Black Tears

Black Tears – Capítulo 5

Motivos para Ficar.

Por que age dessa forma?!
Por que me despreza tanto?!
Mesmo que não possa me dizer,
sempre estarei aqui.
Não me importo com seus insultos, não me importo
com suas atitudes.
Então venha comigo e grite, grite para que
todos saibam que a lealdade é a ultima a morrer.

 

** 1 **

 

Mesmo ficando a noite inteira pensando não consigo descobrir o motivo dele ter feito aquilo, sei que não sou seu amigo a tanto tempo quanto cecile, mas pelo menos posso receber um voto de confiança. E também não acreditei em momento nenhum que aquele foi a razão, eu vi ele dando um passo para frente antes de hesitar e ficar parado com um rosto sombrio.

(Rangido da Cama)

O barulho da floresta zumbia juntamente com vários pensamentos eliminando completamente minhas chances de dormir. Com um breve suspiro me sento na beirada da cama que ficava perto da janela, senti o vento noturno passar pelo quarto fazendo meu corpo arrepiar. olhei para o relógio e as letras vermelhas flutuavam em cima da mesa.

– Não acredito que fiquei olhando para o teto por todo esse tempo – Passei a mão direto no cabelo e com a outro apoiei na cama.

Pego uma blusa jogada perto da cama antes de me levantar e ver as fileiras de dormitórios pela janela que ainda permaneciam inteiros. Devagar pego as chaves que teimosamente tilintaram depois que a porta foi fechada, o corredor iluminado pela luz da lua parecia mais cumprido do que o normal ou era apenas um delírio de alguém que não conseguia dormir.

O vento tinha esfriado tanto ao ponto do ar que saia pela minha boca ser visível, assoprei as mãos enquanto caminhava pelo jardim até encontrar um solitário banco de mármore no meio daquela escuridão. Não sei quanto tempo havia se passado, mas observar as estrelas era bem melhor do que um teto, elas sempre me acalmavam. Em meio ao farfalhar das arvores pude ver uma estrela riscando os céus.

– Supostamente é agora que devo fazer um pedido.

– Supostamente sim.

Meu coração quase saiu pela boca com a súbita voz vinda de trás. Ao me virar acabei me deparando com o professor Eclair ir que tinha surgido das sombras de um corredor, ele ficou me encarando por algum tempo o que só me deixou ainda mais envergonhado. Quando ele chegou mais perto consegui perceber que ele não estava usando uma blusa de frio, mas apenas uma simples camiseta branca, calças moletom cinza juntamente com um par de chinelos. Fui um pouco para o lado no banco o que ele aproveitou e acabou se sentando logo em seguida nos fazendo voltar não ao silencio, mas sim ao barulho que somente a noite podia proporcionar.

– Você não é tão jovem – Comentou depois algum tempo – Digo, para fazer pedido a estrelas?

– Não – Um fraco suspiro deixou minha boca – mais isso me tranquiliza.

– Fazer o que se gosta é sempre prazeroso.

O silencio havia retornado depois daquelas breves palavras fazendo parecer que a conversa anterior parecesse uma ilusão. Olhei de relance para o professor que com ambas as mãos apoiadas no banco e a perna dobrada em cima da outra olhava para o céu não demonstrando nenhum pingo de frio e com a sua usual expressão de descontentamento.

– Professor se não for muito desrespeitoso porquê você sempre parece bravo com alguma coisa. Se você não quiser responder tudo bem, só queria puxar assunto.

Pude jurar que ele havia ignorado minha pergunta devido ao tempo que ele precisou para responde-la. Seus olhos ao invés de encarar as estrelas se voltaram para mim.

– Vou parafrasear algo que li uma vez a muito tempo, isso talvez responda sua pergunta ” Minha vida contituía-se de uma única nota, sem variações, certamente alta e invejada por muitos, mas horrivelmente tediosa para mim”.

– Não pensei que você fosse responder.

O vento noturno passou fazendo as poucas arvores do jardim balançarem.

– Não tenho motivos para não responder, é justamente o contrário – Um sorriso torto se formou no seu rosto – Ninguém se interessa em perguntar.

Se for pensar a respeito ninguém nunca conversou com o professor devido a acharem que ele odeia todo mundo, os outros professores simplesmente o admiram de uma certa distância.

– Sei o que você está pensando, mas já não existem pessoas para tornar a frase significativa, os que aqui ainda estão já não podem diferenciar a realidade de um mero sonho – Sua voz saiu em um tom melancólico, nem parecia o professor rigoroso do primeiro dia de aula – Sinceramente Rodolf tenho inveja de você por ainda ter prazeres ainda que pequenos para usufruir. Ter amigos por quem lutar.

– Eu tento o meu melhor para ser amigável com todos, não gosto tanto de conflitos desnecessários.

– vejo que sim – Ajeitou seus óculos – Para ser tão direto até mesmo comigo é algo notável. Porém não estou falando de ser um colega e sim amigo. Se não me engano você deixou de conversar com aqueles dois, qual é mesmo o nome deles?

– Cecile e Daniel – Dobrei a perna só para apoiar meu rosto na mão – Eles não precisam de mim, tem um ao outro.

Um barulho fraco o suficiente para se perder no vento saiu de sua boca, devia ser uma risada ou simplesmente algo da minha cabeça.

– Pessoas perturbadas sempre precisam de um suporte para se apoiar – Ele mais uma vez virou seus olhos para o céu – a questão é se você pode aguentar ambos sem apodrecer no meio do caminho.

Nunca pensei que receberia conselhos do professor mais indiferente do colégio, isso era algo inesperado – A aparência pode mesmo enganar os outros -. Respirei fundo só para soltar lentamente e ver uma leve fumaça branca desaparecer conforme o vento passava, essa noite estava sendo mais agitada que o normal.

– então isso serve para você também professor? – Perguntei antes de encara-lo.

Seu corpo começou a tremer e por alguns segundos pensei que ele estava finalmente sofrendo com o frio, mas inesperadamente os cantos da sua boca se entortaram mais uma vez, creio que para nessa noite ele esteja sorrindo muito. Pela minha surpresa o sol já começava a aparecer no horizonte espantando a escuridão da noite.

Os seus olhos brilharam pela luz da manhã que começava a nos cobrir.

– Infelizmente só tenho duas opções. Um suporte que ao se deparar com o peso do tempo apodreça e se quebre – ele levantou o segundo dedo – Ou um suporte que assim como eu seja eterno, mas que fique tão frio quanto o mármore.

Sem esperar qualquer resposta ele se levanta e caminha pelo mesmo corredor em que veio com as mãos no bolso. Fiquei sem palavras para a situação incomum que aconteceu nessas poucos horas, a surpresa era que mesmo ficando todo esse tempo sobe a luz das estrelas não senti nenhum sono.

Ao mesmo tempo em que me levantei as janelas de todos os lados começaram a se abrir, com um alongamento começo a andar até o refeitório enquanto pensava no que dizer aos dois, claro que na situação atual eles poderiam ser totalmente hostis. No caminho acabei cumprimentando varias pessoas ainda sonolentas se arrastando ou sendo arrastadas pelos amigos, um pouco mais a frente vejo ambos entrarem animadamente. Conversas explodiam por todo o lugar por onde olhava, peguei uma pequena fila e esperei a minha vez que não demorou muito tempo, depois de respirar com calma fui em direção ao meu objetivo.

– Mesmo acordando de manhã você ainda consegue manter esse rosto de ferro – Comentou apontando uma colher para ela – Queria saber o seu segredo, iria sempre ganhar no Poker.

Cecile ignorou e continuou comendo como se nada tivesse acontecido. Mas era justo saber como ela acordava da mesma forma que o dia anterior, varias mulheres tinham inveja dela por esse e outros motivos.

Sem perder tempo me aproximei.

– Posso me sentar com vocês?

– Não somos donos do lugar – Falou cortando o pudim – Fique a vontade “Junior”.

Com um sorriso irônico me sento só para começar a comer o lanche que havia pegado na cozinha, o queijo descia pela minha gargante a cada mordida espanhando seu agradável sabor. Cada um na mesa comia de forma unica, Daniel a cada mordida fechava os olhos para apreciar melhor o sabor, cecile comia algumas frutas não olhando para nenhum lugar em particular, era como se ela ainda estivesse dormindo com os olhos abertos, ambos pareciam estar em seus próprios mundos.

– Então Rudolf por que veio comer com a gente – Perguntou Cecile tão repentinamente que quase engasguei.

– Bom, queria me desculpar formalmente pela minha atitude nesses dias.

– Que coisa linda – Comentou Daniel para o pudim ignorando quase completamente nossa conversa.

Ela parou a maça no meio do caminho o que seria algo cômico se não fosse pelo seu rosto sério.

– Você não teve culpa por ficar nervoso – Ela apontou para ele com a cabeça – Ele é e foi um babaca então não se preocupe muito com isso. A surpresa aqui é você ter voltado.

Escutando o insulto Daniel levantou a sobrancelha direita subitamente interessado na conversa.

– Olha que ótimo – Falou depois de engolir um pedaço – Estou recebendo insultos logo de manhã. Vocês poderiam ter esperado até a hora do almoço, ai sim eu teria estomago para isso.

Ambos agiam como se eu nunca tivesse parado de conversar com eles, isso fez com que meu coração apertasse. Na parte de trás alguns alunos comentavam sobre o rumo que tudo isso iria tomar, o exercito estava bem movimentado ultimamente. Suspirei antes de perceber que meu lanche já havia acabado.

– Vocês acham que iremos ser convocados para o exército?

– Considerando as pessoas que foram mortas é bem provável que sim – Para minha surpresa quem respondeu foi Daniel – Quando esse dia chegar terei o prazer de servir com a minha “adora” irmã.

Cecile vendo que meu lanche tinha acabado me passou uma pera.

– Vocês estão sendo muito exagerados, a maioria das pessoas que morreram foram civis dispensados por invalidez, eles propositalmente não mexeram em nenhuma instalação militar apesar de poderem.

Mordi a pera que estava madura demais para ter um gosto doce. Continue comendo enquanto ambos discutiam a possibilidade de participarmos da guerra, foi quando notei depois de algum tempo que Daniel tinhas marcas negras debaixo dos olhos, pelo visto não fui o único a não conseguir dormir direito esses dias.

– Bom, se formos servir e certo que o meu pai vai me chamar para a divisão dele – Falei cortando a conversa que já ia para um rumo violento – Apesar dele estar em Alvared no momento.

– Então a única pessoa do grupo que não tem ninguém da família no exército é a nossa pequena Ceci? – Mostrou um sorriso – Que sorte.

– Você está muito engraçadinho essa manhã – Daniel levantou as mãos para cima ainda sorrindo – Então quando chegar a hora vamos torcer para ficar na mesma divisão, ter pessoas confiáveis por perto é o minimo para ter uma missão bem-sucedida.

Não consegui ficar feliz por sido chamado de confiável, a única coisa que sempre fui bom era lutar, mas nesse aspecto ambos eram excelentes e não precisavam de mim, o máximo que pude fazer foi concordar enquanto mordia o último pedaço de pera.

– Qual o nome da sua irmã – Perguntei olhando diretamente em seus olhos – Posso ter alguma vez ter visto ela quando estava treinando junto com o meu pai.

Ele ficou um bom tempo me encarando com a mão no queixo, talvez estivesse pensando em uma resposta aceitável ou simplesmente em não responder. De todas as pessoas que conheço ele sempre foi um mistério para mim.

– Seu nome é Annabeth, se você estiver tentando fazer alguma “jogada” para cima dela fique sabendo que ela e tão ou mais amorosa que eu.

** 2 **

Desviei de uma estocada ao mesmo tempo em que girava no mesmo lugar por fim acertando o calcanhar do meu oponente o fazendo desmoronar no chão só para em seguida colocar a ponta da arma perto do seu pescoço encerrando a luta. Não fazia muito tempo desde que havíamos começado o treinamento, mas o meu parceiro de treino já estava em péssimas condições, hoje as classes haviam sido misturadas para que todos tentassem desenvolver algum trabalho em equipe ou era para os alunos mais fracos entenderem que as vezes a vida bate muito forte. Tentei ajuda-lo a levantar mais ele tinha batido a cabeça e desmaiado, respirei fundo enquanto o arrastava até um canto evitando que ele ficasse no caminho dos outros.

– já botou outro para dormir Rodolf – Falou batendo no meu ombro – Acho melhor deixar você com alguém a altura, se não os alunos das outras classes não iram aprender nada.

O sol cobria a maior parte do campo de treinamento fazendo todos suarem muito, passei a mão no cabelo o tirando do caminho juntamente com o suor que insistentemente tentava penetrar nos meus olhos. Peguei uma garrafa de água e então fui até um canto na sombras, o campo de treinamento não era dividido por sexo porquê segundo o treinador quando se juntava homens com mulheres conseguiria retirar o melhor de ambos. Senti um frio da cabeça que por alguns segundos me assustou.

– Esfria essa cabeça “Junior” – Retirei a toalha molhada dos olhos só para ver Daniel sorrindo – Você está acabando com os novatos, pegue leve.

– Não posso pegar mais leve que isso – Jogo a toalha para ele que pega no mesmo instante – Melhor apanhar de mim aqui do que morrer para um inimigo. Você também não parece estar pegando leve.

– Não sei do que você está falando.

Olhei de relance para o lugar onde ele estava e tinha alguns novatos caídos, alguns tinham o braço ou a perna em posições bens ruins. ele pareceu ignorar esse fato enquanto bebia água. Cecile por outro lado lutava nas mesmas condições que os oponentes e até dava conselhos do que fazer. Ambos eram polos opostos.

– Claro que sim.

– Vocês dois – Exclamou Marcos vindo em nossa direção – Aproveitem que estão livres e vão treinar com os outros daquele lado, chega de moleza.

– Certamente Capitão – Ainda sorrindo ele bateu continência, o treinador vendo isso rangeu os dentes – Vamos caro amigo, a “carne” não se bate sozinha.

Peguei o bastão de madeira que descansava do lado e o segui até onde os adultos treinavam, nunca fui muito bom em ensinar os outros, Daniel muito menos então era melhor deixar essa tarefa para Cecile. percebendo que seriamos seus oponentes todos abriram um enorme sorriso, sempre somos requisitados para treinar com eles, ainda mais eu que sou filho de um comandante. Por algum motivo senti uma forte vontade de espirrar, não acredito que vou ficar doente só por pouco de água gelada na cabeça, isso é ridículo.

– O que aconteceu? Cecile não vem hoje. – Perguntou umas das adversarias fazendo um rosto claramente desanimado e me tirando do devaneio-.

– Ela deve ter arranjado um namorado – Falou outro sorrindo parecendo um pai – Tem que se aproveitar a juventude.

– Como se isso fosse possível – Falou Daniel segurando sua barriga-.

Pela cara que todos fizeram o único a entender a piada foi ele. Ao que parece ele era o único que achava que Cecile não conseguiria arranjar alguém apesar de sua beleza, ignorei o resto das conversas enquanto fazia um alongamento. Fomos separados em trios onde seria um contra dois, esse método de treino visava aumentar a adaptabilidade no campo de batalha ao mesmo tempo em que incentivava o trabalho em equipe, pois uma das regras era que você livremente poderia interferir com a luta do outro o que quase ninguém fazia. Troquei minha arma para uma espada leve de uma mão, agilidade era muito útil nessa tipo de situação. Havia mais alunos junto conosco, aparentemente o general do exército pediu para reunir os melhores alunos e lhes dar um treinamento infernal, mas o real motivo era claramente pelo ataque ocorrido. Sentindo o perigo inclino minha cabeça para o lado só para no momento seguinte sentir a orelha queimar. Movi minha espada para trás no momento em que um ataque ia me acertar, sem sequer perder tempo a pessoa que tinha feito o ataque inicial fez uma estocada diretamente visando minha barriga. usando a força consigo afastar a espada que até agora impedia meus movimentos me permitindo desviar do ataque que vinha rapidamente em minha direção para a direita ao mesmo tempo em que lhe empurrava com os ombros a afastando. Com passos silenciosos começamos a andar em círculos, respirei fundo enquanto observava o jogo de pés de ambos, a mulher de cabelos azuis fazia o mesmo, o homem me contrariando começou a fazer o caminho oposto tentando me cercar.

Sorri ironicamente ao dar um passo para a frente o que foi um gatilho para ambos me atacarem de posições diferentes, o homem desferiu um ataque vertical enquanto a mulher apenas esperou caso surgisse alguma abertura. Aproveitando a vantagem inclino minha espada diagonalmente fazendo o golpe deslizar até o chão produzindo uma fricção enorme, não tive tempo de fazer algum ataque, a mulher que observava tudo de longe se apressou e desferiu um golpe diagonal, porém consegui defender com um movimento lateral e sem perder tempo lanço um chute na sua coxa visando tirar sua guarda. Com muita agilidade ela defende levantando apenas um pouco sua perna a usando para receber o impacto, o homem já tinha se recuperado e tentou me atacar pelas costas com um golpe horizontal. rapidamente consigo me libertar do impasse e abaixo torcendo o corpo ao mesmo tempo em que acertava sua costela que por consequência o fez desmoronar, sem perder tempo volto minha atenção para a mulher que agora tinha um sorriso enorme no rosto.

– Você é muito bom. Acho que gostei um pouco de você.

Abaixei bem na hora em que um vento passou pela minha cabeça, tentei usar a oportunidade para chutar o seu pé de apoio, mas não seria tão fácil assim, ela deu um pequeno pulo desviando do chute. Rapidamente ela recolheu a perna estendida fazendo um círculo completo usando o impulso do chute só para logo em seguida emendar outro usando a perna que antes servia de apoio. Tudo isso tinha sido rápido demais, a unica reação que tive foi desviar um pouco do chute fazendo com a minha outro orelha ficasse vermelha.

– dessa jeito até parece que você está envergonhado, que fofo – Ela visivelmente mandou um recado, devo começar a lutar seria -.

– Você está sendo zoado por outro pessoa – Murmurou Daniel em algum lugar – Inadmissível, acabe com ela.

Não respondi a nenhum dos comentários, só iria fazer com que perdesse o foco na luta. Largo a espada da mesma forma que ela fazendo a mesma franzir a sobrancelha direita sem sair uma polegada da defesa, nem todos conseguem impressionar. Ambos avançamos para frente o que fez surgir um choque de punhos, tentei acerta-la com um Upper que facilmente foi desviado com um simples fechar de guarda, os poucos espectadores que viram aquilo bateram palmas. Fiquei o mais perto dela possível tentando travar sua velocidade, desviei de um soco vindo diretamente para o meu queixo contra-atacando logo em seguida com uma joelhada que como facilidade foi jogada para o lado oposto usando sua mão esquerda. Sem tempo para tomar folego desviei seu punho com o cotovelo, nisso aproveitei a chance e com um giro no mesmo lugar tentando acertar sua nuca com o outro cotovelo, porém como se já tivesse esperando por isso ela seguiu o fluxo e contra-atacou usando seu calcanhar que por muito pouco não acertou minha cara. Ficamos algum tempo trocando golpes sem que ninguém realmente acertasse um ponto crítico, ela estava muito acima dos outros com quem tinha lutado até agora. Cada ataque mesmo que pequeno era defendido e no instante seguinte ser contra-atacado nos fazendo ficar em cheque.

Era a primeira vez desde Cecile e Daniel que tive que suar em uma luta.

– Acabe com ele! – Gritou alguém na multidão.

– Pare de brincar com ela – Exclamou outro – Apostei dinheiro em você.

Pelo o que parecia havia algum círculo de apostas acontecendo enquanto lutávamos e pelo visto boa parte tinha apostado nela, mesmo ficando um pouco triste não me desconcentrei em momento algum da luta.

– Já chega, a luta foi muito boa de assistir mais temos mais o que fazer – Falou o treinador batendo palmas.

Ambos paramos ao mesmo tempo, o vento que até então tinha aparado começou a sobrar pelo campo de treinamento aliviando todos do peso que o cansaço exercia. Respirei fundo e então olhei para o céu azul manchando com nuvens brancas.

Sem demorar um segundo respondemos.

– Certo treinador!

Olhei rapidamente pelo campo e somente nos ainda continuávamos lutando, na parte da multidão surgiam vários rostos bastante descontentes nós encarando enquanto amassavam um pequeno papel. Em um pequeno canto algumas pessoas sorriam enquanto guardavam seus ganhos, Daniel era um deles.

Ignorei o olhar dos perdedores e voltei minha atenção para a mulher de cabelos azuis que discutia animadamente com alguns colegas de classe e veteranos, só fui descobrir que ela não era um soldado quando ela foi para o meio dos estudantes. Vou direto até um banco ao mesmo tempo em que tirava minha camisa, peguei um pouco de água e joguei pela nunca fazendo meu corpo inteiro ter uma maravilhosa sensação de frescor, Daniel ao invés de tirar a blusa primeiro pegou o balde de água e jogou em si mesmo só para depois tirar a blusa, todos que viram aquilo tinha visivelmente veias saindo de suas testas de tão nervosos. Seu cabelo loiro escureceu devido a quantidade de água derramada, ele parecia um vilão de algum seriado de tv com aquele sorriso. Os outros alunos que não tinha bebido nada e morriam de calor tinham espasmos nos cantos de suas bocas, já os soldados que viram todo o treinamento a distância tremiam enquanto cobriam suas bocas com a mão mal não se aguentando em pé.

– Nada melhor para dissipar o calor do verão – Falou se sentando ao meu lado – Não é.

– Você não vai ganhar nada irritando os outros.

-Claro que vou – Ambas as mãos seguraram na parte de trás da sua cabeça, gotas de água desciam pelo seu rosto – Onde está a sua visão empreendedora ? Quanto mais irritados eles estiverem mais pesado posso pegar, claro que tudo em legitima defesa.

– Devo ter ficado muito tempo no sol – Cobri o rosto com as mãos – Por que isso acabou de fazer sentido para mim.

As coisas tinham voltado ao “normal” mais rápido do que esperado, quando fui sentar com ele pensei que seriam hostis, porém fui recebido como se fosse um amigo que tinha viajado me fazendo sentir pior ainda. Retirei esses pensamentos da cabeça quando a mulher de cabelos azuis se sentou perto de mim, ela usava um sutiã esportivo juntamente com calças feitas especialmente para não atrapalharem a movimentação, ela sorria de orelha a orelha por algum motivo.

– Ótima luta – Disse enquanto dava um soco no meu braço – Mas adoraria ver você lutando sério, deve ser muito emocionante.

– Aquele foi o meu sério, sinto muito por decepciona-la.

(Risos)

– Você não me engana – Calmamente ela apoia seu pé descalço no banco e logo em seguida seu rosto no joelho, ela parecia um felino – Aquele não foi nem o começo, provavelmente você já pratica com seu amigo ali desde o início das aulas – Apontou para Daniel que tinham em algum momento partido para dar em cima de uma das instrutoras – Então fraco você não é.

-você me superestima demais, mas por outro lado você também não estava dando tudo de si na luta.

Ela deu de ombros, uma ação que parecia caber bastante com sua personalidade, pelo menos a que ela tem mostrado até agora.

– Sinceramente na tribo de onde vim não tinha muitas pessoas fortes – Seu olhar tinha ficado distante por alguns segundo, devia ser difícil largar tudo para explorar o desconhecido – Acabei ficando meio arrogante, mas depois de ficar um tempo nessa escola percebi que esse mundo é muito grande. Queria que Leona estivesse aqui para ver tudo isso.

Fiquei por algum tempo observando ela, cada movimento que ela fazia era bem elegante por si só. O suor que escorria pelo seu rosto por fim descendo pelo pescoço parecia brilhar em sua pele morena, percebendo meu olhar ela volta a realidade.

– Me desculpe acabei divagando – Sorriu – Voltando ao assunto gostaria de treinar mais com vocês – Presumi que ela falava de Daniel e Cecile – Ouvi falar que essa tal Cecile é muito boa, posso não ser muito inteligente, mas sou boa de briga.

Qualquer um poderia treinar com eles então sinceramente não consegui ver um motivo para ela vir falar comigo especificamente, Daniel adoraria treinar com ela, cecile apesar de sua aparência extremamente seria é muito amigável e uma ótima pessoa para dar conselhos. Eu por outro lado acabei perdendo o controle na hora em mais precisava dele, se não fosse por Daniel tenho certeza que teria perdido minha cabeça. Acho que no fundo não era raiva que eu sentia dele, mas vergonha de ter lidar com a ideia de ter sido um completo covarde.

– Bom, não me importo e acho que nem eles, mas você vai aguentar – Perguntei me inclinando para frente aproveitando meus joelhos como apoio – As vezes mesmo eu não consigo acompanha-los.

Ela se ajeitou no banco e apertou as mãos e então abriu um sorriso, pude entender que tipo de pessoa ela era naquele momento. Percebi depois de algum tempo que não tinha perguntado o nome dela e nem ela o meu, a conversa não tinha sido propensa o suficiente para isso. No momento em que ia perguntar o seu nome um alarme soou pelo campo de treinamento fazendo os guardas e instrutores pararem o que estavam fazendo, naquele momento meu mundo caiu.

– Todos os soldados se apresentem ao quartel general imediatamente, isso é uma ordem direta do General Vicente Lichtenstein. Alvared está sobe ataque – A voz no microfone conseguiu fazer o que a uma manhã inteira de treinamento não conseguiu, me deixar cansado -.

** 3 **

1 Hora antes do ataque.

– Obrigado Bruno – Apertei firmemente sua mão que com o passar dos anos não perdeu sua antiga força – Ocorreu algum imprevisto na hora da entrega?

– nada em particular – olhou para cima enquanto passava a mão no cavanhaque já um pouco grisalho – Ah! Um dos meus homens tentou envenenar um dos mercenários a pedido meu, se tudo ocorresse bem teríamos dois servos leais já que eu tinha preparado o antidoto, mas algo ocorreu errado e ele acabou morrendo, para não deixar qualquer pista que de alguma forma pudesse levar a nós tive que forçar a família dele a tirar “Férias permanentes” muito longe daqui, por algum inconveniente do destino eles acabaram morrendo no caminho, essas coisas podem acontecer hoje em dia.

Senti muito pelo pobre homem e sua família, mas tinha que ser feito para que o silencio continuasse.

– Posso compensa-lo por sua perda.

– Não precisa meu amigo – Bebeu em um só gole o liquido marrom que estava no copo – Ele nem era um homem tão habilidoso assim, não fara falta. Mas se for pedir por algo você poderia saciar minha curiosidade.

Passei a mão cuidadosamente pelo meu anel antes de pegar a pequena caixa e passar com cuidado para ele. Estiquei o braço direito pelo sofá antes de dobrar a perna em cima da outra, o sol abriu seu caminho através do carpete parando ao lado de Bruno que rapidamente saciou sua curiosidade e me encarava. Seu rosto se abriu em um sorriso que para todos os fins parecia muito perverso, talvez para os outros pelo menos.

Peguei a taça em cima da mesa que tilintou devido aos cubos de gelo, o cheiro amargo do álcool era extasiante.

– O que achou? – Perguntei tomando seu conteúdo que ao descer pela minha garganta foi espalhando seu calor -.

– Isso foi mais interessante do que pensei – Falou devolvendo a unica coisa que tinha ficado na pequena caixa de “pandora” – Você não devia mexer com essas coisas, claro que isso foi na opinião de um amigo. Na opinião de um comerciante foi algo esplendido para se ter em mãos.

Dei de ombros ao colocar a taça levemente vazia na mesa.

– Como um amigo você poderia manter segredo? – Olhei no fundo dos seus olhos – Principalmente da minha família.

– Quando foi que não guardei – Sorriu – Me diga três vezes no minimo.

Comecei a achar que devia ter ido pessoalmente, aquilo estava começando a parecer uma ideia ruim. Não que ele não era um ótimo amigo, o problema era que quando ele bebia sua língua ficava perigosamente larga.

– Confio em você como sempre. Bom, vamos mudar de assunto, quando tudo estiver resolvido vou devidamente comunica-lo.

Ele assentiu não parecendo querer continuar, devido a várias gravações sua personalidade quando bebia era bem conhecida, inclusive por ele mesmo.

– Agora…

(Batida na porta)

– Com licença senhor Corner – A porta se abriu apenas um pouco, o suficiente para a voz grave passar – A senhora Isabel deseja entrar, devo permitir?

Uma breve memória de uma garotinha desajeitada passou pela minha mente brincando animadamente com Rodolf. Faz algum tempo que não venho para cá, as coisas ficaram bem agitadas nos últimos anos.

– Tudo bem para você.

– Claro, já ia perguntar sobre sua família mesmo.

Sem demorar um segundo sequer depois da resposta a porta se abre acompanhado de um braço cujo a mão era coberta por uma luva branca. Em seguida uma garota em seus 16 anos entrou trajando um vestido cheio de babados, seus passos continham uma certa elegância somente possível com muita pratica.

– Prazer em conhece-lo Comandante Steven Von Runnour – Ambas as suas mãos pegaram em cada lado do vestido o levantando, em seguida ela dobrou um pouco os joelhos – Não sei se você ainda se lembra de mim, mas eu costumava brincar com o seu filho.

– Claro que lembro de você. Como você cresceu – Depois de se apresentar ela rapidamente se sentou perto do pai, o raio de luz fez com que uma unica mecha de cabelo vermelho que caia pelo pescoço brilhar – Me desculpe por não ter trazido Rodolf.

Suas bochechas ficaram vermelhas ao ouvir o nome dele, apesar de que o rosto ainda estava composto.

– Ainda bem que você se parece com a sua mãe – O comentário fez Bruno soltar uma risada tão seca que quase lhe ofereci minha bebida -.

– Obrigada Senhor Runnour. Não precisa se preocupar, eu apenas fiquei muito animada e acabei interrompendo a conversa de ambos. Sinto muito.

Não os visito já faz alguns anos então logicamente que quando ela soube que estou aqui viria correndo nós cumprimentar, mas infelizmente não pude traze-lo. Respirei fundo inspirando o ar puro que entrava por uma das janelas, o dia estava magnifico.

– De forma alguma, seu pai e eu já havíamos terminado nossa conversa, estávamos começando a planejar o seu casamento com Rodolf…- Antes mesmo de poder dizer que era apenas uma brincadeira ele se engasgou fazendo Isabel dar algumas batidinhas em suas costas o que na minha opinião não ajudou em nada – Calma, foi apenas uma brincadeira.

Escutando isso ela abriu um sorriso que de todas as formas era muito lindo, mas suas mãos estavam firmemente fechadas e agora batiam cada vez mais forte nas costas do pai. Fiz um lembre mental de nunca brincar desse jeito de novo, os adolescentes de hoje ficaram muito sensíveis.

– vejo que você continua um pai coruja como sempre.

Depois de se acalmar ele levanta uma das sobrancelhas e cruza os braços.

– Já falei para você que para tirar minha garotinha de mim o candidato vai ter que lutar. Não vou entregar o meu bebê tão fácil.

Se tivesse tido filhas talvez pudesse entende-lo, mas no momento ele conseguiu ultrapassar o limite. Devo voltar para uma visita mais vezes, mas dessa vez com Rodolf.

– Me perdoe por perguntar, mas todos estão bem? Escutei que Hanlet havia sido atacada.

– Sim. Ainda estamos investigando quem poderia ter feito isso, todos sofreram muito. Rodolf ficou um pouco abalado, mas já se recuperou.

– Ainda bem – Ela colocou sua mão no peito involuntariamente enquanto suspirava, eu realmente devi ter trazido ele.

(Explosão)

A taça que até então estava em cima da mesa rolou até cair no chão por fim se quebrando, a porta se abriu revelando o mordomo que entrou para verificar se estávamos bem. Gritos do lado de fora eram tão altos que mesmo aqui dentro eram audíveis, rapidamente corri para a janela aberta só para encontrar uma fumaça negra subir em espiral até o céu, perto de um dos portões havia explodido.

Logo em seguida um alarme ecoou pela cidade que havia ficado em silêncio.

– Estamos sofrendo um ataque ? – Falou bruno vindo em direção a janela -.

-Não – Olhei para as outras saídas da cidade e estavam completamente intactas, na verdade a cidade inteira estava – Ouve apenas uma explosão, quando os ataques começaram foram simultaneamente em toda a capital.

– então o que foi isso, algum acidente?

Não consegui responder, tudo estava muito vago. Alguns soldados corriam em meio aos cidadãos fazendo o possível para não esbarrar em ninguém, todos olhavam para uma só direção porquê mesmo não vendo a explosão eles ainda conseguiam ver a fumaça. Devido a sua curiosidade Bruno saiu correndo pela porta sem ao menos olhar para trás, Isabel queria vir junto só para ser detida pelo mordomo.

– Vou atrás dele, você pega o máximo de pessoas possível e tente se esconder, voltamos em logo.

Com um aceno feito pelo mordomo deixo a a sala rapidamente evitando o máximo possível esbarrar em algum vaso caro no corredor. Depois de passar por alguns empregador perplexos sai pela porta da frente que já estava aberta, ele estava me esperando em cima de um cavalo enquanto segurava o outro, com um sorriso pulo em cima do outro e juntos cavalgamos pela estrada feita especialmente para transportes até a confusão. A fumaça que inicialmente era pequena já tinha se espalhado por uma boa parte da cidade fazendo tudo ficar um pouco escuro, no caminho vários curiosos iam em direção ao barulho.

No local os guardas tinha feito uma zona de perigo evitando assim que qualquer cidadão chegasse perto, logo atrás uma casa tinha explodido liberando aquela fumaça interminável. Um alivio se espalhou por todo o meu corpo vendo que era apenas uma acidente e não um ataque. Bruno que tinha sido o primeiro de nós a chegar ficou observando tudo tentando encontrar alguma coisa interessante, com nada aparecendo ele subitamente perdeu o interesse. Sempre me questionei sobre os seus gosto, ou pelo menos o que ele achava interessante.

– Vamos, temos que avisar que não foi nada grave -.

O local que uma vez estava lotado por nada mais do que curiosos e guardas foi lentamente ficando vazio devido a forte chuva que começou a cair espantando todos. Olhei para cima no mesmo instante em que um raio surgiu das nuvens negras como uma veio contendo apenas a mais puras energia, aquilo de certa forma tinha sido lindo. pelo o que parece fui o único a apreciar a beleza da natureza, já os outros olhava para a casa que tinha cujo a fumaça tinha parado de subir para ficar concentrada em um só lugar formando uma bola. Bruno que estava ao meu lado encarava firmemente a casa, senti um frio na espinha quando ela começou a se mexer, alguns soldados tentando verificar o que era se aproximaram.

Não consegui ser rápido o suficiente.

– Não se aproximem! – Meu aviso havia chegado tarde demais, aquela bola negra lançou tentáculos em volta deles os arrastando aos gritos para o seu interior, a única coisa que ficou para trás foram as marcas que suas unhas deixaram no chão – Se afastem o máximo possível, mágicos deem um passo para frente e imediatamente usem uma magia de fogo.

– Um civil não pode dar ordens aqui,se afaste e deixe que cuidemos do problema – Falou um homem que parecia o líder – Soldados formem uma linha defensiva, arqueiros acendam suas flechas e fiquem nos flancos e se preparem para atirar ao meu sinal, magos preparem suas melhores magias de fogo e gelo.

Imediatamente todos os soldados obedeceram as ordens, porém como se tivesse nós entendido aquele bolha negra lançou um gás que acabou acertando todos ali presentes antes de sumir. Achei tudo aquilo muito estranho antes de retirar minha espada e cortas um tentáculo negro que havia se arrastado com uma cobra em minha direção, o sangue negro espirrou por todo o lado enquanto a coisa sibilava em uma língua desconhecida, aquilo devia ter sido apenas uma distração enquanto chamava reforços, procurei pela multidão por Bruno, mas não tive sucesso.

Tentei o máximo possível gritar, contudo o som apenas se misturava aos dos soldados que agora desesperadamente lutavam contras aquelas versões menores. O monstro cujo tentáculo tinha sido cortado começou a se aproximar de mim, o sangue negro espirrava por todo o asfalto como piche só para ser lavado pela chuva que descia até o esgoto, meu cavalo relinchava furiosamente. Bati nas suas costelas esperando que ele corresse a toda velocidade o que claramente foi inútil, cavalos treinados eram “corajosos” demais para correr em desespero. Pulei no mesmo instante em que um vento passou pela minha cabela fazendo no minuto seguinte um barulho de corpo caindo chegar aos meus ouvidos.

(Sibilo)

Os soldados que ainda podiam lutar começam a diminuir pouco a pouco, a bolha que tinha surgido da construção estava longe de ser visto naquela confusão. Bruno sabia se cuidar, por agora devo tentar escapar e ir em direção a sua casa, eles podem estar sendo atacados nesse momento. Rolei pelo chão no momento em que outro tentáculo tentou me acertar, aquele “monstro” era maior que um cavalo e aparentemente não possuía medo da morte. Desviei outra vez rolando para o lado ao mesmo só para me levantar e correr pela rua pisando varias vezes em poças negras, alguns soldados vendo minha reação começaram a recuar, pude perceber que alguns derramavam lagrimas juntamente com as calças molhadas.

Consegui no máximo ganhar alguma distancia antes que outros daqueles “monstros” viesse em minha direção só para ser cortado ao meio espirrando todo o sangue negro na minha cara me fazendo sentir um gosto metálico na boca. Varias vezes durando minha corrida pude ver essas gosmas negras tentando absorver os cidadãos que desesperadamente tentavam bater nelas com qualquer coisa.

– Se afaste monstro nojento – Gritou uma mulher esfaqueando uma das gosmas negras um pouco menor que ela, aquilo foi muito corajoso -.

Não muito longe dali outra luta ocorria.

– Socorro! – Berrou uma criança que estava sendo “abraçada” por outra gosma muito maior que ela – Por favor, me ajude.

Antes de ir corto o topo da gosma a fazendo desmoronar, aquilo tinha sido apenas para chamar atenção, mas felizmente tinha desferido um golpe fatal. Dispersando aqueles pensamentos peguei o braço do garoto para leva-lo junto comigo, mas depois de alguns percebi que apenas o seu pequeno braço me acompanhava, com o susto largo no mesmo instante o braço que cai no chão molhado. Atrás de mim estava o corpo sem vida do garoto que tinha um olhar de puro terror em seu rosto, logo em cima dele estava uma gosma com um dos tentáculos manchado de vermelho. Esse tipo de ataque havia sido totalmente diferente que o nosso, na verdade poderia se dizer que o nosso foi apenas uma apresentação enquanto esse era o show principal. O monstro veio lentamente em minha direção e quando chegou em uma determinada distancia um dos seus tentáculos veio como uma flecha para o meu peito.

– Abrir fogo!

Por um momento não entendi o que tinha acontecido quando o ambiente ficou quente ao ponto da chuva que caia virar vapor. A chama começou sem qualquer dificuldade a comer aquela coisa que sibilava descontroladamente, os soldados que lançavam o ataque não desperdiçavam um minuto sequer e foram imediatamente terminar o serviço.

– Recue – Falou um deles pegando no meu ombro – Cuidaremos do resto daqui em diante.

Com um leve deja-vu pego um dos cavalos deles e disparo em direção a mansão. Não demorou muito para chegar a mansão, os guardas que protegiam o portão estavam deitados perto do portão imoveis. Pulei do cavalo sem esperar que ele parasse e corro com todas as minhas forças para dentro da casa.

– Tem alguém vivo!

O barulho da chuva que impedia boa parte dos gritos de se espalharem pela casa, um silencio envolvia o local me fazendo sentir um frio da espinha. Vasculhei a casa toda até que finalmente no último cômodo do terceiro andar a porta estava fechada, toda vez que eu tentava forçar a porta pequenos gritos vinham de dentro.

– Isabel sou eu, Steven – Escutando o nome passos começaram a se aproximar só para pararem bem perto da porta.

– Como podemos saber se você é realmente o Senhor Steven? – Perguntou uma voz masculinas -.

Pensei por um tempo e então a respostava veio.

– Bruno tem um certo problema com mulheres que não são mulheres quando bebe muito, isso é o suficiente – A porta foi aberta no mesmo instante, parece que fui aprovado.

Dentro da sala alguns empregados se encolhiam pelos cantos enquanto tremiam, o mordomo calmamente caminhou até ficar perto de Isabel que observava pela janela a chuva, seus ombros estavam tensos. Não tive tempo de entrar no quarto, um barulho um andar abaixo juntamente com um sibilo me fez fechar a porta novamente, não podia deixar aquele monstros entrarem, tinha que proteger esse lugar até que Bruno voltasse para que todos pudéssemos partir.

– Fiquem ai dentro, vou verificar o barulho.

O corredor parecia maior do que nunca naquele momento, com passos silenciosos chego perto da escada, Fiquei o máximo possível em silencio tentando escutar qualquer barulho suspeito, mas a chuva que caia pesadamente não permitiria tal possibilidade. as janelas haviam começado a ficar embaçadas.

(Sibilo)

Escutei o vidro sendo quebrado e por um momento pensei em voltar para a sala, mas o barulho vinha do primeiro andar dispersou esse breve pensamento. Calmamente desço a escada que tinha subido com tanta pressa para encontrar um vaso quebrado, com cuidado ando pelo corredor evitando tanto quando possível os cacos para não fazer barulho, olhei rapidamente para a janela e consegui ver várias pessoas lutando com aquelas coisas desesperadamente, pelo menos agora sei que apenas as maiores são perigosas. O original devia estar criando mais em algum lugar porquê ele não paravam de aparecer.

(Sibilo)

Rolei para o lado no momento em que a janela explodiu espalhando os destroços pelo corredor permitindo que a chuva entrasse. Parado perto da escada estava uma gosma sem um dos tentáculos completamente molhada, ao que parece ele ficou bastante nervoso por ter pedido um dos “braços”. Com alguns passos bloqueei o seu caminho para o segundo andar.

– não sei se você consegue me entender – Falei tomando uma posição de luta – Mas não vou permitir que você dê mais nenhum “passo”.

Ele ficou extremamente nervoso e me atacou iniciando assim nossa embate. Abaixei, desviei diversas vezes sendo perfurados na maioria delas, nossa luta estava empatada com diversos golpes e contragolpes seguidamente e por incrível que parece mesmo perdendo o único tentáculo remanescente seus ataques furiosos continuavam sem perder a velocidade. Sacrificando um braço consegui finaliza-lo enfiando minha espada pelo seu corpo gelatinoso o que para minha surpresa fez um tremendo efeito parando assim os movimentos dele. Encostei na parece perto dele só para sentir a chuva que entrava pela janela escorregando pelo meu rosto.

– Quanta persistência – Murmurei enquanto prensava o sangramento – Você realmente queria me matar tanto assim.

Fechei os olhos por alguns segundos imaginando se Bruno estaria bem, recebemos o mesmo treinamento desde pequenos então não seria fácil mata-lo mesmo que ele estivesse enferrujado, do andar de cima pude escutar passos que rapidamente se aproximavam. na metade da escada estava Isabel olhando para baixo com ambas as mãos na boca, o mordomo que seguia logo atrás tentando impedi-la de se machucar tomou um susto. Sem prestar atenção aos degraus ela desceu correndo para minha surpresa em direção ao monstro.

– Isabel, fique longe dele – Tentei levantar só causando mais dor no processo – Ele ainda pode tentar ataca-la.

O mordomo veio em meu auxílio quando viu que meu braço estava machucado.

– O que você está falando Senhor Steven – Falou Isabel com lagrimas nos olhos, não consegui entender – Por que o meu pai faria alguma coisa comigo?

– Eu que pergunto para você. Aquilo ali não passa de um monstro sem forma, Bruno ainda está lá fora em algum lugar, deve chegar logo.

Olhei para o mordomo procurando alguma ajuda para aquela palhaçada, mas quando vi seu rosto coberto de tristeza algo me atingiu. Impossível que aquele fosse Bruno, se “isso” for ele então o que foi que matei pelo caminho.

– Senhor Steven, você realmente não consegue ver o mestre Bruno? – Perguntou enquanto verificava o machucado -.

– Não tem como essa coisa ser ele – Raiva começou a surgir dentro de mim, como eles poderiam brincar dessa forma – Como essa coisa que tentou me matar ser o Bruno, retirem o que estão falando agora!

Isabel estava deitada em cima aquele monstro enquanto chorava tornando a situação nada além de bizarra, o mordomo que tinha terminado de fazer os primeiros socorros me olhava com olhos de pena, não consegui entender. O céu se iluminou e por alguns segundos pude ver um homem sem os dois braços manchando o chão de vermelho.

** 4 **

Tudo o que consegui sentir dele foi um breve calor que vinha do seu corpo, o sangue rapidamente esvaia assim como sua vida, era tão vermelho quanto vinho, tão vermelho quando meu cabelo. Delicadamente peguei sua cabeça e a coloquei no meu colo, passei a mão com todo o cuidado possível pelo seus cabelos castanhos que já começavam a ficar brancos. Apesar de tudo um sorriso fino se formou em seus lábios.

Limpei as lagrimas que insistentemente escorriam pelo meu rosto por vezes pingando no dele.

– Isabe! – Sua voz estava cada vez mais fraca – me desculpe por não conseguir protege-la.

– Estou aqui – Coloquei ambas as mãos no seu rosto que rapidamente perdia o calor dos vivos – Estou bem.

– Nunca pensei que a morte pudesse ser tão solitária, tão silenciosa, tão fria – Seus olhos já ficaram cada vez mais fracos, cada vez mais sem luz – Se ao menos eu pudesse escutar a sua voz em meus momentos finais poderia saber se você está bem, se está segura – Seu peito subiu pesadamente uma última vez – então foi isso que você sentiu Carla… – Uma unica lagrima escorreu pelo seu olho esquerdo, o único que estava inteiro -.

Uma angustia enorme espremeu meu coração quase tirando meu folego, fechei seus olhos ao mesmo tempo em que encostava a testa na sua. Ele merecia mais do que isso.

– Vá em paz – Beijei sua testa dando uma última despedida para o homem que tinha me criado sozinho.

Nesse momento olhei para o teto da mansão e gritei até que minha garganta começasse a doer, dizem que uma dor ameniza a outra, mas nesse momento tudo parecia bobagem.

– Senhorita você tem que ir para outro lugar, aqui é perigoso.

Apertei os lados do meu vestido que agora estava manchado de vermelho. Levantei dispensando a ajuda de James, perto da janela estava o Senhor Steven murmurando para si mesmo enquanto cobria os olhos com o braço direito. Dei as costas para ele antes de rapidamente subir as escadas para o segundo andar, ele poderia ser o pai da pessoa que mais amo no mundo, porém ele tinha tirado a pessoa que havia sido meu mundo desde do dia em que nasci, isso era algo que eu nunca poderia perdoar, nunca iria esquecer. Subi as escadas rapidamente e quando finalmente percebi que estávamos perto do terceiro andar, minhas pernas começaram a tremer me obrigando a segurar no corrimão.

– Você está bem Senhorita?

– Não – Respondi com toda a sinceridade que consegui – Como tudo pode mudar assim? De manhã mesmo estava tudo bem, porquê isso tinha que acontecer? Não havia motivo para ele ter saído, se ele tivesse ficado aqui isso não teria acontecido!

– …

– Diga alguma coisa – As lagrimas que já haviam parado novamente desceram pelo meu rosto – Por favor.

Ele ainda permaneceu em silencio, realmente não tinha muito a ser dito nesse momento.

– Me desculpe James, eu perdi um pouco o controle…- Um sorriso apareceu no seu velho rosto, sua mão afagou minha cabeça o que só me fez chorar ainda mais -.

Com um pouco de ajuda terminamos de subir as escadas para o terceiro andar. Limpei as lagrimas com o tecido dos pulsos, a chuva não havia melhorado nenhum pouco desde de que o ataque começou. Antes de chegarmos na metade do caminho até a sala onde todos estavam o céu se iluminou juntamente com o corredor quase fazendo meu coração parar.

(Gritos)

No exato momento do grito James bloqueou meu caminho com o braço, a sala que estava com suas luzes acessas fez com que varias sombras aparecessem na parede, elas corriam de um lado para o outro enquanto outra balançava um objeto constantemente para baixo. Um tempo depois os gritos pararam, umas das empregadas conseguiu se arrastar para o lado de fora da sala, lagrimas desciam pelo seu resto que era maquiado com sangue.

– Por favor me… – Ela estendeu a mão, mas antes que pudêssemos fazer algo seu corpo caiu frio no chão.

Minhas pernas começaram a tremer, em cima da empregada estava um soldado com o rosto assim como a armadura manchada de vermelho, a espada que estava cravada nas costas dela foi lentamente sendo removida. Dei um inconscientemente um passo para trás fazendo um pequeno barulho que foi o suficiente para que sua atenção se voltasse para nós, James pegou meu braço e começou a correr de volta para as escadas. Nosso perseguidor não podia ser visto, devia ter nós dado um tempo para escapar como se fossemos presas, segurei meu vestido o mais alto que pude para que ele não atrapalhasse durante a corrida. Descemos dois degraus de cada vez, já estávamos na metade quando senti alguma coisa empurrando meu corpo para o lado, não tive tempo de pensar e rapidamente segurei no corrimão tentando me equilibrar. Virei minha cabeça tão rápido para o lado que algumas mechas de cabelo cobriram minha visão me permitindo ver apenas algumas parte de James, ele estava forçando a mandíbula enquanto segura no corrimão oposto com tanta força que pensei que iria quebrar. Quando o resto das mechas saíram da frente percebi algo caído no chão junto com uma espada.

– James! – Cobri a boca involuntariamente com a mão livre, em nenhum momento o velho mordomo se queixou ou ficou desesperado, na verdade ele mostrou o mesmo sorriso de quanto eu era pequena e acabava me machucando -.

Tentei chegar mais perto para ajuda-lo, mas fui rejeitava com um levantar de mão, ele tentou dizer algo, mas ao invés de sair uma voz calma e composta saiu uma lamina totalmente vermelha como se fosse uma segunda língua. Seus olhos pareceram surpresos por um tempo antes de dar uma volta para cima, lagrimas vermelhas desceram tão lentamente por ambos os olhos que parecia que o mundo tinha ficado mais lento. Logo atrás estava o soldado que sorria triunfante.

– Vamos, você está segura agora – Falou estendendo a mão para mim -.

Meu corpo inteiro tremia violentamente, ele por si mesmo achou que tinha matado um “monstro”, igual ao Senhor Steven. Rapidamente pego a espada perto do corpo e me levanto, com calma começo a descer a escada enquanto apontava a arma para ele. Um raio iluminou as escadas e naquele momento ambos os olhos dele ficaram totalmente negros logo antes de voltarem ao normal. Não consegui por mais que tentasse manter a espada apontada, ela era muito pesada.

– Onde você está indo – Perguntou dando alguns passos em minha direção simultaneamente em que eu dava alguns para longe dele – Não precisa ter medo, posso te proteger.

Sem pensar duas vezes corto metade do vestido fora deixando até a metade das coxas, ele ficou momentaneamente com o rosto vermelho pela súbita exposição. Aproveitei esse momento e agora com mais liberdade desço as escadas ignorando completamente os seus gritos, no primeiro andar as únicas coisas que consegui encontrar foram o corpo do meu pai e a bagunça feita pela luta, o Senhor Steven tinha desaparecido. Ando pelo corredor tentando evitar o máximo possível os cacos, meus braços já começavam a doer devido estar carregando por muito tempo a espada.

Depois de algum tempo perdido evitando os cacos de vidro consegui chegar as escadas para o térreo, nesse momento senti um aperto no braço que me fez por reflexo balançar a espada para todos os lados só para no momento seguinte escutar um grito totalmente indignado.

– Sua vadia!

Por alguns instante a unica coisa que consegui ver foram estrelas, no momento seguinte tudo começou a girar me fazendo perder a consciência, quando voltei observei o local e percebi que estava no térreo, tentei levantar fazendo meu corpo inteiro gritar de dor. Meu rosto queimava só tornando tudo ainda pior, com calma encostei a mão no rosto que parecia inchado e nisso senti algo molhado nos dedos só para notar que estavam totalmente vermelhos. Forcei até a última gota de vontade para me arrastar até a espada, o soldado vendo o modo “estranho” que agi subitamente mudou o seu modo de pensar. Poucos centímetros da espada ele pisou na minha mão forte o suficiente para doer, mas fraco o suficiente para não quebra-la.

– Por que você continua fugindo de mim? Até me atacou, qual o seu problema? – Olhei brevemente para cima só para encontra-lo com a mão no queixo como se tivesse escolhendo algo em algum menu – Vim aqui tentar ajudar os sobreviventes, Subi furtivamente pela parede e quando a oportunidade surgiu invadi pela janela, mas quando entrei todos os empregados se transformaram em monstros, pensei que eles talvez estivessem mantendo você de refém – Ele começou a pisar com mais força, segurei o máximo que pude para não gritar, não ia dar esse prazer para ele – Mas quando tentei ajudar, você tentou fugir e ainda por cima me atacou, pode ser que foi você que planejou tudo isso? Se não porquê aquele monstro iria te ajudar, ou melhor, porquê você iria querer ser ajudada por ele.

– O único monstro aqui é você – Falei tentando remover a mão -.

– Não fui eu que foi ajudado por monstros, vou adorar ver o que o Capitão acha desse fato – Com a mão livre tentei pegar a espada só para quase vomitar tudo que tinha comido hoje de manhã, a dor que senti após ele me chutar foi o suficiente para que ficasse sem ar – Não tente nenhuma gracinha.

O soldado agarrou meus cabelos enviando uma agonia enorme para minha cabeça, ele me fez lembrar que o corpo inteiro estava pulsando de dor. Toda e qualquer gentileza foi descartada depois que ele explicou aquela logica distorcia e completamente maluca, o único sentimento que havia sobrado era pura hostilidade.

Os poucos metros até a porta eram tão intermináveis quanto aquela dor, mas ao finalmente chegarmos ele sem hesitar a chutou estourando completamente a fechadura e com nenhum motivo particular me jogou escada a baixo piorando ainda mais o meu sofrimento, a chuva que caia por todo o lado era um oásis se comparado ao quão frio aquele chão poderia ser. Com toda a naturalidade do mundo ele desceu a pequena escada de pedra e mais uma vez agarrou os meus cabelos.

– Se você for mesmo a responsável por tudo isso – não tive forças para levantar a cabeça, ou sequer para encara-lo, todo o meu esforça estava indo para suportar a dor – Faremos você desejar nunca ter nascido.

– E se não for eu – consegui espremer as palavras, o esforço fez com que a minha visão girasse por alguns segundos – Se você estiver errado?

– Então você vai ser julgada como traidora e vai ser morta rapidamente – um frio subiu pelo meu corpo com aquelas palavras que continuam tanta indiferença -.

Fui arrastada por alguns metros depois do portão, a cidade inteira estava devastada e as únicas pessoas que consegui ver estavam com um rosto sombrio, algumas comemoravam sua vitoria do que parecia uma luta em cima do corpo de seus filhos, dos maridos ou até de suas mães. Essa cidade inteira havia virado um grande ninho de loucos, tentei fechar os olhos, tentei com todas as minhas forças ignorar tamanho horror.

O soldado subitamente parou no meio da rua, o seu aperto ficou mais forte me fazendo ter que agarrar ao seu braço tentando pelo menos um pouco aliviar aquela dor.

– Quem é você? – Perguntou alto o suficiente para fazer mesmo as pessoas estavam em seu próprio mundo olharem – Diga de que divisão você é.

Não consegui ver com quem ele estava falando, mas pude sentir seus sentimentos cada vez que ele apertava mais.

– Não fique ai com esse sorrisinho idiota no rosto. Se você não responder vou presumir que veio aqui tentar ajuda-la.

-….

– Muito bem.

A dor que vinha da minha cabeça havia sumido, porém no instante seguinte uma pior ainda maior veio da minha perna me fazendo gritar ao ponto de fazer com que as pessoas em volta cobrissem seus ouvidos. Minha perna direita, a única que estava boa havia sido perfurada bem na parte de trás da coxa, sangue vermelho escorria até se misturar a poça de água por fim escorrendo pela rua. Pressionei o máximo que pude tentando conter o sangramento, mas só fez com que as minhas mãos ficassem igualmente vermelhas, não demorou muito para que tudo se misturasse em uma única coisa e minha consciência começasse a ficar turva.

– Fique paradinha ai. Vou resolver as coisas com o seu “amigo” e então levarei você a julgamento.

Só consegui ter apenas um vislumbre do adversário daquele completo lunático, a chuva havia molhado tanto os seus cabelos que agora estavam grudados pelo rosto, apesar de estar usando um quepe militar. Meu coração se iluminou naquele instante, toda e qualquer dor se suavizou, porém as lagrimas que a muito haviam parado voltaram a cair.

– você veio!

Naquele momento eu nem sequer notei que o soldado tinha sido morto e o seu corpo agora enfeitava as ruas da cidade.

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