Jardim Brasil

Jardim Brasil [ep. 1]: A luta continua

 

 

ÍRIS – LUAN RIBEIRO

 “A luta continua”

Eu tenho policiais na família! – Gritara encolhida no chão.  – Não minta! Eu conheço todos os seus familiares – sorrira o sequestrador ironicamente.  – É burrice! Eu tenho uma doença e logo estarei morta. Será acusado de homicídio! – Chega! A partir de agora você só me obedece e só fala quando eu mandar! Entendido?! – gritava agressivamente.  – Sim!- Chorara por alguns instantes.

Era noite. O local lembrava um porão. Havia chovido recentemente e algumas goteiras caíam sobre os cabelos loiros de Íris. O cheiro era forte, um odor de mofo. Algumas baratas circulavam pelo local. Ao redor não existia janela nem porta. O espaço era pequeno e sufocante. De cabeça baixa Íris fechava os olhos pedindo silenciosamente por proteção. Quisera ela que tudo fosse um sonho. Respirava fundo acreditando num milagre que estava distante da realidade. Ela vestia um uniforme social e um salto alto. O desespero do momento a fez esquecer o quão desconfortável eram aqueles sapatos.

-Levante-se! Vamos agora! – esbravejara o sequestrador.

Íris arrumara sua roupa e se equilibrara no salto com uma aparência abatida. Quando olhou para os olhos do homem foi interrogada.

-Por que fez aquilo?

– Eu não tive opção! – Respondera com clareza.

– Não era pra você estar aqui! Era pra outra pessoa! Você não acha que foi patética?

– Faria de novo se fosse necessário!

– Cale a boca! – O sequestrador daria tapas com força no rosto dela.

– O que quer de mim? – Perguntara ela com a mão no rosto, ainda sentindo as dores da tapa.

– Você estragou tudo. E já que está aqui, terei que aproveitar ao máximo. Você tomou a pior decisão da sua vida!

Íris tinha uma missão. Mas estava vedada ao fracasso enquanto tivesse sobre aquela situação.

***

Passaram-se três semanas e um dia. Íris vestia uma blusa preta confortável e um calção masculino. Estava descalça. Havia um pequeno tanque e lá fazia sua higiene pessoal. Por todos esses dias não conseguiu enxergar com perfeição a luz do dia. E também não havia luz artificial. As 24 horas do dia eram na escuridão. Os dias de verão sufocavam com temperaturas acima de 30 graus. No chão podia dormir por horas. Na maioria das vezes estava só. Quase todo o período, teve que se acostumar com a solidão.

A cada doze horas Íris recebia uma refeição que era jogada por debaixo de uma porta. Pra sua surpresa a comida era balanceada e rica em proteínas e com saladas e vegetais, tudo conforme estava habituada. O sequestrador dificilmente aparecera no local nesses dias o que aumentava ainda mais o desespero dela. Seu organismo estava agindo de forma estranha. Estava enjoada e vomitando com frequência, o que deixava o ambiente ainda mais imundo e com mau cheiro. Não havia produtos de limpeza para amenizar o dor. Colocara jornais sobre os vômitos. A hora da refeição era a mais prazerosa, salvo a uma terapia que havia inventado. Íris sempre foi criativa. Recortara com as mãos imagens de pessoas dos jornais formando sua turma imaginária de amigos. Uma das fotos era de um homem idoso que ela chamara de Mauro. E por horas conversara pedindo conselhos com o sábio senhor. Na sua mente aquelas gravuras eram definitivamente pessoas. Na hora de dormir segurara com força a foto de uma menina que chamara de Alexia. Esta sem duvida era seu xodó.

Logo ouvira barulhos. Descia o sequestrador. Usara calça jeans com uma camisa polo marrom, cabelo grande e barba mal feita. Tinha uma aparência fria e era de poucas palavras. Somente no primeiro dia demonstrou agressividade, mas era completamente calado. Jogara com força uma sacola sobre o rosto de Íris.

– Mas o que é isso? – Perguntara assustada.

– Você vomita sempre! Use!

Íris abrira a sacola e via um teste de gravidez. Pela primeira vez urinou na frente do sequestrador:

-E então?! – Questionara o sequestrador.

-Estou grávida!

Íris se emocionara e ao mesmo tempo sorrira como se tivesse realizada.

 

 

***

Qualquer pessoa diria que Íris era uma jovem. Pois sua aparência era de uma garota. Seu corpo lembrava um violão. O desenho dos seus lábios era o que mais chamava atenção. Sua beleza rendeu alguns concursos, conquistando a faixa de miss Santa Maria para posteriormente disputar uma final em 1985 no miss Rio Grande do Sul. O resultado foi o segundo lugar e junto com ele uma gravidez inesperada aos 16 anos de idade. Ela estava sozinha sem o apoio dos pais e teve que criar Ariane com todas as suas dificuldades. Íris sofreu preconceito num ambiente de trabalho completamente machista. Entrou como instrutora de uma autoescola de Santa Maria. Foi conquistando seu espaço até chegar ao cargo de gerente de uma das filiais. Colocou muito marmanjo no bolso. Era craque em direção defensiva e sabia como ninguém a arte de ensinar e conquistar pessoas.

O fato de estar sozinha naquele espaço era doloroso demais para uma pessoa tão criativa e talentosa como ela. Ficar grávida aos 42 anos naquelas condições era muito arriscado. Os dias passavam rapidamente e Íris recebia os cuidados necessários para ter uma gravidez saudável. As refeições passaram a ser mais constantes e sua barriga ganhava um desenho. Ganhou entre outras regalias uma espécie de sino para alertar sobre qualquer emergência. Sua sensibilidade durante a gravidez fez com que se apegasse ainda mais com seus amigos imaginários. Dispensou amiga Maria que lhe acompanhava na academia de ginástica. Agora grávida não podia mais fazer abdominais. Num dia de chuva forte, seu velho amigo Mauro foi tomado pelas goteiras, dissolvendo a sua imagem. Íris chorava e encarou como se fosse um enterro. Convocou os outros amigos e dividiu a tristeza. Ao certo ela não sabia qual era o propósito da sua prisão, mas estava feliz pela sua gravidez.

 

***

A gestação de Íris era arriscada, mas ela estava disposta a gerar aquela criança. Passaram os meses e o medo era constante. O sequestrador havia mudado de humor nas últimas semanas. Estava agressivo, rude.

– Preciso de água gelada! – gritara Íris.

– Cale a boca! Terá água quando eu quiser!

– Achei que ia cuidar da minha gravidez!

– Você acha que sou médico? Você é maluca.

– O que pretende? Veja quanto tempo estou aqui! – Lembrara ela.

– Sabe por que você ainda esta aqui? – Questionara o sequestrador.

– Por quê?

– Pesquisei sobre sua vida e pude perceber que a sua ausência não causou nada na vida de ninguém.

– Como assim?

– Você não tem amigos! No seu local de trabalho todos te detestam. Na sua família, seus pais tem vergonha da vagabunda que você se tornou. Sua filha única nem sentiu sua falta e você nem mesmo tem um relacionamento. Não quero nem saber como teve esse filho!

– Isso não é verdade! – Chorara segurando sua enorme barriga.

– Você é desprezível! Você habitando ou não o planeta terra não faz diferença.

– Desprezível é você! – Explodira de raiva.

– Calada! – Segurara a barriga com força.

– Não faça isso, por favor! – Gritara ela.

– Você fará um favor para mim.

– Faço sim! Só deixe eu ter esse filho, por favor.

– Eu tenho uma dificuldade – falara envergonhado.

– Por isso anda agressivo?

– Vou te levar para um lugar na madrugada.

– Vou sair daqui? – Brilhara os olhos de Íris.

– Não se empolgue! Estarei com uma arma apontada na sua barriga.

Passaram alguns dias e Íris foi acordada no meio da madrugada. Dormia com a imagem de Maria, sua afilhada imaginária. O sequestrador vendou os olhos de Íris e a trouxe para dentro de um carro. Os vidros eram escuros e ela sentava no banco do volante. Assim que retirou a venda pode ver a rua que estava. Seus olhos enchiam de lágrimas, pois depois de alguns meses pode ver as ruas novamente, mesmo que seja madrugada.

– Eu não sei dirigir. Quero que você me ensine – apontara arma em sua barriga.

Durante o dia Íris inventava jogos, falava com seus amigos imaginários. Fingia estar cercada de pessoas para amenizar o sofrimento daquele confinamento. Cada dia que passava pegava um pedaço de papel e fazia uma bolinha. Já havia mais de 200 bolinhas. Seu relógio de pulso era muito importante. Nesse período contou quantos tijolos tinha o local, demarcou o lugar como fosse uma casa dividida em cômodos. Mas quando chegava a noite era seu maior prazer, pois podia voltar a dirigir. O sequestrador estava cada vez mais hábil. E nos últimos dias nem vendava mais os olhos dela. Ela, rapidamente já identificara onde estava. O local era muito mais próximo de sua casa do que imaginava. Andando de carro podia perceber a bela cidade que deixara há muitos dias.

– Você está praticamente habilitado – dissera ela.

– Você é boa nisso!

– Fiz isso minha vida inteira! Agora me conte porque não me solta e me deixa em paz.

– Estou negociando sua liberdade. E você vai esperar o tempo que for preciso.

– Eu não posso. Mais cedo ou mais tarde essa criança vai nascer.

– O meu compromisso é com você. Não estou interessado nessa criança.

– Faz isso por dinheiro? – Perguntara ela.

– Também. Mas por tantas coisas… Apenas fui infeliz o dia que te sequestrei.

– Você queria sequestrar aquela senhora.

– Se tivesse sequestrado ela, já teria um retorno. Ela era rica e adorável e qualquer pessoa se sacrificaria pra pagar algo por ela – falara ele.

– Eu não ia permitir que você fizesse algo com aquela senhora.

– Esse é o preço que você paga por ser justiceira. Não devia ter se metido aquele dia.

– Eu nem sei o seu nome?

– E nem vai saber por que eu não sou seu amigo imaginário.

– Mas você tem família?

– Chega de perguntas. Estou tão feliz que agora posso dirigir que vamos comemorar.

– O que quer fazer?

– Meu sonho sempre foi dirigir e alguém me chupando.

– O quê?

– Abre o zíper da minha calça – apontara a arma.

– Não! – reclamara ela com nojo.

– Chupa! Vamos!

– Por favor, não!

Íris beijara a parte íntima do sequestrador deixando-o completamente excitado. Ele mandara chupar com vontade. Aos poucos ela retirava a boca, mas ele insistia empurrando a cabeça, segurando pelos cabelos. Íris estava se afogando. Logo ele gozou muito dentro de sua boca. Íris chorara como nunca chorou nesses dias. O sequestrador não era um cara atraente, era um homem mal cuidado. Que estava longe de ser higiênico. Quando ela chegou ao seu cativeiro, lavou a boca por diversas vezes. Já estava indisposta e prestes a ganhar seu bebê.

 

***

Íris em breve ganharia o bebê. Os dois haviam combinado de ir num hospital fora da região. Antes mesmo que sentisse as dores do parto estavam a caminho de uma longa viagem. No trajeto o silêncio prevalecia. Ela sentia uma felicidade fora do comum. Independente da circunstância, a vida lhe presenteava com uma benção.

Passado alguns dias Íris abrira os olhos num leito de hospital e pela primeira vez pode ver gente de verdade.

– Cadê meu bebe enfermeira?

– Você teve uma gravidez de risco.

Íris olhava ao redor e pegou o braço da enfermeira.

– Estou sendo sequestrada. Socorro! Me ajuda!

– Calma senhora.

– Tem um psicopata aqui! – Gritara ela.

– O seu marido esta aqui, calma!

– Meu marido? Eu não tenho marido!

– O seu marido que segurava o bebê… Aonde ele foi? – Dissera a enfermeira preocupada.

– Nasceu o bebê? Ai meu Deus! Cadê meu bebê?

Os gritos de Íris chamara atenção no hospital. Pacientes e profissionais vira alguém descontrolada e impaciente. À medida que falava, seus olhos enchiam de lágrimas. A administração do hospital foi sinalizada. A segurança estaria atenta para reverter o ocorrido. Novamente o sequestrador agira como se tivesse planejado tudo. Como se conhecesse cada parte daquele hospital. Ele era esperto, estrategista, um completo doente. Íris foi convidada a dar parte na polí­cia. Naquela região, preferiu, estranhamente, não se manifestar e não tornar o caso mais alarmante. Ela apenas queria se recuperar para posteriormente fazer algo tão planejado quanto a ação do sequestrador.

Finalmente ela estava livre, mesmo que tivesse presa a um hospital. Passaram-se duas semanas. Já havia se recuperado. Arrumou um trabalho como garçonete. Por coincidência, fez amizade com uma colega de trabalho que se chamava Maria. Era tão doce quanto a sua afilhada de papel. Íris olhou ao seu redor e viu que tinha um lindo mundo pela frente. Podia sentir a luz do sol como nunca sentiu antes, podia ver pessoas. Olhar televisão. Acessar a internet. Vestir roupas adequadas. E era perceptível o quanto de pessoas amavam Íris, as correntes, depoimentos nas redes sociais comoviam a guerreira. A senhora que ela salvou do sequestro prestou uma solidariedade à família e buscava incansavelmente Íris. Depois de tanta informação e o choque da realidade, a amiga Maria lhe presenteou com uma passagem para Santa Maria. Era hora de retornar.

Sem dúvidas, a distância da filha Ariana foi o mais difí­cil do confinamento. Ela nutria um amor de leoa pela filha. Era inexplicável, algo muito forte. Ariane tinha seus 25 anos, era uma menina família, doce e desde muito jovem casou-se com Afonso, o genro dos sonhos. Os dois eram jovens promissores e haviam concluído a graduação e tinham emprego estáveis, mas não eram tão felizes.

Era noite, a janela estava aberta. O casal assistia a um filme. A campainha tocara e Ariana abrira com calma a porta segurando um pote de pipocas. Olhou dos pés à cabeça aquela mulher elegante. Aquele ser forte, que nutria o maior amor da sua vida. Era sua mãe Íris. O genro se aproximou e ambos ficaram perplexos com o que viam. As pipocas se espalharam pela sala e o abraço foi espontâneo. Era emoção, uma mistura de alívio. Os três, em silêncio, apenas se abraçaram. A felicidade invadiu aquele lar.

Os dias de Íris jamais foram iguais, ela tinha mais uma missão e estava decidida a manter tudo em segredo. Um dia Ariana perguntou o que Íris temia ser questionada.

– Não deu certo, não mãe! Mas eu estou feliz pelo seu retorno. Egoísmo meu pensar…

– Calma filha! – interrompera Íris.

– Eu acho que nunca vou poder ser uma mãe como você! Quem me dera ser uma mãe um dia – Ariana emocionara-se.

– Você vai conseguir! A inseminação pode não ter dado certo inicialmente devido a minha idade, mas eu prometo pra você que um dia será mãe. Eu prometo! – chorara as duas abraçadas.

Ficar confinada durante dez meses num local pode não ser a melhor sensação do mundo. Escolher se penalizar por outra pessoa pode ser considerado burrice. Mas diante de uma situação tão difí­cil, há grandes lições de vida. Por amor Íris aguentou toda sua gestação cautelosamente, utilizou recursos para ganhar motivação, fez academia, brincou, conversou, criou laços com imagens. Fez daquele lugar o seu momento, pois no fundo ela sabia que aquela criança mudaria sua vida e de sua famí­lia. Somente ela acompanhou a luta da sua filha para ser mãe. E bem lá no fundo, Íris tinha certeza que sairia daquele lugar. Porque o amor que ela nutria por aquele ser era superior a qualquer barreira na sua vida.

 

A luta continua. É apenas o começo, pois a mulheres como Íris é que são dadas as maiores batalhas.

 

 

Próximo episódio: Camélia é expulsa de casa injustamente pelo pai. Anos depois está decidida a encarar os problemas do passado retornando à Arena, sua cidade, no interior da Bahia.
Autor: Francisco Siqueira
Data de publicação: 02 de fevereiro

 

19 thoughts on “Jardim Brasil [ep. 1]: A luta continua

  • Após quase um mês da publicação eis eu aqui me manifestando sobre. Primeiramente por motivos pessoais tive que me afastar do site e infelizmente cancelar uma web que estava em exibição. Porém fico feliz que Íris foi exibida e não imaginava que seria a primeira flor a se apresentar. Me deparei com muitos comentários e uma divisão de opiniões notável. Algumas dúvidas, recomendações e críticas. Fico feliz com o feedback. E considero todos os comentarios relevantes.Foi um texto postado como rascunho editado no whats, portanto não houve uma revisão eficiente. Pensei inclusive em não postar.Há claramente erros de pontuação, concordância, digitação e conjugação. Porém afirmo que estes não foram grotescos ao ponto de dificultar o entendimento da história.
    O que me deixou mais motivado foi saber que surpreendentemente consegui passar o que queria:” Dividir opiniões e causar dúvidas”. Reflexões quanto o caráter de Íris, intenções do sequestrador, inseminação artificial, uma cena de sexo excitante, grotesca ou inapropriada. Não importa. O leitor nunca teve tanta liberdade num texto pra interpretar conforme bem quisesse. Os comentários confirmam isso. Quando foram dados os temas, é natural que mentalmente imaginamos o que pode ser abordado. No caso de Íris não ocorreu. Quando que imaginaria que num sequestro haveria uma gravides arriscada de uma mulher que tinha amigos imaginários e que aparentemente fez tudo pela filha ? Onde viu isso numa novela? Num filme? Num livro?Nunca. Longe de todas as presivibilidades. Técnicas de escrita desenvolvemos com o passar do tempo. Com nossas experiencias. Com o exercicio continuo de nossa escrita. Agora quando diz respeito a Originalidade e criatividade ou você tem ou você não tem. Obrigado a todos que me deram recomendações, me alertaram muito sobre alguns aspectos e o meu muito obrigado os que captaram a essência de Íris e elogiaram minhas reais intenções.

  • Demorei, mas enfim estou aqui para comentar esse episódio maravilhoso, o ponta pé inicial de Jardim Brasil.
    Sei que vários já ressaltaram o quão foi interessante essa ideia de dar amigos imaginários para Íris. É bacana de se ver tudo o que a moça fez para tornar toda aquela situação menos desconfortável.
    A história teve um desenvolvimento prazeroso de se acompanhar, e apesar de algumas interrogações ainda estarem presentes em minha cabeça (mesmo após o final), não tirarei o mérito da intenção do autor, pois sei que isso exercitou a subjetividade de cada leitor.
    A atitude da protagonista com relação a situação da filha, foi algo emocionante. Mostrou que as mães não medem esforços para ver os filhos felizes, são sempre capazes de realizar coisas inimagináveis.
    Como já deve estar mais que evidente, amei quase tudo que aconteceu na história… continue sempre com essa pegada de texto incrível!

  • Quando li a história de Íris a primeira vez me surpreendi por elementos interessantes que tornaram a história até certo ponto surpreendente:
    => A maneira como Íris transformou a solidão em uma ambiente de conversa com os seus amigos imaginários. Lembra um pouco do Wilson do filme O Náufrago, onde aquela existência imaginária diminuiu o sofrimento do protagonista pela ausência da convivência e interação humana. Seria ainda mais insuportável para a Íris passar horas, dias e meses a fio sem contato, diálogo que não fossem apenas seus pensamentos.
    => A agilidade em que os fatos ocorreram não nos deixando preso a uma situação em que a narrativa ficaria presa, de forma maçante, a uma acontecimento.

    Não vou repetir algumas observações dos comentários anteriores porque seria desnecessário. O Victor Morais comentou que você deixou algumas coisas na entrelinha e isso é muito importante para a escrita: deixar a cargo do leitor algumas interpretações, mas observando os comentários, não ficou claro para todo mundo que o bebê da Íris é na verdade, fruto da inseminação que ela se dispôs a fazer já que a filha não conseguiria ter a experiência da maternidade.

    Organizar o projeto Jardim Brasil foi uma experiência única e teremos pela frente diversos textos diferentes e acredito que o mais importante é que vamos aprendendo uns com os outros e os comentários aqui foram enriquecedores tanto quanto seu texto.

  • Luan, eu gostei muito da ideia que você teve, meus parabéns pelo seu episódio, o tema não era fácil, no entanto você se utilizou de maneiras hábeis para a construção da tua melancólica história (como a existência dos amigos imaginários, que achei genial). Notei erros bobos, como de concordância, que poderiam ter sido evitados facilmente, com apenas uma simples leitura, e achei o tempo verbal que você escolheu um tanto quanto ingrato! Acho que deixou muitas coisas nas entrelinhas, e isso é bacana, porque nos faz refletir, mas deu a impressão de que poderia ter rendido mais. Não tenha medo do tamanho do episódio, quem está aqui no portal é porque gosta de ler!
    Enfim, gostaria de te parabenizar mais uma vez. É o início de um lindo conjunto de histórias. Que Jardim Brasil prospere!

  • Luan gostaria de começar a me dirigir a você com uma frase da célebre escritora Clarice Lispector: “Gosto daquilo que me desafia. O fácil nunca me interessou. Já o obviamente impossível sempre me atraiu – e muito.”
    Saiba que gostei muito da Iris, da garra com que ela decide encarar a dificuldade que lhe é imposta, da sua personalidade resiliente, incansável. Parabéns. Mesmo.

    Acredito que se no futuro você decidir “esmiuçar” essa trama, ela tem muito potencial.

    Agora vou fazer algumas observações, se me permite, como mero leitor. Por favor, não as tome como críticas, mas tão somente como pontos a serem observados no decorrer de suas próximas obras, que serão muitas, tenho certeza.

     O parágrafo que apresenta a trama – essencial para causar um impacto ao leitor, seja de empatia ou o inverso – é mostrado de maneira um tanto confusa, afinal, os diálogos dos dois personagens, a protagonista e o seu algoz, são mostrados sem pausa, num só fôlego, sem ponto e parágrafo. Se a proposta fosse essa, como Gabriel Garcia Marquez fez em “O Outono do Patriarca”, onde usou uma narrativa única, sem parágrafos, multiplicando narradores, quase impedindo o leitor de pausar a leitura, seria viável, porém o texto não demora assumir ares, digamos, tradicional, com um “quê” de roteirização.

     A utilização de várias conjugações de verbos deixa a trama sem um alicerce temporal, dando a impressão que ora a narrativa está acontecendo, ora teria acontecido, ora aconteceu…
    a) Esbravejara o sequestrador (pretérito mais que perfeito)
    b) Gritava agressivamente (imperfeito do indicativo)
    c) O sequestrador daria tapas com força no rosto dela (futuro do pretérito)

     Um autor precisa tomar cuidado com a repetição de palavras. No parágrafo que se inicia após a primeira passagem de tempo, onde a protagonista está se lavando em um tanque, o substantivo masculino “DIA” é usado cinco vezes:
    a) Passaram-se três semanas e um dia
    b) Por todos esses dias não conseguiu enxergar com perfeição a luz do dia
    c) As 24 horas do dia eram na escuridão.
    d) Os dias de verão sufocavam com temperaturas acima de 30 graus

     Alguns diálogos soam maniqueístas ou até mesmo sem sentindo, como o confronto do sequestrador com a Iris ao avisá-la que iria “transferi-la”. Por que a introdução de que ninguém a amava, nem mesmo a filha? Isso facilitaria a ação que ele estava pretendendo fazer?

     Como o sequestrador sabia que a Iris tinha amigos imaginários? Era uma fuga dela para tentar aliviar o sofrimento imposto; não seria estranho ter compartilhado esse “universo particular” justo com ele, seu algoz?

     A cena da violência sexual no carro me pareceu forçada, repentina e sem justificativa. Por que o sequestrador não estuprou a Iris durante o tempo que a manteve no cativeiro? Pela descrição de sua personalidade, acredito, ele não teria refreado seus instintos primários, como não o fez no carro, mesmo ela estando grávida. Pelo menos o quadro que foi pintado dele foi esse: um desalmado, então porque esperar tanto para praticar um ato tão vil como esse?

     Iris conseguiu ficar livre e não aproveitou a situação, denunciando o sequestrador à polícia, tão somente para não tornar o caso alarmante?

     Não compreendi a motivação de Iris em se “colocar” no lugar de alguém que está sendo sequestrada. Até onde entendi, ela tinha uma família, uma filha… Por mais elevada que fosse sua alma, sua personalidade como ser humano, o coração materno falaria mais alto, não? Ou essa tal senhora “quase vítima” tinha um lugar maior em seus sentimentos?

     No final das contas, o sequestrador queria o que? O bebê? Ele raptou Iris para conseguir um resgate e se contentou em fugir com um bebê literalmente desconhecido? Detalhe, ele não sabia da gravidez dela, sabia?

    Enfim, tenho certeza que você, Luan, vai saber aproveitar todas as oportunidades possíveis que vão surgir pela frente e nos brindar com tramas esfuziantes. Escrever não é fácil, mas quando se gosta, como percebi em suas palavras, tudo é possível.

    Parabéns!

    • Muito boa sua análise Francisco. Escrever é um desafio enorme e submeter-se à crítica é algo, especialmente, difícil. Acredito que publicar uma história de modo experimental como acontece por aqui no mundo virtual contribui para desenvolver a escrita. Já dissera um provérbio: “os sábios aprendem com os erros dos outros”. Seu texto serve não só como uma crítica para esta história, também para outras histórias, outros autores que estejam desenvolvendo a sua. Olho sua análise de forma muito respeitosa e tanto posso utilizá-la para aplicar observações aos meus textos quanto a quem passar por aqui e der uma olhada, trazer para si da melhor forma possível.

  • Bom o meu comentário já havia feito para o proprio Luan, já havia lido o capítulo, pois ele gentilmente deixou que eu lesse, porém li novamente…A história traz uma carga dramática e vc acaba se envolvendo e querendo defender a Íris, é muito louco…Luan é genial faz tudo parecer muito real, como havia falado a ele só senti falta de algumas resoluções mas foi maravilhosa…Ótima estreia

  • A ideia da história foi muito interessante, saber que a mãe suportou uma gravidez muito complicada dentro de um cativeiro por amor à filha. Ela passou 9 meses de tortura com a intenção final de entregar seu bebê para Ariana, que não conseguia ter filhos. Foi uma verdadeira prova de amor! Achei uma história envolvente, que você sente vontade de ler para saber o que irá acontecer.
    Mas achei que algumas coisas ficaram sem explicação e me fizeram não entender certas partes. Já que o sequestrador capturou a pessoa errada, porque a manteve presa? Porque em alguns momentos íris era bem tratada, e em outros momentos não? Onde ela ficou presa? Qual era a real intenção do sequestrador em capturar a idosa? E principalmente, não houve nenhum momento em que ela dissesse que procuraria o bebê raptado. Além disso, o abuso que Íris sofreu no carro em ser obrigada a fazer sexo oral, soou um pouco forçado e não cabia no contexto da história, na minha opinião. A história teve pouquíssimos erros de português, mas pecou no uso do verbo no pretérito mais que perfeito, quando poderia ter sido utilizado outros tempos conjugais e imprimir uma melhor escrita no texto.
    Mas no geral, foi uma história forte e intensa, compacta na medida certa exigida pelo formato do projeto. Parabéns Luan. Estreamos bem.

    • Talvez a construção da cena (ou da história) tenha tornado a cena do sexo oral com o sequestrador algo fora do contexto. Se observarmos a construção da personalidade do sequestrador, aquela cena serviu para desconstruir uma imagem de alguém com um resquício de humanidade que lhe faltava. Até aquele ponto comecei a construir uma imagem diferente para o sequestrador: imaginando que ele pudesse ser alguém com compaixão, mas tudo se transforma naquele instante. A falha, acredito, está na questão das construções anteriores e a resposta para algumas interrogações: por que ele a manteve no cativeiro? Qual a importância de Íris para seu plano inicial? Como faltaram estas respostas, transformou-se apenas numa cena que apenas desconstruiu uma impressão que leitor pudesse ter do sequestrador diante dos atos de “bondade” que ele demonstrou a Íris.

  • A utilização de certos verbos deu um ar de impessoalidade na história… E há alguns errinhos, por exemplo, de concordância. Inicialmente as falas não foram separadas em parágrafos e isso complica um pouco a compreensão de quem está falando o quê, mas felizmente isso mudou ao longo do texto. Sua escrita é boa e detalhada. Eu considerei alguns acontecimentos como aleatórios… E realmente considero que Íris não foi realmente uma mãe (no caso da inseminação artificial), mas apenas uma parideira, porque não buscou reencontrar a criança que tanto defendeu.
    Já a cena do sequestrador forçando-a foi muito inesperada e repugnante. Simplesmente grotesca. Se você queria transmitir o nojo dela, acredito que deu certo… Mas mesmo assim eu prefiro ser sincera em dizer que achei meio desnecessário. Pode me achar puritana, mas é só minha opinião. Me desculpa mesmo se eu estou sendo uma chata (porque eu sei que sou), porém é bom saber daquilo que podemos melhorar. Eu gostei do envolvimento de cada situação, porque quando eu sentia que ia me perder, começava a mergulhar… O problema é que isso parava, porque a troca de cena era necessária. Você tinha muita informação para um capítulo só e eu percebi que você procurou condensar a trama. A história evidentemente renderia mais de um capítulo, mas senti que você procurou se ajustar ao limite.
    Você pode fazer muito bom uso da escrita para transmitir mensagens importantes, lembre-se disso!
    A história pareceu mudar de rumo em dados momentos, houve certo desvio no tema em determinadas partes. Admito que não criei muitos laços com a protagonista, mas é normal, porque também ficaria maçante caso ficasse na tecla da personalidade o tempo todo e não abordasse o problema em si. Porém eu não soube identificar muito bem o caráter de Íris. Em dado momento ela fazia de tudo para preservar a criança e noutro ela apenas permitia que o sequestrador a levasse. Além disso, ela parecia extremamente desesperada na hora, mas depois ela aceitou as coisas com facilidade…
    Aconteceu tudo muito rápido. Mas, como eu disse, é normal em um capítulo único… A personagem do sequestrador se mostrou um homem enigmático e instável. Isso ficou bem feito… Por mais que alguém seja misericordioso em algum momento, não significa que seja, de fato, uma boa pessoa.
    Você pormenoriza a situação bem, Luan, e pode investir nisso.
    Sua descrição das circunstâncias ao redor dela ficaram boas. Afirmo isso, porque dá para se sentir mal lendo! (E, sim, isso é bom, hahahaha) Bem, eu espero que você pense no que eu disse, por mais que se sinta incomodado a primeiro momento (eu, particularmente, me incomodo e assumo). Você tem potencial e ouvir repreensões pode ser realmente bastante construtivo. Abraço!

    • Não acho que seja, necessariamente, uma visão de puritana a sua opinião sobre a cena do sexo oral. A narrativa que não transformou a cena em algo necessário para a história. Foi importante porque desconstruiu a imagem que qualquer um pudesse ter de um sequestrador com atos de “bondade”. Demonstrou afinal que ele é inescrupuloso e acabou por justificar seu ato final, embora não foi dada uma explicação para o motivo de ele a manter no cativeiro tanto tempo e depois sequestrar a criança.

      • É algo pessoal meu, que obviamente eu permito que interfira na crítica. Eu naturalmente tenho certo desgosto nas relações extraconjugais, então faz referência mesmo a minha concepção. Foi um acontecimento repentino e descrito de forma intensa, acredito que se fosse o caso de mostrar a feição desumana do sequestrador, o autor poderia utilizar de outros recursos, porque foi uma situação muito inesperada, já que não mostrava o homem molestando-a posteriormente. Existe o lado de que foi inopino e também o lado de que foi algo sujo e que causa aversão ao leitor – em questão de transmitir asco, foi bem feito, mas a colocação me pareceu bem supérflua à situação… Mas de maneira nenhuma foi irrelevante, até porque certamente traumatizou a protagonista Íris.

  • Então Luan… Vamos lá!
    Gostei muito da sua história. Íris me pareceu ser uma personagem um tanto quanto inocente. Só o fato dela ter amigos imaginários ali naquele cativeiro, me fez a ver como uma criança. Não sei se esse é o jeito dela mesmo, ou se seu psicológico estava afetado por conta daquela terrível situação. Gostei também do fato dela ser uma desolada, que não faz falta na vida de ninguém e ao mesmo tempo ficar em contraste com uma outra mulher que é querida por todas, que acabou não sendo sequestrada. Essa junção de fatos logo no início me fez ter uma nobre visão da mensagem que queria passar. Tome um pouco mais de cuidado com as concordâncias nos seus verbos. Apesar de alguns errinhos de digitação (o que é absolutamente normal), fiquei bem a vontade na leitura e senti até mesmo um gostoso ar poético. Bom, isso tudo até a cena do sexo oral em que ela se vê forçada a fazer no sequestrador. Foi um choque ao me deparar com aquela cena, me horrorizei em ver alguém inocente (como disse no começo) ter que praticar aquele ato nojento. Isso até quebrou um certo apreço que eu estava conseguindo formar pelo sequestrador. A partir deste ponto, senti algumas diferenças no seu jeito de escrever. Antes preocupado em deixar o texto mais dinâmico usando palavras variadas e tornando a linguagem do narrador um tanto quanto formal, ela acabou se tornando informal. Talvez poderia ser falta de atenção minha ao ler, mas depois que ela foi para o hospital, achei confuso. Ela teve o bebê enquanto dormia? Por que ela não se lembrou? O sequestrador fugiu com o filho dela, certo? Se sim, por que ela não foi atrás da criança? Achei que o novo começo de vida dela, logo que saiu dos hospital foi muito de repente e corrido. Vi que ela voltou para a filha mais velha e ambas se abraçaram. Você tentou passar algo emocional ali, mas eu não consegui sentir. Porque simplesmente você disse que a filha mais velha que Íris tinha nem se quer sentiu falta dela enquanto estava desaparecida. Então me confundiu um pouco… Não leve a mal o meu comentário, não quero ficar falando mal. Alguns vão ficar incomodados com meus comentários, mas eu prefiro ler e comentar de maneira sincera. Não se sinta ofendido, o fato de eu escrever esse textão é porque de fato você teve sua história lida e interessada por um leitor. Acho que isso seja o sonho de qualquer autor. Sua história é boa, parabéns pela dedicação que teve. Sei que não é fácil. Dedicar horas do seu dia para escrever conteúdos para os outros realmente é um ato que deve ser aplaudido. Agradeço por me proporcionar esses minutos de leitura e momentos de reflexões em cima do seu texto, Luan. Abraço!

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