O que eu quero? – ele dá um sorriso forçado – Eu quero muitas coisas, minha filha… – engulo seco – Mas o que eu queria mesmo era os anos voltassem e que eu pudesse ver você nascer, ver você crescer, que eu pudesse estar do lado da sua mãe durante cada dificuldade que ela passou cuidando de você sozinha… – ele para e eu percebo que está tentando não chorar – Que eu pudesse te abraçar quando ela partiu, tão cedo… – não consigo segurar as lágrimas, e ele também não.

– Mas você não pode fazer nada disso. – respondo, limpando as lágrimas.

– Não. – ele me encara – Não posso. Mas eu posso te implorar por uma chance.

– Uma chance? Uma chance pra que? O que você pode fazer agora?

– Eu posso fazer mais do que eu tenho feito. Mais do que eu fiz durante esses anos. – ele se aproxima e eu tento me manter impassível – Isabel, eu sou um lixo. Eu não mereço que você sequer olhe pra mim. Mas eu amo você. Eu amei você por todos esses anos, e eu nunca me perdoei por ter deixado você ir. Eu sei que você tem todo o direito de entrar naquele avião e voltar pra Alemanha. Eu sei que você tem uma vida te esperando lá, pessoas que te amam… – ele aponta pra Frederico e eu o olho de relance – Mas eu…

– O que você está me pedindo? – pergunto, balançada por tudo o que ouvi.

– Estou te pedindo a chance de ser um pai. A chance de te mostrar que eu sou mais do que um cafajeste que abandonou a sua mãe. Por favor, Isabel. Não vá embora sem me dar essa chance. Se eu te decepcionar outra vez, eu mesmo sumo da sua vida pra sempre, eu prometo.

– Eu já estou um pouco grandinha pra precisar de um pai agora, não acha? – sorrio, tristemente.

– Mas eu ainda preciso da minha filha.

 

Algo no Fernando me soa sincero. Não deveria confiar no homem que virou as costas para minha mãe em um momento tão difícil, mas ele está aqui. Está aqui e está me pedindo uma chance. Eu olho para Frederico e ele percebe o que eu quero dizer.

 

– Eu prometi que ficaria enquanto você precisasse de mim, Ávila. – ele sorri de canto, tentando esconder a decepção – Você ainda tem assuntos pendentes aqui.

– Você é o melhor, Fred. Merece mais do que o que eu posso te oferecer. – seguro em suas mãos e ele beija as minhas.

– Eu vou tentar viver com isso, princesa. Seja feliz. E saiba que eu sempre vou estar aqui pra você.

– Eu sei. – não consigo conter as lágrimas quando o vejo virando as costas e entrando pelo portão de embarque – Eu preciso falar com o Diego. – digo a Fernando.

– Ele me disse que estaria no lugar de vocês. Caso você ainda quisesse encontrá-lo. – sorrio ao me lembrar do nosso lugar, nosso parque – Vá até ele. Temos todo tempo do mundo pra conversar depois.

 

Subo a estreita trilha pensando no que dizer, no que pensar… Mas nada me vem à cabeça quando me deparo com a imagem dele sentado de costas, olhando pro horizonte da cidade.

 

– Eu não achei que você viesse. – ele diz, ainda sem se virar – Eu estava tentando pensar como eu iria descer daqui. Como eu iria sair desse lugar sabendo que eu nunca mais iria ver você outra vez.

– Mas eu vim. – é só o que consigo dizer.

– Você veio. – ele se vira e se levanta, caminhando até a minha direção – Bel… Eu não posso nem contar quantas vezes eu te machuquei.

– Diego… – começo, mas ele me interrompe.

– Não, por favor. Me deixa falar. – me calo e ele continua – Eu pisei na bola tantas vezes… Eu prometi que nunca faria você chorar e foi o que mais fiz desde que você voltou pra minha vida. Eu deveria ter a decência de deixar você ir embora. Devia ser menos egoísta e deixar o Frederico te fazer feliz, como eu não consegui fazer.

– Eu não amo o Frederico. – é só o que consigo dizer, sem pensar.

– E eu não amo a Valentina. – essa resposta me deixa confusa e sem ação, o que ele nota com facilidade – Eu não estou mais noivo, Isabel. Faz algum tempo.

– Por que você não me contou? – pergunto, sem entender.

– Porque não tive chance. – ele suspira – Foi tudo muito rápido, e a história do Samuel… – desvio o olhar – Bel, eu não deveria ter escondido nada de você, mas eu não sabia o que fazer! Eu tinha tanto medo que você me odiasse por contar isso, e você acabou me odiando justamente por não contar…

– Eu… Eu estou tentando entender, Diego. – confesso – Eu não estou mais com raiva. Não estou feliz com o que aconteceu, mas eu não odeio você.

– Talvez você devesse. – ele diz, e posso ver a tristeza no seu olhar – EU não mereço que você me perdoe, Bel. Eu não mereço que você me deixe estar perto, mas eu quero tanto estar…

– Diego, eu… – tento recuperar minhas forças pra tentar dizer o que preciso, mas ele me interrompe outra vez.

– Não. Eu preciso falar isso, eu preciso falar primeiro… – ele pega em meu rosto – Eu te amo, Isabel. Eu te amo desde que eu entendi o que isso significa. Eu te amo por tanto tempo que me esqueci que precisava demonstrar isso pra você. Eu não mereço o seu amor, não mereço que você fique comigo, mas eu preciso de você. Eu não sei mais viver sem você, Isabel. Eu não consigo mais fazer isso e eu não quero aprender outra vez.

– Eu não sei… Eu não sei o que fazer da minha vida, Diego. – me entrego às lágrimas – Eu tenho um pai. Depois de tantos anos, eu tenho um pai! Eu tenho um homem que sempre cuidou de mim à distância e que eu não sei como me relacionar agora… Mas diante disso tudo, a única certeza que eu tenho é de ter você. Eu não sei o que fazer, não sei o que vai ser da minha vida daqui pra frente… Eu só sei que eu preciso de você do meu lado. Eu te amo.

 

O olhar de Diego desarma todas as minhas inseguranças e finalmente eu percebo que estou onde eu sempre deveria estar. Não sei o que irá acontecer de hoje em diante ou como vamos lidar com os contratempos da vida, mas estamos juntos, temos um ao outro, e agora não existe nenhum contratempo mais perfeito dentro de uma história tão imperfeita como esta.

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