Cantiga de Amor

Capítulo 47 – Cantiga de Amor (Reta Final) – Revelações!

Cena 01: Arredores do Povoado das Hortaliças. Meio-dia.

Giancarlo – Vamos lá. Precisaremos ter a maior discrição possível.

Gustavo – Ou então…

Edetto – Nós seremos a caça para esses criminosos.

Giancarlo, Gustavo, Edetto e Gregório começam a seguir, discretamente, o bando de saqueadores.

Gregório – Quantas pessoas não devem estar mortas, meu Deus… Deveríamos socorrê-las…

Edetto – Infelizmente não há mais o que fazer. A chuva não está forte o suficiente para aplacar o fogo. Nós seremos queimados se entrarmos aí.

Giancarlo – E ainda perderemos estes homens de vista. Andemos.

Outra pessoa os observa, enquanto os segue de perto.

Brás – Aguardemos, meus caros. Vejamos quem será a primeira pessoa a conseguir esse baú.

Cena 02: Igreja del Fiume. Final da tarde.

Várias pessoas choram na igreja. O padre está atordoado.

Santorini – Meu Deus… Isso foi um castigo, meu Deus… Mas por quê? O que fizemos para merecermos tudo isso?

Francisca – Por causa de uma pessoa, muitas podem pagar. O pecado de um único filho recaiu sobre todos nós!

Santorini – De que a senhora está falando, irmã?

Francisca – Da desobediência, padre. Somente a desobediência pode ter provocado tudo isso. Porém o senhor ainda entenderá o que eu quero dizer. O senhor verá como eu tenho razão.

Francisca sai, misteriosa.

Santorini – Será que a chuva apagou o incêndio no povoado? E a floresta ao redor, meu Deus…

Um grupo chega à igreja. Nele, está Enzo.

Enzo – Padre, temos duas notícias para dar-lhe. Uma boa e outra ruim.

Santorini – Conte-me a ruim, primeiro. Quem a sabe a boa não aplaca a primeira…

Enzo – Ninguém que tentou resistir conseguiu sobreviver. Nós contamos que pelo menos 10 famílias morreram queimadas, fora os outros que já estavam mortos. A boa notícia é que a chuva que Deus enviou acabou com o fogo. A maioria da estrutura das casas não foi abalada, e a floresta foi pouco atingida.

Santorini – Minha Nossa Senhora, tende piedade desse povo. E ajuda-nos a passar por essa tribulação…

Cena 03: Floresta. Acampamento.

Era uma espécie de clareira. Os saqueadores montaram barracas de pano, amarraram os cavalos e as carroças. Estavam em festa. A chuva parou. Um animal estava sendo assado na fogueira.

Homem 1 – Acho que essa tarde de hoje merece uma comemoração!

Homem 2 – Eu também acho! E eu já sei como!

Um deles entra em uma barraca. Valentina está amarrada.

Homem 3 – Ei, moça valente, só vim avisar que daqui a pouco nós iremos festejar as nossas conquistas. E todos fazemos questão de que tu estejas conosco…

Ele sai, rindo. Valentina fica agitada, e descobre uma pedra pontiaguda no chão. Com esforço, se dirige a ela e começa a raspar as cordas que prendem suas mãos. Lá fora, os saqueadores começaram a beber.

Homem 1 – Vamos brindar! Cada um de nós merece parabéns pelo sucesso que temos tido! Eu quero que todos nós nos fartemos!

Todos dão urros de alegria. A festa continua.

Cena 04: Floresta. Acampamento. Meia hora depois.

Dentro de sua cabana, Valentina conseguiu, enfim, se livrar das cordas de suas mãos. Ela, então, desamarrou seus pés e a mordaça que estava em sua boca. Olhou em direção à saída da cabana. Havia a sombra de um homem.

Valentina – Por que esse outro não vai beber com os demais?

Valentina esperou um tempo, até que viu a sombra do homem sumir. Aproveitou para espiar o lado de fora. Todos estavam distraídos, totalmente bêbados. Ela valeu-se do momento, correu para trás de sua barraca, e entrou na floresta.

Cena 05: Floresta.

Gustavo, Gregório, Edetto e Giancarlo estão andando na floresta.

Gustavo – Está ficando escuro. Temos que chegar logo a esse acampamento, ou então não conseguiremos fazer nada!

Edetto – Tem calma, meu filho. Já estamos perto.

Gregório – (Sussurra) Silêncio. Eu ouvi um barulho. Parece que está vindo para cá.

Giancarlo – Se for um animal, é melhor ficarmos atentos…

O barulho se aproxima. Eles se “armam”, com a intenção de se defenderem. Quando o barulho está realmente perto, todos se surpreendem.

Gregório – Valentina! (Ele corre para abraçá-la) Graças a Deus! Como estás? Eu tive medo de que fizessem algo contigo, e por isso vim te buscar…

Edetto – Mas, pelo visto, tu não precisas da ajuda de outros, não é, Valentina? Sempre audaciosa, sempre corajosa. Não percebeste ainda como esses arroubos de coragem têm sido perigosos para ti?

Gustavo – Pai, por favor, não é hora de discutirmos isso.

Giancarlo – Viemos aqui para salvar a moça e para pegar o baú. A primeira tarefa foi executada sem nossa interferência. Mas a segunda é por nossa conta.

Gustavo – Valentina, tu os viste quando estavam saqueando o povoado, não viste? Por acaso tu não sabes onde eles guardam o que eles roubam? Os artefatos mais pesados, por exemplo?

Valentina – Eu não sei bem… Quer dizer, eles guardaram em suas próprias carroças, claro.

Edetto – Mas esse baú não foi roubado agora. Deve estar com eles desde o dia em que invadiram minha casa. Ele pode estar guardado em algum lugar específico.

Valentina –Nesse caso… Pode ser que esteja na cabana de algum dos chefes do bando.

Giancarlo – Xii… Assim fica difícil… Como faremos para despistar o dono da cabana?

Valentina – Eu só consegui fugir porque estavam todos bêbados. Devem dormir em instantes.

Gregório – E tu podes guiar-nos até uma dessas cabanas?

Valentina – Sim… Quer dizer, eu posso apontar para vocês quais são as barracas dos líderes, mas eu não quero ser vista.

Edetto – Tudo bem, tudo bem. Que seja feito assim. Mas vamos nos aproximar mais, para observarmos a movimentação desse bando.

Eles andam na direção do acampamento. Próximo a eles, alguém ouviu tudo.

Brás – Cambada de medrosos… Enquanto eles ficam aí distraídos, eu mesmo irei até lá e pegarei esse baú.

Cena 06: Acampamento. Noite.

Brás contornou o acampamento pela floresta e foi até o lado oposto onde estão os outros. Saiu, se escondendo atrás das barracas. Apenas alguns homens estão do lado de fora. A fogueira permanece acesa.

Brás – Olha só… Estão quase no segundo sono…

Ele continua andando. Chega a uma cabana localizada perto do centro.

Brás – Deve ser aqui. Eu só preciso dar um jeito de contornar sem ser visto nem ouvido.

Levantando os pés, Brás contorna e entra na cabana. Um homem está dormindo, esparramado no chão. O lugar, entretanto, não possui nenhum baú. Quando Brás está saindo, vê que os outros homens já entraram no acampamento.

Brás – E agora? Se eu sair, serei visto. Se eu ficar, esse homem pode acordar. O que eu faço?

Do lado de fora, Gustavo e Gregório chegam a outra barraca. Abrem-na. Um dos saqueadores dorme. Ao seu lado, um objeto de madeira.

Gustavo – (Fala baixo) Pai! Senhor Giancarlo! Acho que encontramos o baú.

Edetto e Giancarlo se aproximam. Giancarlo tateia o bolso.

Giancarlo – Cadê o colar? Era para ele estar aqui…

Edetto – Mas não é essa a arca de meu pai.

Brás volta a olhar para fora da cabana em que está. Percebe que os quatro estão de costas para ele. Brás aproveita e sai, se escondendo ao lado da cabana vizinha. Em um movimento rápido, Brás entra na cabana. Há outro homem dormindo, roncando alto.

Brás – (Exultante) Um baú! (Ele puxa o colar de Cecília) E o desenho na tampa é o mesmo do colar! Eu sabia que o acharia antes daqueles quatro inúteis!

Brás abre o baú, tira as roupas, objetos e bebidas que estão dentro, e o arrasta até a entrada da cabana. Pela brecha do pano, vê os quatro olhando para o lugar onde está.

Gregório – Vamos olhar naquela barraca ali. É de um dos chefes do grupo.

Brás – E agora? O que eu faço?

Brás arrasta o baú para o fundo da cabana, e quando vai começar a tirar o pano da barraca, o homem que estava dormindo acorda.

Homem – (Ainda com resquícios de embriaguez) Mas quem é o senhor? E o que faz em minha barraca?

Brás começa a recuar de volta à entrada, carregando o baú.

Brás – Olha, eu posso explicar… Vem cá, nós podemos fazer um acordo…

Homem – Do que está falando? E por que carrega o meu baú?

A entrada da cabana é aberta. Brás fica estático.

Edetto – Esse baú… Ele é o meu!

Giancarlo – (Surpreso) Brás? Mas o que fazes aqui?

Homem – Eu quero saber é o que todos vocês estão fazendo aqui! Fora, já! Ou eu chamo os meus homens e nós acabamos com vocês!

Edetto – Ah, não vão, não. Nós iremos levar esse baú conosco, e os deixaremos para trás.

Gustavo agarra Brás pelo braço e sai com ele.

Gustavo –E tu, Brás, virás conosco!

Gregório – Apesar de tudo o que fizeste, essa tua farsa e teu esconderijo precisam acabar!

Edetto e Giancarlo pegam o baú e o levam para fora da cabana. Cambaleando, o saqueador os segue.

Homem – O que é isso? Vocês não podem fazer isso! (Grita) Homens!

Giancarlo rapidamente desfere um soco no rosto dele, que, ainda bêbado, cai.

Edetto – Agora, vamos voltar para a igreja!

Gustavo – Todos nós! Inclusive tu, Brás!

Brás dá uma cotovelada na barriga de Gustavo, corre para a fogueira e apanha, pela ponta, um pedaço de lenha em chamas.

Brás – Nem se atrevam a vir atrás de mim! Eu atiro esse fogo no primeiro que se aproximar!

Gregório – Larga isso, Brás! Esquece isso!

Brás – Não até eu conquistar esse tesouro. Eu não voltarei enquanto esse tesouro não for meu! E queres saber de uma coisa! (Grita) Vão embora daqui! Levem mesmo esse baú junto com vocês, porque eu dou meu próprio jeito de me tornar rico antes de todos vocês! Vão! Vão logo!

Giancarlo – Para que isso, Brás? Deixa de ser arisco! Esse tesouro nunca será teu!

Brás – Veremos! E eu falei, não foi? Vão embora daqui! Vão antes que morram queimados!

Brás pega a lenha em chamas e a encosta em uma das cabanas, que começa a pegar fogo. Ele começa a fazer o mesmo nas cabanas ao lado. Como havia muitas folhas e bebida no chão, derramada recentemente, o fogo se espalhou rapidamente. Gregório, Giancarlo, Edetto e Gustavo correram na direção de onde vieram, alcançando Valentina. O fogo começou a atingir quase todo o acampamento.

Edetto – Precisamos correr o mais rápido possível. Não demora até o fogo chegar à floresta.

Gustavo – Mas e Brás? Será que ele ficou aí dentro?

Giancarlo – Do jeito que ele parece estar decidido a possuir o tesouro de minha família, eu duvido que não tenha encontrado um modo de escapar.

Edetto – Agora temos que voltar à igreja, e arranjar uma forma de esconder esse baú. Amanhã nós o analisaremos com mais calma. Quanto aos dois fugitivos, irão voltar conosco.

Valentina – Eu me recuso a ser presa novamente!

Gregório – Nós o ajudamos a encontrar o que o senhor queria, não foi? Agora, nós iremos embora!

Gustavo – Não, Gregório, vamos conosco! Eu tenho certeza de que meu pai pode mudar sua opinião a respeito de ti e de Valentina, não é, pai? Afinal, uma serva não é escrava para que se faça dela o que bem entender…

Edetto – Olhem bem, vocês dois, eu não os manterei presos. Não essa noite. Além disso, é muito perigoso saírem assim, a esmo. Amanhã eu os direi se o que ocorreu hoje é motivo para que eu mude minha posição sobre vocês. Porém, eu dou-lhes um conselho: em todas as vezes que Valentina fugiu, eu consegui alcançá-la. Não será diferente dessa vez.

Giancarlo – Temos de ir agora! O fogo está muito próximo! Vamos, vamos!

Cena 07: Nave da Igreja del Fiume. Dia seguinte. Manhã.

Gustavo – Mas onde está todo aquele povo que se abrigou aqui? Será que já voltaram para suas casas?

Edetto – Não, meu filho. Parece que ontem eles tinham ido buscar os corpos das pessoas mortas nessa catástrofe; e hoje essas vítimas estão sendo enterradas no cemitério que fica aqui atrás.

Giancarlo – Mas quanta tristeza para tanta gente…

Izabella – É muito desesperador quando se perde o filho, o marido e a colheita que sustentaria a casa, todos ao mesmo tempo.

Cecília – Acho que nós deveríamos estar lá, prestando solidariedade a todos eles.

Marlete – Mas se nem os conhecemos! Ora, veja!

Cecília – Não importa se os conhecemos ou não! Já ouviste falar em compaixão, Marlete? Ou em empatia? Parece que tu te preocupas apenas contigo mesma!

Giancarlo – A situação é realmente triste, mas o que nós temos que fazer agora é outra coisa. Posso parecer frio, mas meu maior interesse no momento é em analisarmos que segredo se esconde naquele baú.

Cena 08: Igreja del Fiume. Sala de recepções.

Edetto, Giancarlo, Gustavo, Cecília, Marlete e Izabella estão na sala de recepções, em torno do baú que possui o mesmo desenho do colar de Cecília. Edetto o abre. Uma lágrima cai do seu rosto.

Edetto – Olhar para esse baú só me faz lembrar-me de meu querido pai…

Giancarlo – Desculpe-me, senhor, mas a ocasião não é para lembranças tristes.

Giancarlo olha para o interior do baú, que está vazio.

Giancarlo – Tu disseste que não havia nada nele, quando o abriste pela primeira vez, não foi? Quer dizer, além de alguns desenhos de cruzes, que já não estão mais aqui. Mas então, o que tem esse baú que tem relação com o tesouro?

Gustavo se aproxima.

Gustavo – Vejam. Assim como na tampa, o interior possui desenhos.

Os outros olharam para o baú. Em uma das paredes, uma árvore está raspada sobre a madeira. Uma linha sinuosa parece passar por baixo da árvore e alcançar as outras paredes adjacentes. A quarta parede possuía o desenho de uma cruz.

Giancarlo – Mais uma cruz? Mas o que significa isso? Perdi o meu tempo para nada? Uma cruz, uma árvore e uma linha?

Gustavo – Não. Não só isso. Veja bem.

Gustavo dá uma leve batida com o dedo no fundo do baú. Um discreto som oco pode ser ouvido. Ele, então, consegue puxar a madeira, revelando um compartimento escondido.

Edetto – Um fundo falso… Por que eu nunca soube que havia isso aí?

Gustavo – Porque nunca teve a intenção de descobri-lo.

Edetto – Olha aqui. Tem um papel guardado. O que ele diz? Quem sabe ler?

Giancarlo – Eu sei, um pouco.

Gustavo – Eu também sei. Estive um tempo no seminário. Dá-me aqui.

Gustavo pega o papel, e lê em voz alta o que estava escrito.

Giancarlo – Mas isso não faz sentido.

Marlete – Permitam-me interferir, mas, se não estou errada, esse texto está disposto de uma forma estranha.

Gustavo – É verdade… Deixa-me olhar com mais cuidado…

Giancarlo – Não. Dessa vez eu olho.

Giancarlo toma o papel, e lê mentalmente o que estava escrito.

SOMENTE

A CRUZ DE DEUS É CAPAZ DE

NÃO IMPUTAR A TRAIÇÃO DO HOMEM.

DO HOMEM QUE VENDE O MAL, E

RENEGA O AMIGO DE BEM. QUE

O BRILHO DA VERDADE SURJA E ABENÇOE A TERCEIRA GERAÇÃO.

 

Giancarlo tem um sobressalto.

Giancarlo – Eu… Posso estar enganado, mas… As iniciais das linhas… Elas formam um nome conhecido. Isso pode ser uma coincidência, claro, mas…

Edetto – Por Deus, que nome é esse?

Giancarlo – O nome do meu pai. Ele se chamava Sandro.

Cecília –Isso… Isso pode significar alguma coisa? Por que o nome de meu avô estaria aí? Com certeza não deve ter sido intencional. Ou então, claro, não se refere a ele.

Edetto toma o papel das mãos de Giancarlo.

Edetto – Eu não sei ler, mas eu sei ver. A disposição das palavras desse modo esquisito foi proposital. E, veja, as iniciais estão marcadas de modo mais forte. Agora por quê? Por quê?

Izabella – E será que esse Sandro é realmente o pai do senhor Giancarlo?

Gustavo – Eu acho que ainda temos que entender melhor o que está escrito aí. Traição… Homem que vende o mal…

Gustavo se lembra de algo.

– Flashback –

Cecília – E o senhor chegou a abrir esse baú?

Edetto – Sim, depois que meu pai morreu. Coitado… Tinha ficado louco, sabe? Desde que eu era criança, ela dizia que havia sido traído por um comerciante.

– Fim do flashback –

Cecília – O que houve, Gustavo? Estás pensando em algo?

Gustavo – Traição… Brilho… Terceira geração…

– Flashback –

Marconi – Uma cidade. Algo raro nos dias de hoje, mas uma cidade. Nela, mora um comerciante, por nome Giancarlo. Meu avô Emiliano, pai de meu pai, conhecia o pai dele, era amigo dele. (Gregório divaga.) Como era mesmo o nome do pai desse senhor? Acho que eu não me lembro… (Ele volta a contar a história.) Enfim: juntos, eles descobriram um tesouro perdido, que deve ter sido de algum dos césares romanos, extintos séculos atrás. Decidiram não tocar nesse tesouro. Certo dia, esse homem teve que partir em viagem para o oriente – ao que parece, ele teve que voltar para a casa de seu pai. Eles temiam que algo acontecesse com o tesouro. Alguém acabou descobrindo a existência do tesouro, e eles temiam que ele fosse roubado, temiam até ser mortos. Por isso o amigo de meu avô levou consigo, prometendo escondê-lo em um lugar seguro. Antes, porém, firmaram uma aliança: a de que a terceira geração de suas famílias deveriam se reencontrar para usufruírem da descoberta, em um tempo em que talvez não corressem mais algum perigo.

– Fim do flashback –

Gustavo – Perigo…

– Flashback –

Navio.

Cecília – Mas viver em peregrinação às vezes não é perigoso? Ou não dá solidão?

Gustavo – Meu avô não era o tipo de pessoa que encontrava dificuldades em relacionamentos. Ele sempre fazia amigos por onde passava. Mas perigo… É curioso tu falares nisso, porque meu avô me contou uma vez uma história curiosa. Não sei se ele falou a verdade, ele já estava bem velho quando contou isso. Também não tem relação exata com a vida de viajante que ele levava, mas o senhor Edetto já passou por situações difíceis. Ele disse que uma vez tentaram empurrá-lo de uma cachoeira. Só que parece que um amigo seu acertou uma pedra afiada nas costas da pessoa que tentou fazer isso, e ele conseguiu fugir.

– Fim do flashback –

Gustavo – Pedra afiada nas costas…

– Flashback –

Dia anterior. Ao lado da Igreja del Fiume.

Cecília – Eu confio em vocês, claro. Eu só não confio nesses criminosos. Além disso, eu acho que tenho uma espécie de trauma dessas coisas, dessas brigas. Meu avô tinha uma cicatriz muita feia nas costas, que foi de quando ele teve que enfrentar uns ladrões que queriam roubar algo dele.

– Fim do flashback –

Edetto – Filho, eu estou ficando preocupado. No que estás pensando?

Gustavo – Eu… Eu acho que eu já entendi o que meu avô quis dizer. O que ele sempre quis dizer! Conta-me uma coisa, senhor Giancarlo, qual era a ocupação de seu pai?

Giancarlo – Eu não sei qual a importância disso. Até porque eu acho que tu já a imaginas. Ele era comerciante. Morava aqui nessa península, quando teve que ir embora com o tesouro.

Gustavo – Tesouro esse que ainda assim ficou em algum lugar dessa vasta península.

Giancarlo – Sim, sim! Meu pai o teve que enterrar aqui porque achou que era perigoso viajar com ele!

Gustavo – Será mesmo? Ou será que o perigo não era o próprio pai do senhor?

Giancarlo – Como ele poderia oferecer perigo a si mesmo?

Gustavo – Não, não. Ele ofereceu perigo a outra pessoa. Desde sempre meu avô dizia que havia sido traído por um comerciante. Ninguém nunca entendeu essa história. Até agora. Quando nós descobrimos que o baú que ele guardava em casa possuía o mesmo desenho de um colar de família, um colar exclusivo, mas pertencente a outros donos. E um colar que tem relação com o tão procurado tesouro. Aí, quando o abrimos, descobrimos um texto, escrito pelo meu avô, que falava de traição… A traição que ele sofreu por um comerciante que julgava seu amigo!

Giancarlo – Essa história é maluca! O que tem a ver essa traição com o tesouro?

Gustavo – O senhor não está entendendo… Seu pai foi quem ameaçou o verdadeiro homem que encontrou as tais relíquias! Ele quase matou o meu avô em uma cachoeira! Só não matou porque outra pessoa, desesperada, atacou-o com uma pedra nas costas, mesmo lugar onde o seu pai tinha uma cicatriz!

Giancarlo – Isso é um absurdo! Um insulto infame! Ele nunca mataria ninguém! O velho Sandro sempre me garantiu que ele era um dos donos do tesouro! O próprio colar não é uma prova disso?

Gustavo – Não, porque ele era de meu avô! Do contrário, não poderia haver, em minha casa, um baú com as mesmas inscrições! O colar foi roubado do meu avô! E ele deve ter feito esse baú com as inscrições como uma prova disso!

Cecília – Eu não posso acreditar nisso…

Gustavo – Toda a história que tu e teu pai conheces, Cecília, foi invertida para que parecesse que o teu avô era o verdadeiro descobridor do tesouro! Mas tu percebes, não é, que não era isso?

Cecília – Então quer dizer que…

Gustavo – Sim, minha querida, o colar não era para ser teu. Era para ser meu! Eu sou o verdadeiro herdeiro desse tesouro!

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