O Último Ano

Capítulo 6 – O Último Ano

O ÚLTIMO ANO

AMIZADE VERDADEIRA

“Eu me sentia extremamente responsável por tudo que aconteceu naquela noite no centro de São Luís. Eu não deveria ter beijado Diego em público. Mas a felicidade tem um preço, e acredito que para nós gays o preço seja mais alto ainda. Diego estava tentando negociar esse ‘preço’ com seu melhor amigo, João Pedro. Tudo que eu podia fazer agora era torcer para que tudo ficasse esclarecido entre os dois. Caso isso não acontecesse eu me sentiria eternamente culpado.”

(Trecho do diário de Elvis Braga)

JOÃO PEDRO: Eu já falei que não quero papo com você cara.

DIEGO: Eu também não queria papo algum com você, quando te vi me tratando daquele jeito no Reviver. Mas eu vim atrás de ti. Só por causa de uma coisa. Eu considero pra caramba tua amizade. E se você também me considera, vai me escutar.

JOÃO PEDRO: Eu considerava a amizade de um ‘outro’ Diego. Um cara que eu conheci lá no ensino fundamental. Que jogava bola comigo, jogava videogame, que azarava as meninas… Esse outro Diego aí eu não conheço.

DIEGO: Conhece sim. Conhece porque eu não mudei em nada. Eu não vou deixar de ser seu amigo de sempre só por causa de um detalhe desses.

JOÃO PEDRO: Esse detalhe é que você gosta de veado!

DIEGO: Sim, eu gosto! Se for assim que você prefere chamar. E quer saber? Eu já gostava de veado esse tempo todo que você me conhece e você nunca percebeu. Nem nunca mudei em nada com você por conta disso. Mudei?

JOÃO PEDRO: Agora é diferente. Eu não só sei como vi você beijando o Elvis. Muda muita coisa sabia? Vê seu melhor amigo beijando outro cara! Beijando um homem ali como se fosse uma mulher!

DIEGO: João eu continuo sendo o mesmo Diego. É somente isso que quero que você entenda cara!

JOÃO PEDRO: Como eu vou entender isso? Como é que eu vou olhar para tua cara na escola?

DIEGO: Como sempre foi!

JOÃO PEDRO: Eu estou com nojo de você. E acho melhor você nunca mais falar comigo. Não quero que pensem besteira de mim por aí.

DIEGO: Ninguém precisa saber de mim. Ou você vai sair por aí espalhando? Como que você chamava aquele garoto do segundo ano? Ah, lembrei! Bichinha Poc Poc! Sair espalhando fofoca é bem bichinha poc poc.

JOÃO PEDRO: Bicha aqui é você!

DIEGO: A gente quebra muito a cara mesmo!

JOÃO PEDRO: Eu que o dia né Diego?

DIEGO: Agora eu vejo que tipo de amizade é a tua. A gente sempre esteve junto em tudo cara. Desde pequeno. Sempre ajudamos um ao outro. Apoiamos e até encobrimos muitos vacilo que a gente cometia… E agora você simplesmente vira as costas para mim.

JOÃO PEDRO: Olha nem vem com esse papo. No dia que você falou que foi para a casa da bicha novata eu comecei estranhar você. Agora até filosofando você está. Ridículo isso cara.

DIEGO: Pense você o que quiser João Pedro. Só quero esclarecer…

JOÃO PEDRO: Esclarecer? Sei. Você está se mijando de medo que eu acabe espalhando o que vi. Mas fica de boa. Achei isso tão nojento que não terei coragem de contar isso para ninguém.

João Pedro dá de ombros e entra para casa. Diego fica na rua. Sozinho. Começa a chorar. Ele sai caminhando pela rua decepcionado. Começa a cair uma chuva leve e ele nem se importa em se proteger. Continua caminhando.

Na casa de Elvis dona Elis percebe a preocupação em seu filho.

ELIS: Que cara é essa? Veio calado no carro… Não gosto de ver você assim.

ELVIS: Estou preocupado.

ELIS: Diego?

ELVIS: Isso mesmo.

ELIS: Aconteceu alguma coisa?

ELVIS: Bom, aconteceu. O melhor amigo dele viu a gente se beijando.

ELIS: E qual foi reação desse amigo?

ELVIS: A pior possível.

ELIS: Amigo?

ELVIS: Sim.

ELIS: Se for amigo de fato ele vai entender e respeitar. Mesmo que leve tempo. Já falou com Diego?

ELVIS: Estou mais preocupado por conta disso. Há horas estou tentando ligar para ele e só dá na caixa postal.

ELIS: Filho, eu sei o que você está sentindo. Não é só uma preocupação. É medo. Medo de perder o Diego.

ELVIS: Você está certa.

ELIS: Diego certamente conhece esse amigo há mais tempo que conhece você. Seu medo é que ele lhe abandone por causa da amizade.

ELVIS: Você acha que ele seria capaz?

ELIS: Primeiro, entenda que o seu medo e o medo de Diego são iguais. Nenhum de vocês dois quer perder uma pessoa que gosta. Mas se esse amigo realmente gosta do Diego nada vai acontecer. E se Diego realmente gosta de você nada irá acontecer também. Tudo vai acabar bem meu filho. É bom que aconteça essas coisas para que tudo se esclareça.

ELVIS: Você tem razão.

ELIS: Vá dormir. Amanhã você fala com Diego na escola.

Elis abraçou e beijou Elvis. Mas ele continuou acordado tentando ligar para Diego até altas horas da madrugada. Nenhuma tentativa deu certo. Elvis dormiu ao lado do celular.

Quando amanheceu em São Luís, Elvis ainda não tinha a menor notícia de Diego. Eduarda foi para casa de Elvis para fazerem um trabalho da escola. Assim que a jovem entrou no apartamento, logo percebeu que o amigo não estava bem.

EDUARDA: Já percebi tudo. Aconteceu alguma coisa séria. Pode me contar agora.

ELVIS: Preciso mesmo conversar.

EDUARDA: É, precisa. Ultimamente você anda cheio de mistérios, não quer me contar as coisas… Eu sempre soube que isso não daria certo. Pode começar a contar o que aconteceu.

ELVIS: Bom Duda, quero que você me desculpe primeiro.

EDUARDA: Tá, já desculpei.

ELVIS: Quero também te pedir que depois dessa conversa finja que não sabe de nada entendeu?

EDUARDA: Não. Explica.

ELVIS: Eu não iria te falar nada agora de maneira precipitada. Você vai ficar sabendo de coisas, mas vai fingir que não sabe. Para todos os efeitos, nunca tivemos essa conversa.

EDUARDA: Nossa. O negócio é sério então.

ELVIS: Sim.

EDUARDA: Estou toda ouvidos para você.

ELVIS: Duda, Diego e eu estamos nos conhecendo. Nós estamos ficando.

Eduarda fica pálida.

EDUARDA: Eu te disse. Eu te disse. Um homem de verdade não beija o outro nem por esporte! Eu sabia que esse Diego posava de machão, mas no fundo ele tinha algo esquisito.

ELVIS: Pois é. O Diego já ficou com outros garotos, mas tudo muito discreto. Tão discreto que nem o João Pedro sabia.

EDUARDA: Não sabia… Agora ele sabe?

ELVIS: Sabe. E ficou sabendo da pior maneira possível. Ele nos viu beijando no tal Reviver.

EDUARDA: Puta que pariu! Hoje a escola vai ficar toda sabendo desse babado. O Diego está fudido!

ELVIS: Vai ficar sabendo? Espero que não seja através de você.

EDUARDA: Nunca! Através de mim não. O Diego me mataria. Mas o João Pedro é bem capaz de espalhar o babado só de mal.

ELVIS: Eu espero que não. Estou rezando para que isso não aconteça. Eu vou me sentir culpado.

EDUARDA: Você vai se sentir culpado de que criatura? Você não tem culpa do Diego ser gay!

ELVIS: Não é isso, Duda. Mas sim por ter exposto ele dessa maneira. A gente prometeu um sigilo absoluto sobre nós dois. Ele me fez prometer que nem você saberia. Por isso não queria contar.

EDUARDA: Ai você todo apaixonadinho foi logo obedecendo ele. Que absurdo deixar a amiga fora da situação!

ELVIS: Você me entende?

EDUARDA: Farei um esforço.

ELVIS: E agora o que eu faço?

EDUARDA: Nada.

ELVIS: Pensei em falar com o João Pedro. Até oferecer dinheiro se possível.

EDUARDA: Tá louco? Ele iria se aproveitar disso. Deixa que ele e Diego se resolvam, querido.

ELVIS: Estou com medo dessa história não acabar bem.

EDUARDA: Amigo, quanto a isso só o tempo. Agora desviando só um pouquinho o assunto, eu avisei para você não se meter com esse Diego. É roubada.

ELVIS: A gente não manda no coração. Eu gosto do Diego do jeito que ele é.

EDUARDA: Por ser sua amiga eu vou procurar entender, vou te respeitar e tudo. Mas não aprovo isso não amigo.

ELVIS: O Diego que eu conheço é muito diferente dessa imagem que você tem nessa cabeça.

EDUARDA: O Diego da minha cabeça é muito diferente desse Diego que você diz conhecer. Afinal de contas, qual é o Diego verdadeiro?

ELVIS: Eu sei. Só eu. E você nunca vai entender, talvez.

Depois dessa conversa que se estendeu por alguns minutos a mais, eles fizeram o trabalho da escola e Eduarda foi para casa. Elvis não conseguia tirar essa preocupação da cabeça. Diego tinha sumido e ainda não havia dado sinal de vida. Pouco antes de tomar banho para ir para escola, dona Elis deu uma passadinha em casa…

ELIS: Elvis cadê você?

Ele responde.

ELVIS: Estou no quarto!

Elis vai ao quarto e o encontra deitado na cama muito cabisbaixo.

ELIS: Filho, você ainda está dessa maneira? Não fiquei assim.

Elis procura consolá-lo com um abraço. Mas sente sua temperatura muito alta.

ELIS: Você está ardendo em febre filho!

ELVIS: Eu estou bem mãe.

ELIS: Não está mesmo. Filho você está ficando doente por causa desse assunto. Não se preocupe tanto.

ELVIS: Diego ainda não deu sinal de vida.

ELIS: Eu sei filho, mas nem por isso você vai perder a sua vida né? Vamos para um hospital agora.

ELVIS: Preciso ir para escola.

ELIS: De jeito nenhum. Vamos ao hospital. Lá você pega um atestado. Mas você não irá dessa maneira ardendo em febre para o colégio.

ELVIS: Mãe…

ELIS: Está decidido.

Elis ligou para o Instituto Daniel de La Touche e explicou o problema com Elvis. Elvis por sua vez ligou para Eduarda e falou que não poderia apresentar o trabalho.

Mais tarde no Instituto Daniel de La Touche… Diego entrou na sala enfurecido. Olhou para o fundo e viu que João Pedro estava no lugar de sempre. Logo Diego sentou na fila da frente.

ALMEIDA: Milagre. Sentou na frente por espontânea vontade?

DIEGO: Não enche.

SAMARA: O nosso Diego voltou! Seja bem vindo!

Diego ignorou a piada.

ALMEIDA: Olha que João Pedro vai sentir tua falta lá no fundão.

JOÃO PEDRO: Não mesmo.

DANIELA: Espera um pouco, é impressão minha ou todos estão sentindo que o clima está pesado entre os dois?

JEREMIAS: O casal brigou?

JOÃO PEDRO: Jeremias é melhor não provocar.

ALMEIDA: Gente, gente vamos acalmar os ânimos. Todos em silêncio e prestem atenção na aula. Livro na página 116, por favor. Estou sentindo a falta de alguém nessa sala.

EDUARDA: Elvis está doente professor. Ele precisou faltar.

ALMEIDA: Vai fazer falta.

SAMARA: O senhor está saindo um belo puxa-saco professor.

ALMEIDA: Por conta do comentário infame leia o texto inteiro da página 116, Samara.

Samara começa a ler. Diego, meio sem jeito, se vira para Eduarda e sussurra.

DIEGO: Ele está doente é?

EDUARDA: Sim. Está.

DIEGO: Hum.

EDUARDA: Porque o interesse?

DIEGO: Só curiosidade.

Diego se vira com o pensamento distante.

Pouco antes de acabar a aula do professor Almeida, o sistema de comunicação interno anuncia nos altos falantes.

VOZ: João Pedro Monteiro do terceiro ano médio, por gentileza compareça à sala da diretoria!

Todos na sala metralharam João Pedro com o olhar.

DANIELA: O que será dessa vez?

JOÃO PEDRO: Esse diretor me ama!

João Pedro se retira da sala atendendo o chamado. Ele foi para a sala da diretoria e lá ficou pelo horário seguinte inteiro. Quando começou o intervalo, João Pedro ainda não havia retornado. E muito se especulava a respeito daquela demora.

O pátio da escola estava em frenesi. Era sexta-feira. Véspera do fim de semana. Os alunos ficam em polvorosos. Diego parecia meio desorientado pelos corredores da escola. Estava nervoso, inquieto… Distraído esbarrou em um colega na entrada do banheiro masculino.

JONAS: Tá cego caralho?

Quando Diego ergueu a vista reconheceu a pessoa. Era Jonas, do segundo ano médio. Outro nome conhecido da diretoria do Instituto Daniel de La Touche. Problemático, brigão e extremamente mal encarado. Na verdade, a escola era divida entre o poderio de Diego e Jonas. Mas Diego por estar no último ano do ensino médio tinha mais moral e respeito. Jonas era o segundo na linha de sucessão na escola. Os dois não se davam nada bem exatamente por conta dessa rixa.

DIEGO: Da mesma maneira que eu enxergo, tu também enxerga babaca!

JONAS: Babaca é tua avó, otário!

Diego avança em Jonas e segura o colarinho da farda. Há uma luta corporal por alguns segundos. Alguns alunos começam a se amotinar.

DIEGO: Presta atenção no que tu fala da minha avó, filho de uma puta!

Jarbas, o vigilante da escola se aproxima e separa os dois.

JARBAS: Aqui não! Podem ir parando com isso.

DIEGO: Ele ofendeu minha avó e a mim primeiro!

JONAS: Esse idiota quase me atropela saindo do banheiro!

JARBAS: Eu não quero saber a versão de ninguém! Só que ninguém vai brigar aqui.

JONAS: Ok, aqui não pode. Mas lá fora o filho de uma puta aqui vai te pegar viu Diego? Te prepara. E eu não vou sozinho!

DIEGO: Está pensando que eu tenho medo de ti?

JONAS: Quero saber se tu és homem mesmo!

DIEGO: Eu provo pra ti otário!

Em instantes, o boato da briga se espalhou pela escola inteira feito rastilho de pólvora. Todos ficaram ansiosos para verem uma briga de titãs em plena sexta-feira: Diego versus Jonas. O boato dizia que Jonas e Maurício, outro aluno da escola, pegariam Diego na hora saída e este enfrentaria aos dois, pois não estava falando com João Pedro. Há também até os que diziam que João Pedro ajudaria Jonas e Mauricio a darem uma surra em Diego e isso faria do episódio algo épico.

Chegou a hora da saída. Os alunos que queriam ver a luta do século ficaram do lado de fora esperando Diego sair da escola. Jonas e Maurício já o esperavam. Assim que Diego terminou de pintar mais um trecho do muro ele saiu da escola. A turma meio dispersa logo se reuniu. Jonas e Maurício se aproximaram.

JONAS: O filho da puta aqui estava só te esperando.

DIEGO: E acompanhado por outro né?

MAURÍCIO: Eu ia deixar só meu parceiro te bater, mas depois disso que tu falou… Vai ver só!

Diego jogou a mochila para o lado e impõe os punhos.

DIEGO: Quem é o primeiro?

Daniela apanhou a mochila de Diego e disse.

DANIELA: Diego já viu que são dois contra um.

DIEGO: E você acha que eu ainda não percebi?

DANIELA: Meu pai deve tá chegando. Entra comigo no carro e vamos embora.

DIEGO: E ficar como arregão? Não mesmo!

DANIELA: Porra, será que tu não percebeu que vai levar a pior?

DIEGO: Mas pelo menos eu enfrentei. Não vou ficar com fama de medroso!

JONAS: O papo com a namoradinha tá demorando demais!

DIEGO: Ela não é minha namorada!

Daniela joga a mochila no chão.

DANIELA: Foda-se!

E sai pisando firme.

JONAS: Anda Diego, vem pro papai aqui!

Jonas e Maurício começam uma série provocações. Diego fica enfurecido e começa a caminhar em direção aos dois. Gritos se levantam na pequena plateia. Diego sente o coração disparar, a turma estava em frenesi. De repente… Uma mão pousa em seu ombro.

JOÃO PEDRO: Tu não vai entrar nessa cara!… Não sem mim.

Diego se vira e fica imensamente surpreso e nem tem o que falar. A “torcida” vai ao delírio com gritos de incentivo. João Pedro joga a mochila para o lado e junto com Diego se preparam para enfrentar Jonas e Maurício.

JOÃO PEDRO: Cara eu não sou muito bom com palavras, sendo assim, interprete isso como meu pedido de perdão por ter sido tão idiota com você!

DIEGO: Valeu cara. Eu sabia que podia contar contigo.

Diego e João Pedro de repente param. Dão um aperto de mãos e um abraço.

JOÃO PEDRO: Se for para ser amigo que seja para a vida inteira.

DIEGO: Eu podia te encher de pancada moleque!

JOÃO PEDRO: Agora não. Tem dois caras para a gente fazer isso.

JONAS: Que viadagem é essa?

JOÃO PEDRO: Viadagem não. Isso aqui é coisa de macho, caralho!

João Pedro e Diego partem para cima de Jonas e Maurício. Há uma distribuição gratuita de socos e pontapés. Todos os celulares estão apontados para o quarteto se esbofeteando. No meio da pancadaria Jonas e Maurício percebem que ainda são jovens demais para encararem a dupla dinâmica Diego e João Pedro. Eles fogem. Correm amedrontados debaixo da vaia de metade da escola. Mesmo com dores em todas as partes do corpo, Diego e João Pedro encontram forças para rirem dos dois covardes fugindo. E novamente voltam a se abraçar.

DIEGO: Valeu amigo.

JOÃO PEDRO: Mexeu contigo, mexeu comigo!

Após a briga e os paparicos dos demais presentes, os dois seguiram caminhando para casa.

JOÃO PEDRO: Me sinto o cara mais idiota de todo o planeta por ter agido daquela maneira.

DIEGO: Como você mudou de ideia assim?

JOÃO PEDRO: Sabe quando me chamaram na diretoria?

DIEGO: Sei.

JOÃO PEDRO: Pois é. Tinha uma mulher lá que eu nunca vi querendo falar comigo. Ela sabia meu nome e sabia também do que aconteceu na noite passada lá no Reviver.

DIEGO: Como assim cara?

JOÃO PEDRO: O nome dela é Elis. A mãe de…

DIEGO: … Elvis!

JOÃO PEDRO: Isso mesmo. Elvis contou tudo para ela, falou da minha amizade contigo e tudo mais. Dona Elis veio me dar uns conselhos. Falou sobre esse negocio aí de gay, falou como descobriu sobre o filho dela, disse que isso não era um bicho de sete cabeças e falou, sobretudo. de amizade. Em especial sobre a nossa.

DIEGO: Caralho, velho! Eu não estou acreditando que a dona Elis fez isso!

JOÃO PEDRO: É. Ela me deu o maior sermão. E isso fez a minha ficha cair!

DIEGO: Cara ela é muito legal.

JOÃO PEDRO: Gostei de ouvi-la falando. Tem um papo bem da hora! Teve uma coisa que ela falou que eu fiquei pensando o resto do tempo todo.

DIEGO: O que?

João Pedro citou a frase e relembrou dona Elis olhando profundamente para ele na diretoria.

ELIS: Ouça bem o que eu vou te falar João Pedro… A amizade que começa por interesse, certamente por interesse ela terminará. Do mesmo modo a amizade que começa com mentira, com mentira ela também vai terminar. Eu tenho certeza que a amizade de vocês não começou por causa de sexualidade, então porque ela terminaria por conta disso?

João Pedro sentiu a mesma vergonha do momento. Olhou para Diego e riu.

JOÃO PEDRO: Tu é o meu “parça”, cabeça de batata!

DIEGO: Cabeça de batata? Pô, era assim que tu me chamava na quarta série!

JOÃO PEDRO: É eu sei. Lembra como tu me chamava?

DIEGO: Cara de Pepino!

Os dois riem e começam a dar socos no braço do outro.

JOÃO PEDRO: Ah, estava quase me esquecendo. Dona Elis disse que Elvis estava com febre a tarde toda, mas ele já melhorou. Falou para nós dois irmos ao apartamento dela hoje a noite.

DIEGO: Sério?

JOÃO PEDRO: Sério, cara.

DIEGO: Velho, tu vai ficar louco quando tu ver a TV no quarto de Elvis!

E os dois caminharam apressados para irem logo para casa e fazerem a visitinha ao apartamento de Elis.

“Foi ao cair da noite naquele dia que tive uma das maiores surpresas da minha vida. Inesperadamente entraram pela porta do apartamento Diego e João Pedro. Meu coração quase saiu pela boca. Minha mãe havia combinado a visita sem nem me falar nada. João Pedro me pediu, sem jeito, milhões de desculpas pela maneira que me tratou no centro da cidade. Nem precisaria esse pedido! Ver ele junto com Diego como sempre foram bastaria tudo. Rimos, comemos, jogamos GTA, falamos alto, demos socos um no outro como qualquer garoto. Iguais por fora, diferentes por dentro. João Pedro havia compreendido isso. E no fim das contas entendeu e descobriu que dois homens podem se amar não só como casal de namorados, mas sobretudo, como amigos. Ele não falou com palavras, mas demostrou no ato de arrependimento que o amor presente na amizade fala mais alto que tudo! Eu estava realizado.”

(Trecho do diário de Elvis Braga)

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