Ilusões

Capítulo 2: Perfume – Ilusões

Perfume
Autor: Rodrigo Gomes

SÃO PAULO – 2014

 

Cena 1 – Bela Vista (Dia). Hospital Sírio Libanês.
Suzana: E então doutor? Qual foi o resultado dos exames? O que é que eu tenho? – Ela pergunta, aflita.
Doutor César: Suzana, você terá que ser forte. Os exames mostraram que… não era uma simples dor de cabeça, como você havia imaginado. – Ele faz uma pausa e ela fica apreensiva. – Você tem um tumor no cérebro e ele avançou rapidamente… você tem apenas alguns meses de vida.
Suzana: Como é que é? – Ela pergunta, sem chão. – O senhor está me dizendo que eu vou morrer, é isso?
Doutor César: O desenvolvimento da doença lhe causará muito sofrimento e dor, antes de acabar com a sua vida. – Ele é direto e objetivo.
Suzana: Para, para. – Ela coloca as mãos nas orelhas. – Eu não quero escutar mais nada. – Ela se levanta e sai.
Cláudia: E aí amiga? O que aconteceu? O que você tem? – Ela pergunta ao vê-la abalada.

 

Cena 2 – Guarulhos (Dia). Aeroporto de Congonhas.
Giovanni (Ao celular): Pode deixar, nós nos viramos. – Ele fala, com um sotaque italiano. – Nos vemos a noite. – Ele desliga. – Vamos ter que pegar um táxi.
Tony: Ela não vai vir nos buscar? – Ele aparenta estar nervoso. – Não vejo a hora de acabarmos logo com isso.
Giovanni: Calma. Em breve nós estaremos muito ricos. – Ele o beija na boca.
Tony: Nem acredito que eu estou me fazendo de padrinho seu. Você sabe que eu estou morrendo de ciúmes, não é?
Giovanni: Ela pensa que você é meu melhor amigo, o máximo que eu podia fazer, já que vou me casar, era te convidar para ser meu padrinho.
Tony: E quem será a madrinha?

 

Cena 3 – Morumbi (Dia). Apartamento de Suzana.
Suzana: A minha sorte é que não tenho filhos, nem marido para deixar. – Ela fala, rancorosa.
Cláudia: Credo amiga, não fala assim. Você não tem família, mas tem amigos. – Ela a abraça. – E o Marcos? Vocês não se acertaram mesmo?
Suzana: Bela amiga eu sou: você chega ontem de viajem e já foi me acompanhar até o hospital, devíamos estar comemorando a sua volta. E não, Márcio e eu nunca mais.
Cláudia: Você sabe que eu devo muito a você. Se eu tive a oportunidade de conhecer aquele país maravilhoso foi porque você me ajudou, quer dizer, pagou a minha viajem. Naquela época, todo o dinheiro que eu tinha era pra ser investido no meu restaurante.
Suzana: Eu gosto muito de você Cacau. É como uma irmã para mim. – Ela se emociona. – Mas diz ai, dois anos naquele lugar e nada de um namorico? E o seu restaurante? Dando muito lucro?
Cláudia: Quem disse que não? Foi por isso que voltei amiga. Nós resolvemos nos casar aqui. E você será a minha madrinha. O restaurante está me dando lucros até de mais.

 

Cena 4 – Vila Olímpia (Dia). Apartamento de Giovanni.
Giovanni: Lar doce lar. – Ele se joga no sofá. – Como eu estou cansado.
Tony: Quer que eu te faça uma massagem? – Ele pergunta, já com as mãos nos ombros do rapaz.
Giovanni: Sua massagem é sempre muito bem vinda. – Ele sorri.

 

Cena 5 – Morumbi (Tarde). Apartamento de Suzana.
Suzana: Como assim os seus sogros não virão ao seu casamento?
Cláudia: Ele perdeu os pais quando ainda era uma criança. – Ela comenta triste.
Suzana: Meus pêsames. Enfim, o papo está bom, mas eu tenho trabalho a fazer. – Ela se levanta. – A vida continua.
Cláudia: É isso amiga. Vai lá que o seu salão de festas lhe espera. Viva a vida, querida. – Ela se entristece. – Mesmo que seja por pouco tempo. – Ela a abraça.
Suzana: O que eu mais queria era ter um companheiro para dizer que me ama. E que me apoiasse neste momento tão difícil. – As duas se emocionam. – Mas quem é que vai querer uma inválida? – Ela leva Cláudia até a porta.
Cláudia: Não quero te ver triste. – Ela segura as mãos dela com força. – Vai lá e faça uma bela decoração naquele salão, aliás, acho que a minha festa de casamento será lá. – Ela se vira para ir embora, mas volta para fazer um comentário. – E sobre um companheiro para te dar apoio… ainda boto fé em você e no Marcos. – Ela vai embora e Suzana fica pensativa.

 

Dois dias depois…

 

Cena 6 – Rua Augusta (Noite). Boate.
Suzana: Se lembra de que eu havia te contado que fui até a delegacia que ele trabalha? Vi ele com outra. O Marcos está vivendo a vida dele, está seguindo em frente, e eu não posso fazer nada quanto a isso amiga.
Cláudia: Você tem razão, o máximo que você bote fazer é seguir em frente também. – Ela puxa Suzana. – Vamos para pista.
Suzana: Não estamos mais na idade de ficar dançando em uma boate. – Ela fala, mas acaba se rendendo a batida da música. – Hoje abrirei uma exceção.
Cláudia: É isso ai! Vamos viver a vida, amiga. – Elas dançam freneticamente na pista de dança.
Suzana: Eu não quero mais saber de nada. Só quero me divertir como se fosse o ultimo dia da minha vida. – Giovanni esbarra nela e pede desculpas.
Cláudia: Giovanni? Você por aqui? Não creio. – Ela dá um abraço nele. – Suzana, este daqui é o Giovanni. Conheci ele lá na Itália. Giovanni, essa daqui é a Suzana, minha melhor amiga desde a infância. – Eles se cumprimentam.
Giovanni: É um prazer conhecê-la. – Ele beija a mão dela, e Cláudia sai sem que os dois percebam. – Será que eu posso te pagar uma bebida?
Suzana: Só se for agora. – Eles vão até o balcão.

 

Cena 7 – Vila Olímpia (Noite). Apartamento de Giovanni.
Tony: Eu não aceitei fazer aquilo por ela porque eu gosto muito de uma garota. Lá de onde eu moro. – Ele mente. – Se o meu coração não tivesse compromissado, eu faria esse sacrifício por ela. – Ele brinca.
Márcia: A minha filha não sabe o que está fazendo. Ela está brincando com fogo e isto não acabará em boa coisa.
Tony: Nem acredito que ela teve coragem de sacrificar o próprio noivo. Ela deve gostar muito mesmo dessa mulher.
Márcia: É uma amizade de anos.

 

Cena 8 – Em um lugar qualquer (Noite). Motel.
Suzana: Nossa! Você é muito bom na cama. – Ela sorri, os dois estão deitados na cama, encharcados de suor. – Será que essa é uma qualidade dos italianos?
Giovanni: Somos melhores em tudo o que fazemos. – Ele se gaba e a beija. – Você também é muito boa.
Suzana: Será que é cedo demais pra eu te convidar a ir a minha casa?
Giovanni: Claro que não. Quando quiser pode me convidar que eu vou. – Eles se olham apaixonados.

 

Cena 9 – Morumbi (Dia). Apartamento de Suzana.
Cláudia: Você não é de dormir no ponto hein! – Ela brinca.
Suzana: Marquei um almoço para daqui a pouco. O seu amigo é tudo que eu queria, Cacau.
Cláudia: Que bom te ver feliz. Eu gosto de te ver assim.
Suzana: Vou tomar um banho e ficar bem cheirosa para ele. – Ela fica triste de repente. – Mas eu não posso dar um passo a diante se… não contar tudo para ele.
Cláudia: Você vai contar sobre o seu tumor? – Ela pergunta surpresa. – Você acha mesmo que precisa fazer isso?
Suzana: Claro que sim. Acho que achei o companheiro para os meus últimos meses de vida. E preciso jogar limpo com ele.

 

Cena 10 – Morumbi (Tarde). Apartamento de Suzana.
Suzana passa o seu perfume em todo corpo quando a campainha toca, ela atende.
Giovanni: É aqui que mora uma princesa? – Ele a entrega um buquê e uma caixinha com um presente. – Será que é muito cedo para eu lhe trazer uns agrados?
Suzana: Claro que não, seu bobo. – Ela o beija. – E aí como você está?
Giovanni: Eu estou bem. – Eles conversam bastante, antes e durante o almoço.
Suzana: Agora eu preciso falar algo sério com você. – Ela adota uma expressão séria. E ele apenas a escuta. – Eu… – Suzana começa a suar. – Eu… quero te ter comigo para a vida toda. – Ela não consegue falar o que realmente queria contar.
Giovanni: Eu também gostei muito de você, mas não acha que é muito cedo para dizer que me quer para a vida toda? Posso não ser o príncipe que você pensa.

 

Cena 11 – Vila Olímpia (Tarde). Restaurante.
Marcos: Porque você me chamou até aqui? – Ele pergunta, se sentando. – Espero que seja algo muito importante mesmo, pois deixei vários casos lá na delegacia para vim falar com você.
Cláudia: É sobre a Suza. Ela está passando por um momento muito difícil na vida dela.
Marcos: Eu não tenho mais nada a ver com aquela mulher. O que ela passa ou deixa de passar é problema dela. – Ele perde a paciência. – Ela foi muito grossa comigo durante toda a nossa relação. Eu cansei.
Cláudia: Esse é o jeito dela. Mas no fundo, no fundo, eu sei que ela ainda o ama.
Marcos: Eu estou em outra, Cláudia. – Ele se levanta. – Se era só isso que você queria… eu já vou indo. – Marcos se vira para ir embora.
Cláudia: Ela está com um tumor. – Ele para. – São os últimos meses da vida dela. E o que ela mais quer, é alguém que a ame. Eu sei que vocês ainda se gostam, mas são orgulhosos e não querem admitir isso.
Marcos: Tumor? – Ele se vira na direção dela. – Como você pode dizer com tanta firmeza que eu ainda gosto dela? Nós acabamos de nos reencontrar, não tem como concluir uma coisa dessas.
Cláudia: É porque está estampado na cara de ambos. – Ela também se levanta. – No modo que vocês falam um do outro. – Ele fica sem reação.

 

Um mês depois…

 

Cena 12 – Vila Olímpia (Noite). Apartamento de Giovanni.
Cláudia: E como é que ela está com este namoro? – Ela dá uma mordida em seu bombom. – Continuam felizes?
Giovanni: Ela me liga constantemente, parece que não confia em mim como antes. Está com medo de que eu a traia.
Cláudia: Pobre Suzana. – Uma lágrima escorre o seu rosto. – Tudo que eu tenho feito é para ver ela feliz. E nunca imaginei que a felicidade estaria em uma ilusão.
Giovanni: Será que já…? – O celular dele toca e ele atende, é Suzana. – Tudo bem meu amor, eu vou sim. – Ele desliga.
Cláudia: Faça dela a mulher mais feliz deste mundo.
Tony: Acho difícil, já que ela está com os dias contados. – Ele interrompe a conversa dos dois. – Vocês deviam parar com isso. Cláudia, você não percebe o que está fazendo? Entregando o seu noivo a outra mulher?
Cláudia: Eu sei que ele me ama. Confio na fidelidade dele. E foi a única saída que eu tive, já que você não aceitou fazer isso para mim.
Tony: Nunca enganaria uma pessoa na minha vida. – Ele mente. – Será que eu posso conversar com você, Giovanni? – Eles vão para outro canto do apartamento.
Giovanni: Você precisa manter a calma. Faltam apenas duas semanas para tudo isso acabar.
Tony: Eu sei, mas ocorreu-me uma ideia. Você não está de caso com essa tal Suzana? Ela não é podre de rica? – Giovanni dá um sorriso. – Ela já está com os pés no caixão.
Giovanni: Não temos tempo para fazer isso. – O vento sopra e ele sente o perfume de Tony. – Este teu cheiro me deixa louco. – Ele o abraça. – Não vamos ser ambiciosos.

 

Cena 13 – Morumbi (Noite). Apartamento de Suzana.
Suzana: Se ele estiver com outra, ela vai sentir o meu cheiro. – Ela passa bastante perfume. – Vou marcar meu território. – Ela usa o perfume dela de costume, ainda não usou uma gota do que ele a deu. – Não vou usar o perfume que ele me deu, pois pode ser que a outra tenha o mesmo cheiro. Por isso que ele deve ter me dado, para ficar lembrando-se dela. Só não entendi uma coisa: este perfume que ele me deu é para homens. – Ela analisa o frasco. A campainha toca, e ela atende. – Meu amor, já estava com saudades.
Giovanni: Eu também já estava surtando. – Ele a abraça. – Amor, será que eu te pediria muito se… – Ele espirra.
Suzana: Se eu usasse o perfume que você me deu. – Ela completa.
Giovanni: Eu tenho aler… – Ele espirra novamente. – Alergia a este.
Suzana: Tudo bem, eu já sei que você tem alergia a ele. – Ela o abraça, deixando o aroma do perfume dela na roupa dele.
Giovanni: Sabe, mas não parece… – Ele espirra. – Não parece se preocupar nem um pouco.
Suzana: Mas é claro que eu me preocupo. – Ela o beija.

 

Cena 14 – Vila Olímpia (Noite). Apartamento de Giovanni.
Márcia: Você não pode fazer isso Cláudia. Se a moça descobre, ela acaba morrendo de vez.
Cláudia: Para com isso mãe. Tudo vai dar certo.
Márcia: E o seu casamento, como anda?
Cláudia: Dentro de algumas semanas estarei casada e feliz da vida. – Ela comenta radiante.
Márcia: Pena que a sua melhor amiga não poderá comparecer.
Cláudia: Mãe, para com isso, para. – Ela encosta-se ao sofá. – Mas agora que você falou… realmente, a Suza não pode mais ser a minha madrinha de casamento. – Ela se entristece.
Tony: Perai, você está dizendo que o Giovanni vai ter que continuar enganando aquela moça depois de casar-se com você?
Cláudia: O meu plano de deixar a Suzana feliz, acabará somente quando ela morrer.
Tony: E se essa mulher não morrer?
Cláudia: Eu terei que contar toda a verdade. – A campainha toca e ela vai atender. – Marcos?
Marcos: Eu vim te pedir para parar de enganar a Suzana. Decidi que me entregarei para essa paixão, que nunca deixou de existir dentro de mim. – Ela o abraça. Ambos estão emocionados.
Cláudia: Obrigada. Você não sabe o tamanho do peso que está tirando das minhas costas.

 

Cena 15 – Morumbi (Noite). Apartamento de Suzana.
Suzana: Você sabe que eu te amo muito, não é Giovanni? – Eles estão de mãos dadas.
Giovanni: Claro que eu sei, meu amor. – Ele beija a mão dela. – E eu também te amo muito.
Suzana: Por isso eu vou ser sincera com você. Às vezes parece que tem três de nós aqui. Não sei se estou sendo paranoica, ou até mesmo vendo coisas.
Giovanni: Eu percebi que você está insegura. Liga-me a todo o momento para saber onde estou, o que eu to fazen…
Suzana: Diga-me a verdade. – Ela o interrompe. – Aquele perfume que você me deu, quando fizemos um mês de namoro… ele te lembra outra pessoa?
Giovanni: Assim você está me ofendendo. Eu nunca faria isso. – Ele se levanta.
Suzana: Desculpa. Eu não quis te magoar. Até estranhei pelo perfume ser masculino, talvez você goste muito dele. Eu estou mesmo muito paranoica. – Ela o beija.
Giovanni: Ok, mas agora eu preciso ir. Você cortou todo o clima. – Ele caminha naturalmente. – Nos vemos amanhã. – Ele sai.
Suzana: Droga. – Ela pega um objeto e arremessa na parede. – Não sei em quê acreditar. – Ela chora compulsivamente. – Se você estiver com outra, espero que ela sinta o meu cheiro em você. Quero completar o quarto quando vocês estiverem nele. – Ela se ajoelha sobre os cacos de vidro.
Giovanni: Sim, aquele perfume me lembra sim outra pessoa. – Ele fala para si mesmo, entrando no elevador. – A única pessoa que eu amo no mundo… o meu Tony. – Ele sorri.

 

Cena 16 – Vila Olímpia (Noite). Apartamento de Giovanni.
Cláudia: Ela tá mesmo convencida de que você tem outra. – Ela cheira a roupa dele. – Estou com medo de acabar magoando a minha amiga.
Giovanni: Pelo que você me disse, a sua mãe está coberta de razão, o Tony também. Você está iludindo a Suzana, e isso não é bom. Eu não a amo, o máximo que sinto por ela é dó.
Cláudia: E foi por esse dó que você aceitou participar disso. – Ela chora. – Mas tudo isso acabou. Ela queria tanto um companheiro para apoia-la nesse pouco tempo de vida dela e agora, finalmente, ela terá esse homem.
Giovanni: Quer dizer que o meu romance com ela acaba por aqui?
Cláudia: Só queria retribuir o que ela fez por mim. Se eu consegui ir para a Itália, que era o meu maior sonho, tudo isso eu devo a ela. – Giovanni a consola. – E sim, o seu romance com ela acaba aqui. Encontrei a pessoa que realmente fará a Suza feliz.
Giovanni: Mas você escolheu a pior forma de retribuir isso: a ilusão. Quem é essa pessoa? Não vai me dizer que o Tony…
Cláudia: Eu sei que escolhi a pior forma, mas tudo isso passou. Não, não é o Tony. – Ela parece ficar inquieta com algo.
Giovanni: Você está bem? Parece estar atormentada. – Ele repara.
Cláudia: Estou pensando como que eu contarei para ela… sobre isso tudo.
Giovanni: Você não precisa contar meu amor. Logo, nós estaremos casados e felizes. Voltaremos para a Itália, e fim da história.
Cláudia: Não é bem assim que a banda toca. Ela é nossa madrinha de casamento. Esqueceu?

 

Passam-se duas semanas…

 

Cena 17 – Morumbi (Noite). Apartamento de Suzana.
Suzana: Já tem uma semana que eu não o vejo. Ele nem atende mais as minhas ligações. Será que aconteceu algo com ele?
Cláudia: Suza, eu preciso ter uma conversa muito séria com você. Eu espero que você, ao menos, me perdoe. – Ela fala cabisbaixa.
Suzana: Não estou gostando do seu tom de voz. O que está acontecendo hein?
Cláudia: Amanhã é o meu casamento. Irei me casar na Igreja Nossa Senhora do Monte Serrate, lá em Pinheiros.
Suzana: E você me diz isso só agora sua tonta? – Ela levanta surpresa. – E agora o que…? – Ela leva as mãos até a cabeça. – Cláudia, me ajuda, estou sentindo dores muito fortes na cabeça.
Cláudia: Calma amiga. – Ela a ajuda. – Deixa eu te apoiar. – Suzana sente o perfume da amiga entrar pelas suas narinas, como se tivesse a asfixiando.

 

Cena 18 – Bela Vista (Noite). Hospital Sírio Libanês.
Cláudia: Pelo que os médicos me disseram, você vai ter que ficar aqui até amanhã.
Suzana: Tudo bem. Obrigada por tudo que você fez por mim. Aliás, bom casamento. – Ela fala triste.
Cláudia: Muito obrigada. – Ela aperta a mão dela com força e depois lhe dá um beijo na testa. – Fica com Deus. – Ela sai. E quando está na recepção Marcos chega.
Marcos: E aí, como ela está? – Ele pergunta preocupado. – Aconteceu algo grave?
Cláudia: Obrigada por ter vindo. – Ela o abraça. – Ela vai adorar a sua presença, tenho certeza. Chegou a hora de você fazer a sua parte: deixá-la feliz. – Ele vai para o quarto onde está Suzana. – Adeus Suza. Espero que um dia você me perdoe.
Suzana: Você? – Sem responder, Marcos a abraça. – Você encontrou a Cláudia por ai? Acredita que ela irá se casar? Até me convidou para ser madrinha, mas foi me dizer somente hoje, que o casamento dela será amanhã. – Ela se entristece. – Pareceu que ela não queria que eu fosse.
Marcos: Não, nunca mais vi a Cláudia. É que eu fui ao seu apartamento e a sua empregada acabou me dizendo o que aconteceu com você. – Ele mente. – Eu só vim aqui para te dizer que eu te amo. – Lágrimas escorrem o seu rosto. – Me desculpe por não ter te compreendido antes. Esse é o seu jeito, e você não deve mudar por ninguém.  – Ele a beija.
Suzana: Quem tem que te pedir desculpas sou eu. Fui muito grossa com você, sempre fui. Perdoe-me por ser assim. – Ela faz uma pausa. – Não sei se você ficou sabendo mais… eu descobri que tenho um tumor no cérebro.
Marcos: Eu nunca mais irei te deixar sozinha. – Ele aperta as mãos dela com força. – Assim como eu, você deve ter encontrado outro alguém. Eu não dei muito certo, mas… se você estiver compromissada com outro cara, você e eu podemos ser grandes amigos.
Suzana: Marcos. – Ela reflete sobre o seu relacionamento com Giovanni. – Eu nunca amei alguém como eu te amei.
Marcos: Preciso ir agora. Entrei aqui sem autorização. – Ele a beija e depois vai embora.
Suzana: Sinto que você foi verdadeiro comigo. – Ela fala consigo mesma. – Mas tenho certeza que você se encontrou sim com a Cláudia. A sua camisa está com o perfume dela. – Ela descobre a mentira dele.

 

Cena 19 – Pinheiros (Tarde). Igreja Nossa Senhora do Monte Serrate.
Convidada: A noiva chegou pessoal. – Todos se levantam para a entrada da noiva. Cláudia está deslumbrante e entra lentamente, acompanhada de seu pai.
Márcia: Como a minha filha está linda. – Ela leva as mãos ao rosto, parecendo não acreditar. – Uma verdadeira princesa. Cláudia chega até ao altar e o pai dela a entrega ao noivo.
Suzana: Felicidade aos noivos! – Ela grita na porta da igreja, aplaudindo. – Como vocês puderam fazer isso comigo? – Escandalizada.
Cláudia: Suza, não é nada disso que você…
Suzana: Não me chama de Suza. Está querendo negar o que eu estou vendo com os meus próprios olhos, querida? Você me iludiu, pediu para que o seu noivo gozasse os últimos momentos da inválida aqui.
Giovanni: Eu sabia que isso não ia dar em boa coisa. – Ele sussurra para Cláudia. – Agora eu quero ver como você vai sair dessa.
Cláudia: Eu só queria te ver feliz, amiga. – Ela tenta se aproximar de Suzana. – Queria retribuir toda a felicidade que um dia você dera para mim. E eu sacrifiquei sim o meu noivo, só para te ver feliz.
Suzana: Eu queria um companheiro e não uma ilusão para me apoiar. – Ela chora e Tony a pega pelos braços. – Me solte. Eu não irei fazer nada. – Ela sente o perfume de Tony e se recorda da fragrância que Giovanni havia lhe dado. – Eu só vim aqui para dizer que eu estou feliz. Não sei se você sabe, mas o Marcos voltou para mim. – Ele solta Suzana e Cláudia procura se aproximar da moça. – Mas o que você me fez não tem perdão. Você brincou com os meus sentimentos. – Ela sai correndo e Cláudia vai atrás, mas a moça entra em seu carro e sai a toda velocidade.
Cláudia: Eu só quis te ajudar. – Ela grita e chora ao mesmo tempo.

 

O tempo passa…

 

Cena 20 – Morumbi (Dia). Cemitério.
Suzana: A vida é uma caixinha se surpresas. Nela, encontramos coisas boas e coisas ruins. – Ela se abaixa, com flores nas mãos. – Não me arrependo de nada do que fiz. As coisas devem acontecer segundo a vontade Deus. Mas quem diria, você se foi antes de mim. Olhe só o meu estado. – Ela se refere a sua aparência que está mais fraca e pálida, devido ao tumor. – Queria dizer que me arrependo do que eu lhe disse no dia do seu casamento, mas eu estaria sendo muito hipócrita, falsa, mentirosa. – Lágrimas saem de seus olhos e vão de encontro à lápide com o nome de “Cláudia Martins Nunes”. – Continuo tão feliz com o Marcos. Cada dia que passa… me sinto mais viva, enquanto deveria me sentir morta. – Ela coloca as flores perto da lápide, e então se levanta e pega algo em sua bolsa. – Não posso me esquecer do mais importante. – Ela coloca sobre a terra, o frasco de perfume que Giovanni havia lhe dado. – Esta era uma marca que eu carregava da ilusão que você me fez passar. E é com todo prazer que eu lhe entrego isto. – Ela se levanta. – Tenho certeza que foram aqueles dois que te mataram. – Na cabeça dela, passa a imagem de Giovanni e Tony. – Eles devem estar nadando no dinheiro que você deixou… os lucros do seu restaurante. Dói saber que você quis me iludir, mas me conforta descobrir que foi você, a iludida. – Ela vai embora, sem olhar para trás.

Capítulo de Rodrigo Gomes

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