Cantiga de Amor

Capítulo 15 – Cantiga de Amor

Cena 01: Rua do Povoado das Hortaliças. Manhã.

Então, Simone vê, a alguns metros de distância, Adelmo, caído no chão, ensanguentado. Desespera-se e corre em sua direção, agachando-se ao seu lado.

Simone – (Gritando) Adelmo!! Meu filho!! (Ele não responde. Ela começa a chorar, e olha para as pessoas ao redor) Ele… Ele está morto! Não, meu filho!! Não!

Leonor – (Chorando, comovida) Não, minha amiga! Tenha fé em Deus que ele há de ficar vivo!

Homem – Ele não morreu. A senhora pode ficar mais tranquila. O acidente parece ter sido grave, mas ele ainda está vivo.

Leonor – (Se dirigindo aos homens que estavam lá) Por favor, tem como levarem o filho dela para minha casa? Nós o colocaremos em minha cama. Ele não pode ficar aqui.

Simone – (Se levantando) Meu Senhor, ajuda meu filho. Ajuda-nos…

Ela abraça sua amiga. Um dos homens pega Adelmo e o leva para a casa de Leonor. Elas o seguem.

Cena 02: Sala de recepção da Igreja del Fiume. Manhã.

Santorini – Pois bem, Pero. Gostei da sua ideia. Somente me diga algo: como faremos para convencê-lo a ir nessa viagem?

Pero – Ora, padre, é só dizer que é uma ordem da Igreja, não é? Além do que ele já foi escudeiro do rei. Se o senhor falar que o papa precisa dos seus serviços…

Santorini – Então está tudo certo, meu filho. Aliás, como partiremos daqui amanhã, acho melhor ir agora até o povoado avisar a Brás.

Pero – (Sorrindo) Bem, nesse caso, eu o acompanho. Afinal, tenho que ir às terras, senão, em pouco tempo, não terei o que comer. Vamos, padre?

Santorini – Vamos.

Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Leonor.

Depois de algum tempo ajoelhada ao lado do filho, rezando e chorando, Simone decide se levantar.

Leonor – Estás, melhor, amiga?

Simone – É difícil, não é? Ver o meu filho nessa situação, e não há nada o que fazer…

Leonor – Mas nós podemos chamar o padre. Ele deve saber uma oração que há de tirar Adelmo desse sofrimento.

Simone – (Tentando enxugar as lágrimas) Tens razão, amiga. Vamos, então.

Leonor – (Para a vizinha que estava na casa dela) Cuide bem dele, por favor. Nós temos que ir até a igreja a pé, e vamos demorar. Tenha cuidado.

Após a confirmação feita pela vizinha, elas saem.

Cena 04: Nave da Igreja del Fiume.

Gregório está sentado em um dos bancos da igreja. Gustavo chega.

Gustavo – Parece que o padre saiu, não foi?

Gregório – Exatamente. Por que tu queres saber?

Gustavo –Na verdade, eu vim aqui pedir-te um favor. Como sabes, eu irei lutar pela Guerra Santa, mas eu não posso partir sem me despedir da mulher que eu amo. Só que…

Gregório – Só que o padre te proibiu de deixar a igreja. E tu queres que eu o deixe fazer isso. Irás desculpar-me, mas eu não posso desobedecer a ordens superiores.

Gustavo – Por favor, meu amigo, tem compaixão da minha situação! Eu estou deixando uma parte de mim aqui. Não vais me dizer que nunca sentiste isso? Nunca deixaste um grande amor para trás? Tu nunca amaste?

Gregório – (Levantando-se bruscamente) Não, nunca. Amo só minha família e a Deus. (Hesitante) E, claro, o meu próximo, como Jesus ordenou.

Gustavo – Mesmo assim, tu não despediste de tua família antes de vir para cá? Por favor, preciso fazer isso! Prometo que não me demorarei!

Gregório – Tudo bem, tudo bem. Eu desisto! Mas presta atenção: tem cuidado, e procura chegar o mais rápido possível aqui, antes do padre. Não quero ter problemas com ele.

Gustavo – (Apertando a mão de Gregório) Tens a minha palavra.

Gregório – Então vai logo. Vai!

Gustavo sai depressa da nave da igreja. Ao chegar ao lado de fora, procura seu cavalo, e não acha.

Gustavo – Mas, por Deus, onde está o meu cavalo?

Nesse momento, a irmã Francisca aparece com ele.

Francisca – Por acaso, procuras esse animal, rapaz?

Gustavo se assusta.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.

O padre e Pero chegam à casa de Inês. Batem na porta.

Santorini – Olá! Brás, você está em casa?

A porta, então, é aberta.

Brás – Padre? A que devo a honra de sua visita?

Santorini – Bem, meu filho, creio que seja melhor eu entrar para conversarmos.

Brás – E esse inútil? Veio com o senhor? Se veio, aviso logo que em minha casa ele não entra.

Santorini – Na verdade, ele está de passagem. Não é, Pero?

Pero – Sim, padre. Vou trabalhar. Boa sorte com esse homem desalmado com o qual o senhor vai conversar. Ah, e cuidado para não virar prisioneiro dele também.

Brás se irrita e avança em direção a Pero.

Brás – Seu covarde! Vem aqui e me encara como homem!

Santorinio interrompe.

Santorini – Não vá brigar com ele, Brás! Vamos entrar, é melhor.

Eles entram. Pero segue em direção às terras, mas, quando chega na esquina da rua, se encontra com Simone e Leonor.

Pero – O que aconteceu com as senhoras? Não parecem estar bem.

Simone – Sai da frente, inútil! Temos uma coisa muito séria a fazer e não temos tempo a perder contigo!

Leonor – Pero, cuida da tua vida. Minha amiga está passando por um momento difícil, sim, mas nada da vida dela te interessa. Com licença. (Elas seguem andando, e Leonor se vira para Simone) Vamos, amiga, vamos logo encontrar o padre.

Pero ouve.

Pero – Eu sei que as senhoras não querem ouvir uma palavra minha, mas só para saberem, o padre não está na igreja. Ele está na casa de Inês!

Elas se olham.

Simone – (Para Leonor) Na casa da minha filha? O que ele faz lá?

Elas continuam, sem ao menos virar o rosto para trás.

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.

Brás – O senhor poderia ser bem rápido, por favor? Tenho que ir trabalhar logo.

Santorini – Acho melhor ter paciência. Bem, se não se importa, gostaria que a sua mulher me servisse um copo de água.

Brás – Ela não! Padre, ela está no quarto e não sairá de lá tão cedo. Se o senhor quiser, eu pego a água, mas terá que prometer…

Santorini –Por favor, traga Inês.

Vendo a firmeza do padre, Brás cede e vai buscar a mulher. Ele volta e ela segue para a cozinha.

Brás – Então?

Santorini – Vamos esperá-la.

Nesse momento, alguém bate na porta. Brás, bufando de raiva, vai abri-la.

Brás – Quem mais veio me encher a paciência?

Ao abrir, Simone entra sem pedir licença, e deixa a porta aberta.

Simone – Padre, pelo amor de Deus! Preciso da ajuda do senhor! O meu filho… Ele está morrendo!

Santorini – Como assim, minha filha? O que houve?

Leonor – Um acidente, padre. Ele não está nos respondendo, mas ainda está vivo. Neste momento ele está em minha casa. Nós estávamos atrás do senhor porque, quem sabe, o senhor não faz uma oração e… Ele se recupera, não é?

Nesse momento, Inês vem chegando à sala, e se assusta ao ver sua mãe.

Inês – Minha mãe? O que ela faz aqui?

Ela se esconde.

Santorini – Claro, vamos então. Brás, você vem comigo. Inês também.

Brás – Eu? Por favor, tenho mais o que fazer. E minha mulher ficará aqui, trancada.

Inês, então, aparece.

Inês – Eu não fico trancada aqui nem mais um minuto!

Ela consegue correr e, aproveitando a porta aberta, foge.

Simone – Filha, não vá!

Brás – Inês!! Volta aqui!

Ele corre para buscá-la, mas o padre o impede.

Santorini – Brás, venha comigo e com sua sogra até a casa de Leonor. Leonor, por favor, vá atrás de Inês. Ela tem que apoiar sua família neste momento.

Eles saem, cada um ao seu destino.

Cena 07: Igreja del Fiume.

Francisca – Pelo visto, temos aqui um rebelde desobediente. Eu avisei ao padre que tivesse cuidado contigo, que não confiasse. E pelo visto eu estava certa.

Gustavo – (Acuado) O que a senhora quer dizer com isso?

Francisca – Nada, rapaz. Somente que o padre ordenou que tu ficasses aqui e não colocasses um dedo do pé fora da igreja. E tu já estavas procurando o cavalo para fugir. Pois bem. Sinto informar-te que teus planos estão frustrados.

A irmã Francisca pega Gustavo pelo braço. Ele tenta se soltar.

Francisca – Eu sei muito bem que tu és mais forte do que eu. Mas se eu fosse tu não tentaria fugir, senão as coisas piorariam muito…

Gustavo cede. A freira entra na igreja e o leva até uma sala que ele desconhecia.

Gustavo – Mas que lugar é esse?

Francisca – Somente um quarto. Ficarás aí, Gustavo, até eu e o padre decidirmos o que faremos contigo enquanto amanhã não chega.

A freira sai e tranca a porta. Gustavo senta no chão do quarto, indignado.

Cena 08: Povoado das hortaliças. Casa de Enzo.

Prudência e Enzo estão na sala. Ela abre a janela.

Prudência – O que será que houve aqui na casa de Brás e Inês? Parece que teve mais uma confusão…

Enzo – Mulher, eu já falei para deixares de ser curiosa. Senta aqui, porque tenho algo de importante para conversar contigo.

Prudência – Já sei do que se trata. É sobre nossa filha, não é?

Enzo – Isso mesmo. Depois da decepção de ontem, acho que devemos urgentemente arranjar um casamento para Agnella. E um que dessa vez desse certo.

Prudência – Eu concordo contigo. Mas, afinal, com quem? A última pessoa que pensamos ser ideal não era. Tenho medo de nossa filha ficar falada no povoado.

Enzo – Não precisas ter medo. Há alguém que todos sabem estar interessado em casar com ela. Já decidi: Agnella se casará, o mais rápido possível, com Adelmo.

6 thoughts on “Capítulo 15 – Cantiga de Amor

  • Desculpe a demora pra ler, João! Mas cá estou! Bem, nesse capítulo( ótimo como os outros) a minha antipatia por Irmã Francisca só cresceu, claro que ela tem suas razões, mas devia tentar compreender o sentimento de Gustavo! Já Gregório é um exemplo de pessoa, gosto muito dele. Adelmo parece que não morreu. Bem, não foi dessa vez( não que eu esteja desejando a morte dele, looooonge disso haha).
    Bem, estou esperando pela Guerra Santa, parece que será bem interessante e intensa em Cantiga de Amor.

    • Tranquilo, até porque eu também não pude acompanhar Ser Humano, mas já, já eu tiro o atraso 😉
      A irmã Francisca sempre tem suas razões. Mas a gente sabe como são pessoas assim, e como às vezes elas não se dão conta de sues próprios erros. Gregório busca ser esse exemplo, mas ele vai se entender melhor e entender o certo para si mesmo. E Adelmo só pareceu estar morto. E eu acho, inclusive, que não há motivo para se desejar sua morte; afinal, ele apenas é apaixonado por Agnella, apesar de um pouco inconveniente.
      E a Guerra Santa… Essa fase da novela traz surpresas.

  • Adelmo está entre a vida e a morte, coitada da Simone que sofre com isso.
    Gustavo estão louco para ver sua amada mas parece que estão todos contra esse romance, assim não dá né?
    Agora essa decisão maluca dos pais de Agnella de casar ela com o Adelmo, gente, vem muita coisa por aí em, essa ida do Gustavo pra guerra promete grande reviravolta na trama.

    • Adelmo não parece estar numa situação muito boa… Será que ele sobrevive a isso? Gustavo foi tentar ao menos se despedir, mas, como diz a música, não está sendo fácil… Os pais de Agnella ainda nem sabem do acidente. E, de fato, a ida de Gustavo à guerra promete reviravolta, sim.
      Obrigado por comentar! E continue participando!

    • Fico bastante agradecido por esse seu comentário, e bastante feliz por você estar gostando. Conto, então, com sua presença e com seus comentários, na medida do que for possível. Mas se puder comentar sempre, melhor, até 😉
      Obrigado!

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