Sagrada Família

Capitulo 7 – Sagrada Família

http://www.youtube.com/watch?v=RKX2bo2GwSE

Leblon, Rio de Janeiro

FERNANDO- E então Tony, aquele telefonema não era de nenhum diretor era de seu capanga confirmando que o serviço sujo estava pronto.

TONY – Você não sabe do que está falando, não tem provas contra mim.

FERNANDO – Ai que se engana, o que você não contava era que naquele momento havia um morador daquela localidade e viu tudo.

TONY – Viu o que? Eu já disse que aquilo foi um acidente.

FERNANDO – Você sabe que não foi, o Jamerson, o morador que me salvou, tirou-me da água e levou para a sua casa, onde ele e a mulher cuidaram de mim, fiquei inconsciente por quase um ano, eles são sertanejos e dificilmente vão até a cidade, moram em uma casa simples, onde não têm televisão então não tiveram notícias da repercussão do meu “acidente que me levou a morte”.

Quando foram procurar por mim lá na casa deles, eles disseram que não tinham visto nada, pois, ficaram com medo de ser mandantes seus.

Quando retomei a consciência fiquei sem memória por uns seis meses, até que comecei a lembrar de alguns episódios da minha vida, após dois anos já havia retomado totalmente a minha memória, e comecei a investigar junto com a polícia local e pedi segredo total das investigações, a cerca de três meses atrás conseguimos identificar o cara que você mandou para ceder o terreno lá da cachoeira, baseado na descrição do Jamerson, ele já era um velho conhecido da polícia de lá por fazer trabalhos sujos.

TONY – (nervoso) Você está mentindo.

FERNANDO – A boa notícia é que consegui transferir o caso para cá, pro Rio de Janeiro, o seu capanga também foi transferido para a delegacia aqui do Leblon e estamos aguardando o juiz para começar o processo.

TONY – O que você quer com tudo isso?

FERNANDO – Recuperar tudo o que você me tomou, quero fazer você sofrer!

TONY – Eu não te reconheço, você não é o meu amigo, reaparece agora com uma história maluca, eu não tinha nenhum motivo para fazer isso com você!

FERNANDO – Vingança, você sempre foi apaixonado pela Helena e nunca superou o fato de no tempo da faculdade ela ter trocado você por mim, cara já faz mais de 30 anos que isso aconteceu. Outro fato que você nunca superou foi que o pai dela escolheu a mim para construir em sociedade o São Miguel e ter me colocado na presidência.

TONY – Claro que não, isso são águas passadas.

FERNANDO – Você melhor que ninguém não deve subestimar a influência do passado.

TONY – Sim?! você veio até aqui para fazer ameaças? Você está mal então!

FERNANDO – Você sabe que eu posso parar com esse processo ou posso te colocar atrás das grades imediatamente, a escolha é sua, você só tem que me devolver tudo o que me tirou, minha família, o hospital, minha vida e desaparecer, como eu disse a escolha é sua, você tem 24 horas para me dar uma resposta.

TONY – Você está louco né, te entregar tudo o que eu conquistei.

FERNANDO – 24 horas (sai).

Dentro do escritório Tony sente a raiva subir e derruba tudo que está em cima de sua mesa.

***

Favela do Vidigal, Rio de Janeiro

MARTA – (sem ar) Me solta seu imprestável.

AMANDA – (chorando) Solta ela pai, solta!

ANTÔNIO – Eu não vou soltar, eu avisei que era pra ela não encostar um dedo em você.

AMANDA – O senhor não está vendo que isso só vai piorar, solta ela, apesar de tudo ela é minha mãe.

Antônio solta Marta e se afasta.

MARTA – (com deboche) Nem para me matar você serve.

AMANDA – Para mãe, não provoca.

ANTÔNIO – Da próxima vez eu não vou soltar, isso te garanto.

MARTA – Da próxima vez, da próxima vez… Não terá próxima vez, pois se tentar garanto que te mato primeiro.

AMANDA – Já chega! Poxa, será que não podemos ser uma família pelo menos uma vez na vida? Tudo o que eu quero é que vivamos em paz, em harmonia e união. Uma família, onde um apoia o outro quando precisa, aqui ninguém sabe conversar é só discussão aqui, alfinetadas ali, já estou cansada disso tudo, tem muita gente que tem menos que nós e vive muito mais feliz, parecem duas crianças, não tenho um amigo aqui na comunidade porque tenho vergonha de encará-los e ver os olhos deles me julgando, por viver em uma família problemática, agora os dois saem do meu quarto.

Marte e Antônio se retiram e Amanda fecha a porta assim que saem, desaba no chão e começa a chorar, não pela dor física, gerada pela surra que sua mãe lhe deu, mas sim pela dor emocional deixada pela falta de uma família unidade e harmônica.

Do outro lado da porta está Antônio escutando sua filha chorar e deixa rolar pelo rosto algumas lágrimas, Marta vai para o seu quarto e se tranca.

***

Leblon, Rio de Janeiro

CRISTIANA – Repete o que você acabou de falar mãe.

HELENA – Cristiana, deixa isso para o seu pai, você já está metida demais em problemas dessa família, você só tem 17 anos e está carregando o mundo nas costas filha.

CRISTIANA – Mãe eu suporto tudo isso.

HELENA – Você se faz de durona, mas é tão frágil quanto uma flor por dentro, lembro de quando você era criança, que brigava com um amigo na rua, vinha pra casa emburrada, passava direto pro quarto. Quando eu perguntava o que tinha acontecido, limpava os olhos, saía, parecia ser forte e na maior calma dizia que tinha ocorrido nada.

CRISTIANA – Mas eu não sou nenhuma garotinha mais, se você acha que aquele… aquele… ser foi capaz de cometer um crime desses quem dirá o que ele não pode fazer com você.

HELENA – Ele não vai fazer nada enquanto seu pai estiver aqui, é o tempo que sai a decisão do juiz de proteção.

CRISTIANA – Você sabe que aqui no Brasil essas coisas demoram e tenho certeza que o Tony não vai deixar o pai ficar aqui esse tempo todo.

HELENA – Vamos rezar que saia logo.

JOYCE – (Gritando da sala) – Essa pipoca é de rosca Cris?

HELENA – Vá se divertir com seus amigos, esqueça essa história pelo menos alguns instantes, seja uma adolescente normal.

CRISTIANA – Tudo bem, mas só por enquanto.

Cristiana pega a pipoca e volta para sala

HELENA – Está vendo Silveira? É isso que não quero, que minha filha fique no meio desse fogo cruzado, ela é apenas uma criança ainda.

SILVEIRA – A senhora vai abrir o jogo para o senhor Fernando?

HELENA – Vou esperar um pouco, ele acabou de chegar, ir logo com esse assunto forte pode deixá-lo confuso.

SILVEIRA – A senhora sabe que se precisa estarei aqui.

HELENA – Eu sei sim Silveira, tem sido um grande amigo desde a suposta morte do Fernando.

***

Favela do Vidigal, 16 de novembro de 2014 – 8:00

A mesa durante o café da manhã na casa de Amanda era puro silêncio, o clima de tensão durante a noite passada permanecia em alta, todos se recusavam a olhar um para o outro, Marta ainda engolia com dificuldade pela força feita pelas mãos de seu marido no quarto da filha, Antônio sentia-se envergonhado não pelo que fez com a mulher, mas sim pelo sofrimento de sua filha, Amanda não queria olhar para aqueles que amava muito, mas era motivo pela maior parte de seu sofrimento.

Amanda levanta e sai para escola, enquanto caminhava escutou alguém gritar:

VOZ – Eta que levou uma surra daquelas ontem!

Sem olhar para trás continuou a caminhar pelas ruas do Vidigal até chegar a escola comunitária Doutora Teresa Vieira, instituição mantida pela prefeitura do Rio de Janeiro, de longe a melhor delas, lá só estudava pessoas mal vistas pela sociedade, o medo se instalou no local, os poucos professores que ainda iam dar aula lá eram vigiados de perto por um policial, era o inferno na terra.

ELIZABETH – Ihh lá vem a princesinha!

AMANDA – Não enche o saco.

Elizabeth, filha de um traficante, se levanta com um grupo de meninas e cercam Amanda.

ELIZABETH – O que você disse cachorra?

AMANDA – Eu disse não enche o saco, vocês todo dia enchem ele, me xingam, me humilham, não acham que já está bom?

ELIZABETH – Eu digo quando está bom sua vagabunda, agora você vai aprender a não reclamar, levem ela para a quadra meninas.

Amanda tenta fugir, mas é impedida pelo grupo que a segura e a arrasta sobre vaias de outros que se encontravam ali.

Por sua vez, Amanda se debatia tentando se soltar das mãos das garotas, mas sem sucesso até que começou a pedir por socorro.

***

Escola Johnson Junior, Leblon, Rio de Janeiro

Cristiana, Joyce e Rafael estão sentados juntos no pátio da escola.

CRISTIANA – Não consegui pregar o olho essa noite.

RAFAEL- (preocupado) Claro, você está se envolvendo demais com todos esses acontecimentos, pode ser prejudicial para você.

JOYCE – Amiga, agora que seu pai voltou acho que devia relaxar mais, contar a verdade para ele, com certeza ele vai ajudar.

CRISTIANA – Primeiro vou conversar com minha mãe, o pior foi o que escutei ontem ela comentando com o Silveira na cozinha, ela suspeita de que o Tony possa ter envolvimento na suposta morte do meu pai, há três anos atrás.

RAFAEL – Ele não tinha dito ontem que iria contar como ele sobreviveu hoje pela manhã?

CRISTIANA – Pelo visto ele desistiu, sinceramente o que eu queria mesmo era ir embora daqui junto com minha mãe e meu irmão

JOYCE – E iria nos deixar?

CRISTINA – Não vocês viriam de brinde comigo (os três rir).

Lorena se aproxima deles.

LORENA – (com deboche) Olha os três mosqueteiros.

JOYCE – Desinfeta patricinha.

Lorena vai até o Rafael e senta no colo dele.

LORENA – (fala sensualmente e ao pé do ouvido de Rafael) Então gato, você já tem par para o baile.

Antes que Rafael responda Cristiana levanta e fala:

CRISTINA – (puxando Lorena) Sim ele já tem e vamos levantando daí.

LORENA – Ai! me larga garota, eu não sabia que vocês estavam juntos.

CRISTINA – Sim estamos.

LORENA – Eu… eu não acredito nisso, você está mentindo, são só melhores amigos, os três mosqueteiros e nunca vi vocês se beijando.

Cristiana puxa Rafael e dar um beijo nele, demorado, enquanto todos ao redor e principalmente Lorena ficam paralisados.

Joyce fica de boca aberta com a reação da amiga.

***

Gávea, Hospital São Miguel, Rio de Janeiro

Tony chega ao hospital atordoado e passa pelas suas secretarias sem dar um bom dia e entra na sua sala.

ROBERTA – Vish o que ele deve ter hoje?

CRISTAL – Com certeza está bebendo do próprio veneno.

VANDA – Parem com isso as duas fofoqueiras, eu vou lá saber se ele precisa de alguma coisa.

CRISTAL – (fala baixo) Um belo chá de coxa isso sim.

VANDA – O que você falou Cristal?

CRISTAL – Nada não Senhora Vanda, disse que ele deve estar precisando mesmo.

VANDA – Vocês duas são duas cobras, vocês acham que eu não sei que vocês ficam falando mal de mim pelas minhas costas

ROBERTA – Longe de nós.

VANDA – Dessa vez vou deixar passar, mas que eu não escute mais um pio de vocês, entendido?

ROBERTA E CRISTAL – Sim, senhora.

Vanda entra na sala da presidência do hospital São Miguel.

VANDA – O que foi meu amor?

TONY – Tudo o que não deveria ter acontecido, aconteceu.

VANDA – O que foi que aquela desgraçada da Helena fez agora?

TONY – Olha como fala dela, preferia que tivesse sido, mas é bem pior.

VANDA – O que é bem pior?

TONY – O Fernando ter voltado dos mortos, justamente agora que já estava começando a ficar com todo o hospital.

VANDA – Mas não é só isso que está lhe preocupando.

TONY – Ele descobriu que não foi acidente a queda dele, que eu fui o responsável por fazer o terreno perto da cachoeira romper.

VANDA – Mas como ele descobriu isso?

TONY – O incompetente que contratei ficou na cidade e acabou sendo reconhecido, dei uma boa grana para ele sumir e ainda me mete nessa.

VANDA – E o que você vai fazer?

TONY – Eu não sei, só sei que tem que ser rápido, porque o desgraçado me deu só 24 horas para devolver tudo a ele, que inferno.

VANDA – Que tal fazer uma retirada estratégica?

TONY – Como assim?

VANDA – Você finge que entrega tudo para ele e fica de olho esperando um momento de atacar.

TONY – (surpreso) Até que você tem cérebro, em!

VANDA – Eu tenho muito mais coisas.

TONY – Mas como vou ficar longe e vigiar eles ao mesmo tempo?

VANDA – Ai é com você, já pensei demais.

Tony fica pensativo e olhando para Vanda.

VANDA – O que foi? O que você está pensando?

TONY – Só uma ideia, que pode ser adequada para vigiarmos aquela casa.

VANDA – Qual é essa ideia?

TONY – Você se infiltrará na casa como empregada, bem-vinda Maria Teresa.

VANDA – O que?

DEPOIMENTO REAL

Salma Teresinha Vilaverde, Rio Grande do Sul

“Casei com 19 anos e não imaginava que existisse nada parecido com o que aconteceu comigo. A primeira atitude de violência foi um mês depois, por causa de um armário que comprei sem avisar, para fazer uma surpresa. Ele me deu um soco no queixo que me deixou com problema no maxilar para o resto da vida. Passei fiascos em público com cena de ciúme. Aguentei esse tipo de coisa seis anos. Ele me batia, me esgoelava, me punha arma na cabeça. Eu continuava achando que ele precisava de ajuda e que eu era a única pessoa que podia ajudá-lo. Não tinha medo. No dia em que tive medo, saí de casa. Saí também da minha cidade, e só consegui voltar quase vinte anos depois. Foi tamanho o bloqueio que não conseguia lembrar das coisas ligadas ao casamento. A violência soterra lembranças, doçura, meiguice. Mas é possível se restaurar, juntar os cacos, sem ficar dura e empedernida para sempre.”

Lucas Serejo

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2 thoughts on “Capitulo 7 – Sagrada Família

  • Essa da Vanda acredito que será a mesma estratégia da novela Lei do Amor (que tinha uma personagem que fingiu que morreu e depois apareceu com outra identidade). Enfim, achei esse namoro da Cristina e do Rafael forçado.

  • Amanda tá melhorando… Se eu fosse a Martha já mandaria uma Maria da Penha no Antônio.
    #Ratiana
    Oi? Vanda de empregada? E o povo não vai reconhecer ela?

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