Capítulo 03 – “A OUTRA”

“A OUTRA”

[CAPÍTULO 03]

ORIGINAL DE: DIOGO MACHADO

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CASA DOS FERNANDES/CORREDOR

SORAYA ANDAVA PELA CASA, SÓ DE BIQUÍNI, QUANDO ESBARRA EM BERNARDO.

Bernardo (a segura): Opa! Cuidado, quase que você cai e estraga esse rostinho bonito. (sorri)
Soraya: Obrigada por me segurar, eu tava procurando o banheiro. É que essa casa é tão grande…
Bernardo: Você tem razão, às vezes até eu me perco. Mas se você quer saber onde fica o banheiro, ele fica no final do corredor à esquerda, entendeu?
Soraya: No final do corredor, à esquerda, entendi. Muito obrigada… Patrão.(sorri)
Bernardo: Que isso, foi um prazer. (sorri para ela)

SORAYA SEGUE EM DIREÇÃO AO BANHEIRO, E BERNARDO A OBSERVA.

Bernardo (olha para ela andando): Nossa!

CASA DE SILVIA/QUARTO DE SILVIA

SILVIA E LUCIANA CONVERSAVAM SENTADAS NA CAMA.

Silvia: Eu preciso te contar uma coisa. Hoje cedo eu tive lá na casa de cultura para assinar alguns papéis, organizar alguma coisa antes da inauguração… E você não sabe o que aconteceu.
Luciana: Eu não faço ideia. O que foi?
Silvia: O Théo.
Luciana: Eu não acredito, ele apareceu por lá?
Silvia: Não. Não é isso graças, a deus. Mas ele me mandou um buquê de flores, e ainda teve a audácia de escrever um cartãozinho com declaração de amor e tudo, tá aqui. Dessa vez eu guardei pra você ver (entrega pra ela).
Luciana (lê o cartão): Puxa vida, parece que ele tá falando sério mesmo né?
Silvia: Parece, e isso é o que mais me preocupa. E se ele resolver aparecer, depois de todo esse tempo, você sabe como ele é violento, e eu só me mudei do Rio por causa dele.
Luciana: Fica calma querida, ele não pode fazer nada com você. E se ele quiser te ameaçar, a gente vai até a policia dar queixa dele tá bom?
Silvia (abraça Luciana): Obrigada amiga.

POUCOS DIAS DEPOIS…

PETRÓPOLIS/RJ

[MANHÃ]

CASA DE CULTURA/HALL DE ENTRADA

NAQUELA MANHÃ OCORRIA A INAUGURAÇÃO DA CASA DE CULTURA

Silvia: É com muito prazer, que hoje eu e a minha amiga Luciana Fernandes, inauguramos a nossa casa de Cultura, projetada pelo próprio marido dela, o arquiteto Bernardo Fernandes, que está aqui. (aponta para Bernardo) – Como o próprio nome já diz esse vai ser um espaço dedicado à cultura, ao lazer, ao ensino e ao aprendizado, por que não adianta tentar educar alguém, se esse alguém não aprender não é mesmo? Então sem mais enrolação, sejam todos bem vindos.

LUCIANA E SILVIA CORTAM JUNTAS A FITA DE INAUGURAÇÃO E TODOS ENTRAM NA CASA.

Soraya: Esse lugar é muito bonito dona Luciana, meus parabéns.
Luciana: Muito obrigada Soraya, eu… Ai!!
Soraya (preocupada): O que foi dona Luciana, a senhora tá bem?
Luciana: Eu tô sim Soraya, não se preocupe. Foi só uma pequena dor na barriga, mas isso acontece sempre, não se preocupa.

EM OUTRO PONTO DA CASA, BRUNO CONVERSAVA COM SUA MÃE.

Bruno: Parabéns mãe, a casa de cultura é linda.
Silvia: Obrigada meu filho. Eu fico muito feliz em ver o seu interesse, de verdade (os dois se abraçam).

(SEM QUE NINGUÉM PERCEBA, THÉO OBSERVA TUDO, POR TRÁS DE ALGUNS VASOS DE FLORES)

LUCIANA CONCEDIA ENTREVISTA A ALGUNS JORNALISTAS

Repórter 1: O que você acha da inclusão social, no aspecto da cultura?

Luciana: Eu acho de extrema importância, que as camadas mais vulneráveis do nosso país também tenham acesso à informação de qualidade e cultura, tanto que toda e qualquer atividade da minha casa de cultura é totalmente gratuita. Além disso, também, se faz cada vez mais necessário que a gente aprenda a não apenas proporcionar cultura a eles, em especial os jovens, mas também receber a cultura das nossas periferias. Não dá mais pra a gente pensar que o que vale mesmo é só cultura erudita. A periferia tem muito que nos ensinar no que se refere à vanguarda cultural e manifestação artística.

Repórter 2: E o que você pensa a respeito da introdução da música e do teatro nas escolas?

Luciana: Olha, eu acho que… (sente uma forte dor na barriga) – Ai! (põe a mão na barriga)
Bernardo (se aproxima dela): O que foi meu amor?
Luciana: Eu acho que é o bebê.
Bernardo: Mas ainda é muito cedo…
Luciana (com dor): Bom, então você diz isso pra ele…Ai!

COM MUITA DOR,LUCIANA DESMAIA E É AMPARADA POR BERNARDO. TODOS SE APROXIMAM E OS FOTÓGRAFOS COMEÇAM A TIRAR FOTOS DA CENA.

HOSPITAL/SALA DE ESPERA

BERNARDO, SILVIA E SORAYA, ESPERAVAM NOTÍCIAS DE LUCIANA, QUANDO FINALMENTE CHEGA O MÉDICO.

Bernardo (Tenso): E ai doutor, como a minha mulher está, e o meu filho?

Médico: Se acalme seu Bernardo. Nós tivemos que fazer uma cesariana o mais rápido possível, porque a sua esposa não aguentaria levar a gestação até o final. Nós tivemos uma pequena complicação na cirurgia e ela sofreu uma pequena hemorragia interna, mas nós já controlamos, e ela já está em recuperação.

Bernardo (agitado, interrompe): Sim, sim, mas e o meu filho, como ele está?

Médico: Ele vai precisar passar alguns dias, talvez uma ou duas semanas aqui, na incubadora, porque como eu havia dito ele nasceu muito antes da hora, e está muito fraco.

Bernardo: Entendi. E eu já posso ver a minha mulher?
Médico: Pode sim, mas vocês não podem deixa-la se agitar, está bem?
Bernardo: Claro.
Médico: Então fiquem à vontade. Com licença. (sai da sala)

Silvia: Bernardo eu vou precisar passar em casa, para trocar de roupas e avisar o Bruno que eu vou ficar no hospital essa noite.

Bernardo: Que isso Silvia, é claro que não precisa, eu fico.

Silvia: Não, eu faço questão. E você mesmo sabe que amanhã você tem que trabalhar cedo, além do mais tem a Clarinha, coitada.
Bernardo: Que isso, eu posso muito bem faltar o trabalho, e a gente também tem a Soraya. Não se preocupe eu fico no hospital.
Silvia: Bom, você é que sabe. De qualquer maneira, eu volto para ver a minha amiga e o bebê, OK?

Bernardo: Faça isso, até mais.
Silvia (o abraça); Até mais. (vai embora)
Bernardo: Venha Soraya, venha comigo. Vamos ver a Luciana.

Soraya (sorri): Obrigada!

CASA DE SILVIA/SALA

SILVIA ENTRA DISTRAÍDA, MEXENDO NA BOLSA QUANDO LEVANTA A CABEÇA, SE DEPARA COM UM HOMEM COM O ROSTO COBERTO POR UM BUQUÊ DE FLORES.

Silvia (assustada): Quem é você?
Théo (abaixa as flores): Como vai o meu amor? O meu primeiro amor. (sorri).

HOSPITAL/QUARTO DE LUCIANA

Bernardo: Como você está se sentindo meu amor?

Luciana: Mais ou menos. Eu estou começando a sentir um pouquinho de dor. Eu acho que o efeito da anestesia deve estar passando, e eu sinto um pouquinho de fraqueza também.

Bernardo: Não se preocupe meu amor, isso vai passar.

Soraya: E o bebê, onde é que está?

Luciana: Ele está na incubadora. Ele nasceu muito prematuro e precisa de cuidados especiais agora.

Soraya: Ah, é mesmo, eu tinha me esquecido. Sabia que a minha mãe perdeu um filho assim? Eu acho que ele tinha nascido no quinto mês da gravides, então levaram ele pra incubadora também, mas não teve jeito. A única vez que a minha pôde ver bem ele mesmo, foi na hora do velório. (Então ela finge não ter se dado conta do que havia dito) – Ai gente me desculpa, eu me esqueci. Mas como a minha mãe sempre fala quando começo a falar é por que vem besteira por aí, me desculpem pelo amor de deus…

Luciana; Não faz mal Soraya, agente entende. Eu tenho certeza que vai dar tudo certo.
Soraya (falsa): Que Deus te ouça! (olha pra cima).

CASA DE SILVIA/SALA

Silvia(com medo): O que você está fazendo aqui? Vai embora.

Théo: Isso é jeito de você me receber? Eu até trouxe essas flores pra você.

Silvia (joga as flores no chão): Eu não quero flor nenhuma, eu só quero que você vá embora, que me deixe em paz.

Théo (a agarra): Que isso meu amor, vem cá vamos relembrar os velhos tempos, vem…

Silvia(Se solta):Me larga, seu desgraçado, nojento…

BRUNO CHEGAVA EM CASA

Bruno: O que está acontecendo aqui? Pai, você aqui?

Théo (abre os braços): Meu filho! Há quanto tempo? Como você cresceu.
Bruno: O que aconteceu? Por que você tá chorando mãe?

Silvia: O seu pai invadiu essa casa Bruno. Ele tentou me agarrar a força.

Théo: Que isso Silvia, não exagera, quanto drama…

Bruno: Vai embora daqui pai!

Théo: O que? Eu acho que eu não entendi.

Bruno: Vai embora. Deixa a gente em paz, some.

Théo (ri): Pera ai! Então quer dizer que eu tô sendo expulso de casa pela minha ex-mulher e pelo meu próprio filho, é isso?(ri) Vocês só podem estar brincando comigo. Isso é uma pegadinha, não é? Onde é que tá a câmera? (olha para os lados)

Bruno: Você já ouviu pai. Agora vai embora logo antes que eu chame a policia.

Théo: Tudo bem, tudo bem. (pega as flores do chão): Eu vou. A gente não precisa fazer nada pra se arrepender depois, não é? Não tem pressa. Eu vou, mas eu volto. (sorri e vai embora)
Bruno (abraça a mãe): Calma mãe, já passou.

Silvia (chora abraçada em Bruno).

[NOITE]

CASA DOS FERNANDES/SALA

SENTADO, BERNARDO LIA O JORNAL. SORAYA DESCIA AS ESCADAS.

Soraya: Pronto, a Clarinha já dormiu.

Bernardo (larga o jornal e se levanta): Obrigado Soraya. Você tem sido um verdadeiro anjo da guarda para a gente. Muito obrigado.

Soraya: Que isso seu Bernardo, eu gosto de vocês, de verdade… E se o senhor quiser eu posso preparar alguma coisa pro senhor comer antes de ir pro hospital. O senhor vai querer?

Bernardo: Não Soraya, muito obrigado. Pode ir pra sua casa, você precisa descansar.

Soraya: Tudo bem, se o senhor não quer mais nada, até amanhã então. (vai indo).

Bernardo: Não Soraya, espera! Pensando bem eu acho que vou querer mais uma coisinha, sim.

Soraya (deixa a porta aberta e volta para perto dele): É?(meche na gola da camisa dele) – E o que o senhor vai querer?

Bernardo: Isso! (então ele começa a beijá-la).

SILVIA IA ENTRANDO NA CASA SEM PERCEBER OS DOIS.

Silvia: Desculpa Bernardo, mas a porta estava aberta e…
(percebe os dois se beijando) – O que é isso?

SORAYA E BERNARDO PARAM DE SE BEIJAR E OLHAM PARA SILVIA.

[FIM DO CAPÍTULO 03]