Sete Pecados

Canção de Luta (Soberba/ Vaidade).

OS SETE PECADOS

EPISÓDIO 07: SOBERBA/ VAIDADE.

Canção de Luta”

Roteiro: Gabriel Adams.

Resumo: Suzana é uma mulher carinhosa e composta por segredos que ninguém até hoje conseguiu desvendar. Ela tem um envolvimento com Edgard e essa paixão despertou coisas que ela jamais poderia imaginar. Ela é presidente de uma empresa de roupa, enquanto ele é um navegador/historiador. Depois de promessas em vão, o homem faz uma viagem e a esquece de uma vez por todas, despertando um lado oculto na mulher. O excesso de amor próprio toma conta e agora Suzana, antes doce, se transforma numa mulher soberba, egoísta e vaidosa, sempre querendo ser o centro das atenções. Três anos depois o retorno de Edgard desperta novos segredos e traz a descoberta de um câncer de mama na mulher, que agora, precisará lutar para conseguir sobreviver. Uma luta diária contada em ritmos, como uma canção.

CANÇÃO DE LUTA

PERSONAGENS DESSE EPISÓDIO:

EDGARD

LUANA

GUSTAVO

SUZANA

INÊS

Ano de 2013

CENA 1. RIO DE JANEIRO – LEBLON / TEATRO DO LEBLON / NOITE

Uma jovem se posiciona diante do palco. Com um vestido deslumbrante, a jovem, loira e com uns olhos chamativos pega um microfone. Sua voz doce ecoa em todos por todo o teatro.

O amor só vive pelo sofrimento e cessa com a felicidade; porque o amor feliz é a perfeição dos mais belos sonhos, e tudo que é perfeito, ou aperfeiçoado, toca o seu fim. ” Camilo Castelo Branco

CENA 2. RIO DE JANEIRO – LEBLON / APT. DA SUZANA BECHER / NOITE

Suzana entra em seu apartamento, aos risos, juntamente com sua filha, Luana, a jovem da cena anterior.

Suzana fecha a porta: Esse dia ficou marcado! Você fez uma apresentação espetacular.

Luana sorridente: Eu fiz o meu melhor, mas confesso que fiquei com medo de não gostarem da minha apresentação.

Suzana abraça a filha: Impossível! Sua voz estava tão doce, tão pura. Foi uma das melhores apresentações que já vi.

Luana se afasta: Não chega a ser tanto assim.

Suzana sorri: Claro que chega! Você merece todos aqueles aplausos e muito mais. Já estou ansiosa para a próxima apresentação.

Luana tira os sapatos e senta-se no sofá: Vamos com calma. – Ela ri. – Acabei de fazer uma apresentação cansativa e preciso descansar minha mente para decorar mais textos e mais textos.

Suzana sorridente: Você vai dar conta. Tenho certeza.

As duas se olham sorridentes.

Luana sussurra: Espero!

CENA 3. PARATY – PRAIA VERMELHA / MANSÃO DE EDGARD / NOITE

Suzana abre a torneira da banheira. A mulher caminha em passos lentos até o quarto, que tem a vista de frente para a praia. A mulher joga algumas pétalas na cama e coloca do lado um balde com gelos, champanhe e logo ao lado, duas taças. Ela liga o som e começa a tocar a música Photograph – Ed Sheeran. Suzana pega uns cremes, vai até ao banheiro do quarto e em frente ao espelho enorme, tira seu roupão, ficando apenas de lingerie. Em seguida, passa os cremes pelo corpo.

Na entrada da mansão…

Um carro luxuoso chega e estaciona na garagem. Edgard, vestido de terno, desce do carro e entra na mansão.

Lá dentro…

O homem coloca a pasta de executivo no sofá e, entre sorrisos, consegue sentir o cheiro de Suzana.

No quarto…

O homem entra devagar, sem barulho e vai até o banheiro.

Suzana olha Edgard pelo vidro: Tomei a liberdade para vir até sua casa e fazer essa surpresa. – Ela sorri. – Fiz mal?

Edgard se aproxima e, por trás, entrelaça seus braços nela, lhe abraçando.

Edgard sorrindo: Claro que não. Eu estava precisando de você.

Suzana vira-se: Estou aqui! – Ela o beija. – Deixei a banheira enchendo com água morna. Como você gosta.

Edgard tira o paletó e joga no chão. Os dois começam a se beijar e entre os beijos, trocam carinho. Enquanto se beijam, eles vão para perto da cama. A mulher a gravata e logo desabotoa a blusa e retira, ainda entre os beijos. Ela vira-se de costas e joga o cabelo para o lado. O homem beija o pescoço dela e tira a alça de seu lingerie. Tempo nos dois se amando.

Algumas horas depois…

Edgard e Suzana na banheira. Os dois estão um de frente para o outro, bebendo champanhe e comendo morango.

Edgard rindo: Suas histórias são sempre as melhores. Se qualquer outra pessoa me contasse, diria que é mentira.

Suzana sorrindo: Fico feliz que você deposita confiança em mim. – Ela coloca a taça no chão e se aproxima do homem. – Você sabe que eu deposito toda minha confiança em você.

Edgard ri: Tenho que confiar. – Eles se beijam. – E sua empresa? Como está?

Suzana se afasta: Bem. Aliás, melhor do que eu gostaria e esperava. Essa última coleção teve uma repercussão que nunca imaginava que teria.

Edgard: Eu disse para você investir nessa carreira que daria certo.

Suzana sorri: Devia ter te ouvido há tempos. E seus negócios como navegador? Andam bem?

Edgard sem graça: Que bom que você tocou nesse assunto. – Ele se levanta da banheira e coloca o roupão. – Acho que precisamos conversar sobre isso.

Suzana assustada: Aconteceu alguma coisa? – Ela também se levanta e coloca o roupão.

Edgard: Eu vou ter que fazer uma viagem de última hora. Mas é por pouco tempo. Juro!

Suzana indignada: Eu não posso acreditar nisso. Por que isso? Existem tantos outros navegadores bons que podem fazer essa viagem. Você mesmo sempre reclamou disso.

Edgard: Eu sei que sempre reclamei. Mas é o meu trabalho que está em jogo. A herança que meu pai deixou não vai durar por muito tempo e sem esse trabalho eu vou viver de quê?

Suzana: Você vem morar comigo. Pronto! Sai desse trabalho e vamos para o Rio comigo. Lá você vai ter várias opções de trabalho, poder experimentar coisas novas.

Edgard a segura: Eu não posso fazer essa loucura. Eu juro que vai ser por pouco tempo. Eu não vou demorar.

Suzana chorando: Se você entrar naquele maldito barco e sumir você não precisa me procurar nunca mais. Você vai sumir da minha vida também!

Edgard lhe abraça: Tudo bem… Eu não vou. Eu arrumo alguma desculpa. Mas eu fico.

Suzana lhe aperta forte: Promete que nunca vai me deixar? Promete?

Edgard: Prometo.

Ele dá um beijo na testa da mulher.

Dia seguinte…

CENA 4. PARATY – PRAIA VERMELHA / MANSÃO DE EDGARD / NOITE

Enquanto a mulher dorme, o homem pega um papel e uma caneta. Enquanto escreve…

Voz de Edgard: Suzana! Sei que nunca fui o homem perfeito e muito menos o homem que você sempre pediu. Também sei que entre promessas feitas e promessas não feitas, nosso amor prevaleceu enquanto teve forças. Talvez a falta que eu irei sentir será coberta por uma viagem longa e de muitas descobertas, que disfarçará a dor, que a partir de agora, enquanto escrevo a carta, eu estou sentindo. Desculpa ter lhe feito acreditar em amor eterno… nada é eterno. Tenho certeza que longe de mim, você será uma pessoa melhor. Mais uma vez, desculpas! Fique bem. Eu te amo.

O homem tenta desenhar um coração no final da folha. Ele larga a caneta, pega suas malas e sai.

Na praia…

O homem coloca suas malas no barco. Seu companheiro lhe dá tapas nas costas, como forma de cumprimento. Edgard olha para trás e chora ao ver sua casa.

Lá dentro…

Suzana desperta e alisa o lado onde Edgard estava, na tentativa de acariciá-lo, mas não o sente. Ela abre os olhos e percebe que o homem não está.

Suzana se levanta: Edgard!

Ela procura pelos cômodos da casa, mas não obtém resultado. Até que rodeando o quarto com o olhar, ela percebe uma carta em cima da mesa. Apressada, ela pega a carta e começa a lê, já aos prantos. Antes mesmo de terminar, a mulher larga a carta e sai correndo.

Na praia…

Suzana corre desesperada. O barco de Edgard já está um pouco distante.

Suzana chorando descontroladamente: EDGARD VOLTA AQUIIIIIIIIIIIIIIII!

Um outro homem, também amigo de Edgard e do companheiro, se aproxima.

Homem abraça Suzana: Ele já se foi… Não adianta gritar.

A mulher cai no chão, aos prantos.

CENA 5. RIO DE JANEIRO – LEBLON / SALÃO DE BELEZA / DIA

Suzana deita na cadeira e a cabeleireira lava o cabelo da estilista. Em seguida, ela levanta-se e senta-se em uma cadeira, enquanto isso a cabeleireira pega uma tesoura e começa a cortar seu cabelo.

Voz de Suzana em off: Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro.

No chão, alguns pedaços de cabelo de Suzana vão caindo. É possível escutar um pouco longe o barulho da tesoura, cortando os cabelos.

CENA 6. PARATY – PRAIA VERMELHA / MANSÃO DE EDGARD / DIA

Suzana ainda caída no chão, aos prantos, se descabelando.

CENA 7. RIO DE JANEIRO – LEBLON / SHOPPING LEBLON / DIA

Suzana já com o visual todo diferente, com uma cor diferente e um corte diferente no cabelo, passeia pelo shopping, carregando algumas sacolas. Ela entra em umas lojas e experimenta roupas novas.

Voz de Suzana em off: Cada manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder.

CENA 8. PARATY – RUAS / DIA

Suzana anda desolada e ainda aos prantos. Usando somente um vestido de dormir, a mulher caminha descalça em meio ao chão quente, mas a maior dor que ela sente está em seu coração.

CENA 9. RIO DE JANEIRO – LEBLON / SHOPPING LEBLON / TARDE

Suzana chega numa clínica de limpeza de pele. A mulher deixa as sacolas em um canto e entra para a sala. Ela deita na cama e a mulher pega os produtos e instrumentos necessários para a limpeza.

Voz de Suzana em off: Este milagre está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos.

CENA 10. RIO DE JANEIRO – LEBLON / RUAS / NOITE

Suzana anda pelas ruas, carregando as sacolas, com um novo visual.

Voz de Suzana em off: Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança. – Paulo Coelho.

A mulher chega no prédio e entra no elevador. Conforme a porta fecha, tudo escurece.

Ano de 2016… Leblon, Rio de Janeiro.

CENA 11. RIO DE JANEIRO – LEBLON / BREAK MODAS / DIA

Suzana entra apressada na sala de reuniões.

Suzana fecha a porta: Me desculpem pela demora. Peguei um trânsito infernal.

Inês sorri debochada: Você é tão certinha e gosta que todos sejam bem compromissados com horário. Quem cobra demais, tem de menos.

Suzana senta-se: Quando eu estiver precisando de sermão eu peço sua ajuda. Por ora, dispenso. – Ela se ajeita na cadeira. – Podemos começar a reunião?

A reunião começa…

CENA 12. RIO DE JANEIRO – LEBLON / APT. DA SUZANA BECHER / DIA

Luana recebe Gustavo em casa.

Gustavo sorri: Não atrapalho?

Luana abre a porta: Claro que não! – Ela sorri. – Entra.

Gustavo entra e Luana fecha a porta.

Gustavo procurando: Sua mãe não está?

Luana: Ela foi trabalhar logo cedo. Desde que sofreu aquela decepção amorosa minha mãe só vive para o trabalho.

Gustavo sem graça: Eu fico com receio de vir aqui. Sua mãe e minha tia não se dão muito bem. Temo que elas descubram nosso envolvimento.

Luana se aproxima: E mesmo que descubram, nada vai nos separar e nos impedir de sermos felizes. Nossa felicidade depende só da gente.

Gustavo entrega as sacolas que segura: Comprei sorvete e pipoca. E aluguei um filme.

Os dois se encaram sorrindo.

Corte descontínuo.

Gustavo prepara a sala para o filme.

Luana chega com um balde de pipoca: Ainda tenho que me estudar esses textos para a peça de semana que vem. É inspirada em ‘Sonho de uma noite de Verão’ do Shakespeare.

Gustavo empolgado: Eu adoro esse livro! Espero que dessa vez eu receba o convite para a peça.

Luana o beija: É CLARO que vai receber. Quero você na primeira fila!

Eles sorriem e se beijam.

CENA 13. RIO DE JANEIRO – LEBLON / BREAK MODAS / DIA

Suzana desliga o projetor: A reunião está encerrada. Obrigada a todos.

Todos aplaudem, menos Inês, que faz cara de nojo.

Os comerciantes e acionistas se levantam e vão saindo aos poucos.

Suzana se levanta: Inês! – A mulher para e vira-se. – Você fica.

Corte descontínuo.

Suzana fecha a porta depois que todos se retiram.

Inês sem entender: Algum problema?

Suzana a olha: Você realmente achou que eu ia deixar passar a vergonha que você me fez passar na frente de todo mundo?

Inês debocha: Eu realmente não sei do que você está falando.

Suzana furiosa: Não se faça de desentendida. É bom que você saiba que quem manda aqui SOU EU! Você nunca conseguirá chegar nem aos pés de onde eu cheguei. Enquanto eu for presidente da empresa, você vai me obedecer. – Ela sorri. – Estamos entendidas, AMIGA?

Inês reage: Eu não vou cair nessa sua conversa. Sei muito bem onde você quer chegar com essa sua arrogância toda.

Suzana sorri: Não! Você não sabe. Eu mando e você obedece. Se você realmente acha que vai conseguir me derrubar, está enganada. Eu sou muito melhor do que você, sou mais inteligente que você, mais bonita, elegante. Tudo o que realmente essa empresa precisa.

Inês prendendo o choro: Você não vale nada. Essa sua carinha de anjo não engana ninguém. Você é cruel!

Suzana: Eu sofri demais nessa vida e agora aprendi a me amar primeiro. Fiquei mais esperta, ágil. Se você está pensando em me dá uma rasteira, se prepara, eu acabo com sua vida. Eu faço você ser expulsa daqui. – A secretária entra. – Estamos conversadas, amiga? Saiba que eu te adoro muito! – Disfarça.

Secretária: Dona Suzana, tem uma pessoa querendo falar com a senhora.

Suzana a olha: Diz que já vou. – A secretária vai embora. Inês pega sua bolsa para ir embora também. – Antes de você ir, manda um recado para o seu sobrinho: avisa que eu quero ele longe da minha filha. Ele não é rapaz para ela.

Inês vai embora furiosa. Suzana sorri com tom de superioridade.

Sala de Suzana…

Suzana entra apressada. Edgard vira-se.

Suzana furiosa: O que você está fazendo aqui?!

Edgard: Será que a gente pode conversar?

Suzana fecha a porta: Não temos nada para conversar. Vai embora, por favor. Eu disse que se você sumisse com aquele maldito barco, era para você sumir da minha vida também. Vai embora!

Edgard se aproxima: Eu não consigo te esquecer. Eu preciso de você!

Suzana furiosa: Quem você pensa que é para sentir o direito de entrar e sair na minha vida a hora que você quiser? Eu te perdoei por várias coisas, mas agora é hora de eu me perdoar por ter me enganado tanto tempo com alguém como você. Sai daqui!

Edgard tenta lhe segurar: Eu juro que mudei! Acredita em mim.

Suzana lhe estapeia: SE AFASTA DE MIM! Você destruiu minha vida. Por sua causa eu me tornei uma mulher rancorosa, destruída e sem um pingo de confiança nas pessoas.

Edgard consegue lhe conter: Eu estou arrependido de tudo isso que eu fiz. Esse tempo longe de você me machucou muito e mesmo distante eu sentia você perto de mim. Era como se você estivesse comigo, mas ao mesmo tempo ausente: presença da sua ausência. Eu te amei e continuo te amando. E eu consigo sentir isso de você também.

Suzana se solta: Você não consegue sentir nada de mim. Você só consegue se sentir. Egoísta! Agora sai daqui. Me deixa em paz! Eu estou te pedindo. Se você realmente me ama, não me faz sofrer mais. Vai embora.

Os dois se encaram por um tempo e Edgard a puxa, lhe dando um beijo. Ela vai se entregando aos poucos, mas seu corpo vai amolecendo e ela acaba desmaiando.

CENA 14. RIO DE JANEIRO – LEBLON / HOSPITAL / DIA

O médico chega com um diagnóstico.

Suzana apreensiva: E então, doutor? O que eu tenho?

O médico tenta criar coragem para contar.

Luana tensa: Fala doutor! Estamos esperando.

Médico é direto: Suzana você está com um câncer de mama. Suas chances de cura são mínimas. Você vai passar pelo tratamento tradicional, mas não deve criar muita esperança. Eu lamento muito.

Suzana chora descontroladamente e Luana lhe abraça, também aos prantos.

Dias depois…

CENA 15. RIO DE JANEIRO – LEBLON / APT. DA SUZANA BECHER / NOITE

Suzana começa a se arrumar. Em frente ao espelho, a mulher toca em seus seios e começa a chorar. Corte descontínuo. A mulher vai penteando o cabelo e ele começa a cair e ela chora compulsivamente, pois percebe que sua vaidade está indo embora.

CENA 16. RIO DE JANEIRO – LEBLON / TEATRO / NOITE

Suzana entra e percebe que não está mais sendo o centro das atenções. Ela prende o choro, mas segue em frente. A mulher senta-se e logo em seguida, percebe que Inês e Gustavo chegam.

Suzana se levanta: O que é isso? O que vocês dois fazem aqui?

De longe, Luana vê a cena e se aproxima rapidamente.

Inês sorri: Fomos convidados. Sua filha nos entregou o convite. Não gostou? Depois você reclama com ela.

Luana chega: Mãe! Gustavo! Inês!

Suzana irritada: O que significa isso, Luana? Quem te deu a liberdade para chamar esse tipo de gente?

Luana sem entender: Tipo de gente? É assim que você se refere as pessoas? Isso aqui é uma apresentação minha e eu chamo quem eu quiser para assisti-la. Inês, Gustavo, fiquem à vontade.

Luana dá um beijo em Gustavo e assusta Suzana.

Suzana perplexa: Eu não posso acreditar que estou sendo afrontada pela minha própria filha.

Luana a olha: Fique à vontade também, mãe.

Luana vai embora. Suzana se afasta de Gustavo e Inês, que logo se acomodam.

Minutos depois…

Começa a apresentação. Suzana assiste tudo.

Algumas horas depois…

Encerra a apresentação. Suzana se levanta, no instante, ela sente uma tontura e apoia na poltrona.

Inês se aproxima: Você está bem? Eu vi que você quase caiu.

Suzana cabisbaixa: Sai de perto de mim!

Inês a segura: Eu não estou te tratando com ignorância. Sei que não se damos muito bem, mas eu realmente quero te ajudar.

Suzana senta-se: Eu não preciso da sua ajuda. Vai embora!

Inês percebe as falhas no cabelo de Suzana: Que falhas são essas no seu cabelo? Você está/

Suzana a empurra: SAI DAQUI! – Ela se levanta. – Eu não preciso da sua ajuda. Não percebe que eu não estou bem?

Gustavo se aproxima.

Inês a segura: Então deixa eu te ajudar.

Suzana zonza: Chama minha filha. Eu só quero ela aqui perto de mim.

Gustavo apressado: Eu faço isso.

Suzana senta-se novamente.

Inês à solta: Eu vou pegar um copo de água para você. Fique aqui.

Suzana a puxa: Não! Espera! Fica aqui comigo. Eu preciso te falar umas coisas. – Inês fica. – Eu sei que sempre te tratei com indiferença e até hoje não consigo explicar o motivo. Talvez tenha sido medo de perder meu emprego para você. Você é linda, elegante, competente e muito inteligente, tinha muitas chances de me derrubar. Mas eu quero te pedir perdão por cada palavra ruim que eu te falei. Me desculpa!

Inês sem reação: Nossa! Eu nunca esperava isso de você. Eu não sei nem o que dizer.

Suzana fechando os olhos, tonta: Eu estou morrendo, Inês. Eu descobri há pouco tempo um câncer de mama e minhas chances de cura são mínima. Eu vou ter que fazer uma cirurgia para retirar a mama, mesmo assim, o câncer já se alastrou por boa parte do meu corpo. Não precisa dizer nada, só me perdoa.

Inês levanta Suzana: Reage! Calma! E eu te perdoo. Mas você vai ficar bem. Você vai sair dessa. Nossas indiferenças não entram em jogo agora. Você é forte e isso eu reconheço. Você vai vencer mais essa.

No instante que Inês vai abraçar Suzana, a mulher desmaia em seus braços.

CENA 17. RIO DE JANEIRO – LEBLON / HOSPITAL / NOITE

Suzana entra na maca do hospital, as pressas. Os médicos tentam reanimar ela enquanto empurram a maca. Luana vem logo atrás, desesperada, aos prantos, sendo amparada por Edgard e Gustavo. Inês observa tudo de longe, sem reação.

2 meses depois…

CENA 18. RIO DE JANEIRO – LEBLON / HOSPITAL / NOITE

Suzana já fez a cirurgia da retirada da mama. Sozinha no quarto, ela passa a mão e sente que não tem mais nada e começa a chorar. Os cabelos caídos no travesseiro também são motivos de mais lágrimas rolarem o rosto da mulher.

Meses depois…

CENA 19. RIO DE JANEIRO – LEBLON / HOSPITAL / DIA

Suzana, careca, está respirando com ajuda de aparelhos. Luana entra no quarto com um buquê de flores e uma caixa de bombom.

Luana sorridente: Mãe! Trouxe isso aqui para alegrar seu dia. Não sei nem se podia, mesmo assim resolvi trazer pelo menos para te alegrar um pouco.

Suzana tenta se ajeitar na cama: Oh, filha! Não precisava disso. Sua presença e sua visita já são o suficiente para mim. Quando estou com você, não preciso de mais nada.

Luana senta-se na beirada da cama: Eu sei que sim. Mas quis fazer um agrado. Você sempre fez tudo por mim, nada mais justo que agora, no momento que você mais precisa, eu te retribuísse com carinho, amor e esses presentes que você sempre adorou ganhar.

Suzana emocionada: Estou muito feliz que você não tenha desistido de mim. Mesmo comigo assim, horrorosa e acabada.

Luana segura a mão da mãe: Para com isso! Você está linda.

Suzana sorri: Esses seus elogios não me convencem. Filha, eu quero te fazer um pedido. Na verdade, dois.

Luana se aproxima: Diga.

Suzana: O primeiro é que eu não quero que você deixe ninguém me visitar. Eu não quero que as pessoas me vejam desse jeito: ridícula! E o segundo é que eu quero que você seja muito feliz na sua vida. Eu sinto que não vou durar por muito tempo e eu preciso dizer que de onde eu estiver, a sua felicidade, será a minha. Faça o que você quiser desde que você seja feliz! Isso me basta.

Luana chorando: Acho que não vou poder atender um. Tem uma pessoa lá fora te esperando. Quanto ao outro, a senhora não vai embora tão cedo. Tenho certeza que você irá superar mais essa.

Suzana enxuga as lágrimas: Quem está lá fora? Eu não quero que ninguém me veja nesse estado deplorável.

Corte descontínuo.

Luana se retira e Edgard entra.

Suzana se esconde: Não! Sai! Eu não quero que você me veja nesse estado.

Edgard sorri: Você está linda! – Ele puxa o lençol. – Como sempre. Não precisa se esconder mim.

Suzana vira o rosto: Eu não quero que você me veja assim. Eu estou horrível, ridícula.

Edgard se aproxima aos poucos: Quando eu me apaixonei por você, não me apaixonei pela sua beleza, foi pelo seu gesto, pela sua doçura, pela sua calmaria… Eu me apaixonei por você inteira e não em metades.

Suzana o olha: Eu sou uma mulher horrível. Sou arrogante, soberba, são meus defeitos, mas são meus. Não tem como alguém se apaixonar por alguém assim.

Edgard senta-se na beira da cama: Quando nos apaixonamos, nos apaixonamos até pelos defeitos. Eu já disse que me apaixonei por você inteira, com tudo e isso inclui seus defeitos.

Suzana chorando: Por que você me ilude tanto? Você brinca com os sentimentos dos outros como se isso fosse algo agradável aos seus olhos.

Edgard segura as mãos da mulher: Quando eu escrevi aquele bilhete eu lembro que falei que entre promessas feitas e não feitas, nosso amor prevaleceu. Mas eu esqueci de escrever que você foi a promessa mais perfeita que me aconteceu. Eu não aguento mais um segundo longe de você. Eu te amo! Eu vim aqui para te fazer um pedido e eu só vou embora depois que obtiver a resposta.

Suzana enxuga as lágrimas: Fala.

Edgard sorri, chorando: Casa comigo? Aqui mesmo. Eu quero te provar que meu amor não era regado nas belezas e sim nos gestos.

Suzana fica sem reação diante ao pedido. Ela se emociona ainda mais e os dois se abraçam.

Poucos dias depois…

CENA 20. RIO DE JANEIRO – LEBLON / HOSPITAL / DIA

Suzana aparece de cadeira de roda no pátio do hospital. Ela está vestida de noiva, com tudo o que tem direito. Luana empurra a mãe, até chegar ao local onde Edgard está, vestido de noivo, com seu terno. Inês e Gustavo apreciam tudo, em meio aos outros convidados.

A mulher se emociona e Edgard a mesma coisa. Ela usa uma máscara com um balão de oxigênio, para ajudar a respiração. A equipe dos médicos se emocionam.

Meses depois…

Suzana já não está mais deitada na cama do quarto no hospital. Partimos para o seu apartamento e não a encontramos.

Quarto de Suzana…

Edgard puxa uma caixa de cima do guarda-roupa. O homem senta-se na cama e pega um álbum de fotos. Ele começa a passar as fotos de seu casório com Suzana.

Voz de Edgard em off: Em tantos erros imperfeitos, você foi o meu acerto mais perfeito. Quando eu decidi passar o resto da minha vida ao seu lado, não imaginei que você fosse tirada de mim tão rápido e de uma forma tão bruta. Nossa sintonia era perfeita e tínhamos tudo para vivermos felizes para sempre… Se isso existisse. Você foi minha única esperança de viver e foi o gás que eu precisava para enfrentar a vida e os obstáculos de cabeça erguida. Eu tento imaginar minha vida agora, com você do meu lado, mas é difícil, mas dessa vez eu prometo mesmo: estou tentando. Eu encontrei em você os sentimentos escondidos, que ninguém jamais poderia imaginar. Quando te vi entrar vestida de noiva, eu não consegui me conter. Desculpa se falhei na missão de não te fazer feliz… nem tudo é como planejamos. Meus sentimentos são ocultos, não se preocupe, eu sempre vou te ver diante dos meus olhos… Você está comigo para sempre.

CENA 21. RIO DE JANEIRO – LEBLON / APT. DA INÊS / DIA

Inês, Gustavo e Luana almoçam juntos. A última se levanta apressada e corre ao banheiro para vomitar.

Corte descontínuo.

Gustavo e Luana se abraçam emocionados. O jovem alisa a barriga da noiva e Inês tira uma foto deles juntos.

Corte descontínuo.

Luana entra em trabalho de parto. Gustavo corre, pega as coisas e a leva para o hospital.

Corte descontínuo.

Luana em trabalho de parto e os médicos pedindo que ela faça força. Gustavo incentiva. Minutos depois, a criança nasce e ela se emociona.

CENA 22. RIO DE JANEIRO – LAGO / DIA

Edgard caminha na ponte do lago.

Voz de Edgard em off: Você me deixou uma longa jornada pela frente. Uma jornada de luta, na tentativa de esquecer alguém inesquecível. Talvez a tentativa seja para amenizar a dor que no momento eu sinto, mesmo depois de tanto tempo. Você fez com que eu me mostrasse por completo, me revelasse diante das verdades que você dizia e eu tentava despistar.

Ele chega até o beiral de proteção da ponte.

Voz de Edgard em off: De onde quer que você esteja, que esteja feliz. Você estará para sempre comigo.

O homem olha para o céu e tenta conter as lágrimas. Tempo nele.

FIM

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

Acompanhe também:
Twitter

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

2 thoughts on “Canção de Luta (Soberba/ Vaidade).

  • Muito bom o episódio, Gabriel. Uma verdadeira luta mesmo a de Suzana. Um final muito bem escrito e emocionante, acho que fechou o especial com chave de ouro. Gostaria de agradecer você e todos os outros cinco autores por terem aceito escrever esse especial que ficou muito bacana e a repercussão me agradou bastante. Também quero agradecer a quem leu e comentou. Em breve, mais especiais como esse podem surgir, pois creio que é um formato dinâmico e muito bacana!

Deixe um comentário

Séries de Web

Séries de Web