Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo XVII

Ainda é cedo. Combinamos de nos encontrar no lobby do apart hotel às nove, mas eu estava muito ansiosa por hoje. Diego tem tentado me acalmar, e eu sei que é importante que eu me recomponha pra não fazer um estrago. Mas você sabe aquela sensação? A sensação de que algo enorme está pra acontecer? Desde que vi esse Samuel na sala do Gustavo, eu tenho me sentido assim. Como se algo muito importante estivesse prestes acontecer e eu não pudesse fazer nada pra que aconteça mais rápido. Parece estranho, parece loucura, e eu não espero que Diego entenda isso. Não espero que ninguém entenda.

 

– Senhorita Ávila. – ouço a voz de Samuel atrás de mim e me levanto prontamente – A senhorita é muito pontual.

– Não gosto de deixar as pessoas esperando por mim. – respondo, tentando soar tranquila – Podemos começar?

– Claro. Vamos até o meu loft. – ele me dá a passagem e eu sigo até o elevador.

 

Todo o luxo desse apart hotel me deixa zonza. Posso perceber que dinheiro não é problema para o senhor Samuel Vasconcelos. Viver no Bourbon Hotel era um forte indicador disso.

 

– Fique a vontade, Isabel. – ele sinaliza com a mão e vou entrando aos poucos no imenso loft, maior que meu apartamento.

– Podemos começar a ver os relatórios? – pergunto, ansiosa.

– Claro. – ele assente – Vou pegar meu laptop, um instante. Michele?!

 

Michele? Seria alguma secretária? Ou a esposa que Diego me disse? Bem, acho que posso descartar a possibilidade de qualquer assédio por aqui.

 

– Eu acredito que ela está na academia. – ele justifica ao não ter uma resposta – Sirva-se do que quiser, Isabel. Vou pegar o material e começaremos o trabalho.

 

Eu concordo com a cabeça enquanto ele sai para dentro do outro cômodo. Dou uma olhada ao redor, tentando enxergar algo que possa me dar alguma pista de quem é esse homem, mas a imparcialidade do quarto não colabora com minha busca. Vejo apenas um porta-retratos em uma mesinha de canto. Uma mulher morena, muito bonita, abraçada à ele e aparentemente muito feliz. Talvez fosse essa Michelle.

 

– É minha esposa. – ele chega na sala, me assustando – Linda, não é?

– É sim… – respondo, desconcertada.

– Sei que pode parecer estranho pra você trabalhar com um desconhecido, mas minhas ligações com a R.B. são antigas, não há razão pra se preocupar.

– Não estou preocupada. – tento soar imparcial, e acredito que tenho algum êxito – Podemos começar?

 

Samuel me apresenta alguns processos contratuais da sua companhia e eu começo a fazer uma breve consultoria com base no que vejo superficialmente. Passado algum tempo, somos interrompidos.

 

– Meu bem, você está aí? – a voz feminina invade a sala e eu me ajeito na poltrona – Oh, não sabia que estava em reunião.

– Tudo bem, venha até aqui. – Samuel se levanta dando um selinho na mulher que aparenta pouco mais de 40 anos de idade – Esta é Isabel, a advogada que lhe falei. Isabel, esta é Michele, minha esposa.

– Oh Isabel, muito prazer! – ela vem em minha direção como se já me conhecesse. Todos estão muito receptivos nessa cidade ultimamente.

– O prazer é meu, senhora Vasconcelos. – sorrio com simpatia. Pelo visto o casamento de Samuel vai muito bem, talvez ele não queira nenhum contato íntimo comigo de fato.

– Pode me chamar de Michele. – ela torce o nariz – Vocês já comeram? Estava pensando em pedir o almoço.

– Ótima ideia, meu amor. Almoçamos e depois continuamos, Isabel? – pergunta em minha direção.

– Claro. – concordo com a cabeça.

 

Durante o almoço posso perceber como a relação de Samuel e Michele é simples, apesar de serem tão ricos. A troca de olhares, a cumplicidade, tudo apontava para um casamento cheio de amor. Me sinto envergonhada por sequer ter cogitado a possibilidade de Samuel estar interessado em mim. O vendo agora ao lado dela, é óbvio a sua devoção à esposa. Mas ainda há algo que me intriga nessa situação toda.

 

– Você estudou na Alemanha, correto Isabel? – Samuel pergunta.

– Sim. Morei na Alemanha por oito anos. – respondo, estranhando o interesse pela minha formação. Talvez eu esteja sendo paranoica, mas…

– Que fantástico. – Michelle afirma, com entusiasmo, retribuo com um sorriso – A Alemanha é fascinante.

– É sim. Foi um tempo de muito crescimento na minha carreira. Um pouco solitário, mas necessário. – divago nas lembranças.

– Muito corajoso da sua parte ir para um país desconhecido sozinha. – dou de ombros quando Samuel fala – Ainda mais depois de tudo o que você passou com sua mãe…

– Como eu disse, foi necessário… – paro de falar quando minha ficha cai –Espera um pouco… Como você sabe da minha mãe? – pergunto, sem entender e posso ver a palidez tomar conta do seu rosto.

– Bem… Gustavo deve ter mencionado algo quando fui contratá-la…

– Samuel… – Michelle o chama, como um alerta.

– O Gustavo não sabe sobre nada disso. – afirmo categórica, alterando a minha voz e me levantando da mesa – A única pessoa que sabe do meu passado aqui é o Diego, e eu tenho certeza que ele não falou nada disso pra você porque ele teria me contado.

– Isabel, fique calma. – ele também se levanta, indo a minha direção, mas me afasto rapidamente.

– Ficar calma? – ironizo – Eu achei muito estranho você requisitar meus serviços tão enfaticamente. Eu sabia que algo não estava fazendo sentido! E agora você começa a falar sobre a minha mãe? Sobre o que eu passei? Quem é você?! O que você quer de mim?

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