Jardim Brasil

Jardim Brasil [ep. 2]: O retorno

 

 

CAMÉLIA – FRANCISCO SIQUEIRA

 “O retorno”

 Não assumo qualquer responsabilidade pela exatidão dos fatos, não ponho a mão no fogo, só um louco o faria, porque verdade cada um possui a sua, razão também (…).

Jorge Amado, em um trecho do prefácio de “Tieta do Agreste”.

 

 

2 0 0 6

Arena, interior da Bahia…

– É assim, Camélia, que você me retribui depois de tudo o que eu lhe fiz, sua miserável?

Antunes gritava, beirando o descontrole enquanto Camélia, encolhida, em pé, no canto da parede, sequer ousava respirar, tendo a certeza de que nada e nem ninguém ia poder salvá-la da ira de seu pai.

– Infeliz. Hoje eu me arrependo amargamente de ter você como filha…

– Antunes, pelo amor de Deus, pense no que você está falando – Teresa, carregada de aflição, buscava intervir a favor da neta, mas o filho não se dava ao trabalho de ouvi-la. Estava surdo e cego pelo ódio que o consumia.

– Escuta aqui sua puta…

Ele se aproximou de Camélia despejando a mão direita sobre o seu rosto com tanta força que a fez cair sentada no chão; cabisbaixa, cobrindo o lado da face atingido, ela pôde notar o reflexo da sombra do pai crescendo acima da sua cabeça.

– Eu não vou admitir essa pouca vergonha. Essa imundície… Você está fazendo isso de propósito só pra me enlouquecer… Quer arrastar o meu nome na lama, sua infeliz, assim como sua mãe fez com a nossa família, abrindo as pernas pro primeiro que aparece?

Um empurrão forte e repentino, não permitindo sequer que se equilibrasse, mesmo estando sentada, foi o que Camélia recebeu enquanto voltava a se espremer contra a parede; ao mesmo tempo em que suas costas e sua cabeça batiam no chão, sentiu o peso do corpo do pai sentando sobre sua barriga, trancando seus braços com as pernas e começando a lhe desferir socos, arranhões e puxões de cabelo, além de continuar a insultá-la.

Naturalmente sua reação foi a de autodefesa, protegendo o rosto com as mãos a fim de tentar minimizar os reflexos daquele ataque insano e descontrolado, mas não conseguiu se desvencilhar; a força de seu pai parecia ter tomado proporções absurdas e só fazia crescer diante dos gritos de súplica de sua avó Teresa: Camélia teve a impressão de que estava sendo atacada por uma fera completamente alucinada, cuja satisfação só seria alcançada quando matasse sua presa.

Por fim, seu pai se pôs de pé, e enquanto o fazia apoiou todo o peso do corpo sobre o seu tórax propositadamente a fim de impedir que saísse do chão. Camélia sentiu como se todas as costelas estivessem sendo esmagadas e precisou puxar o ar com muita força para dentro dos pulmões para conseguir respirar ao mesmo tempo em que fechou os olhos, quase perdendo a consciência; ao sentir uma de suas pernas sendo levantada logo depois que o peso sobre o peito desapareceu, imediatamente os abriu e viu Antunes começar a arrastá-la para fora de casa.

Buscando agarrar-se a qualquer coisa pelo caminho enquanto se debatia desesperadamente, flexionando a perna suspensa, tentando a todo custo alcançar as mãos de seu pai para poder soltá-la, Camélia não demorou a perceber que todo aquele esforço estava sendo em vão e cada vez mais sentia as costas, cotovelos e braços sendo esfolados enquanto avançava pela terra batida em direção ao portão, sempre tendo os gritos angustiantes de sua vó Teresa ao fundo, ao passo que sua madrasta, Maria Luzia, e seu meio irmão, Adoniran, assistiam a tudo, impassíveis, sem nada fazer.

Já bem próximo do portão, Antunes largou sua perna, praticamente jogando-a para o lado, e se afastou, aos berros. Inclinando um pouco a cabeça; Camélia pôde vê-lo se aproximando da avó, exasperado, agitando os braços no ar. Sem pestanejar, apoiou os cotovelos esfolados no chão e impulsionou todo o corpo para o alto, projetando-o na intenção de se colocar de pé, o que conseguiu, de início meio cambaleante, sentindo uma dormência absurda no membro recém-libertado, mas ainda assim, mancando, se aproximou das madeiras atravessadas da parte de dentro do portão e as usou como uma espécie de bengala enquanto esfregava a perna a fim de acelerar a corrente sanguínea para livrar-se daquele incômodo formigamento… Antes de seguir em direção à rua, olhou para trás e viu a avó se esforçando na tentativa de manter seu pai de costas para ela enquanto discutiam;.

Passando a mão no trinco, num gesto alucinado, decidida a fugir o mais depressa que pudesse, qual não foi a surpresa de Camélia ao abrir o portão e se deparar com uma plateia formada. Quase toda a cidade de Arena estava ali reunida, imóvel, em silêncio, ouvindo os gritos de seu pai, que ressoavam como trombetas anunciando o apocalipse.

Correndo os olhos rapidamente por sobre aquela aglomeração, Camélia pôde constatar no semblante de cada uma daquelas pessoas que nenhum movimento, nenhum músculo sequer seria lançado a seu favor; obviamente ninguém ousaria enfrentar a figura do pastor e prefeito Antunes, um dos pilares incontestáveis da moral e dos bons costumes da cidade…

– Onde você pensa que vai sua infeliz?

Ao ouvir o tom grave da voz do pai a invadir seus ouvidos novamente, Camélia meneou a cabeça rapidamente e num ato desesperado para escolher a melhor direção a tomar, e assim colocar em prática o seu plano de fuga, não percebeu o quão perto ele já estava e, sendo empurrada com extrema violência, tropeçou nos próprios pés, não tendo a menor chance de se equilibrar, indo de encontro ao chão, ralando ainda mais os cotovelos e as mãos ao tentar proteger o rosto.

– De hoje em diante você não é mais minha filha, sua ordinária. Não é nada minha. Metade do sangue que corre nas suas veias, infelizmente, é o mesmo da nossa família. Nunca mais quero te ver. Não ouse colocar os pés de novo dentro dessa casa, sua perdida.. Você não faz mais parte dessa família. Eu te odeio e até o dia da minha morte vou maldizer a hora em que você nasceu…

Caída no chão, protegendo o rosto, Camélia sentiu a fivela do cinto do pai atingir-lhe a nunca e então berrou, um grito baixo, encoberto pelas mãos. De imediato sentiu seus cabelos sendo puxados para cima, lhe forçando a ficar de pé. Enquanto se levantava, descobriu o rosto e levou às mãos ao couro cabeludo, acreditando que amenizaria a dor que estava sentindo… Naquele instante se deparou com os olhos vermelhos do pai. Uma aversão palpável e assustadora se estampava dentro deles.

– Você vai embora dessa casa, mas não vai levar nada. Nada aqui te pertence. Nem mesmo a roupa do corpo.

Antunes pegou com força a barra da camisa de Camélia e a puxou para cima, tirando-a, chegando mesmo a arranhá-la um pouco. Não demorou muito para que suas mãos chegassem à cintura, no elástico da bermuda que ela vestia, para então abaixá-la até abaixo do seu joelho, junto com a calcinha, deixando-a completamente nua.

Aterrorizada e coberta de vergonha, Camélia começou a tremer enquanto com as mãos tentava esconder suas partes intimas, evitando o olhar de todas aquelas pessoas.

Um silêncio sepulcral pairou no ar por alguns segundos

– Vá já lá dentro e pegue um lençol pra cobrir a sua irmã, Adoniran.

O pedido da avó infelizmente soou em vão diante da despótica autoridade de seu pai.

– Não ouse dar um passo sequer, Adoniran, ou então você vai fazer companhia pra essa vagabunda.

Sentindo-se completamente humilhada, Camélia não conseguiu encontrar forças para erguer a cabeça. O tremor do seu corpo só fazia aumentar e rogou a Deus que a fizesse parar de respirar naquele momento.

– Vamos, moça. Venha com a gente.

Um tecido bastante macio tocou a pele de Camélia, cobrindo todo o seu corpo enquanto ela tentava reconhecer a voz feminina que lhe era dirigida.

Quem teria tido coragem de se aproximar?…

Só depois que um braço envolveu os seus ombros, tomou coragem para levantar os olhos.

– Vamos?

Era madame Argent, a dona da casa de tolerância da cidade, e ao seu lado uma de suas meninas, Imaculada…

Voltando o rosto para baixo, Camélia se permitiu ser levada…

***

 

Rio de Janeiro, 2015…

Camélia seguia muda, estática, sentada ao lado da motorista como se fosse uma condenada aguardando a hora da sua execução. Durante todo o trajeto, que já durava pouco mais de meia hora, vinha mantendo uma postura ereta, mas com os braços esticados para baixo, onde mantinha as mãos entrelaçadas, escondidas entre as pernas cerradas.

Girou o pescoço em um movimento quase robótico na direção da sua janela e observou a chuva fina que não parava de cair do lado de fora. Aquele final de outono, pelo jeito, prenunciava um inverno carioca bem diferente dos anos anteriores.

– É a melhor coisa a se fazer,Camélia.

Ela ouviu a sentença da mulher sentada ao seu lado, porém o som daquela voz parecia estar a quilômetros de distância, como se um infindável túnel existisse entre elas e não somente alguns centímetros mantivessem suas poltronas separadas.

Nenhum gesto, nenhuma resposta. Nada. Camélia permaneceu em silêncio e talvez para demonstrar à sua acompanhante o quão apartada ela se encontrava, inclinou-se para o lado até alcançar com o ombro o vidro da janela, onde se apoiou, erguendo, em um movimento hercúleo, os olhos para o céu.

Se houvesse alguma espécie de anjo ou entidade que naquele instante estivesse velando ou fosse responsável em monitorar os olhares suplicantes dos humanos que viviam na terra, enxergaria na sua expressão total desespero, tristeza, angústia e também ódio; ele, o anjo, encontraria nas janelas de sua alma não o espírito de uma jovem de 25 anos, mas uma anciã amargurada, uma idosa que teria completado o percurso de sua existência carregando a plena certeza de que tudo o que fizera havia sido em vão…

O Pálio branco onde Camélia estava, e que de tão limpo parecia recém-saído de uma revendedora, estacionou em frente a uma agência dos correios de um bairro do subúrbio carioca e Antonieta, a condutora, não demorou a descer do veículo, circundando-o e parando ao lado da porta do carona. Era uma mulher nitidamente fora do peso, mas que devido a sua altura, a maquiagem bem definida e o conjunto de roupas escuras que usava, ainda conseguia manter certa elegância.

-Vamos Camélia- ela pediu, batendo de leve com a ponta dos dedos da mão direita no vidro da janela que escondia, sob os reflexos das nuvens cinza que se arrastavam acima dela, o rosto da jovem do outro lado – Não temos muito tempo e a decisão já foi tomada. Não há mais o que ponderar ou refletir…

Camélia assentiu em silêncio, ao mesmo tempo em que desceu o vidro de sua janela até deixar, por fim, completamente visível, o seu semblante carregado de uma aflição e apatia pungentes.

Lado a lado, entraram na agência postal e Antonieta buscou de imediato informar-se sobre como poderia enviar um telegrama enquanto Camélia, encostada a uma parede e com os braços cruzados, a seguia com o olhar.

– Um telegrama? – o atendente, um homem aparentando seus cinquenta e poucos anos, não conseguiu conter sua surpresa diante da pergunta proferida – Mas é claro.

Antonieta respirou fundo. Não pretendia indispor-se com o funcionário que a estava atendendo. De certa maneira compreendeu a razão de seu questionamento retórico, afinal, em pleno século XXI, com tantos aparatos tecnológicos, alguém ainda utilizar-se daquele meio de comunicação prosaico soava um tanto surreal, mas enfim, era a única maneira disponível para contatar Arena, a cidade natal de Camélia, um lugar, pelo pouco que ouvira, esquecido por Deus e de onde sua jovem protegida saíra há nove anos, sendo forçada a deixar tudo e todos para trás.

 

         Estou voltando para passar um tempo com vocês.

Matar saudades.

Espero encontrá-los bem.

Camélia

 

Antonieta chamou Camélia e lhe mostrou as palavras que oficialmente seriam de sua autoria. Ela pode notar o desconforto da moça ao lê-las, suas narinas se dilatando, seu tórax inflando ao mesmo tempo em que uma palidez mórbida invadia o seu rosto e sua mão esquerda, a mesma com a qual segurava o pedaço de papel, começava a tremer.

– Está bom? – ela perguntou condescendente, levantando as duas sobrancelhas e tentando sorrir com os lábios fechados, esforçando-se para demonstrar certa empatia.

– Matar saudades? – Camélia devolveu seca, circunspecta e dando de ombros, encarando Antonieta com tanta frieza no olhar que a fez sentir-se, mesmo que por alguns instantes, partida ao meio – Tenho escolha?

Enquanto Antonieta recolhia o tímido sorriso, o papel e buscava o balcão de atendimento, Camélia tratou de retornar ao seu canto com a cabeça fervilhado de pensamentos, conjecturas e amaldiçoando aquele momento de sua vida.

 

Quantas vezes vou precisar repetir que não tive participação no que aquele maluco fez?

Camélia tentava argumentar, ansiosa, sentada sobre o sofá, enquanto Antonieta andava de um lado para o outro na sua frente.

– Ele disse que ia dar um jeito de me fazer parar nas esquinas, de nunca mais conseguir emprego em nenhum lupanar, disse que ia fechar a casa da senhora se eu tentasse pedir sua ajuda…

– Caralho Camélia, em que mundo você vive, puta que pariu…

Antonieta gritava ao mesmo tempo em que se aproximava de Camélia tão rápido que ela teve a impressão de que iria ser atropelada.

– Você sabe muito bem o filho de quem o Carlos matou por sua causa, não sabe? A vida de quem tem mais peso? A do filho de um Senador ou de uma puta?

Antonieta segurou o queixo de sua protegida, forçando-a a encará-la.

– Até provar que focinho de porco não é tomada e que o seu amante bêbado e vagabundo fez o que fez sem a sua participação, o pai do infeliz com a garganta cortada vai querer comer o rabo de alguém, e não pense que só o Carlos vai levar ferro, minha querida…

Camélia cobriu o rosto com as mãos e se deixou cair sobre o encosto do sofá. Sentiu como se carregasse o mundo em seus ombros.

– Você não sabe do que essa gente é capaz.

Antonieta voltou a caminhar de um lado ao outro da sala com os passos cada vez mais firmes.

– Você precisa sumir por um tempo. Desaparecer. Precisamos encontrar algum cu de Judas para te mandar. Algum lugar esquecido no mapa e esquecido por Deus, se é que existe algum…

 

“Como minha vida pôde mudar em um instante”?

Camélia sentiu os olhos lacrimejarem, mas não de pesar e nem tristeza, mas de raiva. Sim. Estava com ódio de si mesma por ter se permitido agir como agiu e agora, impotente, tendo que encarar suas consequências, precisava fugir para o último lugar da face da terra onde gostaria de estar…

O destino era realmente irônico. Parecia se divertir. Aos dezesseis anos, ela, Camélia, saíra de Arena, nos recantos da Bahia, determinada a nunca mais voltar àquele pedaço de lugar nenhum após ter sido expulsa de casa, humilhada, jogada fora…

– Vamos?

O chamado de Antonieta a trouxe de volta à realidade. À triste e incontestável realidade.

– Ainda precisamos passar no banco, comprar algumas roupas… Afinal, a filha pródiga de Arena está voltando…

– Vá se fuder, madame – Camélia respondeu tomando a dianteira e caminhando a passos largos na direção do carro, pouco se importando de que, pela primeira, estava desrespeitando a autoridade que Antonieta sempre exigira das meninas que trabalhavam em sua casa, no seu vasto e renovado estoque escolhido no capricho para atender os mais exigentes dos clientes…

***

 

Arena…

O sargento Jorge tocou de leve no quepe e saudou o seu reflexo no espelho, admirando com orgulho o novo e impecável uniforme azul-marinho.

Sem pressa, caminhou até a recepção, que ficava à frente da sala de sua casa, na verdade da casa oficial destinada aos sargentos que por ali exerciam o seu dever, e atravessou o balcão, conferindo se tudo estava no seu devido lugar e se dirigiu para a rua, para a viatura policial, a fim de dar início à ronda noturna, apesar de saber que tudo em Arena corria bem. Como sempre.

Havia doze anos que ele chegara para substituir seu antecessor, que se aposentara, e no começo demorou a se acostumar com a peculiaridade da cidade, que já nos idos de 2003, inegavelmente fazendo parte do terceiro milênio, mantinha ainda em suas casas, sobrados e ruas um aspecto colonial.

Jorge não demorou a se inteirar, descobrindo que a preservação que se mantinha passava longe de ser por uma nobre razão histórica, mas sim para atender aos caprichos arbitrários, obviamente dos poderosos que por ali viveram – a ainda viviam -, obstruindo qualquer chance de aproximação do progresso que já existia nas cidades vizinhas, por menor que fosse.

Não foi fácil se acostumar, conviver com o comodismo ou conformismo, ou ambos, enraizado nos habitantes de Arena, convenientemente alheios ao atraso de sua quase anônima cidade, se contentando com o pouco que lhes era permitido ter.

O eco das tentativas de mudança propostas por Jorge foi tornando-se escasso. De início ele esbarrou em burocracias absurdas, incongruências, até ser ameaçado, de maneira velada, a ter que deixar Arena para trás…

Dois anos já haviam se passado e ele não poderia mais se permitir ir embora, tanto pela extrema paz a tranquilidade do local, existentes mesmo que sob o verniz da hipocrisia de seus habitantes, como também, e principalmente, por não conseguir se imaginar longe daquela pessoa que lhe despertara, depois de tanto tempo, uma razão urgente de viver…

Aos 47 anos de idade, o sargento Jorge não se incomodava em ter encontrado na figura de um homem casado o grande amor de sua vida.

Jorge olhou para o relógio no seu pulso: 21h30min. Tinha terminado sua ronda, e como sempre, na hora exata. Encheu o peito de ar e suspirou um tanto aliviado, sentindo o vento ameno que passeava pelas ruas vazias de Arena e se preparou para entrar na viatura e voltar para casa, assistir um bom filme preto e branco, como sempre fazia nas noites de sábado e depois dormir, mas o som de um ônibus rugindo e chiando ao longe o fez estacar.

Voltou-se imediatamente na direção da entrada da cidade e viu o veículo se aproximando até estacionar próximo de onde ele estava, em frente à agência de serviço postal, jogando sobre o seu rosto os reluzentes faróis.

– Um passageiro? – ele se perguntou ao mesmo tempo em que caminhava na direção do ônibus estacionado e tentando, com uma das mãos, proteger a claridade que invadia seus olhos.

A porta do veículo por fim se abriu e a luz de seu interior derramou-se para fora. A silhueta ereta de um corpo feminino, aparentemente perfeito, carregando uma mala em sua mão esquerda, pisou no chão sob a leve neblina que caía.

Jorge meneou a cabeça e parou a fim de observar, com certa cautela, e também tentando deduzir, quem poderia estar chegando à cidade… Ninguém era esperado, a não ser Camélia, mas é claro que não poderia ser ela, afinal, seu telegrama havia chegado à agência de serviço postal na tarde do dia anterior…

A passageira, em pé, olhou para os dois lados da rua e em seguida na direção do sargento. Atrás dela, o ônibus já seguia longe, os faróis ficando cada vez menores.

Jorge percebeu que a recém-chegada não se movia e então se adiantou. Apenas três passos foram suficientes para reconhecê-la:

– Santo Deus! Camélia Ferreira. É você mesmo?

Por alguns instantes Jorge se deixou perder ante a imagem sombreada de Camélia. A mulher parada ali, à sua frente, rija, aparentemente fornida de carnes, em nada lembrava a mesma garota mirrada que fora forçada a entrar em sua viatura, há nove anos, para ser levada embora da cidade…

Decidiu avançar mais alguns passos até ficar a poucos centímetros de Camélia e acendeu a lanterna que trazia pendurada à cintura para poder, por fim, constatar o que a luz difusa dos postes insinuava.

“Onde essa menina esteve durante todos esses anos?”, Jorge se interrogou de imediato, emudecido, ao mesmo tempo em que vislumbrava Camélia dentro de uma blusa esporte de malha, vermelha, simples e elegante, marcando a firmeza de seis volumosos, sutilmente a mostra através da gola de botões abertos e uma calça jeans azul, colada às coxas…

– O senhor vai me revistar, sargento?

Jorge estremeceu diante do inesperado questionamento e em questão de segundos buscou rapidamente se recompor.

– Desculpe – pigarreou um pouco antes de prosseguir enquanto devolvia a lanterna ao seu lugar – Você está tão, tão… – meneou a cabeça lentamente tentando encontrar um adjetivo que não soasse insultuoso, obsceno, voltando a encarar Camélia – Diferente.

Camélia forçou um sorriso entre os dentes e pousou a mala no chão para em seguida fitar o semblante desconcertado do sargento.

– Obrigada! O senhor sempre recebe os recém-chegados dessa forma? Admiradíssimo? Até onde me lembro, apenas os rapazes têm esse privilégio.

Jorge recuou imediatamente dois passos e puxou todo o ar que podia para dentro do peito.

– Você há de convir, Camélia, que está bem diferente daquela menina… – iniciou, tentando ignorar a insinuação sobre sua orientação sexual.

– Que o senhor carregou para fora da cidade arbitrariamente dentro da sua viatura – ela não deixou Jorge terminar e deu um passo pra frente antes de seguir adiante, fazendo questão de ostentar o seu cenho cerrado – Apesar das minhas súplicas de que eu precisava voltar, me despedir de madame Argent, mas não, o senhor fez ouvidos moucos e seguiu viagem até me deixar na casa daquele seu amigo, um padre, não é mesmo?

Jorge baixou os olhos por alguns instantes, parecendo rever aquelas imagens do passado como um filme se projetando diante de si.

– Eu não tive escolha – ergueu a cabeça e encontrou Camélia terminando de resgatar a mala do chão – Seu pai era o prefeito da cidade, eu não poderia afrontá-lo, e além do mais, ele não estava errado em exigir que a tirasse daquele randevu…

– O único lugar que me acolheu depois que o velho Antunes me jogou na rua, depois daquela surra que me deu…  Onde mais ele queria que eu estivesse já que todos na cidade só faltava cuspir em cima de mim? Eu não fui taxada de puta… Então?…

Jorge permaneceu calado.

– Deixa pra lá – Camélia proferiu com desprezo, dando meia volta, passando a ignorar completamente a presença do sargento – Não estou de volta depois de nove anos para ficar discutindo águas passadas com um pau mandado.

Jorge respirou fundo, engolindo em seco a ofensa recebida.

– Essa não é a direção da casa do seu pai – ele sinalizou depois que percebeu para onde Camélia avançava.

– Se nada mudou nessa cidade, estou no caminho certo da pensão da dona Sonya – ela devolveu, sem se virar.

– Para alguém que anunciou à família que estaria retornando para matar saudades, se hospedar em uma pensão é bem contraditório, não?

Camélia estacou, enfim, mas mantendo-se de costas.

– Então o senhor teve acesso ao meu telegrama? – ela lançou a pergunta sem se virar.

– Não foi preciso. Esqueceu-se do tamanho dessa cidade? – Jorge devolveu com um sorriso amistoso.

– Não. Claro que não. Seria esperar demais algum progresso ético ou moral das pessoas desse fim de mundo – a voz pareceu lhe rasgar a garganta tamanha a aversão com que as pronunciou – Enfim… Não sei se meu pai está com saudades de mim,o que pouco me importa – completou entre os dentes voltando a caminhar – Já que estou no inferno, abraçarei o diabo.

 

 

Próximo episódio: Dália é uma jovem negra carioca e sua vida é repleta de batalhas e sempre precisa lidar com os preconceitos por causa da cor da pele, mas encontra no amor uma força capaz de superar tantos desafios.
Autor: Gabriela Santos Ribeiro
Data de publicação: 06 de fevereiro

12 thoughts on “Jardim Brasil [ep. 2]: O retorno

  • Antes de mais nada, gostaria de parabenizar o autor por essa escrita tão delicada e rica em detalhes, eu simplesmente amei do começo ao fim.
    Já o conteúdo da história deixou um pouco a desejar, pois como fora mencionado, senti falta do motivo pelo qual Camélia fora espancada e também pelo fato de ter ficado com a impressão de que as coisas não se desenvolveram. Adoro finais inacabados, porém, faltou revelar pontos essenciais para que este desse certo.
    Além de tudo o que pontuei, também não consegui captar claramente o tema do episódio… faltou um pouco mais de foco em relação a isso.
    Enfim, o enredo houve lá seus pontos fortes e fracos, mas mesmo assim conseguiu transmitir certa beleza e envolver com os fatos 👏👏

  • Adorei o texto, a riqueza dos detalhes e a descrição das cenas foi fanástico, mas senti falta de algo que julgo importante, o motivo pelo qual Camélia foi espancada e atirada na sargeta…
    Achei interessante o final que deixa a cargo da nossa imaginação os acontecimentos depois da sua chegada.
    Parabéns!!

    • Victor, obrigado, porém o compromisso assumido para a série não “permitiu” a extensão da história, mas (minha opinião apenas) quem sabe não virá uma trama que terá como base essa premissa? 😊☺

      Abração

  • Gostei bastante do texto, e até do caráter descritivo, Francisco. Sua escrita alcança níveis quase profissionais. Porém creio que poderia ter rendido muito mais! Uma história com começo, meio, fim, um conflito que seria ou não solucionado. “O Retorno” foi apenas “A Semente”!

    • Victor, obrigado, porém o compromisso assumido para a série não “permitiu” a extensão da história, mas (minha opinião apenas) quem sabe não virá uma trama que terá como base essa premissa? 😊☺

      Abração

  • Agradeço a todos pela disponibilidade do tempo de vocês para a leitura deste capítulo e também pelos comentários. Adorei cada um deles, pois é maravilhoso enxergar no resultado de um trabalho a disparidade de pontos de vista de cada leitor, o que, para mim, prova o quão abrangente foi o texto, longe de ser um agrupamento de palavras um tanto herméticas, ou até mesmo uma “receita de bolo” para não enfrentar essa diversidade de opiniões.

    Achei interessante, entre tanto apontamentos, três deles, que tentarei “explicar”. Sim, o verbo transitivo entre aspas, pois não sou prepotente ao ponto de acreditar que minha versão dos fatos é a definitiva… kkkkkk

    a) percebi certa resistência no uso de algumas palavras que não são muito comuns do cotidiano, inclusive podendo, com a implementação das mesmas no meu texto, ter estorvado um pouco a narrativa. Ora, gente, se pretendemos escrever, precisamos ter (aprender) em nosso vocabulário um estoque bastante variável. Antes, ou enquanto, exercemos essa prática e quiçá um ofício, que é o de colocar no papel palavras e com elas criar e contar um histórias, precisamo ler, ler, ler e ler muito, o máximo de autores e temas que puder, não só essas trilogias modernosas onde a tal “receita de bolo” que citei logo acima se faz presente para que não corramos o risco de apresentar algo diferente, que possa melindrar o leitor. Como humilde e faminto leitor, sempre que esbarro com um termo para mim desconhecido, trato de buscar o seu significado e agradecer por ter podido distingui-lo.

    b) a ausência da protagonista em uma parte da história e também sua “ausência” de personalidade… Bem, segundo o dicionário, “protagonista” tem como uma de suas definições, ser aquela pessoa (ou personagem) que ocupa o primeiro lugar em qualquer acontecimento, não é aquele que PRECISA ESTAR EM QUALQUER ACONTECIMENTO. Diante dessa elucidação, se pararmos para analisar a trajetória do capítulo onde Camélia é a PROTAGONISTA, de fato, vemos que realmente ela não está em uma parte da trama, porém a narrativa gira em torno de si, até mesmo quando o personagem Jorge é apresentado e em paralelo “a alma” da cidade de Arena, onde se conta como e porquê aquele lugar permanece estagnado. É uma preparação para o retorno dela, da PROTAGONISTA, não é uma informação aleatória, solta, vaga, inclusive o próprio Jorge é “destrinchado”, afinal, certamente perceberam, foi ele o último cidadão que viu Camélia deixando Arena e o primeiro a vê-la retornando…

    Sobre a carência de personalidade de Camélia, bem, é notório que a personagem é apresentada em dois momentos de sua vida onde não há outra forma de reação a não ser a passiva: o primeiro deles, sob a violência física (e psicológica) do pai, o segundo, sob a pressão de ter que deixar o presente, com o propósito de preservar a própria vida, e com isso precisar retornar justo para o local ao qual lhe deixou marcas indeléveis. Camélia optou por não reagir, não dar murro em ponta de faca; preferiu guardar a raiva, a frustração dentro de si, e, como devem ter notado na última cena, “o caldeirão” que traz dentro dela começou a dar sinais que de iria entornar.

    c) o excesso de informações, detalhes… Bem, eu amo saber o máximo possível o que está acontecendo no cenário, o ar que envolve a história, o que o personagem ou personagens estão olhando, que mão estão usando, de onde vem a luz que ilumina a cena narrada. Acomodar-se ao delineamento de um texto relativamente apressado, e em algumas vezes preguiçoso, para que a história (ou ação para alguns) aconteça logo, muita das vezes deixa a desejar. Eu, confesso, que como leitor não me contento com pouco, como por exemplo: LÚCIA E MAURO DISCUTEM. MAURO PARTE PRA CIMA DE LÚCIA. MAURO CAI. O PESCOÇO DELE QUEBRA. Os personagens discutiram, ok, mas trocaram palavras fortes, ofensas? Tentaram se esbofetear? Quem agiu e quem reagiu? Em que instante Mauro partiu pra cima de Lúcia? Ela permitiu ou ele foi violento e se aproveitou de sua força masculina? Mauro caiu. Ele escorregou? Se desequilibrou? Ou Lúcia conseguiu empurrá-lo e se o fez, ela é mais forte que ele? Onde e de que forma Mauro caiu para o pescoço dele simplesmente, com a queda, ter quebrado?

    Nunca leiam Jorge Amado, Jhon Boyne, Gabriel Garcia Marquez, Érico Veríssimo, o clássico dos clássicos (1037 páginas) E O VENTO LEVOU e até mesmo a trilogia adolescente contemporânea Meze Runner. São recheadas de detalhes e, ao meu ver, enriquecem a história.

    Bom, volto a agradecer a cada um de vocês pela leitura e comentários, e espero que tenham prestado atenção na epigrafe que “roubei” de Jorge Amado, que aparece no início do capítulo:

    “Não assumo qualquer responsabilidade pela exatidão dos fatos, não ponho a mão no fogo, só um louco o faria, porque verdade cada um possui a sua, razão também (…).”

    Forte abraço a todos e ate a próxima!

    delineadas

  • A escrita inicialmente já estava boa, muito mesmo, apesar de eu ter identificado uns errinhos quanto a pontuação. E, mais uma vez, acredito que o linguajar chulo tenha sido um pouco pesado e talvez desnecessário, mas até agora o leitor não sabe o motivo de Antunes agredir Camélia assim. Não se sabe se é um descontrolado, apenas vemos que ele está descontrolado.
    Gostei da descrição da situação, mas acredito que faltou uma investida na parte de explanar como Camélia estava se sentindo. Ela demonstrava desespero ao ser expulsa de casa, mas poderia ter ficado mais explícito. O espírito colérico do pai mostra que, mesmo sendo pastor, ele não está seguindo com veemência o que provavelmente prega – amor e perdão.
    “Naquele instante se deparou com os olhos vermelhos do pai. Uma aversão palpável e assustadora se estampava dentro deles.”, gostei bastante desta parte. Os olhos são a janela da alma. O texto ficou bem rico quanto as expressões, mas o excesso causa um pouco de cansaço. Todavia, a riqueza da história foi aplaudível. Algo a pontuar sobre o início também é a escassez de falas da protagonista da trama. Como poderei conhecer as faces de Camélia (de 2006 e de 2015), se ela não se expressa?
    Acredito que palavrões tiraram parte da sensibilidade do texto. Quando comento este tipo de coisa, admito que parte disso vem do meu lado “puritano”, mas confesso que o texto saberia manter o alto padrão sem ter vocábulos baixos. As conversas do passado apresentaram uma confusão, já que não é explanado devidamente ao leitor. Falando em coisas confusas, o jeito simpático de Antonieta começou a se misturar à personalidade de mulher hostil e de palavreado sujo e ríspido… Houve oscilação no caráter da personagem, isso pode atrapalhar na aproximação do leitor para com ela ou mesmo a simples assimilação da mesma, então lhe a conselho a tomar cuidado.
    O texto ficou com as informações meio bagunçadas, mas felizmente fui pegando-as de forma gradativa. Sendo uma narrativa curta, é complexo condensar tantas coisas, mas você se saiu bem.
    Quanto a interpretação, de fato, creio que ela acabou se envolvendo com um rapaz (Carlos) que cometeu o assassinato de alguém importante por causa da principal, o que foi mencionado sem rodeios na lembrança da conversa de Camélia e Antonieta.
    A história passa um ar de interrogação, fazendo com que o receptor da mensagem pense mais. Eu até me surpreendi com o final, mas porque não esperava que terminasse ali e certamente não terminou. Senti desvio de tema ao analisar o episódio como um todo, mas não tiro de forma alguma o reconhecimento do trabalho. Mesmo com a presença de questões em “semiaberto” (digo, subentendidas ou meramente mal explicadas em relação a detalhes não muito úteis no capítulo), meus parabéns por ele, realmente interessante e bem elaborado! As avaliações dos votos realmente condizem, porque pude contemplar qualidade na obra.

  • Belíssimo texto, muito bem escrito e com técnicas impressionantes. Achei que a história teve uma qualidade altíssima e um nível de português fora do comum. O início do episódio em que Camélia era agredida pelo pai teve uma profundidade muito grande, dando a impressão de que eu estava na sala junto com eles assistindo aquela cena. A forma em que os movimentos e as reações foram descritas proporcionou mergulhar na história e senti como se fizesse parte dela.
    Algumas coisas não me agradaram, como por exemplo, a passagem de tempo. A história começou em 2015 como se fosse continuação do parágrafo anterior (mas na verdade, já tinham se passado 9 anos). Acredito que o início da nova fase poderia ser diferente para que não desse essa impressão estranha de que estava lendo a continuação da última cena. O uso de palavras incomuns ao nosso cotidiano podem aumentar o nível da escrita, mas também podem dificultar um pouco a leitura. Confesso que não conhecia certas palavras, e para entendê-las, precisei adequá-las ao que a cena exigia (ex. movimento “hercúleo”, Jorge “meneou” a cabeça, aflição e apatia “pungentes”). Achei também que Jorge teve uma descrição um pouco exagerada, caindo na história de paraquedas e tendo um destaque fora de contexto. Acredito que esse “tempo” dedicado a ele poderia ter sido utilizado com Camélia, que se manteve um pouco apagada na história. Além disso, fiquei na dúvida se entendi de fato porque Camélia estava sendo mandada de volta à sua cidade: seria porque seu companheiro assassinou uma pessoa e ela poderia levar a culpa pelo homicídio? Sendo isso, ela não poderia ir para outro lugar? Porém, acredito que o Francisco tenha pecado mais na condução da protagonista, que não teve uma relevância notória no desenvolvimento do texto. Percebi uma ênfase muito grande em detalhes que poderiam ser facilmente dispensados.
    Entretanto, nenhuma das críticas acima prejudicaram a grandeza da história, pois tiveram muitos mais créditos do que débitos. Adorei a sutileza que os temas polêmicos foram tratados: a prostituição de Camélia, o homossexualismo de um sargento e um assassinato. Esses assuntos ficaram, de certa forma, subentendidos, e isso deu um charme no texto.
    Parabéns Francisco !

  • Eu me arrepiei ao ler esse capítulo. Os diálogos foram o forte em si, um texto tão complexo e tão leve ao mesmo tempo em uma tonalidade perfeita.
    A história parece uma adaptação da obra de Jorge Amado, Tieta do Agreste, não em si uma adaptação, mas, os elementos da obra foram utilizados aqui e não tirou o mérito de ser uma obra original, a não ser por esse acaso.
    O tema prostituição (não foi explícito, mas compreendi isso) foi usado em forma de insinuação, jogando nos braços do leitor, o entendimento próprio do tema, um erro que poderia ter se aprimorado, mas nada que comprometesse o andamento da trama.
    Parabéns ao autor dessa obra!

  • Primeiramente, parabéns pelo seu português que se encontra em altíssimo nível. A diversidade de palavras deixou o texto muito dinâmico e rico em sinônimos, evitando ao máximo repetir palavras já usadas. Achei que você conduziu muito bem o desenrolar da trama. As mudanças de local e tempo em que a história ocorre ficaram bem marcadas, dando início fim e meio para o conto. Achei a personalidade de Camélia um pouco confusa e pouco aprofundada. Não consegui definir o tipo de mulher que ela é. Unica crítica que poderia fazer é o detalhamento massivo, que deixou a história um tanto quanto cansativa. Em alguns momentos as cenas não tinham fluidez, pois era pausada por detalhes contados pelo narrador, algumas vezes não tão necessários. Então, único ponto negativo seria esse, a ausência em alguns momentos de uma leitura sequencial, sem pausas para narrações descartáveis. Porém você conseguiu suprir esse tópico com a tensão criada, o que me fez ficar bem preso em sua história. Alguns detalhamentos foram SIM perfeitos e muito bem colocados; principalmente a que se passa no início, a da agressão sofrida por Camélia. Conseguiu passar muito bem o tipo de “animal” que seu pai era: autoritário, impiedoso, agressivo e ignorante. Destaque também para as descrições sentimentalistas. Pude me ver observando ela sendo violentada e entender a dor que a protagonista tinha que suportar, graças a suas descrições muito bem executadas.
    Resumindo: História boa, com português impecável e rico; que te prende não por ser uma leitura fluída, mas sim pela tensão, transmissão de sentimentos, inserir o leitor na cena e a vontade de conferir o desfecho de uma protagonista rasa.
    Parabéns Francisco, ótimo trabalho! Espero que possa sempre melhorar e fazer outras grandes obras de arte como esta, que tenho certeza que serão muitas. Abraço!

  • Francisco, amei seu texto, leve delicado e bem escrito.
    Porém a história me lembrou a novela Tieta. Após ser expulsa voltar a cidade anos depois. Pode ser que seja as lembranças bom minha opinião claro. Mas está com um toque pessoal. Gostei muito de verdade. O fim foi maravilhoso… Parabéns mesmo cara. Amei ler sua historia .. Apesar de lembrar a novela e me perder no tema .. Acredito ser “prostituição” correto?
    Sucesso.

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