Cantiga de Amor

Capítulo 52 – Cantiga de Amor (Última Semana)

Cena 01: Clareira na floresta.

Ricardo – Irmã Francisca! A senhora foi pega em flagrante e será levada à Santa Inquisição para ser julgada por ser uma praticante de bruxaria!

Sem parar de rir, a irmã Francisca começa a recuar. Gustavo e Santorini saem da floresta.

Francisca – (Dando gargalhadas) O que tu contaste a eles sobre mim, Gustavo? Que eu sou uma bruxa? Essa aparição do senhor, senhor bispo, não me assusta em nada! E tu, padre, vieste presenciar esse momento especial?

Gustavo – Eu não estou entendendo nada…

Ricardo – Irmã Francisca, pare já! A senhora não conseguirá fugir de nós! Eu posso já ser velho. Mas nem a senhora mais pode correr como uma garota. A senhora será julgada!

Francisca – (Rindo) Que me importa? Eu não pretendo fugir! Esse rapaz novo que veio com o senhor com certeza me alcançaria. Mas os senhores não irão me atrapalhar mais… O que eu tinha para fazer, eu já fiz. Eu tenho certeza de que a deusa Hera está feliz com esse sacrifício! Eu mesma estou muito alegre! Já fiz minha parte!

Santorini – Isso era um ritual de sacrifício?

Francisca – (Rindo) A grande deusa das vegetações, dona da sabedoria sobre a natureza, morreu no fogo, mas ressuscitou em mim! Na minha alegria, no meu riso! E os senhores chegaram tarde demais para impedir isso!

Rindo e girando, Francisca se dirige aos três. Ao chegar perto da fogueira, dança em volta do fogo. Até que se aproxima deles, e estende os braços para Ricardo.

Francisca – (Rindo) O senhor já pode me levar, e pode dizer ao mundo que eu sou uma fiel sacerdotisa da deusa Hera! Chega de fingimentos! Que se cumpra o meu destino!

Ricardo segura Francisca.

Santorini – Vamos embora. Eu não suportarei ficar aqui nem mais um segundo.

Eles saem, levando a freira, que, às gargalhadas, não oferece nenhuma resistência.

Cena 02: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone. Quarto de Adelmo.

Adelmo está deitado sobre o lençol que foi estendido no chão. Agnella está deitada fora do lençol, do outro lado do quarto.

Adelmo – Vem, Agnella… Eu prometo que não irá acontecer nada de mais contigo! Eu prometo que tudo ocorrerá do modo mais correto possível…

Agnella – Não importa se é do modo correto ou, Deus que me livre, do modo errado. Eu já repeti, e repetirei quantas vezes for preciso. Eu não serei tua. Eu sou de Gustavo. Eu só posso ser dele, e tu sabes disso. Somente dele, e de mais ninguém.

Adelmo – E tu não levas em conta meu amor por ti? Nem o fato de que Gustavo escolheu outra mulher?

Agnella – Chega, Adelmo! Eu não me entregarei a ti! Eu não me entregarei a homem nenhum, senão a Gustavo! E está decidido! Que fique claro uma coisa: esta noite eu não quero nem ao menos ser tocada por ti!

Adelmo – Então sai desse chão! Dorme no lençol… Ou toma o lençol para ti, que eu fico aqui, sem proteção, mesmo.

Agnella – Eu prefiro dormir sobre esse solo duro a passar a noite ao teu lado, ou a aceitar um favor teu. (Ela vira o rosto para a parede) Boa noite, Adelmo.

Adelmo – Boa noite, minha querida. Espero que durmas bem…

Cena 03: Exterior da Igreja del Fiume. Dia seguinte. Manhã.

Gregório – Essa era a última coisa que eu esperava dela… Irmã Francisca… Quem diria… Uma freira tão austera como ela, ser ao mesmo tempo uma sacerdotisa do demônio!

Gustavo – Foi uma cena assustadora, muito assustadora… Ver aquela mulher, que sempre fora tão rígida e séria, rindo, gargalhando, dançando em nossa frente, como se estivesse possuída… Ela disse até que a tal deusa tinha ressuscitado em seu corpo.

Cecília – Cruzes! Um calafrio atravessou todo o meu corpo agora.

Valentina – Mas a irmã Francisca nunca me enganou. Ou melhor, é claro que eu jamais imaginaria que ela levasse esse tipo de vida dupla. Porém eu nunca vi sinceridade nela. Ela era… Forçada.

Gustavo – Uma vez eu a vi pegando… Ou melhor, segurando um livro. Um livro que falava de chás e poções que eram produzidos de plantas, e que serviam para os mais variados interesses.

Valentina – (Fala para si) Como provocar um desmaio…

– Flashback –

Convento. Francisca jogou Valentina no chão do quarto, e tirou sua mordaça.

Francisca – Muito bem, (fala em tom jocoso) irmã Valentina. Agora que tu foste presa por teu senhor, não precisas mais fingir ser uma noviça. (Fala com um tom altivo) Mas deixa-me te confessar uma coisa. Desde o dia em que apareceste aqui, eu desconfiei que não querias ser freira. Que havia algo errado em tua entrada para esse convento. Até… Mexi em tua comida para justificar o castigo que te impus.

– Fim do flashback –

Valentina – Sim, agora eu entendi…

Gustavo – E então eu percebi que ela só poderia estar envolvida em algum tipo de bruxaria.

Gregório – E onde ela está agora? Ela foi presa em algum dos quartos da igreja?

Gustavo – Sim… O que me assustou também foi que ela não resistiu a isso. Pobre mulher… Fez seu destino.

O padre Santorini aparece na porta da igreja e acena para eles.

Gregório – Eu acho que o padre está nos chamando para comer a primeira refeição do dia.

Valentina – Vamos lá. Eu mesma estou precisando de algo para melhorar minha manhã.

Gregório – Depois nós podemos visitar meu pai. Quero que tu conheças a casa onde eu vivi.

Gregório e Valentina partem na frente.

Gustavo – Antes de entrarmos, eu queria te contar uma coisa. Eu irei conversar com meu pai daqui a pouco. Quero convencê-lo a… Permitir nosso casamento. Depois, eu pretendo falar com o teu pai.

Cecília – (Sorri) Eu tenho certeza absoluta de que ele te aceitará como meu esposo. Após termos passado por tantas descobertas em torno desse tesouro, ele deverá voltar atrás em sua decisão inicial.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Adelmo chega à sala, e encontra sua mãe e Leonor.

Adelmo – Bom dia, senhoras.

Simone – Bom dia, meu filho. Acordaste tarde hoje…

Adelmo – Na verdade, eu nem consegui dormir direito.

Leonor – Eu sei que eu serei um pouco indiscreta, rapaz. Mas é que eu realmente gostaria de saber: correu tudo bem ontem à noite?

Simone – Leonor! Isso é pergunta que se faça a meu filho?

Adelmo – Deixa, mãe, deixa. Eu até entendo tua curiosidade, Leonor. Só que, infelizmente, não aconteceu nada. Agnella se recusou, e eu não quis desrespeitá-la.

Simone – Mas como desrespeitá-la? Tu és o seu marido!

Adelmo – Ainda não, mãe! E eu só não quis brigar, nem forçá-la a nada. Todavia esse dia ainda chegará. O dia em que seremos de fato marido e mulher. Mas, falando nisso, onde está Agnella? A senhora a viu? Quando eu acordei da minha tentativa de dormir, ela não estava mais no quarto.

Simone – Eu não a vi. Pensei que ela estivesse contigo. (Grita) Inês! Inês, tu viste Agnella? Inês!

Ela vai até o quarto de Inês.

Simone – Inês não está aqui. Mas ela também não está em nenhum outro lugar da casa, senão eu saberia.

Leonor – As duas saíram daqui sem avisarem a ninguém.

Simone – Será que Inês foi à casa do outro camponês, o Pero? Eu irei até lá. Não posso permitir que eles reaproximem-se.

Adelmo – E eu irei aos pais de Agnella. Ela pode até estar lá. Mas se não estiver… Eu sei onde a encontrarei.

Cena 05: Nave da Igreja del Fiume.

Várias pessoas do povoado voltaram e estão ajudando a limpar a igreja. Agnella entra na igreja. 

Agnella – Onde deve estar Gustavo agora?

Agnella acaba esbarrando em uma mulher.

Anita – Ei, eu me lembro de ti! Foste tu quem me contou que esse falso tesouro estava na igreja!

Um homem que estava mais distante se aproxima.

Homem – Realmente. Eu me encontrava por perto e prestei atenção na conversa. Eu lembro que ninguém que estava comigo tinha sabido desse fato. Ou melhor, dessa história, porque era mentira!

Anita – Essa destruição toda… Foi culpa tua, então!

As pessoas que estavam no local se juntaram aos três.

Homem – Será que não percebes? Esse estrago só ocorreu por partir de ti, porque tu inventaste uma mentira! Por isso, tu terás que pagar por ter nos feito destruir a igreja!

Inês aparece, vinda do povoado.

Agnella – Do que o senhor está falando? Eu… Eu realmente disse a ela que o tal tesouro estava na igreja, mas eu… Eu tinha ouvido isso de outra pessoa! E eu nunca tive a intenção de destruir nada!

Mulher – Se isso for verdade… Quem foi essa pessoa?

Homem – Conte-nos! Ou tu serás responsabilizada por esses destroços que vês em tua frente!

Cena 06: Igreja del Fiume. Exterior. Minutos depois.

O mesmo homem reaparece, sozinho. O restante das pessoas espera do lado de fora.

Homem – Não havia ninguém no quarto.

Agnella – Brás deve ter fugido quando houve a invasão. Seu quarto estava destrancado…

Homem – Pois então nós iremos achá-lo. Não deve ter ido longe.

Cena 07: Arredores do Povoado das Hortaliças.

Brás sai da floresta, e começa a tomar o caminho do povoado.

Brás – Eu irei reassumir o meu lugar de marido de Inês, mesmo sem tesouro, pobre como antes. Isso não importa. Ou eu não me chamo Brás da Mata!

Alguém segura seu braço.

Homem – Brás da Mata, não é? Eu me lembro de ti. Tu virás comigo.

Em um rápido movimento, ele puxa os braços de Brás para trás das costas, imobilizando-o.

Brás – Mas o que é isso, a essa hora do dia? Quem tu pensas que és?

Homem – Será melhor para ti se permaneceres calado.

Brás – Calado coisa nenhuma! Eu quero saber o que queres!

Ele tapa a boca de Brás com sua mão, e se junta a outros homens.

Cena 08: Igreja del Fiume. Exterior.

Os homens chegam carregando Brás. Encontram-se com o padre e com Inês.

Santorini – O que está acontecendo aqui?

Homem – Padre, nós acabamos com o Templo Sagrado de Deus. E quem começou essa mentira vai pagar.

Santorini – Em nome de Deus e de Nossa Senhora, deixe que a igreja o responsabilize pelos seus atos…

Homem – Mesmo que eu quisesse, as outras pessoas não deixariam isso barato.

Brás – Largue-me! Eu não sou causador de nada! Ninguém aqui irá fazer nada comigo! Eu sou Brás da Mata! Um escudeiro do rei! Eu serei um homem rico, entendeu? Mais rico que todos vocês camponeses e todos os outros camponeses da região juntos! Largue-me!

Homem – Cala-te!

Brás – Eu não me calarei! Ninguém faz isso com Brás da Mata!

O homem leva Brás até um canto afastado, e o joga no chão, ajoelhado. O grupo que estava com ele o segue. Todos estão com os rostos desfigurados de raiva.

Santorini – O que vocês irão fazer com esse homem?

As pessoas começam a pegar pedras do chão. Inês se interpõe entre o povo e Brás.

Inês – (Fala para si mesma) Eu nunca pensei que eu fosse defender esse crápula… (Fala para os outros) Não façam nada com ele, pelo amor de Deus… Ele é meu marido!

Homem – Então saia a senhora do meio se não quiser sofrer as consequências dos atos dele! (Se vira para a multidão) Está na hora de fazê-lo pagar por essa tragédia!

Inês sai. Ele faz um sinal com a mão. Na mesma hora, uma chuva de pedras começa a atingir Brás, que tenta proteger o rosto com as mãos.

Inês – Alguém precisa tirá-lo dali… Eu, eu odeio esse homem. Mas não é assim que as coisas têm que ser feitas…

A chuva de pedras continua.

Santorini – Isso precisa parar. (Ele se dirige até a multidão) Continue a apedrejar esse homem o primeiro de vocês nunca cometeu pecado!

O líder solta sua pedra. Os outros o acompanham.

Santorini – (Enfurecido) Ouçam aqui! O que quer que esse homem tenha feito, nenhum de vocês tinha o direito de puni-lo segundo sua própria justiça! Nada, nada, nem mesmo o remorso de vocês justifica esse ato impensado!

Cabisbaixos, todos começam a voltar para a igreja. O padre se dirige a Brás, que, a essa altura, já está desacordado. Santorini olha por baixo de suas roupas, e descobre que quase todo ele está em carne viva. Inês se junta ao padre.

Inês – Por Deus, eu sou capaz de jurar… Eu nunca desejei esse tipo de castigo a ele. Nunca!

Santorini – Não é hora de lamentações. O que precisamos, e principalmente tu, Inês, é cuidar desse homem.

Inês – Mas será que ele sobrevive, padre?

Santorini – Não sei. Não sabemos. Não dá para saber. Somente Deus pode dar essa resposta.

Cena 09: Nave da Igreja del Fiume.

Brás foi colocado no chão da igreja. Inês está ao seu lado.

Homem – Fizemos outra besteira… Fomos tomados pela raiva… Matamos um homem… Padre, o senhor pode nos perdoar, não pode?

Santorini – Não o mataram. Porém ele está perto da morte. E, se ele morrer, mesmo que eu os perdoe, todos vocês carregarão para sempre essa culpa. Por favor, saiam daqui. Deixem em paz o homem que vocês feriram e a sua mulher. Saiam daqui!

Homem – Senhora Inês, se em alguma coisa precisares de nós, nós a ajudaremos. Tenho certeza de que todos se disporão a isso.

O homem sai e se junta aos outros, que esperam do lado do fora.

Inês – Cultivou tanto que foi isso o que ele ganhou… Se ele estiver consciente, padre, será que estará arrependido?

Cena 10: Igreja del Fiume. Ala dos aposentos. Quarto de Gustavo.

Edetto – Tu queres casar-te com Cecília? Com a neta do comerciante que traiu meu pai?

Gustavo – Pai, ela não tem culpa de nada. Muito menos o seu pai. Quem tem mais motivos para não querer esse casamento é o próprio Giancarlo, já que eu também traí sua confiança uma vez.

Edetto – Estás realmente certo disso, meu filho?

Izabella entra no quarto.

Izabella – Houve uma nova confusão. E aquele homem que quase roubou o tesouro, o Brás da Mata, ele foi apedrejado pelo povo. Parece que foram ele e a tal moça camponesa, a Agnella, que revelaram que o tesouro estava na igreja.

Edetto – É… Vês, meu filho, do que tu escapaste? Ainda bem. E eu espero, sinceramente, que tua futura esposa não te traga problemas. Vai lá, pede a seu pai a permissão para casares com ela!

Gustavo – Eu sabia, pai! Eu sabia que o senhor aceitaria!

Gustavo abraça o pai e a mãe, e sai do quarto. Dá de cara com Agnella.

Gustavo – Agnella? O que tu estás fazendo aqui? Tu estavas ouvindo a conversa que eu tive com meu pai?

Agnella – Eu ouvi, sim… Eu segui tua mãe, Gustavo, e ouvi teu pai falar em uma futura esposa. Era de mim que ele falava?

Gustavo – Por favor, Agnella, eu já te falei outras vezes que eu amo Cecília, que é com ela que eu desejo passar o restante dos meus dias…

Agnella – Mas Gustavo, sou eu quem te ama! O meu amor por ti é sincero, é puro!

Gustavo – (Se emociona) É sincero? É puro? A ponto de achares que eu sou apenas um interesseiro? A ponto de te unires a Brás, um homem que desejou destruir-me, que destruiu o meu noivado contigo e o meu primeiro noivado com Cecília? A um homem que só ambicionava um tesouro que não era seu? E que foi responsável pela destruição dessa igreja? É esse o amor que tu sentes por mim, Agnella? Desculpa-me, mas eu não quero um amor que desconfia do outro, que julga mal o outro, e que é obcecado pelo outro, sufocando-o, como é o sentimento que tu tens por mim, e que dizes ser amor!

Agnella – Mas é amor! Gustavo, eu te amo, sim! E nós dois já nos demos uma prova do amor que sentimos um pelo outro! Já construímos um laço!

Gustavo – Agnella, tu tens que esquecer isso. Foi bom no momento, contudo eu percebo que foi um erro o que nós cometemos…

Agnella – Não, Gustavo… Foi mais do que um acerto! (Esperançosa) Olha, Gustavo, eu sei que tu ainda te lembras daquele dia… Por tudo o que vivemos, meu amor, volta para mim…

Gustavo – Tudo o que vivemos me marcou, e te marcou, e profundamente. Porém os meus sentimentos são outros. E eu quero viver outra história…

Agnella – É isso o que desejas, Gustavo? Então saiba que, por mais que eu tenha seguido por caminhos tortuosos, dos quais eu me arrependo, eu somente fui movida pelo meu amor por ti. E se eu decidi seguir por eles, foi porque eu quis te preservar. Eu quis preservar a nós dois! Só que, se tu preferes que seja desse modo, assim irá ser. Eu apenas espero que tu não te arrependas depois. Aliás, eu sei que não te arrependerás. Porque o nosso amor está vivo. E ele prevalecerá. Ou nós seremos um do outro novamente, Gustavo, ou não seremos de mais ninguém.

Agnella deixa Gustavo e toma o caminho da volta.

Gustavo – Agnella! O que irás fazer? (Ela não responde.) Ai, meu Deus… Eu preciso impedi-la de cometer algum equívoco.

Cena 11: Nave da Igreja del Fiume.

Inês está ao lado de Brás. Simone, Leonor, Pero, Adelmo, Prudência e Enzo estão junto a ela.

Simone – Eu fiquei preocupada contigo, minha filha, não posso mentir. Tu viste tudo? Não tiveste nenhuma relação com isso, não é?

Inês – Claro que não, mãe! Eu realmente estava vindo tirar satisfações com Brás… Porém eu não aguardava que o encontraria nesse estado…

Pero – Eu sinto muito, Inês. Mesmo sendo Brás quem é, eu também nunca chegaria a desejar algo desse tipo a ele.

Leonor – É uma pena… Até porque tu terás que ficar ao lado desse homem até que Deus o leve, não é?

Prudência – Inês, Simone, se vocês precisarem da nossa ajuda, tenham certeza de que estaremos à disposição de vocês.

Inês – Muito obrigada, senhora. Mas eu acho que a senhora deveria se preocupar com sua filha…

Enzo – O que tem Agnella? Por que estás dizendo isso?

Inês – Porque foi ela quem espalhou para o povo a história que Brás teria inventado, e que resultou na destruição da igreja. Eu só não sei por quê.

Enzo – Agnella, Agnella… Mais uma vez metendo os pés pelas mãos!

Adelmo – Mas onde está ela agora?

Cena 12: Igreja del Fiume. Quarto de Giancarlo.

Cecília – O senhor disse que queria falar comigo, pai?

Giancarlo – Sim, minha filha. Ontem, eu descobri uma coisa, e ia te contar, porém com toda aquela confusão, eu acabei me esquecendo.

Cecília – Bem, mas o senhor já pode contar agora. É alguma coisa séria?

Giancarlo – Séria e preocupante. Quando nós voltamos do rio, ontem de manhã, eu vim guardar o teu colar, que Brás havia roubado, e dei pela falta do outro. Procurei em todos os lugares, porém não o achei.

Cecília – Então… Alguém roubou o colar? Mas para quê? Qual a importância dele?

Giancarlo – Não tenho certeza sobre as respostas para nenhuma das tuas perguntas. A não ser pela primeira. Alguém roubou o colar que esteve com Gustavo. E eu estou certo disso porque, hoje, eu descobri que o outro colar também sumiu.

Cena 13: Igreja del Fiume. Sala de recepções.

Ricardo – Bem, padre, o senhor sabe como funcionarão as coisas. O senhor e Gustavo serão também testemunhas do que aconteceu ontem à noite.

Santorini – Sim, bispo, eu entendo perfeitamente. Eu apenas lamento, não é? A irmã Francisca, que sempre pareceu se dedicar tanto à obra desse convento… Descobrir-se envolvida com o inimigo de Deus, algo que ela condenava veementemente. Ou pelo menos, dizia condenar.

Ricardo – Não são mesmo assim muitos de nós? Mas é preciso retirar o joio do trigo, padre. E jogá-lo ao fogo…

Agnella entra, ofegante.

Santorini – Agnella… O que houve? Parece até que estavas correndo. Por acaso estás procurando por Gustavo? Porque se for, eu gostaria de te avisar…

Agnella – Eu não estou procurando por ele, padre. Na verdade, eu procurava o senhor, e o bispo também. Porque os senhores são os homens capazes de fazerem se cumprir a justiça.

Santorini – Eu não estou compreendendo. Do que falas?

Gustavo entra no recinto.

Gustavo – Agnella, vamos conversar melhor. Tu estás muito agitada.

Agnella – Já conversamos o suficiente, Gustavo! A minha palavra agora é com o padre! Padre, diz-me: o que acontece quando duas pessoas têm, digamos… (Encontra resistência interna, mas consegue falar) Relações… Carnais… Quando isso ocorre com um homem e uma mulher… O senhor está entendendo o que eu estou falando?

Santorini – (Assumindo feição séria) No caso, em uma situação fora do casamento e sem a intenção de gerar um filho, como é o permitido por Deus?

Agnella – Exatamente.

Gustavo – Agnella, por favor…

Ricardo – Calma, meu rapaz. Eu posso responder à pergunta dela, padre. Cara moça, se isso acontecer antes do casamento, as duas pessoas terão a obrigação de casar-se. Caso contrário, caso seja um adultério, então a punição é mais séria, e envolve até proibição de relações futuras.

Santorini – Mas, Agnella, por que a pergunta? Não irás me dizer que…

Adelmo, Enzo e Prudência chegam à sala de recepções.

Agnella – Eu e Gustavo, padre, cometemos esse pecado uma vez. Nós dois… E, por isso, nós deveremos nos casar. Não foi isso que o senhor acabou de dizer?

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