Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo XIX

– Eu vim o mais rápido que pude, Bel. – Diego se justifica assim que eu abro a porta do apartamento – Onde está a Joana?

– Em uma reunião com o Gustavo. O expediente ainda não acabou, eu pensei que você só viesse mais tarde. – dou espaço para que ele entre.

– Eu não ia esperar até o fim da tarde para saber o que aconteceu, e eu também não sabia como você estava… Está tudo bem?

 

Explico toda a conversa que tive com Samuel em detalhes e Diego fica tão confuso quanto eu.

 

– Isso é muito estranho, Bel. – é só o que ele se permite dizer.

– Você acha? – pergunto, sarcasticamente – Você realmente não sabia de nada disso? Eu não iria me aborrecer se você tivesse escondido isso.

– Eu nunca esconderia algo relacionado à sua mãe de você, Isabel. – responde, sério.

– Eu sei. – suspiro – Eu só não sei o que pensar de tudo isso.

– E eu muito menos. – Diego confessa – Você acha que ele foi sincero?

– Não faço ideia. – me levanto, ansiosa – Eu só acho muito estranho um homem que foi apaixonado por uma mulher, trocado por outro, se interessar tanto pela filha dela com esse homem apenas por “necessidade de conhecê-la”.

– O que você sugere? – Diego pergunta, querendo saber onde quero chegar.

– Por um momento eu pensei que… – hesito e ele me interrompe.

– Você pensou que ele poderia ser seu pai? – a sua expressão e seu tom de pena me tira do sério.

– Ele não é meu pai, Diego. – respondo, cuspindo as palavras – Eu sei disso, não precisa me olhar como se eu fosse um filhote abandonado.

– Ei, calma! – ele se levanta e vem em minha direção – Sei que você está sobrecarregada, mas se tem alguém que está do seu lado, esse alguém sou eu.

 

Olho pra ele sentindo as lágrimas tomarem meus olhos e me controlando ao máximo para contê-las, mas posso notar o fracasso, já que ele está vindo em minha direção e me envolve em seus braços.

 

– Eu não sei o que pensar de tudo isso, Diego, eu não sei… – sussurro, me entregando ao cansaço.

– Eu estou aqui, meu amor, pro que você precisar, eu estou aqui.

 

Tremo ao ouvi-lo me chamando de “meu amor”. Eu gostaria muito de acreditar nisso. Gostaria de acreditar que sou o seu amor, Diego, que você sempre vai estar aqui. Mas eu não sou e você vai se casar em alguns meses, e tudo isso vai acabar. Me desvencilho dele e vou até a cozinha pegar um copo d’água.

 

– O que você pretende fazer agora? – ele pergunta, e percebo certo desapontamento em sua voz, talvez pelo corte brusco do momento.

– Eu preciso saber mais sobre ele, sobre essa história… – respondo – Preciso saber se tem algo mais.

– Você acha que ele está escondendo algo?

– Se ele estiver escondendo algo, eu vou descobrir. Mas preciso da sua ajuda pra isso.

– Eu vou te ajudar no que você precisar. Você sabe disso. – ele diz com sinceridade.

– Você está nas vésperas do seu casamento, Diego… – o lembro – Tem certeza de que quer se envolver nisso agora?

 

Ele pareceu hesitar por um instante, mas logo continuou a falar.

 

– Ainda temos alguns meses antes do casamento. – ele argumenta – E eu não posso deixar você passar por isso sozinha.

 

Sorrio em forma de gratidão e ele retribui. Seria um processo tentar entender toda essa história e eu precisaria de toda a ajuda possível. Alguns dias se passam e ainda me esforço ao máximo para agir com naturalidade perto do Samuel. Podia perceber a tristeza em seu olhar quando o tratava com indiferença, mas se eu estava precisando lidar com meus sentimentos, ele também teria que fazer o mesmo.

 

– Eu preciso de você no comando dessa operação, Diego. – Gustavo diz enquanto examina alguns papéis em sua mesa.

– Eu posso ajudar. – me ofereço percebendo que era muito trabalho.

– Você ainda não está no processo do Samuel? – Gustavo pergunta, arqueando uma sobrancelha e Diego me olha de canto.

– Já estamos muito adiantados e eu tenho tempo livre. – explico.

– Vai ser bom ter uma força. – Diego me apoia.

– Tudo bem, você que sabe… – Gustavo responde – Mas não quero ouvir nenhuma queixa do Samuel, ok?

– Sem problemas. – respondo e logo somos liberados da pequena reunião, seguindo para minha sala.

– O Samuel entrou em contato? – Diego pergunta enquanto passamos pelo longo corredor.

– Ainda não. – suspiro – Acredito que ele está tentando me dar algum espaço, mas cedo ou tarde vou precisar vê-lo novamente.

– E você já sabe qual é o próximo passo?

 

As coisas ainda estão nebulosas e eu tenho que me agarrar às poucas oportunidades que me restam. Não conhecia tão bem o passado da minha mãe, apenas um pouco sobre seu relacionamento com meu pai, e que ele nos abandonou quando ela estava prestes à dar a luz. Mas uma pessoa sabia sobre essa história, e eu precisava investigar a fundo.

 

– Sua mãe. – respondi com certo receio.

– Minha mãe? – Diego pareceu confuso – Em que minha mãe pode ajudar?

– As nossas mães eram melhores amigas, Diego. – explico – A Cláudia é a única que conheceu o meu pai, e provavelmente deve saber algo sobre o Samuel.

– Isso explicaria o motivo dela ter ficado tão nervosa quando soube que vocês estavam trabalhando juntos. – ele parece fazer algumas ligações na sua cabeça.

– Sim… Eu preciso que ela me conte o que sabe. – argumento – Sei que você não deve gostar de ver sua mãe envolvida nessa confusão, mas eu preciso de uma luz aqui.

– Eu entendo. – ele diz, com um tom preocupado – Precisamos esclarece isso.

 

Ao entrarmos na minha sala, olho a expressão de tensão no rosto de Joana e minha expressão já faz o trabalho de perguntar o que está acontecendo.

 

– Eu pedi pra ele voltar em outra hora, Bel, mas ele insistiu em te esperar aqui… – ela tenta justificar e por um momento penso que Samuel estava ali. Mas quando a cadeira se vira em nossa direção, eu quase não posso acreditar.

– Olá, Isabel. O ar do Brasil fez muito bem pra você. – Frederico me cumprimenta com seu sotaque alemão e posso sentir o ar escapando dos meus pulmões por um breve segundo.

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