Dedo Podre: crônicas dos meus amores fracassados

Você vai ser papai

Garibaldi fazia hemodiálise já tinha algum tempo, e cumpria um ritual de dois em dois dias, onde ele acordava todas as manhãs, tomava banho, ia trabalhar. No trabalho ele ficava até as dez e meia, onde voltava, tomava outro banho, pegava um ônibus para a cidade vizinha, onde fazia o procedimento.  O ritual cumpria ainda, fazer café, e ao toma-lo, se sentar na sala, ligar a TV nos noticiários matinais, e pegar o telefone celular para ver as mensagens da manhã.

Aquele dia lhe reservava surpresas que ele jamais pensaria em ter. Abriu a página da rede social, e a primeira coisa que viu foi a mensagem de uma ex-namorada, a Dânia, uma mulata caliente que ele conhecera tempos atrás. Eles não eram mais namorados, eles haviam terminado, e depois voltado, namoraram mais quinze dias, e depois terminaram. E foi nesses quinze dias que tudo aconteceu. A dizia o seguinte: “Feliz demais! Serei mamãe mais uma vez.” Foi como um sino que bateu em minha cabeça. Nesse instante rodou tudo, e nem mesmo o café eu quis mais tomar.

“Não sou eu o pai!” –Pensei  “Lógico que não. Tem um mês que terminamos, evidentemente, ela retornou para o pai do primeiro. É isso… Bem, era o que ele desejava.

Garibaldi tentou puxar na memória, o que ocorreu na última vez em que eles haviam transado. Na verdade, isso ainda estava vivo na sua memória, e não foi preciso muito esforço. A casa onde a Dânia morava, era uma profusão de irmãos para lá e para cá, entrando e saindo, e jogando videogame o dia e a noite toda. E o quarto dela não tinha porta. Ele já tinha notado esse pormenor antes, porque já foram namorados. Por vezes, ele ia dormir lá, mas a sensação de alguém iria entrar por aquela porta, lhe tirava completamente a concentração. Por que no lugar da porta, tinha uma cortina, e quando batia o vento batia, lhe dava a sensação de que todo mundo que estava fora do quarto, via o que eles faziam lá dentro.

E naquele dia, dias depois de terem retomado o namoro, o quarto era o mesmo, mas felizmente não tinha ninguém na casa, e tudo poderia transcorrer na maior tranquilidade.  Desinibida como era, Dânia, revelando o corpo moreno, ferramenta que ela usou para mais uma vez prender Garibaldi nas armas do amor.

–Posso colocar a camisinha?

Ele fez que simque sim, e ela abriu o pequeno invólucro, pegando o objeto, depositando-o no seu local de direito, e completando o serviço com a boca. Daí, com uma destreza incalculável, ela fez a sua parte, no que concerne às variantes do ato sexual, e se contorcia como uma serpente, gritando e gemendo de forma fenomenal. Ela então se deitou, e eu por cima, comecei a sentir que o negócio estava mais gostoso que o normal, quando se usa preservativos. Foi quando Garibaldi percebeu para seu desespero, que o preservativo tinha se rompido. E o orgasmo já estava quase chegado, quando que ele se esforçou para encerrar o coito. E seu desespero foi maior ainda quando notou que Dânia o abraçou com as pernas, impedindo que ele se desvencilhasse dela. Se o leitor pudesse estar na pele dele, podia sentir o pavor que ele experimentou, ao vislumbrar a possibilidade de ser pai mais uma vez, mesmo sem condições para tal. E ela continuava agarrada a ele com as pernas, e o clímax quase no último segundo fez com que Garibaldi reunisse as forças que não tinha, empurrando Dânia para o lado, fazendo com que as suas pernas se soltassem. O resto, o leitor já imagina. Coito interrompido não era algo 100% garantido, mas era o que ele podia pensar no momento.

E foi com aquela lembrança que ele sentiu seu coração acelerar com a mensagem. Mas ele não acreditou que seria dele. Assim, Garibaldi respirou fundo, e tentou ficar tranquilo, até chegar à clínica. Assim que ele chega, uma mensagem de Dânia, no seu telefone:

–Está sabendo que você vai ser papai?

Naquele momento, tudo rodou. Então era verdade! O filho ela dele. Mas será que era mesmo? Ou melhor, será que estava mesmo grávida? Imediatamente, Garibaldi liga para Dânia.

–Você não está falando sério…

–Estou falando seríssimo! Estou grávida, e você é o pai…

–Você não ficou com mais ninguém depois de mim?

–Claro que não. Eu te amo, eu quero você para a minha vida…

–Mas como você ficou grávida?

–Preciso explicar? Você pegou seu pênis e colocou na minha vagina. Ou a sua professora da quarta série nunca te ensinou isso?

–Não é isso que eu estou falando. Eu estava com preservativo?

–Aquele que rasgou?

–Aquele que você rasgou…

–Mas você até achou gostoso. Agora, meu filho, você está ligado a mim para sempre.

Sua cabeça rodou mais ainda. Ele teve que se sentar, para o caso de desmaiar.

–Eu gozei fora…

–Você é uma das pessoas mais inteligentes que conheço, sabe que isso não adianta.

–Por acaso você fez exame de gravidez?

–Fiz, de farmácia. Positivo…

–Não! Estou falando de laboratório…

–Não fiz, mas não precisa…

–Precisa sim. Amanhã de manhã, vamos nós dois no laboratório, você vai tirar o material na minha frente, para eu ter certeza que ele veio de você mesmo.

–Você está desconfiando de mim? Pois bem, eu já tenho um filho, e vou abortar esse, pois não vou criar um filho sozinha…

–Você não vai criar sozinha, se estiver grávida…

–Eu estou grávida.

E ela desligou o telefone.

Foi um dia terrível. Garibaldi, que costumava dormir durante as sessões, perdeu o sono, e nem mesmo prestava atenção quando lhe diziam algo. Já estava antecipando tudo: pensão alimentícia, sua mãe lhe dando esporro,  seus irmãos fazendo chacota. Ele não queria pensar, mas as possibilidades lhe invadiam a cabeça.

Terminada as sessões, ele foi para a sua casa, arrasado, e não queria saber de papo com ninguém. Precisava se restabelecer do choque.

Ele chegou em casa, ligou o computador, e se sentou. Precisava acertar o relógio do telefone celular, e ao olhar para o canto esquerdo do monitor do computador, viu que era 17:55. Mas não foi a hora que lhe chamou a atenção. Ele ficou tão estarrecido com a possibilidade de ser pai de mais um filho, sem condições financeiras, que nem atinou para o óbvio: Era primeiro de abril.

 

 

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