Agridoce

Capítulo 14 – Agridøcє

Agridøcє

Pulei da moto antes que Rylan achasse um lugar para estacionar e corri para a entrada do hospital, o Hospital da Universidade ficava a apenas algumas quadras da Universidade e chamávamos assim, pois os alunos de medicina estagiavam em sua maioria naquele hospital.

Assim que passei pela porta do hospital encontrei Lucy sentada em uma cadeira no fundo da sala de espera, apesar de algumas manchas de sangue ali e acolá, e alguns rasgos na roupa, o cabelo despenteado e a cara de ressaca misturada com quem chorou a noite toda, ela me parecia bem.

— Wendy! — Meu nome saiu como um suspiro, Lucy se levantou e caminhou em minha direção, parou a alguns passos de mim sem saber ao certo o que fazer, eu me aproximei e passei a mão em seu ombro, pensei em abraça-la, mas a ideia me pareceu estranha.

— Como você está?

— Estou um pouco bêbada, mas estou bem. — Ela deu um meio sorriso, sem graça.

— E Ally? — Lucy abriu a boca para responder, mas se calou quando a porta do hospital se abriu e Rylan entrou segurando os capacetes.

— E aí, amor? — Rylan segurou minha cintura, depois olhou para Lucy. — Você está bem?

— Sim. — Ela murmurou, analisou o rosto de Rylan por segundos e depois me encarou de novo. — Não sei como ela está, eles não me dão noticias. Mas eu vim de carro com ela, um cara da faculdade nos trouxe, estava acordada, ela que me deu o celular e pediu para que eu te ligasse. Acho que a estão mantendo lá dentro mais pelo nível de embriaguez do que por qualquer outra coisa.

Encarei Rylan e depois agradeci Lucy que voltou para onde estava, caminhamos para um balcão no canto da sala, uma mulher grande, loira, de óculos fundo de garrafa, que segundo o crachá se chamava Savanny, nos olhou.

— Desejam alguma coisa? — Ela voltou os olhos para o computador, fazendo pouco caso.

— Minha irmã deu entrada aqui, acho que não faz muito tempo. Queria saber se posso ir vê-la e como ela está. — Ela me olhou por cima dos óculos fundo de garrafa e sussurrou algo como “gêmeas” e depois de me dar um crachá de visitante me indicou o quarto 12 atrás da porta do lado direito.

Caminhei apressada para lá, todos os quartos estavam vazios, menos um antes do de Ally. Não encontrei nenhum médico ou enfermeiro no corredor, parei diante da porta e bati, esperei que tivesse algum médico lá dentro que me dissesse para entrar, mas não escutei nada. Bati mais uma vez e mais uma. Como não obtive uma resposta, entrei assim mesmo.

O quarto estava escuro, apenas um abajur estava ligado, iluminando parcialmente o quarto. O quarto se parecia com os quartos do dormitório da Universidade, era um cubículo simples e impessoal, uma cama no meio do quarto com uma cadeira almofadada do lado, um abajur preso na parede e uma televisão eram tudo o que tinha ali, tirando as várias máquinas que pareciam estar todas ligadas a pessoa deitada na cama.

— Ally? — Chamei baixinho, ainda com a porta entreaberta.

A pessoa em cima da cama se mexeu e eu abri mais a porta e entrei, procurando o interruptor e acendendo a luz. Ally estava deitada de costas para a porta, os cabelos curtos embaraçados apontando em todas as direções, uma coberta verde a cobria até o pescoço. Caminhei até a cama e parei, não sabia ao certo o que fazer ou falar.

— Como você está? — Ela se mexeu um pouco, mas não se virou, nem abriu os olhos.

— Bem. — sussurrou depois de alguns segundos. O quarto cheirava a álcool e a medicamentos. — Acho que ainda estou bêbada.

— Eu tenho certeza. — Sorri, mesmo que ela não pudesse ver.

— Obrigada por ter vindo.

— Eu sou sua irmã. — Sentei na ponta da cama, tentando fazer com que a cama se mexesse o menos possível.

Fiquei olhando para seu rosto pálido e seu cabelo desgrenhado por alguns minutos, sem falar nada. Ela parecia bem, pelo menos do lado do rosto e pescoço que eu podia ver.

— Como você está? Me diga o que aconteceu, Ally! — Então ela abriu os olhos e encarou as janelas fechadas a sua frente.

— Não… — Me levantei e então ela se virou para me encarar. Sua testa mostrava um pequeno corte e depois mais um do lado e mais um que entrava pelo coro cabeludo, sua bochecha estava em um tom de roxo estranho e tinha mais um corte que ia até a orelha. Os cortes estavam limpos e não pareciam graves, não tinham pontos, então, talvez isso significasse que não eram fundos, nem graves o suficiente e que provavelmente se cicatrizariam sozinhos.  Ela tirou a mão debaixo da coberta e estendeu para mim. Um tubo intravenoso estava preso a sua mão e as veias verdes apareciam por debaixo da pele pálida.

Eu segurei sua mão e sentei novamente na cama, a encarei, tentando ignorar sua bochecha roxa e seus cortes. Seus olhos estavam vermelhos e fundos, com olheiras roxas escuras. Naquele momento mais do que em qualquer outro nós não parecíamos irmãs gêmeas.

— O que aconteceu, Ally?

— Agora não, Wen. — Ela sussurrou e fechou os olhos. Seu hálito fedia a álcool.

— E quando vai ser a hora, Ally? Quando ao invés d’eu entrar em um hospital entrar em um necrotério? Ou quando nossos pais caminharem com seu caixão até sua cova?

— Sem drama. — Ela sussurrou, soltando minha mão e se virando para o lado.

— Quer saber, vou lá para fora. Mamãe e papai devem estar chegando. — Me levantei e caminhei para fora, com os olhos cheios de lágrimas. Corri pelo corredor e abri a porta procurando Rylan. Ele encontrou meu olhar e veio em minha direção, me abraçando com força.

— Eu sei, eu sei… — Ele sussurrou, passando a mão nos meus cabelos. Ele me conhecia tão bem!

— Até em uma hora dessas, ela é estúpida! — Murmurei, sem conseguir mais conter as lágrimas. Rylan caminhou comigo até uma das cadeiras e nos sentamos. Deitei a cabeça em seu ombro e chorei até que comecei a sentir uma enorme dor de cabeça.

— Quer água?

— Sim.

Rylan levantou e caminhou até o bebedouro do lado do balcão da recepção, só nesse momento que eu percebi que a sala de espera tinha mais algumas pessoas, Lucy estava com a cabeça deitada no ombro de uma mulher, as duas eram tão iguais que não tinha como não dizer que eram mãe e filha. Ralph estava encostado no outro canto, com a cabeça encostada na parede e os olhos fechados, do seu lado tinha mais um rapaz, que eu não reconheci.

Rylan trouxe minha água no exato momento em que eu me levantei. Encarei Ralph, não sabia exatamente o que iria fazer, mas Lucy tinha dito que eles tinham saído e que Ally tinha voltado depois toda machucada, se alguém sabia o que tinha acontecido, esse alguém era ele.

— Onde você vai? — Rylan me encarou, com um ar suspeito.

— Se ele fez alguma coisa com a minha irmã, ou deixou que alguém fizesse, eu preciso saber.

— Aqui não é o lugar, Wen! Espere seus pais chegarem e deixem que eles conversem com ele. — Ele deu um passo para o lado e deixou que eu passasse, quando percebeu que eu não mudaria de ideia.

— Ralph! — Ele abriu os olhos e bufou, fechando-os em seguida, novamente. — Vai levantar e falar comigo ou vou ter que começar a gritar?

— Diz. — Ele abriu os olhos novamente e me encarou, nunca seus olhos me deram tanto medo como naquele momento.

— O que aconteceu? A Lucy me disse que vocês saíram juntos, o que você fez com ela?

— Eu não fiz nada com ela, não tenho culpa se sua irmã é uma puta drogada. — Arregalei os olhos, escutar aquelas palavras foram como facadas em meu rosto.

— O que quer dizer com isso? – Fraquejei por um momento.

— Wendy… — Ele suspirou meu nome. — Ela queria ter experiências novas, eu proporcionei isso a ela, simples assim. — Ele se levantou e me encarou, levantei um pouco a cabeça para que nossos olhos pudessem se encontrar.

— Você é um babaca! — Rosnei.

Não sei de onde veio à ideia, também não parei muito para pensar nisso, quando dei por mim, minha mão cerrada em punho ia de encontro com o rosto de Ralph. Ele caiu para trás, mais pelo susto do que pela força do golpe.

— Se afaste da minha irmã, ou eu acabo com você! — O encarei com toda a dureza que pude, e torci para que meu olhar transmitisse toda a raiva que eu estava sentindo.

  • Capítulo 15 – Dia 29/01

Stephanie

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