Capítulo 17 – Menina Flor

Capítulo 17

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Miguel chega em frente à porta, mas antes que ele possa bater, Malu aparece com uma bacia e joga a água suja nele.
Malu, surpresa: Oh Miguel, mil perdões.
Miguel: Bem que o seu pai disse que você ia jogar uma bacia de água em mim.
Malu: Desculpa, foi sem querer, eu não te vi.
Miguel: Essa já é a segunda vez que você me molha sem querer, você podia ser um pouco mais cuidadosa de vez em quando.
Malu: Perdão. Não precisa ser tão grosso.
Miguel: Ah, bem que disseram que você não mudou nada.
Malu: Olha chega, o que você tá fazendo aqui?
Miguel: Eu queria conversar com você.
Malu: Se veio aqui para me punir por eu ter jogado sua namorada na lama, cai fora.
Miguel: Não, eu quero que você volte a trabalhar lá em casa.
Malu: Deixa eu pensar… Não!
Miguel segura Malu pelo braço: Malu, por favor, vamos passear um pouco.
Malu: Tá bom. Mamãe, eu vou sair um minuto.
Dolores: Tudo bem.
Malu: Vem comigo, eu sei de um lugar pra gente ir.

Rio da floresta.
Miguel, impressionado: Uau Malu, que lugar mais lindo.
Malu: É, quando eu era criança eu sempre vinha pra cá, brincar, nadar, e até ler.
Miguel: Você gosta de ler?
Malu: Adoro! Às vezes quando eu ficava triste, eu vinha pra cá e chorava escondida.
Miguel: Chorava escondida? Mas chorava por quê?
Malu: Por muito, saudades, dor, raiva; aí eu vinha pra cá e entrava no rio pra tomar banho, aí as minhas lágrimas salgadas se misturavam com a água doce do rio e iam embora com a correnteza, e eu me sentia muito melhor.
Miguel: Puxa, que lindo.
Malu: Eu tento esconder isso, porque, sei lá, todo mundo me vê como uma garota forte e segura, ninguém me imagina chorando.
Miguel: Eu sempre soube que por trás dessa menina dura e forte, existia uma jovem doce, sensível e madura. E é por isso que eu quero você na minha casa.
Malu: Por que você me quer lá? E a sua namorada?
Miguel: A Fernanda pode ser minha namorada, mas você é sempre foi minha irmã.
Malu: Fala isso da boca pra fora, eu aposto que enquanto você estava lá no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos, você nem se lembrou de mim.
Miguel: Eu tenho uma prova de que sempre pensei em você. Feche os olhos.
Malu, de olhos fechados: Ah Miguel, essas brincadeiras de novo?!
Miguel: Ok, pode abrir.
Malu abre os olhos e vê o colar de Miguel.
Malu: Miguel, esse colar…
Miguel: É o meu colar, o colar dos meus pais, e eu me lembro que na noite antes de ser adotado eu te dei o outro e nunca me esqueci disso. E você guardou o seu?
Malu mostra o colar no seu pescoço que estava escondido dentro da blusa.
Malu: Claro que guardei! Presente dos seus pais, eu nunca ia perder.
Miguel: Isso quer dizer que nós nunca nos separamos.
Malu: Dá pra ver que você ainda é aquele menino sentimental e de dez anos atrás.
Miguel: Um menino sentimental que sempre sentiu a falta dessa menina tão alegre, travessa e cheia de vida que vê na sua frente agora.
Malu tira seu colar, pega o colar de Miguel e os colocam em cima de uma pedra.
Malu: E agora, pra matar a saudade, sabe o que eu quero fazer?
Malu: Nem imagino.
Malu aproxima-se de Miguel, cada vez mais, quando as bocas dos dois estão quase se tocando e os dois se beijando… Malu atira seu amigo no rio.
Miguel respira fundo depois de submergir: Malu, sua maluca!
Malu: (gargalhada), você não morreu de saudade das minhas brincadeiras?
Miguel: (tosse), o que mais eu podia esperar de você?
Malu: Você não esperava que eu fosse te beijar, né? Pra você ficar se convencendo que tem duas atrás de você, como quando éramos crianças.
Miguel: Ah, então é assim?
Miguel pega Malu pelo pé e a puxa para dentro do rio.
Miguel: Então, o que acha?
Malu: Como é? Vai tomar banho de roupa?
Miguel: Hum, você anda muito assanhada.
Malu espirra água em Miguel: Seu convencido.
Miguel, tirando a camisa: Pode tirar, a gente deixa na margem.
Malu: Até parece que eu vou tirar tudo diante de um homem.
Miguel: Ok, mas você vai ficar doente.
Malu: Eu te desafio pra uma competição de natação.

Fazenda Aguiar Cordeiro.
Melissa: Irene, você viu o meu marido por aí?
Irene: Não senhora, acredito que está nas plantações.
Melissa: Deve ser. E o Miguel, está em casa?
Irene: Não, parece que ele foi com o senhor Rafael pras plantações.
Melissa: Aquele playboy vai trabalhar com o pai na plantação?
Irene: Não, pelo que eu ouvi, parece que ele foi falar com a jardineira que foi demitida ontem.
Melissa: Ouvindo conversa atrás da porta Irene?! Mas, como assim falar com a jardineira demitida?
Irene: Parece que ele quer readmiti-la, mesmo depois da confusão com a senhorita Fernanda.
Melissa: O que? Aquele pirralho vai se rebaixar ao ponto de ir até a casa de uma empregada para pedir que ela volte a trabalhar?
Irene: Parece que sim, senhora.
Melissa: Mas é um cúmulo. Ele acha que alguém do nosso nível pode se expor a isso de pedir para que um empregado volte a trabalhar para nós? Que imbecil.

Rio na floresta. Malu e Miguel estão sentados nas pedras.
Malu: Eu até hoje vou visitar a Lurdes e as crianças lá no lar.
Miguel: Eu sinto falta daquele lugar, quantos momentos divertidos nós tivemos lá.
Malu: Miguel, e a Fernanda, vocês se gostam mesmo?
Miguel: Eu não sei se um dia cheguei a gostar mesmo de alguém, eu e a Fernanda estamos juntos, mas eu nem sei porque.
Malu: Você está iludindo ela?
Miguel: Não, ela sempre gostou de mim e eu acho que podia lhe dar uma chance, talvez eu aprenda a gostar dela também.
Malu: Eu não sei, você podem acabar se machucando, e eu não tenho porque mentir, eu não vou com a cara dela, nunca fui.
Miguel: Ainda guarda ressentimentos das vezes que você foi castigada por causa dela?
Malu: Mais ou menos, só de lembrar quando a Guilhermina me trancava no porão.
Miguel: Eu tenho saudade daquela época, de tudo, até da escola.
Malu: Você com saudades da escola?
Miguel: A escola daqui era bem melhor do que as lá no Rio de Janeiro.
Malu: Por quê?
Miguel: Eu não tinha amigos, os meus colegas riam de mim porque eu era do interior.
Malu: Puxa, que horrível.
Miguel: É. Mais tarde você me leva lá no lar?
Malu: Claro, eu aposto que a Lurdes e o Carlos vão adorar te ver de novo.
Miguel: Então, você topa voltar a trabalhar na minha casa e na floricultura?
Malu: Eu não sei Miguel, mas e o seu pai e a Fernanda?
Miguel: Deixa que eu cuido deles. Então, você aceita ou não seu emprego de volta?
Malu: Tá bem, por você eu aceito.

Jardim da fazenda. Um tempo depois. Miguel e Malu chegam do passeio.
Miguel: Fazia tempo que eu não tomava um banho tão bom?
Malu: Você nunca tomou banho de rio lá no Rio?
Miguel: Não, só de piscina, o que não é a mesma coisa!
Melissa aparece.
Melissa: Miguel, onde você estava?
Miguel: Calma Melissa, eu só fui dar um passeio com a Malu.
Melissa: Eu a conheço, outro dia ela encheu a casa de terra quando entrou descalça.
Malu: Não exagera senhora.
Melissa: Posso saber onde vocês estavam? E por que estão molhados?
Miguel: A gente só nadou um pouco no rio.
Melissa, furiosa: O que? Você mal chegou e agora está se relacionando com essa aí?
Miguel: Não, nós somos só amigos.
Malu: É verdade senhora, foi só uma brincadeirinha de criança.
Melissa: Criança? Eu não acredito, você ontem apareceu aqui e nos apresentou sua namorada e agora você aparece e diz que entrou num rio com uma empregada? Mas que tipo de homem você é?
Malu, irritada: Pode parar, nem eu e nem o Miguel somos esse tipo de gente.
Melissa: Calada! E você Miguel, imagina o que vai acontecer quando eu contar pra sua namorada que você estava sozinho na floresta com essa garota.
Miguel: Você não se atreva a inventar suas histórias.
Melissa: Você não me dá ordens. E quanto a essa mosca-morta, não entra mais aqui.
Malu: Eu não permito que continue me ofendendo.
Melissa: Você não tem que permitir nada sua intrusa, os dois são iguais, dois golpistas e interesseiros, dois órfãos mortos de fome!
Malu dá uma bofetada em Melissa: Quieta!

Léo Menezes