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Ilusões

Capítulo 1: Poemas – Ilusões

Poemas
Autor: Victor Morais

 

2014. O dia amanhece quente como nunca no Rio de Janeiro, sinal de que as praias ficariam lotadas e certamente ninguém iria querer ficar enfornado em casa. Com o céu limpo, os aviões circulavam livremente, um deles chama a atenção pela extravagância de cores, ele pousa no aeroporto Internacional Tom Jobim.
Dentro dele está um homem, deitado, dormindo  sono profundo. Um outro homem trajado de mordomo o acorda.
Frâncio: Senhor, pelo visto chegamos na cidade infernal, ou cidade maravilhosa como todos insistem em chamar!
O homem tira a máscara, é W.R, um dos mais famosos escritores da literatura nacional, e que apesar de jovem já era conhecido por suas obras e principalmente poemas.
W.R engole em seco: Vai começar o meu pesadelo- Ele respira fundo- Eu tenho uma semana pra entregar pelo menos um rascunho de um livro novo pros editores ou eles me demitem! Mas sinto que não vou conseguir…
Frâncio massageia o chefe: Calma, calma que o Rio tem lugares lindos que podem te inspirar a escrever novos poemas. É só confiar em si mesmo, e ter um pouco de inspiração. O senhor já escreveu obras primas como “Mar Morto” e “ Sol Morto”!
W.R olha pela pequena janela: Eram outros tempos, onde minha inspiração reinava, agora eu tenho exatos sete dias pra fazer um livro novo.
Corta pra Praia do Leblon…
Uma mulher anda de biquíni na areia, com uma caixa de isopor nas mãos, descalça: SACOLÉ! OLHA O SACOLÉ! BEM GELADINHO PRA REFRESCAR O CALOR! NÃO DERRETA SEM ANTES PROVAR O SACOLÉ DA MARIETA!
Marieta consegue vender alguns até que retorna ao quiosque onde costumava descansar. Nele estão uma jovem e uma criança.
Marieta suspira: Vocês dois deviam estar me ajudando! A mãe de vocês já está cansada de trabalhar, principalmente nesse sol ardente!
Uma delas é Helena, uma jovem muito bonita: Eu tô aqui na recepção do quiosque pra caso alguém chegue- Ela escreve algo em um papel.
Lucas, o menino, está no seu celular: E eu tenho uma missão muito importante pra cumprir aqui no celular!
Marieta se senta: Helena, não me diz que você tá escrevendo mais um daqueles malditos poemas! Já falei pra você esquecer isso de vez, acorda pra vida!
Helena não dá atenção pra mãe: E esse foi um dos mais caprichados, acho que foi o dia ensolarado que me inspirou, sempre que tá nesse calorão meus poemas saem bem alto astrais…Quando eu publicar meu livro não te coloco na dedicatória!
Marieta, séria: Eu não tô brincando mais, até uns anos atrás eu aceitava que você escrevesse esse poeminhas, mas agora a vida é outra, filha! Tá tudo mais corrido, e você já é adulta, não pode mais perder tempo com essa besteira, e o cursinho pro vestibular?
Helena, irritada: Eu tô fazendo o cursinho, não se preocupa, agora não pense você que eu tô brincando, eu ainda vou ser uma escritora sim, e não é atoa que escrevo esses poemas desde os 15 anos. Nesse caderno- Ela o mostra- Tem todos os meus sentimentos, minhas impressões da vida, dizer que é besteira é pura ignorância sua!
Lucas tapa os ouvidos: Vocês resolveram discutir mais cedo hoje, né?!
Marieta pega a caixa com os sacolés: Eu não vou perder meu tempo, mas um dia você ainda vai se ajoelhar pedindo perdão e dizer que eu estava certa. Esse maldito caderno tá estragando sua vida- Ela sai andando- Vê se faz o favor de vigiar o quiosque pelo menos, Lucas venha comigo!
Lucas guarda o celular no bolso: Ah não, mãe…- Os dois saem.
Helena repara no poema que acabara de fazer:
“Do alto do Cristo
Visão tão linda tenho
O mar banhando a cidade
O mar banhando a gente
Lavando a nossa alma
Tirando a impureza
Banhando a alegria
E levando embora a tristeza”.
Ela percebe que as folhas estão cada vez mais desgastadas: Acho melhor eu publicar isso logo antes que se desmanche- Ela solta um riso fraco.
Areias da praia…
Marieta, indignada: A Helena é uma sanguessuga, isso sim, eu trabalho igual uma burra de carga pra tentar garantir o futuro de vocês e ela me agradece dessa forma? Com esses poemas toscos? Isso é uma injustiça, e eu ainda aguento isso tudo CALADA! E quando me manifesto, sou apedrejada…
Lucas está a beira do mar: É mesmo, mãe…- Ele escuta a mãe reclamar mas não dá atenção!
A tarde…
Frâncio estende uma tanga na areia, ele e W.R resolveram aproveitar o dia na praia.
Frâncio pega uma água de coco: O mar vai te ajudar a criar inspiração…Depois desse passeio você terá a ideia de um livro na cabeça.
W.R repara nas pessoas: Aqui tá muito lotado…Meus pensamentos tão ficando sufocados.
Frâncio o abana: Calma…Tente relaxar, chefe. Um dia tão bonito desses com certeza vai te deixar inspiradissimmo!
W.R se levanta: Preciso ir no banheiro, onde é que tem um aqui? Não me diga que são aqueles “ banheiros químicos”?
Frâncio aponta: Em cada quiosque daquele tem um! Escolha um e vá!- Diz, ao mesmo tempo em que o patrão corre para um dos quiosques- Ah, eu odeio o mar e a praia, mas como sou um bom mordomo sei disfarçar bem! Não sei como Tom Jobim conseguia compor suas musicas olhando pra essa paisagem horrenda! Cruzes!
No quiosque de Marieta…
Marieta está contabilizando os lucros: Hoje o dia rendeu muito, por isso que eu amo o sol!
W.R aparece: Será que eu posso usar o banheiro, ou tem que pagar?
Marieta esconde o dinheiro: Pode usar sim, é a segunda porta a direita!- Ele agradece e entra- Quem é esse? Nunca vi mais pálido!
Um pouco depois…
W.R sai do banheiro, Marieta agora folheia uma revista, continua sozinha já que era o turno dos filhos venderem os sacolés.
W.R senta no balcão: Desculpa…Eu sou novo aqui, tem alguma coisa pra comer? Tenho dinheiro, não se preocupe…Quem sabe se eu me alimentar surge uma ideia nova…
Marieta pega os menus: Aqui tem todo o cardápio, tem um especialmente em inglês feito pra os turistas…
W.R analisa as opções: Ah não sou turista, moro no Sul, sou escritor. Meu nome é William Rogers, mais conhecido como W.R, provavelmente você já ouviu falar de mim.
Marieta: Nunca ouvi falar, não sou dessas que lê- Ela repara no rapaz- Já escolheu?
W.R indica o que quer, fica esperando um pouco e repara em um pequeno livro no balcão: Esse aqui é o menu em Espanhol?- Debocha, depois começa a folhea-lo- Poemas…Sobre o Rio!- Ele arregala os olhos ao perceber a qualidade dos textos- Não conhecia esse livro, é de que autor?
Marieta olha mortalmente: Ah, esse maldito caderno é da minha filha! Ela não larga isso um segundo, tenho vontade de jogar no lixo as vezes.
W.R se interessa: Sua filha é escritora? Gostei muito do que li agora- Ele folheia, e parece cada vez mais satisfeito.
Marieta lhe serve o peixe que tinha pedido: Helena minha filha deveria estar se interessando pelo vestibular, pela faculdade de direito, que é o que dá lucro hoje em dia, porque atualmente todo mundo quer PROCESSAR uns aos outros e precisam de um advogado pra isso…Me dá esse caderno, vou queimar ele na brasa!
W.R nega: Não vou permitir que você faça isso- Ele o guarda no bolso- Já que sua filha não tem interesse nele eu tenho, posso ficar com ele pra mim? – Diz, afobado.
Marieta lhe dá os guardanapos: Fique, fique e faça bom proveito, graças a Deus me livrei do maldito caderno de poemas…
Um pouco depois, na areia…
W.R chega correndo, Frâncio está debaixo do guarda-sol: Vamos embora daqui imediatamente, tenho que ir pro hotel e ligar pros editores, já tenho um novo livro!
Frâncio se benze: Eu clamei e Nossa Senhora da Riqueza me atendeu, sabia que o Rio ia te inspirar!
W.R pega seus pertences: Nada disso, vamos logo! Eu consegui um livro pronto e ainda não publicado de uma menina qualquer, é a forma mais fácil de ter sucesso sem esforço!
Frâncio, chocado: Você pegou uma obra que não é sua? Mas isso é errado!
W.R: Eu tô desesperado e qualquer coisa vale, é um livro de poemas caseiros, ótimo por sinal! Vou ficar muito famoso as custas dele…É como dizia aquele comunicador, nada se cria tudo se copia.
Os dois saem correndo pela areia.
Depois, no hotel…
W.R, ao telefone: Muito obrigado senhor Buarque, até amanhã onde te mostrarei meu novo livro- Ele desliga- Minha vida finalmente vai se acertar e escaparei do fracasso!
Frâncio; Ainda não consigo acreditar que você foi capaz disso, senhor! Pegar a obra de outra…
W.R, estressado: Cala a boca, Frâncio! Quero que digite todos esses poemas no computador e mude uma coisa ou outra, entre um e outro inclua fotos do Rio, bem bonitas- Ele entrega o caderno- Minha fama vai voltar…E esse livro vai faturar tanto quanto “ Mar Morto”!- Sorri.
Praia…Começa a anoitecer…
Helena e Lucas chegam com a caixa vazia.
Lucas, cansado: Vendemos tudo, TUDO!
Helena se senta perto do balcão: Hoje o dia foi muito movimentado mesmo…Até me deu inspiração pra escrever outro poe…- Ela procura o caderno- Mãe, cadê meu caderninho?
Marieta está preparando-se pra fechar: Filha, hoje eu tomei uma atitude muito séria. Veio um homem aqui, enfim, um cliente, e eu dei o maldito caderno de poemas pra ele.
Helena, sem acreditar: Você…O quê?
Marieta explica: Isso mesmo, eu dei o caderno pra ele porque já tava cansada de você escrevendo por aí como se estivesse em outro mundo, acorda pra vida que ela já começou, aquilo é besteira, me agradeça pela decisão que tomei!
Helena fica chocada: Me diz que você não fez isso…Você não tinha esse direito, mãe- Ela avança pra cima de Marieta- Você tem noção do que tinha ali pra ter jogado ele fora como se fosse nada!? Tinham os meus sentimentos mais profundos, contava parte da minha história de vida, era pessoal e MEU! Você não podia ter mexido e muito menos entregado pra ninguém…Aquilo ali era muito especial, entende isso! Mas meus sonhos acabaram de desmoronar por culpa sua!
Marieta lhe dá um tapa: Cala a boca e não encosta em mim. Você e seu irmão tem sorte de ter uma pessoa como eu nas suas vidas, que sustento os dois e dou amor e carinho! Portanto não reclame, eu só entreguei o caderno porque fiz o que era melhor pra mim, é direito de mãe, um dia você vai entender- Ela ajeita os cabelos, e começa a fechar o quiosque.
Helena sai correndo.
Lucas, chateado: Mãe, você não podia ter feito isso!- E recebe um arrufo da mãe.
No dia seguinte…
Amanhecera nublado, Lucas e Helena estavam indo a um supermercado comprar peixes.
Lucas olha pra irmã: Fica feliz, irmã!
Helena, lacrimejando: Eu não vou perdoar a mamãe, aquele caderno tinha um valor sentimental grande pra mim, ninguém entende, só eu! Os poemas mesmo que estivesse ruins, valiam muito- Os irmãos entram no mercado.
Lá também estão W.R e Frâncio.
Frâncio procura algo nas prateleiras: Não acho caviar em lugar nenhum aqui!
W.R, impaciente: Logo o editor Buarque chega no hotel, desisto de achar isso, vamos- Diz, com o caderno em mãos.
De longe, Lucas avista tudo, impressionado, e puxa a irmã: Olha…É o seu caderno rosado ali!
Helena não crê: Para de brincadeira e deixa eu escolher os peixes logo, mamãe tá esperando! É trauma seu!
Lucas insiste: Tem o seu adesivo de coração na capa, é ele! Aquele é o homem pra quem a mãe entregou o seu caderno!
Helena repara: É mesmo…- Ela percebe que o homem está indo embora- Foi o destino, tenho certeza! Ele tá indo embora, esquece os peixes e vamos atrás do sujeito- Eles o seguem.
Pouco depois, entram no hotel.
Helena instrui: Distrai os recepcionistas, tenho que entrar e recuperar meu objeto precioso a todo custo!
Lucas entende o recado, ele vai até a recepção e pergunta algo para as mulheres, Helena pula qualquer tipo de barreira e consegue avistar o homem, que está esperando o elevador, infelizmente o elevador se lota e ela decide ir de escada mesmo, tendo que procurar de andar em andar. E quando está entre um corredor e outro o avista entrando no quarto. Bingo.
Logo, Helena toca a campainha.
W.R, apressado: Deve ser o editor Buarque, já que não conseguimos o caviar, prepare um champanhe decente pelo menos, nada de espumante!- Frâncio acata e pega uma garrafa no frigobar.
W.R abre a porta animado, mas a expressão muda quando vê a jovem: Pois não, você é a arrumadeira? Achei que…
Helena, séria: Sou a dona do caderno com os poemas- Diz, fazendo o homem gelar.
Um pouco depois…
W.R está sentado no pequeno sofá, ao lado dela:…E foi isso que aconteceu, a sua mãe me entregou o caderno e eu pensei em publica-lo, mas fiquei receoso por causa que não tinha autor explicito!- Mente.
Helena se fascina: Eu escrevo poemas há anos sobre o Rio, e não são apenas coisas boas…Tem os pontos negativos…Mas fico muito feliz que tenha gostado.
W.R, simpático: Eu amei! Você é uma escritora nata, estou disposto a publica-lo, você aceita?
Helena começa a chorar: Nossa…Me desculpa, é que estou emocionada, esse sempre foi o meu sonho! Estou sim disposta, o que preciso fazer? Quando? Como.
W.R sorri cinicamente: Deixe o livro comigo, vou rele-lo e depois apontar o que deve melhorar, em seguida vamos a uma editora, é lá que o seu sonho vai começar, e pode ter certeza que vou contigo pra prestigiar seu triunfo- Ele pega em sua mão.
Helena continua chorando: Que sorte a minha ter uma pessoa como o senhor, bondosa e disposta a me ajudar, é raro ver isso hoje em dia, todos só querem copiar…
W.R: Eu serei seu padrinho, vamos publicar seu livro!- E  ergue a mão dela.
A noite…
Marieta, preocupada: Isso é ilusão filha, deixa essa história de “escrever” pra lá, e foca na realidade!
Helena está deitada: Essa é a realidade quer queira aceitar ou não, ele disse que entra em contato comigo na semana que vem- Ela se agarra ao travesseiro- Parece um sonho!
Marieta franze a testa, no fundo muito decepcionada.
No Hotel Gran Rio…
Buarque analisa o livro, já impresso: É tocante, lindo a forma como fala do Rio como se tivesse vivido aqui sua vida toda! As palavras são reais e verdadeiras, será mais um sucesso daqueles W.R, me surpreendi com seu projeto!
W.R bebe champanhe: Deu trabalho mas eu me esforcei ao máximo, Buarque. Espero que eu tenha meu reconhecimento!
Buarque ri: E pensar que achei que dessa vez você iria fracassar! Ai, que bobeira minha! Vai ser sucesso puro- Ele se levanta- Então vamos publicar este mesmo? Palavra final?
W.R se lembra de Helena, mas logo esquece: Vamos sim, e um brinde ao sucesso!
Dias depois…
Praia…
Lucas mexe no celular: E o tal W.J, W.V, sei lá o nome dele…Não te ligou?
Helena arruma a geladeira: Essas coisas demoram, mas ele me liga sim. Já espalhei isso pra todo mundo, mal posso acreditar.
Marieta chega: Eu tô achando que o “pomposão” roubou seus poemas…
Helena debocha: Claro que não! Para de ser fria e estragar minha felicidade, ele vai me ligar e faço questão de colocar no alto-falante pra todos ouvirem!
Os dias vão passando…
No Hotel Gran Rio…
Frâncio massageia os pés do patrão: Amanhã temos o lançamento do seu livro e finalmente voltaremos pra Gramado!
W.R está confiante: Vai ser um sucesso, os editores amaram e apostaram alto!
Frâncio, assombrado: E o senhor não sente medo, nem remorso?
W.R boceja: Claro que não…Agora para de falar e não cansa minha beleza! Tenho que relaxar, amanhã promete!
Enquanto isso, Helena caminha até que para em uma banca de revista e se interessa por um artigo.
“NOVO LIVRO DE W.R “ VERSOS CARIOCAS” SERÁ OFICIALMENTE LANÇADO AMANHÃ, CONFIRA UM TRECHO INÉDITO DE UM DOS POEMAS QUE VASOU:
Amor pelo Corcovado
Amor pelo mar que me ama
Amor inesperado
Amor que me acolhe na cama
O escritor disse que é uma obra diferente de tudo o que ele já fez, e que obteve inspirações quando ficou dias na cidade maravilhosa. Ele não antecipou muito. Aguardemos até amanhã!”
Helena fica perplexa: Meus poemas…Ele roubou meus poemas…- Diz, com olhos cheios de lágrimas- Não é possível…- A moça compra o tal artigo e sai correndo.
Em casa…
Marieta está sentada na mesa com a filha: Eu detesto dizer isso mas eu te avisei tudo, filha! EU FALEI QUE ERA BOM DEMAIS! EU FALEI PRA DESISTIR DESSE SONHO…
Helena está debruçada: Como eu ia imaginar que um escritor renomado, que já ganhou tanto prêmios e que eu admirava tanto pudesse fazer isso comigo, mãe! Ele tinha prestigio, e eu só queria ser reconhecida mesmo- E soluça.
Marieta passa a mão sobre a cabeça de Helena: Você não enxerga a maldade nos outros, mas eu sim! E você caiu em uma armadilha, e agora, mesmo que diga que os poemas são todos seus ninguém vai acreditar, todos preferem dar ouvidos ao renomado escritor! Já era…
Helena: Eu não vou perder uma obra toda…Não é justo, isso não vai ficar assim!
No dia seguinte…
Helena arruma uma pequena bolsa e aproveita pra sair enquanto a mãe tomava banho.
Lucas vê tudo: A mamãe falou pra você não se envolver mais com essa história, Lena, deixa isso pra lá, já passou…
Helena pega uma faca sem o irmão ver e coloca na bolsa: Eu tô indo fazer justiça, coisa  que você não entende ainda…Depois passo na praia, quando mamãe perguntar pra onde eu fui invente que sai pra casa de umas amigas.
Lucas a pega pelo braço: Você tem certeza que vai fazer isso, irmã? Pense bem!
Helena lhe dá um beijo na testa: Eu sei o que estou fazendo…- Ela pega a chave do carro da mãe- Fala pra dona Marieta que eu devolvo- E sai correndo.
Lucas mal espera a irmã sair e bate insistentemente na porta do banheiro, Marieta responde: O que você quer, menino?
Lucas conta: Mãe, a Helena foi atrás do escritor, tô com medo do que ela possa fazer!
Marieta, assustada: COMO É?
Coquetel de lançamento do livro Versos Cariocas/ Espaço fechado na Barra.
Acontece um pequeno evento antes do lançamento em si.
Frâncio se aproxima do chefe, que está conversando: Senhor, tem uma moça querendo conversar contigo, é urgente!
W.R se distância da roda de conversa: Frâncio, dispensa quem quer que seja, eu tô divulgando a minha obra!
Frâncio pigarreia: É porque ela está prometendo fazer um escândalo, dizendo que o livro é de autoria dela!
W.R se lembra de Helena e gela.
Marieta pega o ônibus com o filho: Você tem certeza que esse coquetel é na Barra? Esse “ saite” é confiável?
Lucas afirma: Sim, mãe, vamos!- Eles sobem.
Estacionamento do prédio…
W.R chega, Helena está encostada em um carro.
Helena o encara: Como você teve coragem de fazer isso comigo? Eu…Eu não te fiz nada, W.R, eu mal te conhecia…Você roubou praticamente uma obra de anos minha e depois me enganou dizendo que ia publicar ela…Me faltam palavras aqui pra conversar com você, aliás, isso é tudo o que eu posso fazer- Ela lhe dá um tapa forte na cara.
W.R fica com o rosto virado: Eu só não revido porque…
Helena lhe dá mais e mais tapas: O que você fez comigo é imperdoável, e achou que eu ia ficar calada diante de tudo? Nada disso, se você não cancelar esse coquetel e admitir tudo, vou ter que revelar a verdadeira história de que A OBRA É MINHA, E NÃO SUA!
W.R solta um riso malvado: E você acha que vão acreditar em uma menina boba como você? Me poupe com suas lições de moral, querida, eu sou um escritor famoso, ninguém duvida da minha criatividade e das minhas palavras…Você é mesmo iludida!
Helena: Você é um monstro, cruel, nojento! Tenho pena de quem é seu fã e acha que você é boa gente…Como tem coragem de me falar que é criativo? Se nem isso você tem, me desculpe mas escritor você não é! Não depois disso tudo…É um mero plagiador!
W.R é ferino: Menina eu não vou dar ouvidos a suas ofensas, vai embora daqui! Você foi uma idiota de acreditar na minha palavra, uma burra, trouxa! Agora não adianta chorar pela obra perdida, é tudo meu, e com o meu mérito vou fazer do livro um sucesso! Chore se quiser, mas terá de aceitar! Agora retire-se daqui, tenho um lançamento a cumprir, tenta escrever outro livro se quiser, mas cuidado pra não ser roubada!
Helena o olha, furiosa: Eu acredito mesmo muito fácil nas palavras dos outros porque eu tento compreender todo mundo, ser boa e gentil, mas pelo visto isso não conta mais nos dias de hoje…Mas isso não vai ficar assim, eu tenho como provar que o livro é meu, tenho as minhas experiências com cada poema, com cada linha e até com cada erro de escrita ali, eu tenho como provar que ele é meu! E vou fazer isso agora, se você não consegue ter sucesso por mérito próprio, vai ter o fracasso- Ela sai correndo.
W.R a segura: Não vai, volta aqui menina pro seu bem!
Helena tira a faca da bolsa: SAI DE PERTO DE MIM!
W.R fica parado: Vai estragar mais a sua vida, Helena? Sai logo daqui, isso é literalmente página virada! Agora eu te dou um conselho: PARA DE SER IDIOTA, PARA DE ACREDITAR NOS OUTROS E TER ESSA ILUSÃO PORQUE O MUNDO NÃO É DO JEITO QUE VOCÊ PENSA, O MUNDO É PROS FORTES, COMO EU, POR ISSO EU CONSEGUI O SEU LIVRO PRA MIM!
Helena começa a chorar, e sai correndo.
W.R ajeita a gravata: Melhor assim…E que nunca mais apareça aqui!- Ele sai andando devagar- Vou pro lançamento do MEU LIVRO!
O que eles não sabem é que uma câmera do estacionamento filmava tudo.
Um pouco depois…
Helena dirige descontrolada por uma avenida no Rio, as lágrimas não param de escorrer em seu rosto, ela se lembra de tudo o que lhe foi dito:
W.R: Você foi uma idiota de acreditar na minha palavra, uma burra, trouxa! Agora não adianta chorar pela obra perdida, é tudo meu, e com o meu mérito vou fazer do livro um sucesso!
As palavras ecoam em sua cabeça. Enquanto ela pisa cada vez mais no acelerador. Helena está trêmula:
Marieta, séria: Eu não tô brincando mais, até uns anos atrás eu aceitava que você escrevesse esse poeminhas, mas agora a vida é outra, filha! Tá tudo mais corrido, e você já é adulta, não pode mais perder tempo com essa besteira!
Flashback…Alguns anos atrás.
Helena escreve um poema, a avó está fazendo um bolo.
Helena mostra o que escreveu: Olha vovó, eu escrevi sobre aquele parque que a gente foi ontem!
Os olhos da avó brilham: Minha querida, você escreve tão bem, vai ser uma escritora de triunfo, pena que não vou poder ver isso, dedique seus poemas pra mim, lembre-se da sua avó!
Fim do flashback.
Helena já não sabe mais o que está fazendo, os olhos estão distantes: Eu não posso mais acreditar nas pessoas, eu não vou!- Ela tem mais lembranças.
W.R solta um riso malvado: E você acha que vão acreditar em uma menina boba como você? Me poupe com suas lições de moral, querida, eu sou um escritor famoso, ninguém duvida da minha criatividade e das minhas palavras…Você é mesmo iludida!
Iludida!
Iludida!- Gritava sua mente como que se fosse um batalhão de pessoas protestando.
De repente ela freia bruscamente, mas não é o suficiente para evitar o choque com outro carro que andava no outro sentido, a moça fica com a cabeça debruçada sobre o volante toda ensanguentada.
DIAS DEPOIS…
Lucas está triste na mesa, Marieta serve o café da manhã.
Marieta, triste: Eu sei que você tá sentindo falta da Helena, eu ainda tô muito chocada com a morte dela também…Foi tudo muito recente, e rápido.
Lucas olha no jornal: A culpa é toda desse homem, ele destruiu a vida da minha irmã, e foi a última pessoa com que ela conversou antes do acidente- Ele chora.
Marieta jura: Eu consegui contratar aquele advogado lá…E vou provar que aquele livro era da minha filha, custe o que custar.
OS DIAS PASSAM.
W.R faz uma coletiva de imprensa: Eu agradeço pelas milhões de cópias que foram vendidas do meu novo livro, “Versos Cariocas”, me esforcei muito pra faze-lo, e agradeço as críticas e comentários!
De repente Marieta entra com um advogado: EU GOSTARIA DE PARAR COM ESSE DISCURSO FALSO DESSE SENHOR PRA FAZER UM PRONUNCIAMENTO ESPECIAL- Ele chama o advogado- ESSE ESCRITOR W.R É UM COPIÃO, QUE ILUDIU A MINHA FILHA DIZENDO QUE IA PUBLICAR O LIVRO DELA, MAS NO FUNDO COPIOU TUDO O QUE ELA TINHA ESCRITO, E PUBLICOU COMO SE FOSSE DELE- Os jornalistas filmam tudo.
W.R ri nervoso: Tem gente que não consegue aceitar o sucesso alheio mesmo, não deem atenção aos ouvidos dessa senhora! Acham que eu ia copiar alguém? EU, AUTOR DE “ MAR MORTO” E “SOL MORTO”!
Marieta o encara: É claro que eles não iriam acreditar em mim, eu me arrependo de ter entregado aquele caderno pra você mas nada disso justifica o que você fez, você roubou os poema das minha filha e ainda enche a boca pra dizer que são seus? Isso não via ficar impune, vou honrar o nome da Helena, agora que ela está morta, é o mínimo que posso fazer…
W.R, impressionado: M-Morta?
Marieta conta a história pra todos os jornalistas, e depois mostra o vídeo onde W.R humilha ferinamente Helena, estão todos impressionados com o ocorrido, o escritor tenta fugir, mas acaba encurralado por todos os fotógrafos.
Marieta escorre as lágrimas: Por sua culpa a minha filha não está mais entre nós, mas você vai pagar sim…Sua carreira está destruída!
W.R fica sem reação. Ele começa a se sentir sufocado pelos flashes, zonzo, até que desmaia.
……………………………………………………………………………………………………………….
O professor termina de contar: E essa é a história por trás de um dos livros mais famosos de poemas do Rio de Janeiro, “ Versos Cariocas” ninguém sabe se foi isso mesmo que aconteceu, alguns dizem que Helena e o escritor tiveram uma noite de amor, e isso foi mais uma das causas pelo acidente. Mas o livro está em minhas mãos, a nova edição que finalmente foi lançada com o nome da verdadeira autora depois de anos- Ele mostra- E com a biografia dela…
Um dos alunos levanta a mão: Muito triste isso, mas e depois que o W.R foi desmascarado em público, o que aconteceu?
O professor se senta: O fim da história que mais contam é que W.R ficou louco depois de perder a fama e a credibilidade, e depois dessa ruína toda, foi anunciado que ele escreveria uma biografia, depois de anos ela foi lançada. E só continha coisas sem sentido nela, vendeu poucos exemplares…Há quem diga que W.R nunca mais se recuperou depois desse escândalo, até que um dia desses ele foi achado morto, no fundo da lagoa mais famosa da cidade…
Os alunos se assustam.
O professor continua: E eu contei toda essa história por conta do tema que estamos falando, a ILUSÃO. Esse é um dos casos mais famosos, inclusive o último poema de Helena, que não estava no caderno, está em minhas mãos. A moça escreveu enquanto esperava a resposta de W.R, parece que ela já adivinhava tudo o que estava pra acontecer, vejam:
“ ILUSÃO.
Dizem que eu confio demais nas pessoas;
Dizem que o ser humano é um bicho complicado;
Dizem que a ilusão é uma coisa boa;
Mas a gente sempre sai machucada;
Porque a ilusão sempre nos deixa feliz
Mas no final tudo o que resta é a estrada
A estrada da vida
Vazia, e sem sentimentos;
E totalmente devastada”.
Os alunos aplaudem o poema, o professor o coloca sobre o livro Versos Cariocas, de autoria, tão merecida, de Helena Sales.

Capítulo de Victor Morais

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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