Batalha Espiritual

Batalha Espiritual – Capítulo 17

Designo

Os seguidores de Micael haviam organizado um retiro espiritual na mata, para poder se desamarrar um pouco do mundo afora. Eles passaram um dia bem produtivo no bosque. Já estava de noite. Serena aquecia-se enquanto refletia ao redor da fogueira.

– Nada disso é meu… É tudo emprestado… – ela sussurrava sozinha, tentando colocar aquelas palavras em mente.

– Serena? – uma moça apareceu diante da princesa. – Poderia fazer-me um favor?

– Diga, querida. – respondeu ainda fitando as chamas fixamente, que lembravam os olhos de seu noivo quando ele estava enfurecido. A garota não desviava seu olhar perdido e suspirava…

– Meus filhos estão com muitas dúvidas acerca do poderio de Pontifex o que ele ensina… Bem, a senhorita ficou sabendo que estão admitindo ele novamente como líder religioso antes de virmos para cá, certo?

– Não… Mas prossiga.

– Ah… Então. É isso mesmo. Não deveria ser novidade dizer que ele retomou seu posto e tem posado de bom homem para todos. Eu não sou boa com explicações… Ophir me aconselhou a vir até ti.

– Conheces a Ophir?

– Muito! É meu marido. – a resposta surpreendeu Serena, que, finalmente, parou de encarar a fogueira.

– Tanto tempo de amizade e eu nem sabia que ele era casado… Qual teu nome?

– Giana, minha senhorita… Sabe, ele sempre odiou falar nisso… Às vezes até dormia em outra casa, com outras mulheres. Era um grande adúltero antes de conhecer a redenção. Graças a Micael ele mudou! Tem me ajudado a cuidar das crianças e diz que me ama. Mas, infelizmente, está afastado da congregação. Entretanto, retomou a ter fé em Micael, só não frequenta o templo. Não desistirei de pedir em favor dele.

– Ao menos ele ainda acredita… Todavia, deixar de ouvir a palavra do criador é perigoso… De fato é possível salvar-se de um naufrágio com as próprias forças, mas é bem mais simples quando se tem um bote.

– Concordo contigo! Espero que, um dia, Ophir também. Ainda tenho esperanças.

– Isso é maravilhoso. Fico feliz de ouvir tais palavras vindas de ti. – Serena sentiu um certo alívio. – Pode trazer teus filhos logo, por favor? Se forem muitas as suas perguntas mesmo, quanto mais cedo, melhor. – voltou-se para o céu escuro, tentando ter uma noção de que horas eram.

– Sim, senhorita! Obrigada! – ela saiu correndo.
Serena não parava de pensar no último alerta de Micael. Ela sabia que o tempo do fim estava mais próximo que nunca, sabia que precisava mudar… Rapidamente, cinco crianças vieram até ela, fazendo com que procurasse não demonstrar sua tristeza e seu momento pensativo.

– Moça, moça, você é a Serena? – uma garotinha suja de lama e completamente despenteada perguntou.

– Sim. É um prazer. E vocês são…

– Eu sou Maitane, a penúltima. – apresentou-se. – Aquela branca quase anêmica é a Arlet, a segunda. Aquele anão é o Jordi, o mais novo. O ruivo cheio de sardas é o Damián e aquele alto é o mais velho, de cabelo castanho claro, o Cedric.

– Eu não sou anão!

– Verdade, os anões são mais altos! – Maitane provocou.

– Ah, é um prazer conhecê-los! Sois lindos… Mai, o Jordi é desse tamanho por causa da idade. Você também já foi assim. Enfim…

– Não conversem com ela, não sabemos se é uma feiticeira. – Cedric interrompeu, repreendendo os irmãos.

– Já eu, tenho certeza que são filhos o Ophir… E não sou feiticeira. O que queríeis perguntar?

– Bem… – Damián finalmente falou, de maneira tímida. – Nós queríamos saber o motivo de fazermos tudo ao contrário do que o Pontifex pede… Por que nós somos a minoria? Por que os romanistas são tantos?

– Os fiéis de Micael pensaram que, ao se unirem aos pagãos, não haveria risco de perseguição. Alguns de nós até pegaram ídolos pagãos cultuados por muitos anos e colocaram em seus templos dando-lhes nomes de humanos citados no livro de Micael. Os seguidores de Micael também já tinham um certo prazer no domingo, dia usado para cultuar o deus Sol. Usaram a ressurreição do rei para servir de desculpa, sendo que o próprio não pediu nada disso. Quase ninguém tinha acesso ao livro, por isso foram facilmente enganados. Aceitaram Pontifex como mediador… Mas existe apenas um mediador. Imaginem que absurdo! Ter de procurar um líder religioso para se comunicar com um ser onipresente! Lucian os levou a acrescentar cada vez mais exigências para serem salvos. Eles começaram a pensar que alcançariam o perdão através de coisas que faziam.

Viagens a lugares santos, penitências, que poderiam variar de repetir várias orações até açoitar-se ou dar dinheiro. Os adeptos pensaram que alcançariam a misericórdia por si mesmos. Mas a única coisa que tira os pecados é o sacrifício de Micael. Tenho repulsa de tudo isto… Muitas pessoas que se auto-flagelaram e acenderam velas aos ídolos eram honestas e queriam realmente agradar o salvador. O principal líder desta baderna, o Pontifex, disse que aquela sociedade nunca cometeu erros e nunca cometerá, de acordo com o livro. Porém, o livro não era acessível a muitos na época… Os interessados não podiam pesquisar para ver se era verdade. Os fundadores dessa sociedade faziam-se de bons… Para vocês terem uma noção, Pontifex, uma vez deixou um homem muito poderoso que veio de longe para encontrá-lo no inverno, esperando no pátio de seu castelo, lá fora, parado no meio da neve, com os pés descalços, sem agasalhos… Durante três dias… Depois o deixou entrar. Mas disso, quase ninguém lembra.

– Que coisa horrível! Micael nunca faria isso com ninguém!

– Não… Micael é amável, encantador. Quando você sente a presença dele, é como se pudéssemos tocar o firmamento e voar entre as nuvens…

– Ela está apaixonada! – Arlet ficou com as bochechas coradas.

– Na verdade, é muito mais do que isso. Eu o amo. Como não se atrair por alguém tão doce assim? O próprio chorou até mesmo quando teve de expulsar os anjos que queriam sua destruição e plantar o caos pela Terra. A compaixão dele é indescritível! Eu gostaria de ter acompanhado a ele constantemente na época em que veio como um simples humano… Ele era querido até mesmo pelos animais. Morreu de forma humilhante, executado por pessoas repletas de trevas espirituais… Incluindo eu. Ele morreu para salvar cada um de nós, não nos trataria do jeito que o tratamos… Nos ama. Eu seria capaz de tudo para tê-lo… – Serena calou-se. Por um momento, duvidou do que ela mesma dizia. Sentiu vontade de chorar.

– Não fica triste, feiticeira. Ele vai voltar e tudo vai voltar a ficar bem. Você só precisa se arrepender enquanto dá tempo. – Cedric tentava consolá-la.

– Sim… Tens razão, rapaz… – recompôs-se, colocando a mão na testa. –Voltando ao assunto, meninos, eles inventaram doutrinas falsas. Como de que quando uma pessoa morre, vai direto para o Céu, para o inferno queimar eternamente ou para o purgatório, que é onde a pessoa sofre até poder ir para o Céu. Algumas pessoas até pagavam caro para que seus entes queridos fossem do purgatório ao Céu. Sendo que nada disso é verdade! É simples explicar a vós outros, porque eu não esquecerei tão facilmente todos os adeptos jogados às feras por homens que uma vez se disseram fiéis a lei. Crucificados, queimados e cobertos com pelo ensanguentado de animais para servirem de comida aos cães selvagens. Era como uma diversão para os seguidores de Pontifex… Eles amavam ver tudo aquilo. Era entretenimento! Eles nos perseguiram mais do que quem não acredita em Micael.
Os seis conversaram até dar a hora de dormir.

Pela manhã, Serena já estava se preparando para fazer uma pregação. A conversa com as crianças havia feito pensar em muitas coisas antes de pegar no sono. Coisas que permaneceram ali até mesmo depois de o sol nascer.
Com todos acordados e fora de suas tendas, a princesa se posicionou no meio de todos e começou em voz alta:

– Aqueles que guardam a lei do criador serão benditos onde quer que forem. Seja no campo ou na cidade. Bendito será o fruto de seu ventre, de sua terra e o fruto de seus animais. Será bendito ao entrar e ao sair. Os seus inimigos que se levantarem contra um fiel serão derrotados na sua presença. Será determinada benção em tudo o que ele colocar a mão… Mas se tu desviares o seu pé de fazer o que sabe que é certo… São muitas as bem-aventuranças àqueles que são firmes e não se deixam desviar por coisas seculares. A maldição virá sobre ti, a confusão não te abandonará e a ameaça estará ao teu lado sempre, até que sejas destruído. Por chuva da tua terra, receberá em troca pó e cinza. Será ferido com loucura, cegueira e perturbação de espírito! Apalparás ao meio dia, como o cego apalpa nas trevas e não prosperarás nos teus caminhos. Ai de ti! A tua vida estará suspensa como por um fio diante de ti! Terás pavor de noite e de dia, e não crerás na tua vida. Liberte-se enquanto a porta da graça não fechou. Passe por ela e não ouse sair!

O término desse mundo está bem na nossa frente! Não podemos nos fazer de tolos e ignorar a sua presença! Precisamos espalhar a verdade de maneira humilde, antes que seja tarde demais! Micael não quer nosso dinheiro, ele não precisa disso! Dízimos e ofertas são sinais de gratidão e consciência! Do que adianta oferecermos os méritos do nosso trabalho se sequer estamos dispostos a fazer uma mudança real na nossa vida? O mundo está acabando e estamos aqui parados! Se ao menos fizéssemos uma mudança íntima nesse retiro, ele já valeria a pena. Mas por que você veio até aqui? Para mostrar que pode financeiramente? Para se divertir? Para fugir das obrigações? Não! Você veio para refletir. Perceber qual é o senhor que você serve! Olhar para a sua obra e ver o motivo de amá-lo, o motivo de querer morrer por ele se for necessário! E nós sabemos que isso é o que vai acontecer no futuro! Só porque vocês não veem os anjos e demônios ao redor, não significa que eles não estejam ali! Quem será que está em volta de nós nesse momento? Será que estamos agindo realmente como protegidos do rei? – ela dizia, sentindo um forte aperto no peito. Era como se estivesse dando uma mensagem a si mesma.

Depois de um tempo de sermão e leitura do livro, as pessoas foram aproveitar o tempo livre para apreciar a natureza. Num momento, Serena espantou-se, notando a presença de Ophir:

– O que estás fazendo aqui?

– Não estás feliz em me ver?

– É claro que estou! – abraçou-o.

– Ah… Vim ver… Meus… Meus filhos… Quer conhecê-los?

– Já os conheci, por acaso.

– Sério?!… Eu queria que fosse uma surpresa! Na verdade, eu queria que fosse um segredo… Mas o que achou daqueles pirralhos?

– São ótimos, como a mãe e o pai. – sorriu.

– Obrigado… Eu acho… Eu até gosto deles, mas eu não nasci para ser pai.

– Se Micael permitiu que isso acontecesse, talvez eles te ensinem alguma coisa.

– É… Talvez… De uma forma ou de outra, fico contente de ter te encontrado por aqui… Soube do pedido que Pontifex fez a States, não soube?
– Não… Eu fiz um planejamento de nos desligarmos completamente do resto do mundo por um pequeno período. Para que pudéssemos lembrar do magnífico ser a quem servimos… Ficássemos interligados com ele, sabe?

– Parece legal. Todavia… Acho que dessa notícia mundana tu irás gostar de saber: States, aparentemente, está querendo que a paz reine sobre as terras que é dono. Pontifex quer que o Decreto Dominical seja aprovado, dizendo ser a resposta para esse problema… Tornando o domingo um dia especial para a família… Para que ninguém trabalhe nele. Em compensação, todos precisarão trabalhar aos Sábados. Isto é, se o Decreto for aprovado.

“E também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o Senhor que os santifica.”
Ezequiel 20:12

 

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