Sagrada Família

Capitulo 6 – Sagrada Família

https://www.youtube.com/watch?v=RKX2bo2GwSE

Favela do Vidigal, Rio de Janeiro.

AMANDA – Ah não, sai do meu quarto por favor, não quero brigar com ninguém agora.

MARTA – E quem disse que eu quero brigar? Eu vim aqui para conversar com você.

AMANDA – Fala logo!

Marta vai até a cama de Amanda, se senta perto de sua filha e coloca as mãos em cima da coxa dela.

MARTA – Eu sei que sou um pouco grosseira às vezes e meio chata…

AMANDA – (interrompendo) Muito grosseira e muita chata.

MARTA – Como eu ia dizendo, é porque eu quero o seu bem, filha, você é a coisa mais importante na minha vida e eu não quero que você acabe com sua vida por causa de um rapaz, você vai encontrar vários, ele é só o primeiro de muitos que ainda vão vir. Ele é o primeiro né?

AMANDA – Sim mãe, mas quem disse que eu quero outro? Eu quero me casar com o Gabriel construir minha família, ser feliz ao lado dele, você não ver isso? Eu o amo!

MARTA – E o que você sabe sobre o amor?

AMANDA – Mais do que você com certeza, vive em casamento infeliz com o pai, não sei porque não se separam logo de vez, vivem em pé de guerra.

MARTA – Esse negócio de amor não existe, isso é coisa de ficção, aqui na vida real as coisas são diferentes, aqui fora o mundo é dos espertos.

AMANDA – Estou vendo essa esperteza.

MARTA – A questão é que eu não quero ver você na casa desse namorado, ainda mais quando ele estiver só, você é muito nova para essas coisas e não quero que tenha filho agora, imagine nós nas condições financeira que estamos termos que sustentar mais uma boca.

AMANDA – E quem disse que eu iria morar com vocês? Eu viveria lá na mansão junto com ele.

MARTA – Claro que não iria.

AMANDA – Mãe, fala a verdade, por que você não quer que eu namore com o Gabriel?

MARTA – Porque não quero e ponto final.

AMANDA – Você está escondendo alguma coisa de mim.

MARTA – Claro que não, de onde tirou isso?

AMANDA – Você está enrolando de mais em me dar uma resposta convincente

MARTA – Eu já disse que não quero, isso já é sua resposta convincente e agora vou voltar para o meu quarto.

AMANDA – Ficou nervosa de uma hora para a outra, o que a senhora esconde?

MARTA – Eu já disse que não estou escondendo nada e procure dormir.

Marta se levanta e vai caminhando em direção a porta, mas, antes que ela consiga sair Amanda segura a mãe pelo braço e a coloca de frente para ela.

AMANDA – Vamos lá dona Marta você nunca foi dessas de manter a boca fechada, sempre falou o que pensa, não será agora que terá segredos, eu não deixarei você sair daqui enquanto não me contar o que está escondendo.

MARTA – (fala alterada) Amanda saí da minha frente antes que eu perca a paciência com você.

AMANDA – Eu já disse que não, o que você esconde? Vai me dizer que pulou a cerca e que o Gabriel é o meu irmão bastardo.

MARTA – É formação de complô junto com o seu namoradinho para dizer que eu pulei a cerca? Eu já disse que nunca trai o seu pai.

AMANDA – Não é o que parece com tudo aquilo que você acabou de falar sobre o amor?

MARTA – E só quem ama que é fiel? Larga de ser petulante e deixa eu passar

AMANDA – Não vou deixar! Você ainda não me contou o que tem contra o meu namorado, que aliás, você não deveria ter nada contra, pois, vive dizendo que não temos dinheiro e que eu gasto demais. Ele é a solução para esse problema, a família dele é rica, tem bastante dinheiro, você pode até ganhar com isso.

MARTA – (espanto) Você falando assim até parece uma interesseira.

AMANDA – O único interesse que tenho é o amor dele e nada mais. Não ligaria se ele fosse pobre, já você mãe, que só pensa em dinheiro, deveria ter ficado feliz por ter conseguido o seu caixa eletrônico, porque quando eu me casar com ele, com certeza o que for dele será meu e sendo assim vocês podem pegar o quanto querem né?

MARTA – Pensando por esse lado.

AMANDA – Só que está enganada eu não darei um tostão a você.

MARTA – Uma ingrata, é isso que você é, desde de seu nascimento eu faço de tudo para te ver bem, para você chegar agora e me dizer isso.

AMANDA – A senhora tem que procurar é um emprego, vive às custas do pai, queria ver você ralando todo dia para ganhar o seu sustento.

MARTA – Quem é você para me jugar? Acabou de falar que vai viver encostada no Gabriel.

AMANDA – Claro que não, eu vou ter o meu emprego e o meu dinheiro.

MARTA – Já chega dessa conversa, eu quero dormi e vou passar por cima de você se for o caso.

AMANDA – Então tenta, vamos!

Marta vai até sua filha e tenta passar, mas Amanda não deixa e a empurra para trás.

MARTA – Você está me desafiando é Amanda?

Marta pega Amanda pelo braço e a joga na cama deitada de bruços

MARTA – Fala sua imprestável

Ela pega o Cinto que está jogado em uma cadeira e começa a bater em Amanda

MARTA – Isso é para você aprender a me respeitar e não me desafiar mais

AMANDA – Para, mãe! Para!

MARTA – Eu não vou parar nunca, você ainda vai me desafiar?

AMANDA – Eu vou gritar para o meu pai

MARTA – Não tem pai, não tem mãe, já estava te prometendo isso a séculos

No quarto de Antônio ele escuta os gritos de sua filha e vai correndo para o quarto dela, mas, encontra a porta fechada na chave, os gritos de Amanda começam a ficar mais alto, então ele corre para pegar a chave reserva que tinha escondido para alguma emergência, abre a porta, entra no quarto e segura Marta pelo pescoço.

ANTÔNIO – Eu falei para você não encostar um dedo na minha filha.

***

Leblon, Rio de Janeiro

TONY – Você? Não pode ser, eu vi quando escorregou na beira da cachoeira lá no Maranhão… ainda bem que você está vivo meu amigo!

Tony vai até Fernando e dar um abraço nele

FERNANDO – Que bom que você está feliz em me ver, eu iria começar a contar como foi o acidente e como sobrevive quando você entrou

TONY – Eu adoraria ouvir como sobreviveu.

Nesse momento Gabriel desce a escada, fica paralisado ao ver o pai dado como morto bem ali na sua frente vivo, ele sai correndo para dar um abraço nele.

GABRIEL – Pai!

FERNANDO – Meu filho, como você está grande.

GABRIEL – Como você está vivo?

JOYCE – Eita, que essa pergunta já foi feita muito nessas últimas meia hora.

RAFAEL – É tio, conte logo como o senhor sobreviveu.

TONY – Será que um bom momento?  Já está tarde e tenho certeza que estão cansados.

FERNANDO – Você tem razão é bom todos irmos dormir e amanhã bem cedo eu contudo para vocês?

HELENA – Você tem onde dormir?

FERNANDO – Para ser sincero, não tenho.

CRISTIANA – Você poderia dormir aqui.

FERNANDO – (olhando para Tony que está pensativo) Se não for nenhum incomodo… algum problema Tony?

TONY – Hã? Claro que não, você é bem-vindo

HELENA – Eu vou pedir para que Silveira o leve até o seu quarto.

FERNANDO – Antes eu queria ter uma prosa com você Tony, se possível.

TONY – Claro que sim, acompanhe-me até o escritório

CRISTIANA – Melhor irmos para o meu quarto, Joyce e Rafael

RAFAEL – E o nosso filme?

CRISTIANA – Ainda querem assistir?

RAFAEL – Eu acho bom, já que mandamos o Silveira fazer a pipoca

JOYCE – E qual filme vamos assistir?

RAFAEL – O caçador de pipas.

JOYCE – Então vamos logo começar esse filme.

CRISTIANA – Eu vou até a cozinha pegar a pipoca.

***

Cozinha, Leblon, Rio de Janeiro

HELENA – Ainda não sei o que fazer Silveira.

SILVEIRA – Sinceramente eu acho que my lady, deve colocá-lo para fora dessa casa.

HELENA – E você acha que não tenho vontade de fazer isso? A questão é que tenho medo, pelos meus filhos.

SILVEIRA – Mas, agora que o Lorde Fernando voltou dos mortos, eu tenho certeza que ele não deixará que nada aconteça com você e com as crianças, ele os ama demais para deixar que aquele indivíduo faça algo assim.

HELENA – Você não sabe como é o Tony? É capaz de ele tentar matar o Nando novamente.

SILVEIRA – Como assim novamente? Por acaso você acha que foi ele o responsável…

HELENA – Sim, pelo acidente do meu marido.

CRISTIANA – (entrando na cozinha) Como é mãe?

***

Escritório, Leblon, Rio de Janeiro

TONY – Bom aqui estamos o que você quer falar comigo?

FERNANDO – Vamos com calma, sente-se.

Tony vai até junto a mesa do escritório e senta

FERNANDO – Nós dois sabemos que não foi um acidente que aconteceu lá no Maranhão, que me fez ficar desaparecido por quase três anos.

TONY – Claro que foi um acidente você escorregou na beira da cachoeira, eu tentei te ajudar.

FERNANDO – Vamos parar com esse teatrinho Tony, você sabe que mandou um funcionário seu ir até a beira da cachoeira enfraquecer a estrutura de terra, para que quando eu chegasse lá e pisasse naquele local a terra cedesse e eu caísse para a morte, o que você não esperava é que eu conseguiria sobreviver.

TONY – Você deve estar delirando, claro que não iria fazer isso com você, era e é o meu melhor amigo

FERNANDO – Que melhor amigo? Você sempre foi ambicioso, sempre quis ter a minha parte do São Miguel e se fingia ser o meu amigo.

TONY – A questão aqui é como você sobreviveu.

FERNANDO – Vamos retomar os detalhes daquele dia.

Inicio de Flashback

15 de agosto de 2013, Carolina, Maranhão

Fernando e Tony caminham em direção a cachoeira da prata onde iriam esperar Helena que vinha mais atrás.

TONY – Qual o real motivo dessa viagem de última hora, Fernando?

FERNANDO – De última hora não, nós já estamos discutindo essa ideia dentro do conselho a pelo menos três meses, o negócio é que você não presta atenção e só liga para o lado econômico do hospital.

TONY – Claro, se eu não ligar quem vai? Você só pensa na implantação desse ambulatório aqui nesse fim de mundo, que vai nos trazer grandes prejuízos, em vez de montarmos uma franquia nas principais capitais, que nos daria muito lucro. Você só pensa nessas cidadezinhas.

FERNANDO – As grandes cidades já têm vários hospitais e esses “fins de mundo” como você acabou de chamar precisam mais. O hospital consegue manter até 5 ambulatórios desses, com folga no atual orçamento e você sabe muito bem que é um sonho meu abrir as portas do São Miguel para as pessoas carentes, que não tem como pagar.

TONY – Esse dinheiro que estamos gastando, poderia ser investido em outros setores do hospital, não em ambulatórios populares, temos que rever alguns equipamentos da UTI.

FERNANDO – Eu deixei você responsável por ver isso, não foi? Tony você é o vice-presidente do São Miguel, indicado por minha pessoa, não por ser meu amigo, pois, sei seu potencial, na faculdade sempre éramos os primeiros da classe.

TONY – Exatamente por ser esse profissional competente, que eu lhe aconselho a não instalar esse ambulatório, você não ver que só vai nos atrapalhar na escolha para a nova presidência do hospital, isso não vai ficar pronto até o final deste seu mandato.

FERNANDO – Pelo que eu sei, o conselho concordou com esse meu projeto e está me apoiando para que eu fique na presidência, eles não veem pessoa mais competente para este cargo do que eu. Descordo totalmente, pois, tenho certeza que você assumiria perfeitamente essa colocação.

TONY – E por que não abdica de ser eleito na próxima eleição? Aliás já está bem ai, batendo na porta.

FERNANDO – Exatamente por esse seu comportamento avarento, se você pensasse no ser humano, de como ajudar as pessoas carentes, eu saberia que estava fazendo a coisa certa.

TONY – Aonde estamos indo? Já faz horas que estamos caminhando por esse mato e nada de chegarmos em algum lugar.

FERNANDO – A cachoeira da Prata, outro motivo dessa nossa viagem é tirarmos umas férias daquela loucura da cidade.

O celular de Tony começa a tocar

FERNANDO – Eu não acredito que você trouxe essa porcaria pra cá!

Tony finge que não ouvi e se afasta para atender o telefone, quando ver de quem é o nome piscando na tela do celular.

Momentos depois ele volta.

TONY – Era um dos diretores, perguntando quanto tempo ficaremos por aqui.

FERNANDO – O tempo necessário para deixarmos tudo o mais adiantado.

TONY – E por que você trouxe a Helena?

FERNANDO – Ela sempre quis vir aqui no Maranhão. Se você não sabe ela é daqui deste município de Carolina, quando soube que eu viria para cá ela ficou tão feliz que resolveu vir junto, agora o que eu acho incrível é você ainda não ter se casado, já vai fazer 40 anos e ainda está aí, sozinho, não pensa em deixar herdeiros?

TONY – (mentindo) Ainda não encontrei a pessoa certa e nunca quis ter filho mesmo, é um trabalho que não quero ter.

FERNANDO – Mesmo assim o tempo passa e você vai ficar para trás, filhos não são trabalho, são bênçãos de Deus.

TONY – Vou pensar!

Eles chegam até a parte superior da cachoeira e esperam Helena.

TONY – (empolgado) Caraca, Fernando, você tem que ver essa vista.

Tony está perto da queda d’agua, deixando apenas um espaço mais perto do rio para o Fernando, ele começa a ir para perto de Tony e se colocar no local que o amigo deixou para ele. Helena chega na cachoeira, no entanto, quando Fernando coloca seus dois pés no local, a terra começa a ceder e acaba jogando-o cachoeira abaixo. Tony finge que o tenta segurar.

HELENA – Fernandoooo…

DEPOIMENTO REAL

Ingrid Saldanha, Rio de Janeiro

“Eu tinha só 14 anos quando a gente se conheceu e ele sempre teve muito ciúme. É até engraçado, porque o famoso bonitão era ele. Mas o fato é que desde o início do meu casamento, volta e meia os desentendimentos terminavam em violência física. A gente se separava e depois voltava. Passei muito tempo evitando enxergar, acreditando no amor, tentando preservar a família. O Kadu é um ótimo pai, do tipo que acorda cedo para fazer vitamina para as crianças, ajuda a fazer o dever de casa. Eu não queria privar os meninos dessa convivência, mas hoje consigo enxergar que isso foi um erro. Numa situação de violência a autoestima fica lá embaixo, você não consegue produzir nada, só uma fantasia de que aquilo tenha algum futuro. Acaba-se prejudicando e também prejudica a família. No carnaval, quando ele me bateu, acabei explodindo e expondo todo mundo exatamente da maneira que sempre lutei para evitar.”

 

Lucas Serejo

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