Cantiga de Amor

Capítulo 07 – Cantiga de Amor

Cena 01: Arredores do Povoado das Hortaliças. Próximo à floresta. Casa de Pero.

Valentina – Quer dizer que eu não saí desse maldito lugar! Por Deus, eu preciso urgentemente sair daqui! (Respira fundo; pensa) Cavalheiro, preciso mais uma vez de tua ajuda! Me leve pra qualquer lugar em que eu não seja achada, o mais rápido possível!

Pero – Mas, senhorita, não há nenhum lugar assim por perto. Todos sabem o que acontece em todos os lugares do povoado. (Então, tem uma ideia) A não ser que…

Valentina – O quê? No que pensaste?

Pero – O convento!! Há o convento!!

Valentina – (Começando a criar esperança) Então quer dizer que… Que há um convento por perto!

Pero – Sim, claro! Ao lado da Igreja del Fiume há um convento! E se tu estás precisando tanto te esconder, lá é o lugar ideal, já que as pessoas não frequentam o lugar, não sabem quem está por lá…

Valentina – (Menos empolgada) Mas o convento é um lugar fechado… Eu não sei se eu conseguirei fugir depois. Mesmo assim… Talvez me seja a única alternativa por enquanto.

Valentina se aproxima de Pero e beija sua mão.

Valentina – Obrigada! É melhor irmos logo, então. Mas… como conseguirei entrar lá?

Pero – Não há motivos para preocupações. É melhor descansares um pouco e depois iremos. Acho que eu sei como proceder.

Cena 02: Rio dos Campos.

Agnella e Gustavo chegam ao rio. Depois de acomodarem seus cavalos em um lugar seguro, eles seguem e se sentam à sombra de uma árvore.

Agnella – Cavalheiro, em primeiro lugar, precisamos fazer algo que ainda não fizemos durante todo esse tempo. Foi um pecado não termos nos apresentado.

Gustavo – Claro! Mas que cabeça a minha! Prazer, meu nome é Gustavo. A sua mercê.

Agnella – (Cora) E o meu é Agnella. Agora, seja rápido, por favor. Sabes que não posso demorar, que serei falada no povoado…

Gustavo – (Interrompendo-a) Shhhh… Já falaste isso várias vezes para mim. Não foi por isso que viemos para esse lugar calmo, longe das pessoas? Então, não precisas continuar repetindo esse discurso.

Agnella – (Corando) Então, o que queres? Por que me trouxeste aqui?

Gustavo – Queria falar contigo sobre… Sobre o que aconteceu conosco ontem.

Agnella – Ah, sobre o favor que tu me fizeste? Já conversamos sobre isso. Já te disse que te serei eternamente grata. Estou aqui inclusive como um pagamento da minha dívida contigo. Não há mais nada o que falar. (E desvia a atenção para o rio)

Gustavo – É aí que tu te enganas. E não adianta tu virares o rosto para o outro lado porque eu percebo em teu jeito que tu sentes algo por mim.

Agnella – (Relutante) Não! Eu não sinto nada!

Gustavo – É difícil para mim lidar com isso também, entendes? Nunca senti algo parecido, tenho certo medo de ser errado ou de Deus não gostar. Mas isso me faz tão bem, tão bem, me deixa tão feliz, que eu não acho que esteja errando… Por favor, admita para mim que você… Que você…

Agnella – (Dá um suspiro e se vira novamente para Gustavo) Tu falaste exatamente o que eu sinto, o que eu penso… Tu me entendes, e eu te conheci apenas ontem! E, apesar de eu nem saber o que é isso, de só ter ouvido falar sobre isso, eu… Eu creio que te amo!

E os dois se beijam. Mas pouco, devido ao pudor que preservam da sua formação. Depois de pararem, ficam um pouco envergonhados um do outro.

Agnella – Perdão, mas eu não devia ter feito isso. Nossa Senhora, eu beijei um homem que não é meu marido!

Gustavo – Não, fui eu que errei.

Agnella – Preciso ir embora agora. Minha mãe já deve estar sentindo minha falta.

Gustavo – Mas, por favor, minha amada donzela, não te esqueças de mim, do que tu sentes por mim, do que eu sinto também por ti… Não fujas desse amor…

Agnella – Eu… Eu sei. Quero dizer, eu acho.

Agnella corre em direção a seu cavalo, monta e sai em disparada na direção do povoado. Gustavo senta novamente à sombra da árvore.

Gustavo – Meu Deus, por favor, te peço que dê tudo certo… Eu a amo!

Cena 03: Igreja del Fiume. Algum tempo depois.

Pero e Valentina chegam à igreja, e encontram o padre.

Pero – Bênção, padre!

Santorini – Bênção, meu filho! Quem é esta moça ao teu lado?

Pero – Esta é Valentina. Ela é uma prima minha, filha de um tio meu que mora do outro lado da Península. Na verdade, padre, nós queríamos falar não só com o senhor, mas também com a irmã Francisca.

Santorini – (Ficando contente) Não me diga que…

Pero – Justamente, padre. Nós queremos que ela faça parte do seu convento.

Nesse momento, a irmã Francisca aparece.

Francisca – Ora, ora! Então teremos mais uma noviça em nosso meio! Ela é da tua família, Pero?

Pero – Sim, irmã Francisca, ela é prima minha.

Francisca – Isso é ótimo! Mas… Não te parece ser um pouquinho tarde para que ela se torne uma noviça?

Santorini – (Repreensivo) Irmã Francisca, por favor.

Pero – Nós mesmos admitimos que é um pouco tarde. Ela relutava um pouco em concordar com a ideia de se tornar uma freira, mas depois compreendeu ser o melhor para ela.

Santorini – Que bom, então. Não importa o tempo que ela levou, mas o que importa é que entendeu. Então, vamos cuidar do seu ingresso no convento. Aliás, minha filha, tu até agora não pronunciaste uma palavra. O que estás achando desse momento?

Valentina – Eu? Eu… estou… achando ótimo. Muito… muito bom pra mim. É um sonho.

Os quatro se dirigem ao convento. Enquanto eles caminham, Gregório, que fazia algo por perto, para. Para e fica observando, principalmente, a donzela que parece ser a nova noviça, e que transpira garra e força… Enfim, depois de tudo estar pronto, Valentina e Pero se despedem.

Valentina – Não sei nem como te agradecer por isso, meu amigo. Fizeste tanto por mim, sem nem me conheceres direito…

Pero – Eu confiei em ti assim que te vi. Tu pareces ser uma moça decidida, e só isso bastou.

Francisca, ao fundo, chama Valentina.

Valentina – (Olha para o padre, a freira e o ambiente do convento) Agora, terei que enfrentar uma coisa que nunca pensei que enfrentaria. Precisarei de muita graça de Deus para isso.

Pero – Boa sorte, minha querida. Que Deus te ajude na tua caminhada. Tenho certeza de que conseguirás sobreviver. Ah, e podes deixar, eu cuidarei muito bem de teu cavalo.

Valentina – Obrigada. Tchau, cavalheiro.

Valentina sai. De longe, o padre e a freira se despedem de Pero, que volta para sua casa.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Terras coletivas. Final da tarde.

Enzo está saindo das suas terras, do seu trabalho. Então, Adelmo aparece.

Adelmo – Senhor Enzo, eu preciso falar contigo sobre algo urgente. Algo que eu já devia ter falado.

Enzo – O que há de tão urgente, rapaz? Desse modo tu me assustas! É algo sobre as terras?

Adelmo – Não, não há nada com as terras. Eu quero casar-me com a tua filha.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Quarto do casal.

Desde o momento em que trancou Inês no quarto, Brás não apareceu nem com comida nem com água. Inês ainda estava um pouco surpresa com a atitude do marido, mas, principalmente, com o fato de ele saber que ela havia ouvido sua conversa com o criado. Deitada, com as primeiras lágrimas derramadas já secas, Inês ouve a porta da frente abrir e fechar. Então, corre até a janela, e, depois de muito esforço, consegue destrancá-la. Pula a janela.

Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone – Sabes, minha amiga, eu acho que aprendi muito com esses dez anos em que perdi meu marido. Aquele acidente na montanha foi bem triste e marcante… Esses tempos para cá foram difíceis, é verdade, mas graças a Deus eu pude contar com pessoas boas.

Leonor – Sua família, é claro, e sua amiga aqui. Eu fico muito contente por estares melhor, e por ter te ajudado a melhorar de vida. Acho até que estarias pronta para uma nova mudança…

Simone – Cruzes, Leonor! Será que não podes pensar, ao menos um segundo, sem ser como uma alcoviteira? Eu confesso que às vezes sinto falta de uma companhia, mas não é para tanto! Até porque Deus nem permite isso!

Alguém bate na porta. Simone abre.

Simone – Minha filha! Que cara é esta que tu tens?

Inês – Mãe, preciso de tua ajuda! E da senhora também, dona Leonor.

Leonor – Minha querida, eu fiquei sabendo que ocorreu algo de ruim contigo hoje, e não entendi direito quando ouvi… O que houve de verdade?

Inês – Foi culpa de meu marido! Ele descobriu que eu ouvi sua conversa com o amigo, aquela em que ele deixou escapar que era pobre, e quis me punir por isso. Mas o fez da pior maneira possível!

Leonor – (Curiosa) E o que ele fez?

Inês – Enfiou uma libertina despudorada em minha casa e estava pecando com ela, na minha frente! E depois disso me colocou de castigo no quarto, trancada!

Leonor – Mas que loucura! Que dificuldades tu passaste!

Inês – Então, mamãe, eu preciso que a senhora e a Leonor façam algo por mim! Falem com o padre… Ele há de fazer algo.

Simone – Claro, querida, eu e Leonor falaremos com o padre Santorini amanhã mesmo após a missa.

Inês – Ai, mamãe, obrigada mesmo! Obrigada também, Leonor. Agora, preciso ir antes que meu marido descubra a minha fuga.

Cena 07: Povoado das Hortaliças. Terras coletivas.

Enzo – Casar? Tu queres casar com minha filha?

Adelmo – Isso mesmo. Tu sabes, e acho que todo o povoado, que eu sempre gostei de Agnella. Nunca fiz nada de mais, claro, mas sempre a amei. Além disso, eu não sou um camponês pobre: tenho condições de dar uma boa vida a tua filha.

Enzo – Perdoe-me, meu rapaz, mas infelizmente tu chegaste um pouco atrasado. A minha filha já irá se casar com outro homem.

Adelmo – (Surpreendido) Como assim? Quem foi esse que chegou antes de mim?

Enzo – Isso não interessa a ti. Não por enquanto, enquanto eu ainda acerto os detalhes. Então, eu te peço que não insistas em tentar tal casamento, porque não serás bem-sucedido. Com licença, que eu tenho que ir para minha casa.

Enzo se afasta de Adelmo, que fica furioso.

Cena 08: Igreja del Fiume. Manhã.

A manhã chegou, e é hora de missa. Após o café da manhã, Gustavo saiu para admirar um pouco a paisagem próxima à Igreja. Nesse momento, várias pessoas estão chegando, a pé ou a cavalo, para assistirem à missa. Gustavo, entretanto, está um pouco afastado delas, e não presta muita atenção ao movimento. Então, para sua alegria (e surpresa), ele reconhece uma voz atrás de si.

Agnella – Cavalheiro!

Gustavo – (Se vira, sorrindo) Pois não, minha amada senhorita!

Agnella – Eu estive pensando em tudo o que ocorreu conosco ontem, em como tu tiveste o atrevimento de me beijar…

Gustavo – (Interrompendo-a) Eu não te beijei. Nós nos beijamos.

Agnella – Mas não importa como ocorreu. O que importa é que eu te vi enquanto chegava, e não resisti. Vim logo falar contigo, porque eu queria muito dizer-te uma coisa.

Gustavo – O quê? Por acaso já esqueceste que tu me afirmaste que me amavas?

Agnella – Não, não esqueci. Por isso queria te dizer que eu aceito esse amor. Que eu quero viver o amor que eu sinto por ti.

Os dois se beijam.

4 thoughts on “Capítulo 07 – Cantiga de Amor

  • Muito legal esse capítulo. Coitada da Inês, ela sofre demais! Bonito o romance entre Gustavo e Agnella. Agora que Valentina está livre, vamos ver por quais aventuras ela irá passar nesse convento!

    • Mas será mesmo que Valentina está livre? Será que ela escolheu o caminho certo?
      Inês sofrerá por mais um tempo, mas, como visto nesse capítulo, ela não aceita sofrimento facilmente.
      E Gustavo e Agnella… Bem, agora que eles resolveram engatar, eles não planejam nada além de permanecerem juntos. Mas será que isso será possível?
      Obrigado pelo comentário! E conto com suas próximas contribuições e suas opiniões! 🙂

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