O Último Ano

Capítulo 5 – O Último Ano

O ÚLTIMO ANO

O FLAGRA

“Eu me sentia o mais especial de todos os homens da terra. Ou pelo menos do colégio! O fato era que conhecer um lado secreto do Diego me fazia sentir estar vivendo num jogo onde só eu era o vencedor. Ninguém conhecia o Diego que estava no meu quarto. Não me refiro somente a um Diego que sente atração por meninos, mas muito mais que isso. Existia um Diego carinhoso, brincalhão, sorridente, atencioso… Eu me apaixonava de maneira inevitável. Mesmo se eu não tivesse conhecido aquele Diego, e mesmo que ele não existisse, ainda assim eu me apaixonaria. Mas, infelizmente, tanto eu como ele, sabíamos que estávamos correndo riscos…”

(Trecho do Diário de Elvis Braga)

Elvis acordou radiante. Na noite anterior Diego e ele haviam se acertado. Os dois estavam ficando. Mas tudo deveria acontecer sob total sigilo. Inclusive Duda, a pedido de Diego, não deveria saber. Pelo menos não por enquanto. Os dois jogaram videogame o resto da noite e trocaram muitos carinhos sem passar dos limites. Enfim, dona Elis levou Diego em casa. Claro que o resto da madrugada eles ficaram dependurados no telefone até que dormiram. Elvis mal podia esperar o dia amanhecer para chegar a hora de ir para a escola. Enfim a hora chegou. Eduarda encontra com Elvis na porta da sala de aula.

EDUARDA: Alguém ontem resolveu desaparecer e nem deu sinal de vida né?

ELVIS: Desculpa amiga, mas eu estava muito ocupado.

EDUARDA: Eu posso saber com que? Não havia nenhuma atividade para ser feita em casa.

ELVIS: Me ocupei com outras coisas Duda.

EDUARDA: Muito estranho isso mocinho. Fiquei até preocupada. Liguei inúmeras vezes para você, mas caía direto na caixa postal.

ELVIS: Duda era uma coisa muito importante.

EDUARDA: Que coisa importante seria essa que você não vai contar para sua melhor amiga? Acho que sou sua melhor amiga, não sou?

ELVIS: É, mas no momento, melhor amiga, eu não posso. Mas tenho certeza que em breve poderei falar abertamente com você sobre o assunto. Preciso só que o tempo resolva as coisas.

EDUARDA: Tudo bem senhor mistério.

Diego chega à sala e passa pelos dois que ladeavam a porta como recepcionistas.

DIEGO: Oi Elvis.

ELVIS: Oi Diego!

Assim que Diego se afasta o suficiente Eduarda explode.

EDUARDA: Juro que não ouvi isso. O cara fez o que fez e ainda cumprimenta você. E pior, você respondeu!

ELVIS: Duda, não foi Diego que fez aquilo.

EDUARDA: Mas ele deve estar por trás. Cara hoje eu cheguei e vi uma galera falando de você daquele jeito… Piadinhas, chacotas…

ELVIS: Duda eles podem falar o que quiserem. Isso não vai me atingir nem um pouco!

EDUARDA: Eu sei que não vai. Mas fica chato ver o pessoal agora te chamando de veadinho, gay, qualhira…

ELVIS: Qualhira? O que é isso?

EDUARDA: Você é novo aqui, não sabe ainda. Só aqui no Maranhão chamamos gays de qualhiras. Depois te conto o porque. Mas o que não posso admitir é que você agora fale com Diego como se nada tivesse acontecido!

ELVIS: Não foi o Diego! Foi o João Pedro.

EDUARDA: Farinha do mesmo saco amigo. Estou te avisando… Não dê confiança para Diego!

Eduarda sai. Samara de aproxima de Elvis.

SAMARA: Fala Elvis! Tudo bem?

ELVIS: Tudo ótimo Samara. E com você?

SAMARA: Só não estou melhor porque não consegui dormir depois daquela bomba de ontem!

ELVIS: Que bomba?

SAMARA: Que você joga no mesmo time que eu.

ELVIS: Não força Samara.

SAMARA: Que vida é essa gente? Os homens bonitos se dividem em dois grupos. Os compromissados e os gays. Fico chateada com um desperdício desses!

Elvis ri.

SAMARA: Mas se por algum acaso você quiser provar a fruta aqui, é só entrar em contato que eu faço esse enorme sacrifício.

Daniela ouvia tudo sentada próximo a eles.

DANIELA: Para mim não seria sacrifício algum!

SAMARA: No seu caso o sacrifício quem faria seria ele, querida. Porque ficar com mulher feia ninguém merece!

Alguns presentes riem. Professor Almeida entra na sala.

ALMEIDA: Boa tarde gente bonita!

JOÃO PEDRO: Há suas exceções!

ALMEIDA: No caso você né João Pedro?

A turma ri.

ALMEIDA: Todos colocando a apostila sobre a mesa e abrindo na página 67. Todos calados. Diego venha para a cadeira da frente!

DIEGO: De novo?

ALMEIDA: Acostume-se. Não quero você sentado nesse fundão!

DIEGO: Cara eu vou ficar quietinho prometo!

ALMEIDA: Duvido.

DIEGO: Quer apostar?

ALMEIDA: Não, obrigado. Mas duvido que fique em silêncio até o final da aula.

DIEGO: Pois eu vou lhe provar. Se me ouvir falar uma sílaba sequer pode me colocar para fora da sala.

ALMEIDA: Fechado!

JOÃO PEDRO: E que os jogos comecem!

A turma ri da piada de João Pedro. Almeida começa a escrever na lousa dando de ombros para a turma. Elvis coloca a mochila sobre o colo e pega o celular. Ele envia uma mensagem de texto para Diego.

ELVIS

Gostei de ver!

DIEGO

Mandei bem né?

ELVIS

 Mandou muito bem!

DIEGO

Elvis queria te levar em um lugar hoje a noite.

ELVIS

Que lugar?

DIEGO

No Reviver.

ELVIS

O que é isso?

DIEGO

O centro histórico de São Luís. Dia de quinta feira a noite é muito maneiro por lá.

ELVIS

Acho que podemos ir sim.

ALMEIDA: Senhor Elvis posso saber o que você tanto mexe nessa sua mochila?

Elvis fica surpreso, mas disfarça bem.

ELVIS: Estava desligando o celular para não atrapalhar na aula. Algum problema?

ALMEIDA: Viu só turma? Esse que é um aluno exemplar.

SAMARA: E gay!

ALMEIDA: Então seja gay também!

JOÃO PEDRO: Você poderia ficar sem essa Samara!

SAMARA: Fui humilhada, mas estou no lucro!

ALMEIDA: Vamos concentrar na aula. Chega de divagações.

Elvis volta a mandar mensagem para Diego.

ELVIS

A gente não vai poder conversar no intervalo. Mas vou encontrar com você quando estiver pintando o muro ta?

DIEGO

Ok. Vou aguardar você na quadra.

As aulas seguintes passaram quase que voando até chegar o intervalo. Elvis e Diego já haviam combinado de antemão que dentro da escola não manteriam nenhuma espécie de contato para não levantar suspeitas, portanto, no intervalo cada um estava com sua turminha.

Eduarda lanchava com Elvis, que deixou o celular tocando a música Macaé de Clarice Falcão sobre a mesa.

EDUARDA: Você anda meio distraído hoje… Parece que os pensamentos estão em outra dimensão.

Elvis ri.

EDUARDA: E essa música então! Já repetiu um milhão de vezes. A qualquer momento o sistema do seu Iphone vai pedir socorro!

ELVIS: Não exagera Duda. Eu apenas estou feliz.

EDUARDA: Mas ninguém fica feliz assim do nada! A não ser que você esteja sob o efeito de algum entorpecente. Aconteceu algo e você não quer me contar.

ELVIS: Isso você sabe. Assim como sabe que lhe falei que não pretendo contar agora. Somente no momento certo.

EDUARDA: Ih amigo, esse seu mistério está me deixando com os nervos à flor da pele.

ELVIS: Calma Duda. Não se preocupe. Você será a primeira a saber.

EDUARDA: Também passou toda a aula da professora Zuleide escrevendo nesse caderninho novo aí. Posso ver?

ELVIS: Também não.

EDUARDA: Merda!

Diego estava do outro lado da escola junto com João Pedro, Samara e Daniela. Diego estava com fones de ouvido.

SAMARA: Hoje ele está muito zen. Todo caladão, distante que só ele!

JOÃO PEDRO: Acho que a dose da erva foi grande demais hoje.

DANIELA: E ele vem exagerando na dose a uns três dias, ne? Ele me deixou na mão outro dia. A casa estava liberada, o convidei, mas recebi só um bolo.

Diego nem dava ouvidos.

JOÃO PEDRO: Diego! Planeta Terra chamando! Diego cara!

Daniela puxa os fones de ouvido.

DANIELA: Está surdo Diego?

DIEGO: Ainda não. Mas se você continuar gritando assim eu irei ficar rapidinho Daniela.

DANIELA: O que você tanto escuta? É uma espécie de mantra?

Daniela põe os fones de ouvido.

DANIELA: Que droga é essa?!

DIEGO: Isso não é droga. É música!

SAMARA: Falou o ministro da cultura!

DIEGO: Isso é Clarice Falcão.

DANIELA: Muito lenta pro meu gosto. Música de bicha!

JOÃO PEDRO: Ih meu brother! O Elvis é o gay, mas é você que escuta música de bicha?

Diego se levanta.

DIEGO: Porque vocês tem que falar isso do cara? Poxa, eu duvido se ele fala de vocês. O cara está lá vivendo a vida dele numa boa e vocês aí se preocupando porque ele gosta de homens!

DANIELA: Para que tudo isso Diego? Agora é ativista?

DIEGO: Não, pô. Não é isso. Mas tipo, malzão ficar falando dele com esse tom de deboche só porque ele curte algo diferente dos outros meninos. Deixa ele viver a vida dele.

JOÃO PEDRO: Ok, ok, me perdoa tá bom? Não está mais aqui quem falou.

DIEGO: Que saco!

Diego sai.

JOÃO PEDRO: O cara tá diferente. Falando sério, esse não é meu amigo Diego não. Alguma coisa tá acontecendo.

DANIELA: Ele nunca te falou nada?

JOÃO PEDRO: Diego? Se abrir para alguém? Impossível.

SAMARA: Nunca vi ele dessa maneira. E essa cantora aí que ele está ouvindo… Clarice o que?

DANIELA: Falcão.

SAMARA: Sinto falta do Diego que só ouvia rock pauleira!

JOÃO PEDRO: Vou procurar saber o que está acontecendo com ele.

O tempo continuou a avançar dentro do Instituto Daniel de La Touche. Passaram as últimas aulas até que, por fim, todos estavam liberados. Menos Diego que se apressou em ir para a quadra pintar o muro. Claro que o motivo da pressa era outra. Assim que lá chegou, Diego olhou em todas as direções. Até que quem ele esperava apareceu.

ELVIS: Buuh!

DIEGO: Pensei que você não viesse. Meu celular descarregou.

ELVIS: Mas eu havia combinado. Sou homem de palavra.

DIEGO: Deu para perceber.

ELVIS: E você como está?

DIEGO: Precisa perguntar isso? Estudamos na mesa sala. Deve ter percebido que eu estava me comportando bem ne?

ELVIS: Outro homem.

Os dois silenciam e se entreolham. Elvis se aproxima e abraça-o.

ELVIS: Você disse que vai me levar a um lugar hoje.

DIEGO: Sim, no Reviver. Já visitou o centro histórico de São Luís?

ELVIS: Ainda não. Mas já vi fotos. É lindo.

DIEGO: Pois se prepare Elvis. A noite é muito mais bonito. Com certeza será um dos passeios mais marcantes que você já fez um dia.

ELVIS: Nossa. Pois vamos logo pintar esse muro. Já estou curioso e apreensivo.

Ao som do álbum Monomania de Clarice Falcão, os dois pintaram o pedaço do muro referente aquele dia. Por fim, Diego foi guardar o material de pintura enquanto Elvis saía da escola aproveitando que Diego distraía o vigilante. Minutos mais tarde os dois se encontraram do lado de fora da escola.

ELVIS: Que horas a gente se encontra?

DIEGO: Por volta de sete e meia.

ELVIS: Vamos nos apressar então que já são seis horas.

Às vezes achamos que estamos sozinhos, mas sempre tem alguém nos vigiando… A certa distância deles estava João Pedro que havia acabado de sair da escola porque estava cortando a grama do campo de futebol. João Pedro ficou olhando os dois juntos por algum instante… Tentou ligar para o celular de Diego, mas só caía na caixa postal. Em seguida Diego e Elvis se despediram. João Pedro foi para casa, confuso com o que viu.

Mais tarde naquela noite… Dona Elis foi deixar Elvis em frente ao Terminal de Integração da Praia Grande no centro de São Luís. Aquele era o lugar marcado para os dois se encontrarem. Antes de chegar Elis e Elvis conversavam.

ELIS: Filho posso te fazer uma pergunta?

ELVIS: Outra pergunta né? No caso a senhora já fez uma.

ELIS: Bobo.

ELVIS: Pode fazer.

ELIS: Você e o Diego estão muito próximos… Vocês tem alguma coisa além de amizade?

Elvis fica corado de vergonha. Mas enfim responde, porque nunca teve segredos com sua mãe.

ELVIS: Bom, mãe a gente está se conhecendo somente.

ELIS: Você gosta dele meu filho?

ELVIS: Sim eu gosto mãe. Gosto muito.

ELIS: Olha filho, você saber que eu sempre vou lhe apoiar em tudo. Mas tenha cuidado. Você é novo nessa cidade, mal o conhece. Cuidado para não se magoar.

ELVIS: Eu vou tomar esse cuidado mãe. Na verdade já estou tomando.

ELIS: Que bom. A família dele sabe que ele é gay?

ELVIS: Não. Ainda não. E pelo que me parece nunca iriam aceitar.

ELIS: Complicado. Filho toma cuidado. Eu acho Diego um menino legal, mas vai com calma ta?

ELVIS: Tá certo mamãe. Já chegamos.

De dentro do carro, Elvis logo avistou Diego parado próximo ao Terminal. Ele havia colocado a melhor roupa. Logo abriu um sorriso quando reconheceu o carro. Elis parou e Elvis desceu do carro.

ELIS: Oi Diego.

DIEGO: Oi dona Elis. Tudo bem?

ELIS: Tudo sim. Espero que fique tudo bem essa noite com vocês. Tomem cuidado.

DIEGO: Pode deixar.

ELIS: Qualquer coisa me ligue. Beijos.

Elis então partiu. Elvis e Diego mal podiam acreditar que estavam saindo juntos como um casalzinho.

Longe dali João Pedro ainda estava intrigado com o que viu mais cedo. Portanto resolveu ligar para Diego, mas não dava certo. Ligou então para a casa dos avós dele. Dona Rosa atendeu o telefonema.

JOÃO PEDRO: Alô, Diego?

ROSA: Aqui é avó dele. Diego saiu.

JOÃO PEDRO: Oi dona Rosa é o João Pedro amigo do Diego, lembra?

ROSA: Sim, lembro. Como vai meu filho? Já tratou daquele furúnculo no seu pé?

JOÃO PEDRO: Já, já sim. Muito boa aquela pomada que a senhora me indicou. Mas me diga uma coisa, para onde o Diego foi?

ROSA: Ele disse que iria para o Reviver com os amigos.

JOÃO PEDRO: Ah.

ROSA: Pensei que você estivesse com ele.

JOÃO PEDRO: Não dona Rosa, faz dois dias que estou doente. Nem estou indo para a escola.

ROSA: E o que você tem agora meu filho?

JOÃO PEDRO: Diarreia. Agora preciso desligar. Abraço.

João Pedro ligou para Samara, Daniela e outros amigos. Nenhum deles sabia do paradeiro de Diego. Mas ele tinha uma informação preciosa em mãos e resolveu ir ao Reviver sondar o que poderia estar acontecendo. Por morar próximo ao centro João Pedro levou poucos minutos para chegar ao Reviver.

Enquanto isso Diego guiava Elvis pelos becos, escadarias e esquinas do centro histórico de São Luís. Sob a luz dos lampiões, as fachadas dos enormes e antigos casarões ficavam ainda mais belas. A quinta feira era bastante animada. Havia turistas, cantores fazendo shows em bares, gente jovem dançando, bebendo, paquerando e muito casal gay.

DIEGO: Te trouxe hoje aqui porque este dia é tecnicamente do público GLBT.

ELVIS: Sério? Estou adorando esse lugar. Muito animado. Da próxima eu trago minha mãe.

DIEGO: É bom trazer na sexta-feira. É o dia mais família.

Eles caminharam até uma enorme escadaria na Praça Nauro Machado e sentaram em um dos degraus.

DIEGO: Você está gostando mesmo né?

ELVIS: Sim. Muito.

DIEGO: Quer beber alguma coisa? Um vinhozinho.

ELVIS: Não, eu não bebo Diego.

DIEGO: Ah é mesmo. Desculpa.

Elvis silenciou por um instante até surpreender Diego com um selinho. Diego, no reflexo, se afasta um pouco, assustado.

ELVIS: O que foi?

DIEGO: Fiquei surpreso apenas. Não esperava o beijo.

ELVIS: Todos estão se beijando. Você tem vergonha né?

DIEGO: Não é vergonha. Nunca beijei homem em público.

ELVIS: Beijou agora. Você morreu por conta disso?

Diego ri.

DIEGO: Tenho medo que alguém conhecido me veja.

ELVIS: Entendo.

Diego percebe que Elvis fica um pouco triste. Então ele toma a iniciativa e dá um beijo mais longo em Elvis.

Nesse mesmo instante, João Pedro chega ao Reviver. Ao colocar o pé na Praça Nauro Machado, ele dá uma olhada ao redor e de longe avista Diego.

JOÃO PEDRO: Puta que pariu!

Diego e Elvis estavam se beijando. João Pedro ficou com o coração quase saindo pela boca.

Ao abrir os olhos Elvis dá uma olhada para a praça e logo reconhece aquele garoto franzino petrificado olhando para eles dois se beijando.

ELVIS: Diego!

DIEGO: O que foi?

ELVIS: Olha quem está ali.

Diego olha na mesma direção. Ao reconhecer João Pedro, Diego fica pálido, seu coração dispara e a boca fica seca. João Pedro dá de ombros e sai caminhando apressado. Diego dá um salto e sai correndo atrás de João Pedro. Elvis corre logo atrás. Próximo ao Teatro Odilon Costa Filho, Diego alcança João Pedro…

DIEGO: João! Espera um pouco! Eu vou te explicar!

João Pedro se vira de súbito.

JOÃO PEDRO: Sai de perto de mim! Quero nem papo contigo meu irmão!

DIEGO: Cara eu te explico tudo.

JOÃO PEDRO: Vai explicar o que? Eu já entendi cara. Eu vi você beijando esse outro veado.

DIEGO: João Pedro cara, nós somos amigos.

JOÃO PEDRO: Amigos? Tá louco?! Desde quando eu tenho amigo veado?

Elvis se aproxima.

ELVIS: Calma gente. Vamos conversar.

JOÃO PEDRO: Tenho nada para conversar com vocês. Volta lá para o namorico dos dois. Pode voltar, eu já estou indo embora.

João Pedro volta a sair caminhando, Diego segura ele pelo braço.

DIEGO: João Pedro, vamos conversar cara. Eu tenho que te explicar.

JOÃO PEDRO: Eu já falei que não precisa me explicar nada, caralho! E me solta!

João Pedro dá um empurrão em Diego. Este por sua vez fica enfurecido e avança para bater em João, mas Elvis se coloca entre os dois.

ELVIS: Parou! Todos nós aqui somos homens…

JOÃO PEDRO: Olha quem fala!

ELVIS: Sou homem sim. Diego também é. Mas você João Pedro está se comportando como uma criança.

JOÃO PEDRO: Quer saber? Vai tomar no seu… Ah, não vai não! É capaz de você gostar, né? E eu quero é que você se exploda!

João Pedro sai. Diego fica arrasado sem saber o que fazer.

DIEGO: Agora eu to fudido!

ELVIS: Desculpa Diego.

DIEGO: Cara isso não era para ter acontecido.

ELVIS: Eu sei. Por isso estou pedindo desculpa. Acabei te expondo demais.

DIEGO: De boa Elvis. Nem me preocupo com isso. O negócio é que João Pedro é meu melhor amigo. Logo, logo a turma vai perceber que a gente ficou estranho um com o outro. O que eu vou dizer?

ELVIS: Tenta conversar com ele depois. É normal o jeito que ele ficou. Eu entendo. Depois passa.

DIEGO: Mas pelo o que eu conheço ele, isso não vai passar assim. Ele odeia veado. Odeia.

ELVIS: Mas Diego se ele for amigo de verdade, vai continuar gostando de você normalmente.

DIEGO: Sinceramente eu não sei. Estou preocupado. Vamos embora.

ELVIS: Vou ligar para minha mãe vir buscar a gente.

DIEGO: Peça ela para vir buscar você. Eu vou atrás do João Pedro. Tenho que impedir que algo pior aconteça.

Elvis nem contestou. Ligou para sua mãe e logo ela veio busca-lo. Diego saiu do centro histórico em direção à casa de João Pedro. Conseguiu alcança-lo na porta.

DIEGO: João Pedro, eu quero falar com você!

“A noite tinha tudo para ser perfeita. Quando minha mãe foi me buscar entrei calado no carro sentindo um forte aperto no coração. Não queria ver meu Diego daquela maneira. Ele estava preocupado, amedrontado… Estava passando por algo que nunca passou na vida. Seu melhor amigo havia flagrado ele de uma maneira que ele nunca poderia imaginar. Diego se sentia nu, descoberto, envergonhado e eu compreendia ele perfeitamente. Queria ajudar, e iria ajudar sim ele a superar o preconceito partindo de alguém tão próximo dele. Eu queria proteger Diego, queria cuidar… Meu coração chorava. Eu chorava. Queria um mundo perfeito para que ele nunca passasse por isso.”

(Trecho do diário de Elvis Braga)

 

 

 

 

 

 

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