Black Tears

Black Tears – Capítulo 1

 

Velhos fantasmas

Tudo o que sonhei se foi.
Tudo o que presei me abandonou.
Agora a escuridão me conforta
em minha prisão.
O diabo não mais me vigia, pois
ele também se foi.
A porta está aberta, mas
não consigo sair.
Sozinho estou e
Sozinho devo ficar.

– As estrelas são tão bonitas não é, Dan. O céu se parece com uma caixa de joias que com um simples estender de mão poderiam ser tomadas.

Ele não esperou uma resposta minha e simplesmente se virou, continuou observando a vasta imensidão que o céu proporcionava.

– Nunca entendi seus gostos exóticos – fechei meus olhos e senti as caricias do vento noturno. O céu era tão colorido e ao mesmo tempo tão negro, como poderia alguém entender aquele caos cósmico – Nem mesmo os professores entendem a maioria das suas palavras. Devo me preocupar com isso, devo bater na sua cabeça para que volte ao normal ou chamar um médico. Não consigo decidir, me ajude.

– Quem dera fosse tão simples assim acabar com isso – sorriu secamente sem desviar os olhos das joias celestiais – Seria tudo mais simples, não é.

Eu poderia entender o que ele sentia, mas não encontrei palavras para conforta-lo, se fosse Cecile ela poderia ter algo a dizer. Abri meus olhos e o observei cujo os olhos se concentravam no céu melancolicamente, seu cabelo negro ia até os ombros, uma trança adornada com enfeites dourados balançava conforme o vento passava. Quando nós viam juntos duvidavam que éramos irmãos – Vocês devem ser primos – eles dizem. Sem perceber ele estava me encarando.

– tem algo no meu rosto? – Soltei um sorriso fraco pela súbita pergunta.

– Só pensei que foi crueldade deixar você ser uma boneca. Anna vai acabar acostumando sabe, melhor fugir -.

Ele percebeu e então segurou a ponta da trança antes de dar de ombros – Ela me subornou com doces, não pude resistir -, ele largou a trança e se apoiou na janela, mas dessa vez ele não olhava para o céu e sim para o chão que estava molhado pela chuva.

– Além do mais ela fica bem assustadora quando fica nervosa, prefiro ser uma boneca do que saco de bancada, não acha -.

Segurei uma risada, já era de madrugada e nem sinal de sono poderia ser visto, na verdade era justamente o contrário.

– concordo com você – segurei outro riso – Ela realmente tem uma força incomum para alguém 2 anos mais velha que nós – apoiei meu rosto com a mão enquanto o encarava – Mas mudando de assunto será que a Floresta do fim e mesmo grande, ouvi falar que chegava aos pés do Reino Nórdico em tamanho e beleza –

– Você não acredita em Noire quando ela conta sobre a floresta? Achei que adorasse as histórias dela -.

Devo ter feito alguma cara engraçada, Luci estava tremendo.

– Não que eu não acredite nela, mas ver é uma coisa e escutar é outra totalmente diferente, então mesmo ela dizendo isso continuam sendo apenas historias para mim. Não posso evitar a minha natureza -.

Luci que estava tremendo com as mãos na boca tentando segurar o riso levantou a sobrancelha direita.

– Gosto das histórias da Noire, então tento fechar os olhos e imaginar o local enquanto ela conta -.

Mesmo que ele me pedisse me faltava uma coisa chamada imaginação, então se eu tentasse acabaria falhando miseravelmente. Luci vendo que já tinha passado da hora assoprou a vela que ficava entre as camas.

– Se você estava com sono era só me avisar – ele não me respondeu, apenas se sentou na beirada de sua cama – Ei, não me escutou ou está me ignorando? –

Sem a menor resposta ele se deitou e o único som era fornecido pelas cigarras que cantavam na escuridão da floresta. Ele dormiu enquanto me ignorava me fazendo sentir um aperto no peito. Com um sorriso irônico virei para o lado da parede e fechei os olhos, o cobertor quente quase me fez esquecer que era inverno, que apesar de todas as regalias do quarto ele ainda era gelado, sempre seria.

– Me desculpe por não estar mais por perto – Pude sentir algo quente fazendo seu caminho pelo meu rosto.

– Eu que devo desculpas, não fui forte o suficiente…-.

 

 

– Acorde mestre Daniel, já é de manhã.

** 2 **

– Gostaria de agradecer aos estudantes e é claro elogiar seus, meus, nossos esforços para entrar nessa academia tão prestigiada, ou melhor, desejada por muitos reinos pela sua eficiência e estrutura de ensino. Espero poder corresponder suas expectativas ao ser eleita a representante dos calouros desse ano e me esforçar ao máximo para cumprir e fazer cumprir minhas obrigações, tentarei o possível para esclarecer alguma dúvida que tenham referente as regras da escola. Por último mais não menos importante sejam fortes e não deixem as dificuldades os atingirem durante o caminho, estudem o que puderem e aproveitem essa oportunidade. Muito obrigada por me escutarem.

Incontáveis expressões poderiam ser vistas durante o discurso, ansiedade, excitação, inveja. Todas uma mais interessante que a outra, com direito até a comentários – Que belo discurso -, – Que garota bonita! -. Essa comoção logo acabou quando o diretor começou a falar, seu cabelo grisalho e barba cuidadosamente aparada bem como sua roupa escolhida a dedo lhe concedia um ar digno somente encontrado em cavalheiros.

– Obrigado pelo discurso Lady Nix, espero grandes resultados seus. Pode voltar ao seu assento. Como vocês devem ter escutado essa academia é bastante rigorosa com os seus estudantes e não toleramos qualquer tipo de desordem…

Suas palavras rigorosas ficavam cada vez mais apaixonadas sobre a escola ao ponto de ter um efeito enorme em boa parte dos alunos, suas expressões sincronizadas eram de pura animação.

– O senhor Cevik é muito bom com as palavras, não é -.

Minha concentração me impediu de ver a aproximação de Cecile que já havia puxado uma cadeira e se acomodado ao meu lado, o máximo que consegui foi voltar aos meus sentidos.

– Serio. Fiquei mais admirado com a facilidade que as pessoas ficam animadas.

-…portanto honrem o emblema dessa escola não com seus elogios, mas sim com suas ações. Nesses anos que todos estiverem aqui lembrem-se do lema da escola ” A melhor defesa é o ataque e o melhor ataque é a inteligência”. Deixe claro para seus inimigos que não somos coelhos e sim leões…-

Dobrei minha perna para que pudesse apoiar meu rosto com a mão enquanto observava as fileiras de cadeiras logo a baixo em êxtase pelo discurso, Cecile o escutava com um rosto sério, ou melhor, o rosto normal dela.

– Oh! Que mundo cruel, sou violentamente atacado com olhares só por estar ao seu lado – ela que tinham aberto os olhos me encarou enquanto levantava a sobrancelha esquerda – Se você ficar me olhando assim vou acabar adquirindo a habilidade suprema, masoquismo -.

Apesar de estarmos bem atrás do diretor que brandia seus punhos no ar em animação uma boa porta do seu público nós observava com os olhos atentos.

– Não posso fazer nada quanto a isso – Falou dando de ombros – Você deveria deixar de ser meu amigo, evitaria esse tipo de problema.

– Por que eu faria uma coisa dessas – suspirei indignado – São justamente esses pequenos detalhes que me deixam alegre, além do mais o que seria de você sem mim? Uma pessoa extremamente sem graça diga-se de passagem.

Cabelos roxos vibraram no momento que ela se virou ignorando completamente minhas palavras. Desviei minha atenção ao público que já não observava o diretor com animação e sim com rostos cansados. Por sorte o diretor já os dispensava.

-….Por favor se dirijam as suas respectivas classes e bons estudos.

Com sua permissão todos começaram a se levantar, alguns com caretas por ficarem muito tempo sentados e outros felizes por finalmente ter acabado.

– Vamos. Estou ansioso para conhecer meus colegas de classe.

– Não seja tão cínico – Respondeu ao se levantar -.

Com um suspiro rápido me levantei enquanto arrumava cuidadosamente minha roupa e só então comecei a segui-la cujos os passos já estavam longe. Em pouco tempo o salão havia ficado para trás com nada menos que ecos como companhia, nós por outro lado atravessamos o sol quente de verão que brilhava no céu azul até nosso destino.

– Não precisa andar tão rápido. Nosso prédio não vai fugir.

Sem ao menos diminuir o ritmo ou olhar para trás ela simplesmente responde – Não quero me atrasar no meu primeiro dia, não depois de fazer um discurso como aquele -. Seu cabelo se agitava a cada passo como se acompanhasse a animação da própria pessoa, olhei para os lados e percebi que já não havia tantas pessoas quantos antes, na verdade não havia ninguém. Logo a frente um prédio seminovo se erguia imponente, sua pintura branca era impecavelmente detalhada, os vidros brilhavam como diamantes ao serem banhados pela luz do sol. Havia um motivo para esse prédio ser separado dos outros, ele foi construído para ser lar dos melhores alunos cujo as notas no exame e foram excelentes.

Andamos por um caminho feito de pedras polidas, ao lado estatuas de guerreiros já com ervas crescendo em seus corpos exibiam expressões serenas. Cecile parou subitamente ao chegar na porta aonde havia um leão dourado com uma argola na boca. Com um movimento rápido ela bateu duas vezes e como se tivesse sido ensaiado ela se abriu na terceira revelando um homem idoso com sua esplendida barba branca que ia até sua barriga e um manto azul escuro igual um céu noturno cheio de estrelas. Suas rugas indicavam seus anos de experiência.

– Que ótima vela Princesa Cecile – um sorriso de orelha a orelha surgiu – Você cresceu tanto.

– Faz muito tempo Albert. Não sabia que tinha virado professor e por favor deixe as formalidades de lado. Você deve ter ficado sabendo que…

Fiquei alguns passos atrás apenas escutando a conversa que de modo algum poderia ser interrompida por brincadeiras, não sou tão cruel assim para interromper um encontro tão chato. Com o tempo livre resolvi me livrar de ambos com um aceno e segui em frente para conhecer o prédio. O Local tinha uma recepção com moveis de luxo coloridos escolhidos pelos melhores decoradores lhes dando um toque de elegância, caminhei devagar apreciando cada momento, cada detalhe das decorações.

– Senhor posso ver sua identidade por favor -.

Sem que fosse notada uma mulher de cabelos alaranjados que iam até os ombros se aproximou. Estou me distraindo demais hoje.

– Desculpe interromper, mas é obrigatório mostrar seu cartão na entrada.

Ela parecia um pouco nervosa ao se aproximar, seu rosto branco ficou levemente vermelho e suas mãos não paravam quietas deixando claro sua timidez a fazendo parecer um pequeno animal. No momento seguinte uma súbita vontade emergiu dentro de mim, não pude me controlar.

– Não, eu que devo desculpas senhorita…?

– Ah! Não me apresentei, me chamo Maria sou uma das alunas que foi designada para essa tarefa.

– Que nome bonito – Me aproximei de vagar – Que rude da minha parte ter feito uma dama como você se apresentar sem antes dizer o meu nome, que erro imperdoável – segurei sua mão e a beijei lentamente enquanto olhava em seus olhos – Meu nome é Daniel Morgenstein e estou grato por conhecê-la.

Seu rosto foi se tornando cada vez mais vermelho a medida que minhas palavras iam ficando cada vez mais próximas – Terei que retratar o meu erro, não posso fazer uma dama agir assim, ainda mais se formos da mesma classe. O que iriam dizer de mim – sussurrei em sua direção, ela por sua vez começou a chegar mais perto ao ponto de ficarmos quase abraçados, se existissem espectadores achariam que ela estava doente e eu a estava ajudando a ficar em pé.

– Senhor Morgenstein – suas palavras saíram em um gaguejo – N..n..não podemos, a..al..alguém pode vir…

Não deixei que terminasse a frase então apertei suas pequenas costas ao mesmo tempo em que me aproximava de sua orelha, seu corpo tremia a cada palavra.

– Exatamente, quanto mais próximos estivermos de ser pegos, maior a emoção -.

Me afastei um pouco para ver sua expressão que agora mostrava o mais puro dos sentimentos, desejo. Certamente poderia ter continuado com minhas provocações, elas enchiam meu coração de alegria, mas nem tudo pode ser como queremos.

– Que coisa feia – olhei para trás preguiçosamente – Digo, escutar a conversa dos outros.

– Como é bom ser jovem.

– Não ligue para esse idiota – Comentou Cecile desinteressada – Vamos para a classe. Além do mais somos os últimos e o professor pode chegar a qualquer momento.

Dei de ombros pelos comentários desnecessários e voltei a olhar para maria que tinha voltado ao normal apesar de seu rosto estar muito vermelho.

– Me perdoe pela interrupção. Creio que não conseguirei me desculpar adequadamente, talvez em outro momento… -.

Ela que não conseguia pronunciar nenhuma palavra se limitou a concordar com a cabeça antes de se retirar com passos largos, quase correndo. O som dos seus passos foram gradualmente desaparecendo ao ponto de o corredor ficar tão silencioso quanto poderia em meio ao barulho do vento e as cortinas balançando, foi quase tão agradável que pude esquecer por um instante a interrupção de ambos. Virei enquanto ajeitava as costas e encarei o velho e sua companheira a garota da máscara de ferro.

– Não era ele o suposto professor ou eu me enganei e ele é talvez um porteiro?

– Eu pareço um professor – acariciou a cabeça e mostrou um sorriso muito feliz aparentemente ignorando o insulto.

– Se você tivesse escutado nossa conversa entenderia que ele é um ex-mago real que se aposentou e agora cuida da biblioteca.

-Ah! É aí que você se engana por que ao contrário de vocês eu não escuto a conversa alheia – coloquei a mão no peito – Não teria coragem de atrapalhá-los em meio algo tão emocionante como um reencontro. Vocês por outro lado são surpreendentemente mal-educados. Nunca iria esperar isso de você Ceci – coloquei minha mão livre no rosto cobrindo os olhos – O pior de tudo, não pude nem a elogiar pelos seus brincos.

Cecile colocou seus delicados dedos nas têmporas e suspirou claramente contendo sua irritação.

– Pare com esse teatrinho e vamos logo – Albert soltou uma risadinha e seguiu seu caminho por outro lado.

– (Ninguém aprecia uma boa atuação. São tão impacientes)

Caminhei calmamente alguns passos atrás de Cecile que tinha diminuído consideravelmente sua velocidade, sua sombra mudava de forma incontáveis vezes no tempo que ficamos no corredor até que ela desapareceu indicando que havíamos chegado ao final onde uma sala aberta se encontrava. Rapidamente caminho até a terceira carteira ao lado da janela e sem perder a elegância me sento. O professor não havia chegado ainda então conversas poderiam ser encontradas aqui e ali pela sala, Cecile se sentou na segunda fileira a partir da janela exatamente ao meu lado.

– Relaxe, chegamos a tempo – apoiei meu rosto com a mão – Não havia necessidade para tanta pressa.

– Melhor chegar adiantado do que atrasado. Não concorda, Dan.

– Claramente que sim. Contudo o nosso ritmo poderia ter sido melhor aproveitado não acha? Somos novos aqui então do que adianta passar rápido pelos lugares. Eu particularmente gosto da natureza.

Ela parou o que estava fazendo para me encarar – Pelo o que me lembro você estava flertando com aquele moça, isso não é nem de longe apreciar o local -.

Fechei os olhos fingindo pensar em algo que claramente estava na ponta da língua.

– Nossas prioridades são claramente diferentes – aproveitei a pausa para um pequena piscadela – Os locais que eu queria ver eram privados, não posso ir sozinho. Isso violaria minha conduta como cavalheiro -.

– Meio tarde para se auto titular um “cavalheiro”, seu galinha.

– Que palavras rudes. Onde foi que as aprendeu.

– Com as garotas que saíram com você!

Antes que eu pudesse retrucar a porta tinha sido fechada violentamente. Seus sapatos faziam com que o piso de madeira rangesse cobrindo os murmúrios causados pelo barulho súbito. Todos se surpreenderam ao ver um homem com a pele verde usando um jaleco parcialmente branco que claramente era muito usado. Com movimentos lentos ele parou no centro da lousa e começou a observar todos em silêncio. Seu olhar meio sonolento varreu a sala antes de se pronunciar.

– Prazer em conhece-los. Meu nome é Henri Eclair e irei ensinar teoria magica e seus melhores usos.

Com um sotaque forte ele se dirige a mesa onde se senta e começa a recitar nomes como se estivesse bravo com alguma coisa. Se não me engano ele deve ser do país vizinho, Alvared.

– Daniel Morgenstein.

Levantei a mão indicando minha localização, sempre achei que gritar fosse algo deselegante para qualquer um. O próximo depois de um tempo foi a garota de cabelos alaranjados cujo nome eu havia esquecido, mas que as expressões queimam em minhas memorias. Ao me notar ofereço um breve aceno que a faz olhar para outro lado rapidamente.

– Muito bem classe. Como hoje é o primeiro dia vou começar explicando algumas coisas – seu punho direito se aproximou de sua boca que fazia um som – Como já devem saber essa escola tem um sistema onde você pode escolher livremente seus estudos arcando completamente com suas responsabilidades pelo mesmo.

– Essa matéria não é opcional. Além dessa existe mais três totalizando 4 disciplinas. Bom, essa disciplina foca em melhorar seu controle sobre sua própria magia caso você consiga usar e refiná-la ao ponto onde terá total controle. Um conselho meu seria que ao invés de usar todos, tentem se especializar em no máximo dois, melhora significativamente a eficiência. Mais do que isso depende exclusivamente da habilidade do aluno.

Sem qualquer aviso o professor fez surgir uma chama azul em sua mão. Alguns alunos deram um pulo em suas cadeiras pela súbita exibição de magia. O professor alheio a esse assunto ajeitou seus óculos negros em um movimento fluido, provavelmente feito com muita frequência.

– Como podem ver a chama é azulada ao invés da usual chama vermelha. Esse fato ocorre quando concentro mais poder – olhou rapidamente para todos antes de continuar – Mas isso é perigoso, porque o menor descuido na concentração poderia colocar fogo em si mesmo. Tomem cuidado, não quero ninguém nessa classe ou ligado a mim que tenha explodido em algum lugar.

Suas palavras foram tomadas como brincadeira apesar de que seus olhos estarem sérios, a chama que até então se contorcia em sua mão foi extinguida em segundos ao balançar de seus dedos.

– Para aqueles que não conseguem usar magia vou dar uma aula especial focando em aprender que tipo ou quando alguém irá usar magia e como se preparar para ela. Irei ensinar normalmente para esses alunos também, porquê além de tudo ter conhecimento nunca é demais – O giz na sua mão desenha formas no ar enquanto ele explicava e ocasionalmente apontava para algum aluno.

– O mundo é dos espertos – sem querer deixei que essas cinco palavras escapassem fazendo o professor junto com alguns alunos me olharem. Surpreso mostro um sorriso para todos.

– Exatamente.

Após algum tempo de palestras ele encerra as explicações alegando que pegaria leve já que hoje era o primeiro dia. Suspiros romperam pela sala quando o professor sem nem mesmo se despedir saiu nós deixando sozinhos. Sem o menor pingo de interesse na conversa observo distraidamente a paisagem pitoresca que a floresta com seus enormes carvalhos poderia oferecer. Em meros segundos memorias de três crianças brincando animadamente na floresta surgiram em forma de fantasmas que corriam em meio aos raios de sol que passavam pelas brechas das arvores, como se o mundo se resumisse apenas nelas, nesses poucos segundos eles desaparecerão nas profundezas da memória onde dormiriam até uma próxima vez.

– Você está a um bom tempo encarando a paisagem Dan. Lembrou de alguma coisa?

– Como poderia, não fui feito para lembrar de coisas chatas. Apenas estava pensando no que comer quando formos a cidade.

** 3 **

Vapor quente subiu lentamente pelo ar deixando um aroma doce para trás enquanto ia em direção a lábios tão vermelhos quanto rosas no começo da primavera. O crepitar do fogo dispersava o silencio que envolvia a local.

– Seu chá e incrível como sempre querido – Sua voz era melodiosa, como se estivesse cantando – Tenho tanta sorte de ter você.

Seus olhos escarlates se moveram calmamente até o rapaz ao seu lado. Suas roupas militares adornada com várias medalhas indicavam que ele não era um soldado qualquer.

– Estou extremamente honrado pelos seus elogios milady -.

Com um movimento fluido e praticado incontáveis vezes ele colocou sua mão perto do coração e se inclinou mostrando seu profundo respeito por ela. Seu gesto foi aceito com um simples sorriso que poderia fazer qualquer um independente do sexo mergulhar no mais profundo desejo.

– É mesmo. Você não pareceu tão grato assim.

– Minhas maiores desculpas milady -.

Uma risada que poderia ser confundida com uma música ecoou pela pequena sala.

– Só estou te provocando um pouco querido – seus cabelos negros se agitaram quando ela encostou seu delicado rosto em sua mão – Não existe ninguém que te entenda e te ame mais do que eu, então não se preocupe com pequenos detalhes – com a mão livre ela acena como se estivesse espantando alguma coisa.

Percebendo o que havia falado ela tapa sua boca claramente achando tudo muito divertido.

– Tenho que tomar cuidado, as paredes têm ouvidos – o crepitar do fogo tinha ficado mais auto como se para confirmar suas palavras – Não posso revelar nosso amor por agora, nosso plano ainda tem de ocorrer.

– Certamente, milady.

A mulher com sua mão livre navegou pelo mar de papeis ordenadamente arrumados em cima da mesa de carvalho negro até que parou em um que dizia ” A última despedida “. Sua unha transparente ritmicamente acertou a folha como se tivesse mandando um código Morse.

– Você sempre me disse para ter paciência, mas é realmente muito difícil -.

Alguns diriam que o rosto diante deles era igual a uma bela pintura, outros que era sinal de que Deus existia, já o rapaz apenas se expressou dando de ombros ao rosto ansioso que a mulher fez.

– Planejamos isso por muito tempo, não há por que se preocupar milady – Suas palavras de conforto não chegaram a mulher que tinha se encolhido na cadeira mantendo seus braços firmemente cruzados sobre as pernas.

Com um sinal de sua mão o rapaz se aproximou lentamente e então se ajoelhou ficando um pouco acima de sua altura. Ela se reclinou para frente quase tocando seus lábios aos dele. Dedos levemente vermelhos pelo calor da xícara pousaram em ambos os lados do rosto do rapaz transmitindo lentamente seu breve calor. Segundos, ou talvez minutos teriam passado desde que ela fez tal ato, mas nenhum dos dois se importou porquê o tempo tinha parado para ambos, como poderia ele interromper tal momento. Lábios que estavam tão próximos ao ponto das respirações se abraçarem lentamente se tocaram. O vento na parte de fora ficou mais forte como se entendendo o sentimento reprimido que ambos compartilhavam.

Em meio ao profundo beijo uma tênue linha escura desceu pelo queixo de ambos abrindo seu caminho como uma serpente até se perder em suas roupas. O rapaz que havia removido sua “máscara” só teve um pensamento silencioso ao abrir os olhos e contemplar a mulher que de olhos fechados aproveitava cada segundo.

– Quase me esqueci – murmurou em sua mente como um lembrete – as rosas têm espinhos…-

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